quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Sibéria, Meu Amor (Sibir. Monamur)

"Sibéria, Meu Amor" (2011) dirigido pelo russo Slava Ross é um filme desolador e desesperador, porém lindo e afetuoso à sua maneira, são demonstrações duras e cruas, o ambiente inóspito e gélido só aumenta sentimentos de tristeza e solidão e no decorrer somos absorvidos por uma poesia melancólica e emocionante.
Monamour é um vilarejo isolado em meio à floresta boreal da Sibéria. O lugar é cercado por cães selvagens que devoram quem ousa se aproximar. É lá onde moram o menino Leshka e seu avô, Ivan. Leshka toma um dos cães como seu melhor amigo e vive na esperança de que seu pai retorne, depois de dois anos de ausência. De tempos em tempos, seu tio Yura traz comida e suprimentos para lá. Mas este é atacado pelos cães e desaparece, e Leshka e Ivan se veem isolados do mundo. Ao ver o avô atirar no seu cachorro, o menino foge e cai num poço. Agora, o avô precisa achar ajuda.
Acompanhamos o pequeno Leshka (Mikhail Protsko) e seu avô (Pyotr Zaychenko) que vivem isolados em um vilarejo abandonado chamado Monamour, na Sibéria, um local gélido cercado por uma floresta de coníferas, a comida é escassa e a fome é constante, o avô não sabe mais como fazer para ajudar o menino que sonha com a volta do pai, apegados a uma imagem de Cristo seguem os dias em meio a solidão e as incertezas, os cães selvagens rodeiam o local e o menino consegue chegar próximo de um deles o transformando em uma companhia, Yura (Sergei Novikov), tio de Leshka faz questão de levar comida e um pouco de carinho, apesar das reclamações da esposa. Em paralelo vemos uma outra história envolvendo dois soldados que recolhem uma prostituta para levar ao seu comandante, sob novas promessas a garota vai, porém o que se inicia é estupro e violência, ao longo essas vidas se convergem num final comovente.
A vida nesse local é uma verdadeira luta, as dificuldades são extremas e ainda há os militares que não dão sossego, nessas idas de Yura na casa de Leshka acontece algo violento que desencadeia uma série de outros eventos, uma amostra do quão selvagem é aquele ambiente e que apesar de imensamente belo é também poderoso em aniquilar a frágil vida humana. É doloroso observar a tristeza e a esperança do garoto ao imaginar que o pai voltará algum dia, o avô o trata de forma rígida e as demonstrações de amor são expostas em momentos quando se preocupa em como arranjar alimento e com o fato de que precisa tirá-lo daquele lugar, ele pede para Yura levá-lo, mas acontece o acidente e dias depois quem surge é sua esposa que acaba não encontrando ninguém na casa, pois o neto brigou com o avô ao vê-lo atirar nos cães e fugiu caindo no poço, o avô saiu atrás de ajuda, mas o vento e o frio o derrubou. E é ai que os personagens se cruzam, os soldados e a prostituta vão acudir Leshka.

A história paralela é um tanto deslocada em boa parte da trama e retrata que não há alívio para a mulher, sofre pelas mãos dos soldados e também pelas do comandante, há uma virada sutil em que o soldado a vê de outra forma e resolve ajudá-la a levando embora dali, e então encontram o avô caído na estrada que diz o nome do vilarejo e que o menino precisa ser socorrido. O final é bastante tocante ao retratar a inocência e a carência de Leshka.

"Sibéria, Meu Amor" é um filme muito bonito visualmente, o ambiente é seu grande destaque e amplia os sentimentos de desolação e tristeza, os personagens sofrem com as incertezas em todos os aspectos e tentam sobreviver, é uma história que sutilmente se desenrola para algo mais afetuoso, porém de modo bem distinto, fica nas entrelinhas, nos semblantes e nas silenciosas transformações.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

