quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Sibéria, Meu Amor (Sibir. Monamur)

"Sibéria, Meu Amor" (2011) dirigido pelo russo Slava Ross é um filme desolador e desesperador, porém lindo e afetuoso à sua maneira, são demonstrações duras e cruas, o ambiente inóspito e gélido só aumenta sentimentos de tristeza e solidão e no decorrer somos absorvidos por uma poesia melancólica e emocionante.
Monamour é um vilarejo isolado em meio à floresta boreal da Sibéria. O lugar é cercado por cães selvagens que devoram quem ousa se aproximar. É lá onde moram o menino Leshka e seu avô, Ivan. Leshka toma um dos cães como seu melhor amigo e vive na esperança de que seu pai retorne, depois de dois anos de ausência. De tempos em tempos, seu tio Yura traz comida e suprimentos para lá. Mas este é atacado pelos cães e desaparece, e Leshka e Ivan se veem isolados do mundo. Ao ver o avô atirar no seu cachorro, o menino foge e cai num poço. Agora, o avô precisa achar ajuda.
Acompanhamos o pequeno Leshka (Mikhail Protsko) e seu avô (Pyotr Zaychenko) que vivem isolados em um vilarejo abandonado chamado Monamour, na Sibéria, um local gélido cercado por uma floresta de coníferas, a comida é escassa e a fome é constante, o avô não sabe mais como fazer para ajudar o menino que sonha com a volta do pai, apegados a uma imagem de Cristo seguem os dias em meio a solidão e as incertezas, os cães selvagens rodeiam o local e o menino consegue chegar próximo de um deles o transformando em uma companhia, Yura (Sergei Novikov), tio de Leshka faz questão de levar comida e um pouco de carinho, apesar das reclamações da esposa. Em paralelo vemos uma outra história envolvendo dois soldados que recolhem uma prostituta para levar ao seu comandante, sob novas promessas a garota vai, porém o que se inicia é estupro e violência, ao longo essas vidas se convergem num final comovente.
A vida nesse local é uma verdadeira luta, as dificuldades são extremas e ainda há os militares que não dão sossego, nessas idas de Yura na casa de Leshka acontece algo violento que desencadeia uma série de outros eventos, uma amostra do quão selvagem é aquele ambiente e que apesar de imensamente belo é também poderoso em aniquilar a frágil vida humana. É doloroso observar a tristeza e a esperança do garoto ao imaginar que o pai voltará algum dia, o avô o trata de forma rígida e as demonstrações de amor são expostas em momentos quando se preocupa em como arranjar alimento e com o fato de que precisa tirá-lo daquele lugar, ele pede para Yura levá-lo, mas acontece o acidente e dias depois quem surge é sua esposa que acaba não encontrando ninguém na casa, pois o neto brigou com o avô ao vê-lo atirar nos cães e fugiu caindo no poço, o avô saiu atrás de ajuda, mas o vento e o frio o derrubou. E é ai que os personagens se cruzam, os soldados e a prostituta vão acudir Leshka.

A história paralela é um tanto deslocada em boa parte da trama e retrata que não há alívio para a mulher, sofre pelas mãos dos soldados e também pelas do comandante, há uma virada sutil em que o soldado a vê de outra forma e resolve ajudá-la a levando embora dali, e então encontram o avô caído na estrada que diz o nome do vilarejo e que o menino precisa ser socorrido. O final é bastante tocante ao retratar a inocência e a carência de Leshka.

"Sibéria, Meu Amor" é um filme muito bonito visualmente, o ambiente é seu grande destaque e amplia os sentimentos de desolação e tristeza, os personagens sofrem com as incertezas em todos os aspectos e tentam sobreviver, é uma história que sutilmente se desenrola para algo mais afetuoso, porém de modo bem distinto, fica nas entrelinhas, nos semblantes e nas silenciosas transformações.

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