quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Deerskin: A Jaqueta de Couro de Cervo (Le Daim)

"A Jaqueta de Couro de Cervo" (2019) dirigido por Quentin Dupieux (Wrong - 2012) é um filme estranho carregado de sátira e com uma intrigante metalinguagem que trata da obsessão do personagem por uma jaqueta de camurça. Original, absurdo, mas que culmina em metáforas inteligentes.
Quando Georges (Jean Dujardin) encontra uma fascinante jaqueta de camurça, sua vida muda completamente, de um dia para o outro. A vestimenta passa a ser sua principal obsessão e o leva até uma jornada de possessividade, ciúmes e comportamento psicótico. Quando menos percebe, Georges se tornou uma outra pessoa. 
Georges joga sua antiga jaqueta e está em busca de uma nova que seja estilosa e perfeita, ele saca todo o seu dinheiro e investe nesse desejo, então o vendedor tira uma jaqueta de camurça de um baú e Georges encantado a compra e ainda ganha de brinde uma câmera amadora, a todo momento ele se olha no espelho fazendo poses admirando sua jaqueta e se sente praticamente num faroeste, principalmente quando compra botas, luvas e ganha uma calça também de camurça, além do chapéu que tira do atendente morto do hotel em que se encontra. Georges não tem mais nenhum centavo e não tem como sobreviver, a história vai se moldando a partir do momento em que ele encontra a moça do bar (Adèle Haenel) que pergunta o que ele faz da vida, sem muito pensar diz ser cineasta, intrigada ela lhe diz que seu hobby é editar, inclusive fez um árduo trabalho de colocar em "ordem" o longa "Pulp Fiction". Diante dessa mentira Georges acredita que está realmente fazendo um filme, captura imagens do local e de si mesmo e convence a garota a ajudá-lo, mas para isso precisa urgentemente de dinheiro, ele inventa um monte de mentiras e ela saca o dinheiro. As imagens são aleatórias e mostrando na totalidade a jaqueta, sua obsessão é gigante que ela até ganha uma voz. O seu filme vai se moldando e o intuito é que todas as jaquetas desapareçam e apenas a de Georges exista, essa sua insanidade vai se lapidando e novas alternativas são criadas para que consiga o seu propósito, ele não mede esforços e cria um personagem para si extremamente obcecado, violento e ridículo.

A metalinguagem é repleta de ironia, o processo criativo e as situações desencadeadas são absurdas e coloca o espectador numa armadilha tentando decifrar o que não necessita ser explicado, a obra de Dupieux brinca com essas questões o tempo todo. 
Georges não mede esforços para realizar seu sonho, de que sua jaqueta seja a única no mundo e acredita piamente que assim ela o quer também, usando a mentira de ser cineasta põe em prática seu plano e para isso utiliza seu estilo matador que termina sendo cem por cento de camurça. 

"A Jaqueta de Couro de Cervo" certamente não é um filme esquecível, a sua estranheza não é gratuita e apesar de aparentar não significar nada conforme o desenrolar inteligentemente vira o jogo e demonstra uma paródia de si mesmo. Uma obra inusitada e peculiarmente certeira.

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