The Nightingale

"The Nightingale" (2018) dirigido por Jennifer Kent (O Babadook - 2014) é um drama pesado, violento e muito emocional, carregado em cenas chocantes e transformadoras o terror real chega com brutalidade, mas também com sensibilidade e poesia, uma produção de ambientação sufocante acompanhada por uma narrativa silenciosa e repleta de sentimentos. 
Na Tasmânia de 1825, Clare (Aisling Franciosi) uma condenada irlandesa testemunha o assassinato brutal de seu marido e seu bebê por seu mestre soldado (Sam Claflin) e seus amigos. Incapaz de encontrar justiça, leva um rastreador aborígene com ela através do deserto infernal em busca de vingança.
Não é um filme convencional de vingança, existem questões profundas e dolorosas envoltas e que se mostram no decorrer da jornada entre uma mulher despedaçada e pelo seu guia aborígene também despedaçado. Claire cometeu um crime na Inglaterra e foi levada como prisoneira para a Tasmânia, ela está nas mãos de um tenente que pagou suas dívidas e por esse motivo está em dívida com ele, ela sonha poder se desprender desse carrasco e refazer sua vida ao lado do marido e seu bebê, mas depois de desentendimentos seu marido é morto juntamente com o seu filho numa cena perturbadora e imensamente cruel. Devastada, encolerizada e solitária decide pegar seu cavalo e ir atrás dos assassinos, mas o lugar inóspito e estranho só é amplamente conhecido pelos seus nativos que foram massacrados pelos ingleses e os que restaram tiveram que se tornar escravos e se adaptar aos costumes, e é com a ajuda de Billy (Baykali Ganambarr) que a contragosto inicialmente decide guiá-la, claro que ela não diz o verdadeiro propósito de sua busca e os dois partem em meio a natureza selvagem e encontram diversos obstáculos, especialmente na alimentação e nos preconceitos que um tem pelo outro.
A raiva de Claire é expelida por todos os seus poros, sua dor é tanta que não consegue pensar no que realmente acontecerá se encontrar os militares, Billy por sua vez se limita apenas a mostrar os atalhos, porém à medida que essa claustrofóbica viagem avança suas dores se unem e se transformam, ele a protege e cuida para que se alimente, começa a caçar e a roubar, conta sobre sua família e seu povo assassinado e tantos outros submetidos a maus-tratos, Billy percebe que Claire na verdade busca vingança e se interessa a conhecer seu passado cujos algozes são os mesmos que lhe tiraram tudo e a partir daí compreende seu objetivo. Diferentes entre si, porém semelhantes na dor da perda e é diante desse entendimento um do outro que nasce a cumplicidade, lealdade e respeito. 

O fundo histórico da trama destaca quando a Inglaterra no início do século XIX começou a explorar e colonizar a Tasmânia deportando uma imensa população carcerária de ingleses, galeses e irlandeses a fim de que após a sentença cumprida trabalhassem pesado e, obviamente, retratando todo o horror do genocídio cometido contra os aborígenes. Claire era uma prisioneira e foi "ajudada" por um militar, só que permaneceu como escrava trabalhando, cantando para os soldados no bar e constantemente sendo estuprada. O ponto histórico aterrador dá ao filme uma outra forma ao gênero vingança, ganha outros tons e camadas e ao final se transforma, Claire resiste o quanto pode e sua raiva é alimentada por um longo período da jornada, mas acontecem tantos infortúnios que a deixam à beira da loucura e minguam toda a sua força, e então Billy encontra em Claire uma forma de libertar também a sua necessidade de vingança. 

"The Nightingale" é um filme forte, sua abordagem é brutal, mas também possui seus momentos belos e poéticos, as interpretações crescentes e viscerais ajudam neste contexto junto de sua ambientação opressiva e violenta, além da paisagem selvagem que preenche a tela.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

O Rei (The King)

