terça-feira, 4 de dezembro de 2018

A Balada de Buster Scruggs (The Ballad of Buster Scruggs)

"A Balada de Buster Scruggs" (2018) dirigido por Ethan Coen e Joel Coen (Inside Llewyn Davis - 2013, Ave, César! - 2016) é um filme marcante e que homenageia o clássico gênero faroeste com muito estilo, arrebatador e permeado por um humor negro somos absorvidos por seis contos fascinantes sobre o velho oeste.
Uma antologia em seis segmentos focada na fronteira americana. Acompanhando de foras da lei a colonizadores, até todo tipo de personalidade do velho oeste, essa série de histórias vai desde profundas reflexões até o mais completo absurdo. 
O filme é muito bem elaborado dando a cada história uma personalidade única com personagens fascinantes, além do belíssimo trabalho de fotografia e sua ótima trilha sonora, tudo encaixadinho e que reaviva o tão aclamado gênero faroeste. 
A narrativa baseia-se nas histórias de um livro do qual a câmera revela imergindo em suas páginas e imagens, a primeira história serve praticamente como uma introdução ao universo western, ao mesmo tempo em que também lembra que a identidade dos diretores está presente, o ousado cavaleiro quebra a quarta parede para nos mostrar de perto as suas destrezas em um tom bizarro carregado de humor negro embalado por canções originais típicas, a incrível interpretação de Tim Blake Nelson cativa e nos faz imergir e quando menos se espera termina, seu desfecho já denota que as características dos Coen vão adornar todos os contos por mais diferentes que sejam entre si e seus estilos sejam variados, há um tom tragicômico próprio deles, é uma boa pedida para quem é fã dos diretores e, claro, do gênero.
A segunda traz a história de um ladrão de bancos, vivido por James Franco, que ao tentar assaltar um banco acaba sendo pego de uma forma inesperada, ele se livra dessa, mas em compensação a má sorte anda ao seu lado, as reviravoltas são ótimas apesar de sua curta duração. O terceiro segmento tem um ar mais sombrio e um gosto amargo, dois artistas itinerantes, Liam Neeson como o chefe do negócio e Harry Melling interpretando um ingênuo homem deficiente que declama trechos da bíblia e da literatura inglesa, os trocados já não vêm diante de outras novidades artísticas e, por isso, um destino cruel se aproxima. Este não carrega nem uma ponta de humor sequer, talvez, surja apenas quando na apresentação as recitações não tenham fim, mas, do contrário, seu tom obscuro e completamente trágico esmaga nosso coração, o personagem de Liam Neeson é calado e vemos o medo que acompanha o rapaz. Por ter um ritmo mais lento e destacar outras emoções há uma quebra da ação, mas nada que prejudique, as histórias são ricas imageticamente e além de entreter traz reflexões acerca do ser humano, violência e morte. 

A quarta história retrata um velho viajante mineiro vivido pelo grandioso Tom Waits, andando pelas paragens intocadas do oeste americano em busca de ouro, eis que depois de muito labutar acaba encontrando, a paisagem salta aos olhos e seu tom de fábula cria um efeito genial, onde no fim mostra a efemeridade do homem em relação à natureza, o homem trabalha e trabalha ao ponto de quase enlouquecer e luta pelas suas conquistas para no fim nada adiantar, o que resta é uma trágica e cômica morte.
O quinto segmento é o mais longo e se inicia de forma até desinteressante, mas à medida que avança e as situações se apresentam termina por deixar o espectador em choque. De todas com certeza tem o melhor desfecho, ela acompanha uma comitiva pelo deserto com destino a Oregon, nela está Alice (Zoe Kazan), que viaja com seu irmão a negócios, só que depois que ele morre as incertezas a corroem, ela se aproxima de Billy Knapp (Bill Heck), um dos guias da caravana, que se apaixona, a pede em casamento e diz que acertará as dívidas que o irmão deixou e ainda lhe dará um lar, mas o perigo sempre está rondando e a falta de perspicácia da moça a faz tomar decisões um tanto trágicas. 

Para encerrar surge um conto de suspense em que a atmosfera de mistério invade uma carruagem que leva cinco pessoas diferentes entre si para um destino enigmático. Preconceitos e motivações são explorados em diálogos potentes, o trajeto vai ficando mais e mais sinistro à medida que os embates se tornam mais afiados, o cocheiro nunca para e os dois homens que acompanham os cinco passageiros revelam coisas que os perturbam. É interessante que nas seis histórias apesar de haver os elementos do clássico gênero também não deixa de subvertê-los dando aspectos e perspectivas novas.

"A Balada de Buster Scruggs" é um filme que homenageia o faroeste com suas histórias que passeiam por diferentes situações e estilos, um exemplar moderno rico em humor e beleza. Os Coen não decepcionam, sempre trazem roteiros inteligentes recheados com crueza e acidez, imaginação e metáforas sobre os dilemas existenciais.
Sem dúvidas se configura entre os melhores do ano! Disponível no catálogo da Netflix!

3 comentários:

  1. Gosto dos trabalhos dos Irmãos Cohen, porém achei fraco "Ave, César!".

    Este novo longa já está na minha lista.

    Abraço

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  2. Muito bom, gostei e assisti sem saber quem dirigia. História super inteligentes com humor e tragédia. De todas qual você mais gostou?

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    Respostas
    1. Eu sou apaixonada pelos filmes dos Coen, eu amei todas as histórias, mas se for pra escolher a primeira, a quarta e a quinta.

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