"O Rei" (2019) dirigido por David Michôd (Reino Animal - 2010, Flesh and Bone - 2015) é um drama épico livremente baseado em eventos históricos e adaptado da peça Henrique V, de Shakespeare. Uma produção poderosa que passa por intrigas de poder políticas e familiares com violência, beleza e questionamentos. 
Após a morte de seu pai, Henrique V (Timothée Chalamet) é coroado rei, obrigado a comandar a Inglaterra. O governante precisa amadurecer rapidamente para manter o país consideravelmente seguro durante a Guerra dos 100 Anos, contra a França.
Uma ótima surpresa, tanto em seu visual como na condução, é um filme que enche os olhos, mas que também promove reflexões acerca de todo o emaranhado provocado pela ânsia de poder. Acompanhamos a decadência do rei (Ben Mendelsohn), uma figura cruel e do qual o filho que o sucederá rejeita, então o rei deixa claro que a coroa será do outro filho que possui o desejo de ascender de maneiras não tão inteligentes, mas acaba que depois da morte do rei e do filho mais novo Henry é coroado, este que antes vivia uma vida simples de boêmio junto de seu fiel amigo e antigo cavaleiro Falstaff (Joel Edgerton). Todos os personagens possuem características marcantes e se entrelaçam numa trama permeada de intrigas, negociações e artimanhas, Henry é completamente avesso aos planos de guerra e se distancia do pai justamente por isso, mas quando se torna rei se depara e é obrigado a pensar nessas questões e fica de frente a difíceis decisões e cujas pessoas que o rodeiam não são confiáveis, o jogo de poder vai acontecendo e seu processo de amadurecimento é confuso e solitário, sua posição não lhe permite amizades sinceras, em meio a tantas desconfianças ele nomeia Falstaff como seu marechal e na decorrência dos fatos vai se tornando numa pessoa dura e amarga, tão próximo da figura do pai que tanto detestava. O magnetismo de Chalamet impressiona e a ótima interação entre os personagens o torna um épico diferente em que o peso das escolhas tem muito mais ênfase do que qualquer ação e violência, apesar de que as sequências de embates são incríveis e denotam também grande carga dramática, não só a estética prevalece, há uma gama de questões envoltas.
Vale ressaltar a ótima participação de Robert Pattinson como Delfim, o príncipe herdeiro da França, sua personalidade excêntrica e vaidosa preenche a tela, assim como Sean Harris como o conselheiro do rei, Joel Edgerton como o único e leal amigo de Henry e até a pequena aparição de Lily-Rose Depp como Catarina, futura esposa do rei.

O roteiro escrito pelo próprio diretor David Michôd em parceria com Joel Edgerton é bem estruturado e se revela como um poderoso thriller político juntamente com o amadurecimento de um jovem de ideais pacifistas que se vê obrigado a assumir a coroa e aconselhado a não se mostrar fraco inicia uma guerra desnecessária.

"O Rei" é um filme solene, retrata os bastidores do reino, as tramas, estratégias e negociações, a solidão e o tédio; a transformação. Todos os sentimentos são transmitidos pelo olhar de Henry, sempre pensativo e angustiado, as poucas cenas de embate são impecáveis e dolorosas, é rico na ambientação e inteligente no desenrolar. 

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Graças a Deus (Grâce à Dieu)

"Graças a Deus" (2018) dirigido por François Ozon (Uma Nova Amiga - 2014) é um drama potente que faz questão de colocar o dedo na ferida, o tema é delicado e espinhoso: a pedofilia na Igreja Católica, mas é retratado com cuidado e com muita importância, observamos a história de três homens que foram vítimas e o como cada um lida com o trauma e o quanto é desgastante a busca pela justiça num sistema que se protege e mascara a verdade. Tenso e enfadonho por vezes, mas imensamente essencial.
Um dia, Alexandre (Melvil Poupaud) toma coragem para escrever uma carta à Igreja Católica, revelando um segredo: quando era criança, foi abusado sexualmente pelo padre Preynat (Bernard Verley). Os psicólogos da Igreja tentam ajudar, mas não conseguem ocultar o fato de que o criminoso jamais foi afastado do cargo, pelo contrário: ele continua atuando junto às crianças. Alexandre toma coragem e publica a sua carta, o que logo faz aparecerem muitas outras denúncias de abuso, feitas pelo mesmo padre, além da conivência do cardeal Barbarin (François Marthouret), que sempre soube dos crimes, mas nunca tomou providências. Juntos, Alexandre, François (Denis Ménochet) e Emmanuel (Swann Arlaud) criam um grupo de apoio para aumentar a pressão na justiça por providências. Mas eles terão que enfrentar todo o poder da cúpula da Igreja.
Tudo se inicia com Alexandre, um homem de 40 anos, católico fervoroso e pai de cinco filhos, sua fé é posta em xeque quando recebe a notícia de que o padre Preynat ainda atua na Igreja e com crianças, indignado decide romper o silêncio e buscar mais pessoas que tenham sofrido o abuso, ele denuncia o caso à Igreja, mas enfrenta uma série de situações estranhas por parte da alta cúpula. O cardeal Barbarin sempre acobertou esses casos e até diz numa coletiva de imprensa que graças a Deus que a maioria dos casos já prescreveu. Decidido a encontrar o máximo de pessoas que sofreram abuso Alexandre inicia uma angustiante jornada e encontra uma grande parcela ainda bastante traumatizada que não consegue nem falar sobre, porém a coragem vem à tona quando François cria um movimento e decide expor tudo na mídia. É interessante ver o como cada um lida à sua maneira com o fardo, Alexandre continuou seguindo a religião e constituiu família, François renunciou a fé completamente e também constituiu família, já Emmanuel vive relacionamentos tóxicos e o abuso foi algo que deixou marcas tanto no seu ser quanto em seu corpo. É realmente triste acompanhar o quanto isso acabou o levando para caminhos violentos. A família de François é bastante presente na associação que criou e a mãe de Emmanuel ajuda com as ligações, certamente a culpa de não ter feito nada no passado, Alexandre aos poucos vai sentindo sua fé sendo murchada, uma decepção e uma tristeza o invade, pois talvez não havia pensado tão claramente sobre o abuso. O padre em momento algum nega, ele é protegido pela instituição e se declara doente, nunca foi afastado e ainda continuou perto das crianças.

O silêncio que corrói enfim é quebrado e a denúncia é amplamente feita, não é um filme fácil de assistir, mas é importante ver que tantos casos de pedofilia cometidos pela Igreja estão sendo expostos e julgados, uma instituição poderosa que dita dogmas e que comete abusos horríveis e esconde e se protege mascarando a verdade, atualmente esse quadro está mudando e sendo muito mais observado. "Graças a Deus" é um filme que denuncia e que retrata a podridão escondida nos meandros da Igreja Católica, baseado em fatos reais Ozon direciona seu longa com uma relevância séria e também delicada provocando reflexões acerca do poder da Igreja.

O Arcebispo de Lyon, Philippe Barbarin, de 68 anos, foi condenado a seis meses de prisão em 7 de março de 2019 culpado por não denunciar os casos de pedofilia, o filme em 16 de fevereiro ganhou o prêmio Urso de Prata no Festival de Berlim, ou seja, um filme que cumpre um papel político-social importante ao denunciar e promover a quebra de tabus em relação aos casos de pedofilia cometidos pelos representantes da igreja. 

terça-feira, 12 de novembro de 2019

A Luz no Fim do Mundo (Light of My Life)

"A Luz no Fim do Mundo" (2019) escrito, dirigido e protagonizado por Casey Affleck (A Ghost Story - 2017) é um filme intimista e bastante emocional sobre a jornada de um pai e sua filha em um mundo devastado por uma praga que aparentemente dizimou todas as mulheres do planeta, as consequências são expostas com muita sensibilidade focando no relacionamento afetuoso e protetivo, não se sabe como a praga começou e o porquê de Rag ser imune, claro que mais adiante surgem boatos de mulheres escondidas em bunkers, mas nada é esclarecido, acompanhamos a caminhada, a luta pela sobrevivência, o carinho e o amadurecimento.
Em uma realidade pós-apocalíptica, onde quase toda a população feminina foi devastada, um pai (Casey Affleck) precisa proteger sua filha (Anna Pniowsky) do caos que se espalhou pela sociedade. Ela é a única menina sobrevivente de que se tem notícia e, mesmo dez anos após a pandemia que tirou a vida de todas as mulheres, incluindo sua mãe (Elisabeth Moss), Rag e seu pai ainda precisam lutar diariamente por sobrevivência.
A afetuosidade e a proteção estão sempre em destaque, a cena inicial demonstra o quanto o pai zela e por mais que o cenário seja caótico ainda cultiva na menina sentimentos de inocência, constantemente com livros nas mãos e histórias para contar seguem se mudando quando percebem perigo eminente, apesar de Rag se vestir de menino sua pouca idade já é motivo para os homens interrogarem e desconfiarem, surgem boatos de mulheres escondidas sendo escravas sexuais, o medo é algo permanente e as mudanças se tornam cada vez mais cansativas, vemos ele ensinando como se esquivar e elaborar planos de fuga eficazes, a menina é ágil e esperta, mas está em fase de amadurecimento e também possui desejos próprios, como quando encontram uma casa e lá se estabelecem por um tempo e veste roupas de garota, seu desabrochar assusta o pai que não sabe muito bem como lidar mesmo tendo explicações para tudo. Ele precisa se mostrar forte e capaz a todo o tempo, mas nem sempre consegue achar saídas, chega em um ponto que necessita dizer que não sabe mais o que fazer, esse instante dramático acontece lá pelo final onde demonstra uma Rag amadurecida pelas dores e angústias e um pai fragilizado e incapacitado de agir. 

É um longa monótono, porém potente em seus longos diálogos e pausas reflexivas, é repleto de metáforas e sutilezas, também não deixa de ter momentos de tensão e uma crescente angústia, a relação paternal dita o tom e as dificuldades em mantê-la protegida são pontuadas a todo segundo, não há descanso e a menina ainda não entende direito os perigos, é um amadurecimento terrível e percebemos a sua mudança pelos gestos e olhares pelo decorrer, drástico o momento em que ela finalmente desabrocha para esse mundo e percebe profundamente que precisará ter muita coragem para inverter os papéis. 

"A Luz no Fim do Mundo" tem uma ambientação melancólica e possui um visual duro e belo em meio a natureza, toca em temas como luto, paternidade, amadurecimento, realidade violenta e amor, além de mostrar que independente de qualquer coisa o pai precisa deixar a filha escolher seu caminho e deixar sua personalidade fluir, também é reflexivo e simbólico ao colocar com sensibilidade o quão desequilibrado, caótico e violento se torna o mundo sem a figura feminina.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

20 Filmes de Sobrevivência (20 Survival Movies)

Segue uma lista com intensos e impressionantes filmes com o tema sobrevivência. Deserto, mar, gelo, floresta, espaço, apocalipse, guerras e situações-limite que fazem o ser humano se desafiar e tentar vencer as extremas dificuldades. Confira:

20- "No Deserto" (Al Desierto - 2017) Argentina
Cobertos de poeira, encurralados pela sede, vestidos com suas melhores roupas, Julia e Armando atravessam o deserto da Patagônia. Caçam, fazem fogo e dormem sob o céu aberto. Lentamente, o cativeiro ao ar livre foi transformado em um teste de sobrevivência. Por que esta vida inesperada seria menos desejável do que dias atrás, quando Julia estava trabalhando como garçonete no cassino de uma cidade do petróleo?

19- "Caminho da Liberdade" (The Way Back - 2010) EUA
Um grupo de fugitivos de um campo de concentração na Sibéria durante a 2ª Guerra Mundial planeja chegar até a Índia. Em 1940, pegos pelo regime stalinista, sete prisioneiros aproveitam-se da nevasca para fugir de Gulag Soviético. A liberdade desses homens tem um preço: eles têm poucas chances de chegarem a um lugar seguro sem serem pegos novamente e correm risco de morte.

18- "Kursk" (2018) França/Bélgica
Baseado em fatos reais. A tragédia do Kursk, o submarino nuclear russo que naufragou em 12 de Agosto de 2000. Os tripulantes precisam sobreviver às águas geladas do Mar de Barents enquanto esperam por um resgate que pode não chegar por causa do descaso das autoridades.

17- "Styx" (2018) Alemanha
A transformação de uma forte mulher em seu belo mundo durante uma viagem de vela. Quando se torna a única pessoa a vir em auxílio de um grupo de refugiados naufragados no alto mar, ela vê os limites de sua importância e da empatia de seu ambiente cultural. Ela é deixada escorregar impotente de um pesadelo para o outro, e no final é forçada a reconhecer que não há maneira de combater as crueldades da vida real. Só o acaso pode salvá-la.

16- "O Túnel" (Teo-neol - 2016) Coreia do Sul


Jung-su dirige para casa. No caminho, algo inacreditável acontece: um túnel despenca, deixando-o preso entre os escombros. O episódio gera um frenesi na mídia local e um repórter consegue fazer uma entrevista com Jung-su por celular. Em poucos dias uma série de erros primários no resgate colocam-no em uma situação ainda mais complicada, deixando-o sem comida, sem água e incomunicável. Os dias passam, as buscas não progridem e todos começam a perder as esperanças, enquanto sua família é forçada a tomar uma difícil decisão, sem saber se Jung-su está vivo ou morto.

15- "Trapped" (2017) Índia
Shaurya se apaixona por uma colega de trabalho, mas o problema é que depois de se envolverem Shaurya fica sabendo que Noorie está com um casamento arranjado. Ele, que mora em um pequeno apartamento com mais quatro amigos, precisa encontrar outro lugar para viver, pois em 24 horas terá a chance de cancelar o contrato de casamento dela. Shaurya não consegue achar nenhum lugar pra alugar até que de repente um homem desconhecido oferece a ele um apartamento acima do vigésimo andar em um prédio que foi embargado durante a construção e está em alguma disputa judicial. Numa sequência de azar Shaurya fica preso no apartamento sem água, eletricidade e comunicação, travando uma angustiante batalha pela vida.

14- "Selva" (Jungle - 2017) Austrália/Colômbia
Baseado em fatos reais, "Jungle" conta a história do mochileiro israelense Yossi Ghinsberg (Daniel Radcliffe) que, acompanhado de dois amigos, viaja até a cidade de La Paz na Bolívia para o que seria uma aventura inesquecível. Guiados pelos caminhos desconhecidos da Amazônia por um austríaco que mora no local há anos, os amigos embarcam numa viagem pela selva que se transforma em um pesadelo de onde nem todos voltarão com vida. O filme exibe momentos de muita tensão e o cansaço do personagem transpassa a tela, uma ótima e crível interpretação de Radcliffe que em todos os instantes captura nossa atenção, seja na ansiedade e impulsividade de querer adentrar a Amazônia, no receio quando percebe que as coisas não saíram como previsto e depois abandonado na selva buscando sobreviver e manter a mente sã. A entrega do ator se deu através do físico também, a fragilidade humana perante à natureza é impressionante. Saiba+

13- "Geração Roubada" (Rabbit-Proof Fence - 2002) Austrália
Molly Craig (Everlyn Sampi) é uma jovem australiana de 14 anos que, em 1931, ao lado de sua irmã Daisy (Tianna Sansbury), de 10 anos, e sua prima Gracie (Laura Monaghan), de 8 anos, foge de um campo do governo britânico da Austrália, criado para treinar mulheres aborígenes para serem empregadas domésticas. Molly guia as meninas por quase três mil quilômetros através do interior do país, em busca da cerca que o divide e que a permitiria voltar para sua aldeia de origem, de onde foram tiradas dos braços de suas mães. Na jornada elas são perseguidas pelos homens do terrível governador A. O. Neville (Kenneth Branagh), o qual não admite que as meninas não estejam de acordo com o ditado pela sabedoria branca e cristã.

12- "A Tartaruga Vermelha" (La Tortue Rouge - 2016) Bélgica/França/Japão
Após sobreviver a um naufrágio, um homem se vê em uma ilha completamente deserta. Lá ele consegue se manter, através da pesca, e tenta construir uma jangada que lhe permita deixar o local. Só que, sempre que ele parte com a embarcação, ela é destruída por um ser misterioso. Logo ele descobre que a causa é uma imensa tartaruga vermelha, com quem manterá uma relação inusitada.

11- "River" (2015) Canadá/EUA
Em Laos, um médico voluntário americano torna-se fugitivo depois de ajudar uma jovem  brutalmente atacada. Quando o corpo do agressor aparece à beira do Rio Mekong, as coisas rapidamente ganham proporções inesperadas.

10- "Náufrago" (Cast Away - 2000) EUA
Chuck Noland (Tom Hanks) - um engenheiro de sistemas da FedEx obcecado pela extrema pontualidade - tem sua vida abruptamente mudada quando um acidente de avião o leva a uma ilha remota e isolada. Enquanto luta para sobreviver, ele descobre que sua jornada pessoal está apenas começando. Clássico absoluto! Wilsonnnn.

09- "A Luz no Fim do Mundo" (Light of My Life - 2019) EUA
Em uma realidade pós-apocalíptica, onde quase toda a população feminina foi devastada, um pai (Casey Affleck) precisa proteger sua filha (Anna Pniowsky) do caos que se espalhou pela sociedade. Ela é a única menina sobrevivente de que se tem notícia e, mesmo dez anos após a pandemia que tirou a vida de todas as mulheres, incluindo sua mãe (Elisabeth Moss), Rag e seu pai ainda precisam lutar diariamente por sobrevivência.

08- "Compra-me um Revólver" (Cómprame un Revolver - 2018) México
Em um México atemporal onde as mulheres estão desaparecendo, uma garota chamada Huck usa uma máscara para esconder seu gênero. Ela ajuda seu pai, um viciado atormentado, a cuidar de um campo de beisebol abandonado, onde os narcotraficantes se reúnem para brincar. O pai tenta protegê-la como ele pode. Com a ajuda de seus amigos, um grupo de garotos perdidos que têm a habilidade de se camuflar no deserto ventoso, Huck tem que lutar para superar sua realidade e derrotar o chefe da máfia local.

07- "Matança Necessária" (Essential Killing - 2010) França/Polônia/Hungria/Irlanda
Um guerreiro afegão é capturado, interrogado, torturado e transportado para uma destinação desconhecida na Europa, numa imensa paisagem coberta de neve. Aproveitando-se de um acidente, escapa e se vê livre, mas perdido num ambiente hostil. Inicia-se uma perseguição com helicópteros, soldados e cães pela floresta. Sem água ou comida, ele enfrenta uma árdua jornada para sobreviver e permanecer livre. Mostra a luta de um homem pela sobrevivência em seu estado mais animal. O personagem de Vincent Gallo não solta uma palavra, mas sabemos que é um afegão chamado Mohammed. Capturado pelo exército dos EUA é torturado e interrogado e depois é conduzido para a prisão. Na viagem acontece um acidente com o comboio, um deles capota e Mohammed consegue fugir. Depois disso começa o martírio em que Mohammed luta para não ser recapturado, além de tentar encontrar algo para comer a fim de manter-se vivo. Saiba+

06- "Arctic" (2019) Islândia
Um homem fica perdido no Ártico e está prestes a ser socorrido. Contudo, um acidente trágico faz com que ele perca sua aguardada oportunidade de resgate. É aí que ele precisa decidir entre ficar relativamente seguro em seu acampamento ou seguir numa jornada incerta para escapar.

05- "Utoya - 22 de Julho" (Utoya 22. Juli - 2018) Noruega
No pior dia da história norueguesa moderna, Kaja (Andrea Berntzen) se diverte com sua irmã mais nova Emilie (Elli Rhiannon Müller Osbourne), doze minutos antes da primeira bomba chegar ao acampamento de verão na ilha Utøya. Foi o segundo ataque terrorista de Anders Behring Breivik, em menos de duas horas, e matou 69 pessoas. Kaja representa o pânico, medo e desespero dos 500 jovens enquanto busca sua irmã na floresta. É um excelente trabalho em que a veracidade dos acontecimentos machuca o espectador, o desespero domina a cada som de tiro juntamente com o semblante apavorado dos jovens. Saiba+

04- "Sibéria, Meu Amor" (Sibir, Monamour - 2011) Rússia
Monamour é um vilarejo isolado em meio à floresta boreal da Sibéria. O lugar é cercado por cães selvagens que devoram quem ousa se aproximar. É lá onde moram o menino Leshka e seu avô, Ivan. Leshka toma um dos cães como seu melhor amigo e vive na esperança de que seu pai retorne, depois de dois anos de ausência. De tempos em tempos, seu tio Yuri traz comida e suprimentos para lá. Mas este é atacado pelos cães e desaparece, e Leshka e Ivan se veem isolados do mundo. Ao ver o avô atirar no seu cachorro, o menino foge e cai num poço. Agora,o avô precisa achar ajuda.

03- "Jîn" (2013) Turquia
No sopé dos territórios curdos da Turquia, Jin (Deniz Hasgüler), uma jovem rebelde de 17 anos, foge de seu grupo de guerrilha para tentar voltar à sua família e à vida normal. Se escondendo de seus companheiros, a quem ela é agora uma traidora, e o exército turco, que a vê como uma terrorista, Jin, uma espécie de Chapeuzinho Vermelho, se refugia com os animais da floresta, que estão lutando a sua própria maneira na brutalidade da guerra. Andando sozinha pelas montanhas e pela floresta o caminho se mostra cruel, as explosões de bombas são constantes e as perseguições incansáveis. Saiba+

02- "High Life" (2018) UK/França/Alemanha/Polônia
Um grupo de criminosos aceita um acordo para trocar suas penas pela participação em uma missão espacial à procura de energias alternativas, mas a viagem toma rumos inesperados quando uma tempestade de raios cósmicos atinge a nave. Acompanhamos Monte (Robert Pattinson), sozinho em uma nave espacial rodeado apenas por uma desolação assustadora e um silêncio profundo, ele cuida de sua bebê, Willow, enquanto mantém uma rotina para dominar o desespero, a narrativa inicial intriga com seus mistérios e aos poucos a história vai se descortinando, a linha do tempo se quebra a todo instante para que compreendamos os motivos de Monte estar solitário na nave. A tripulação desta nave, todos condenados à pena de morte, tiveram a escolha de poder participar de uma experiência espacial cuja missão era encontrar o buraco negro mais próximo da Terra, na esperança de obterem liberdade se deparam com um imenso vazio cruel e bizarro. Saiba+

01- "Para Sama" (For Sama - 2019) UK/Síria 
Uma mulher jovem luta contra a guerra com amor e maternidade, ao longo de cinco anos na Síria. Uma jornada íntima e épica para a experiência feminina da guerra. Uma carta de amor de uma jovem mãe para sua filha, o filme conta a história da vida de Waad al-Kateab através de cinco anos da revolta em Aleppo, como ela se apaixona, se casa e dá à luz Sama, enquanto o cataclísmico conflito se ergue em volta dela.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Normandia Nua (Normandie Nue)

"Normandia Nua" (2018) dirigido por Philippe Le Guay (Pedalando com Molière - 2011, Floride - 2015) é um filme despretensioso que passa por diversas questões interessantes sem aprofundá-las, na verdade o que marca é seu imenso senso de comunidade para as tentativas de mudar muitas das coisas locais, a interação entre os habitantes da pequena vila pontuam a narrativa com graça e simplicidade.
Georges Balbuzard (François Cluzet) é o prefeito da pequena cidade de Mêle sur Sarthe, na Normandia, onde os agricultores vêm sofrendo cada vez mais por conta de uma crise econômica. Quando o fotógrafo Blake Newman (Toby Jones), conhecido por deixar multidões nuas em suas obras, está passando pela região, Balbuzard enxerga nisso uma oportunidade perfeita para salvar seu povo. Só falta convencer os cidadãos a tirarem a roupa.
Acompanhamos a crise econômica e a quase falência dos fazendeiros locais, não há mais saída para seus produtos e tudo indica que irá piorar, o prefeito Balbuzard junto de outros começam a mobilizar protestos e promover a paralisação da estrada, esse fechamento ocasiona um imprevisto para um famoso fotógrafo americano que buscava o cenário perfeito para uma foto, obrigado a voltar para trás se depara com um campo do qual o fascina e é aí que decide conceber seu trabalho que consiste em desnudar o máximo de pessoas e posicioná-las nesse grande campo, o prefeito encontra nessa ideia uma forma de chamar a atenção das autoridades e a possível salvação para a comunidade, mas não será fácil convencê-los a tirar a roupa. Alguns aceitam na hora e veem realmente como uma saída e outros acham uma calamidade. A história volta e meia centra-se em um ou outro personagem sem muito alarde, como a rixa de dois fazendeiros por causa de um terreno, especificamente o campo que o fotógrafo se encantou, Thierry (François-Xavier Demaison) que veio com a família de Paris para se livrar do caos da cidade e termina não se dando bem com a natureza, mas mesmo assim insiste e dá uma forçada nessa interação, o prefeito enlouquecido querendo cuidar de tudo, o casal que se forma do nada, a destemida Charlotte (Daphné Dumons) e o jovem Vincent (Arthur Dupont) e a adolescente Chloé (Pili Groyne), filha de Thierry, narradora da história e completamente avessa ao estilo campal e de toda a estrutura do agronegócio. Todos se entrelaçam com harmonia e fluidez trazendo com inteligência temas atuais e importantes, dispõe a visão característica do local e espontaneamente vão surgindo os assuntos, como crueldade animal, aquecimento global, o uso de pesticidas, entre outros. 

Cada personagem possui sua visão, mas claramente os parisienses e especialmente Chloé é a que mais abomina a vida rural, ela indica os males sobre o consumo de carne e os efeitos que o planeta sofre por conta das emissões de gases, o pai dela desistiu da vida na cidade pensando que seria mais feliz no meio do mato, mas no decorrer vemos que ele vai adoecendo e mentindo para si próprio ao dizer que prefere a vida ali, engraçado que realmente existe essa forçação de barra em muitas pessoas que dizem amar a natureza, mas que não aguentariam nem uma hora do sossego e das dificuldades. Dos personagens este é o mais engraçado por demorar a admitir que não vive sem o barulho e o cheiro da poluição da cidade.

Em meio a esses assuntos que permeiam a história o que na verdade tem ênfase é se a tal foto irá ser feita, pois o americano não consegue suportar algumas atitudes dos fazendeiros e quando o dia chega os maiores interessados acabam não indo e o prefeito se chateia e o fotógrafo esquisito vai embora. Daí novas opções surgem e a união ganha forma, mostra o poder da amizade, da coletividade e a energia depositada numa causa.
"Normandia Nua" é uma comédia que não ambiciona julgar, são diversas visões e entrelaça seus personagens com desembaraço, retrata a vida rural na região e as atitudes de cada um finalizando de modo bem alegre e empático.