terça-feira, 23 de julho de 2019

Borgman

"Borgman" (2013) dirigido por Alex van Warmerdam (Schneider vs. Bax - 2015) é um filme que passeia pela surrealidade, pelo sobrenatural, pelo humor negro e pelo mistério, a abordagem dá abertura para várias leituras e a experiência é única a cada um. É um filme que incomoda e que gera agonia, pois disserta sobre o mal, sobre o decair do ser humano.
Certo dia, Camiel Borgman (Jan Bijvoet) anda pelas ruas de um tranquilo bairro burguês, e toca a campainha de uma das casas. Quem é este homem? O que ele quer? Aos poucos, Borgman consegue se introduzir nesta família, transformando para sempre a vida de todos.
No início acompanhamos um padre e mais alguns caçadores indo atrás de algo tido por eles como o mal, então vemos Borgman saindo de um esconderijo debaixo da terra da floresta, também mais outros dois são alertados e fogem, há uma frase bíblica mostrada anteriormente que é importante para entendermos um pouco o contexto: "E eles desceram sobre a terra para fortalecer suas fileiras". As perguntas sobre quem é esse homem martelam o tempo todo, dá a entender que ele é um sem-teto que vaga e de tempos em tempos para em algum local, mas então porquê estão caçando-o? Borgman bate numa porta e pede para que possa tomar um banho, mas é negado, ele vai seguindo observando as grandes mansões e escolhe uma toda branca e enorme, bate e faz o mesmo, também é negado, mas novamente tenta e Richard (Jeroen Perceval), o dono da casa, fica nervoso pela história que Borgman conta sobre sua mulher ter sido sua enfermeira, e pronto, a semente do mal foi plantada, Borgman é agredido e fica desacordado no quintal, Marina (Hadewych Minis) vai socorrê-lo e deixa-o ficar numa casinha aos fundos escondido do marido. Borgman é tratado como um rei, banho, roupão, comida e vinho da melhor qualidade, passa uma noite e ele diz que quer ficar mais alguns dias, quando Marina nega ele diz que é o mínimo já que foi espancado.
Borgman fica espreitando e passeia pela casa sem ser visto, os três filhos do casal o vê, mas nunca dizem nada, aliás uma parte interessante a se notar, as crianças são apáticas, uma questão que o filme aborda com eficácia é essa relação familiar fria e a ambição desmedida de Richard ao se importar somente com a sua ascensão na empresa. A família aparenta ser perfeita e sem maiores problemas, Marina passa os dias no mais completo tédio e de vez em quando pinta quadros, quem cuida das crianças é a babá, uma moça que acena para tudo que lhe dizem. Borgman entra nessa casa e começa desestruturá-la sem de fato tocar em nada, apenas a presença dele acende o mal que já havia dentro desse casal, mas não é tão simples captar as nuances dessa história, ela diz sobre o mal e sobre a pulsante hipocrisia da burguesia que se sente culpada pelo que possuem, mas também há seu lado sobrenatural, como podemos ver na imagem em que Borgman está sentado nu em cima das pernas de Marina enquanto ela dorme, ele parece vigiar ou influenciar os sonhos dela, uma clara referência ao demônio Íncubo. Borgman em dado momento decide deixar a casa, mas Marina não deixa, só que ele não quer ficar mais escondido e para isso articulam um meio para que entre pela porta da frente, o desenrolar é extremamente sinistro e violento. 

Borgman é admitido como jardineiro por Richard, que não o reconhece, ele fez a barba e cortou o cabelo, mais adiante chama seus amigos da floresta para ajudá-lo, há um plano macabro sendo colocado em prática, o casal está em extrema crise, as crianças relegadas aos cuidados da babá, tudo está desmoronando e Borgman aproveita para se infiltrar de um jeito sorrateiro com seus colegas e tanto as crianças como a babá são de certo modo protegidas desse meio, fazem um tipo de incisão cirúrgica em suas costas e bebem um liquido estranho, o jardim está um caos e as ações já não são controladas. Vale ressaltar que nenhum deles vibra ou se delicia com as atrocidades, há um ar melancólico e monótono, mas incrivelmente hipnotizante. Marina se apaixona por Borgman, ela não suporta mais o marido e então decide acabar com tudo. A entrada de Borgman alterou a rotina e deu início a essa onda, todos possuem tanto o bem como o mal dentro de si, dependendo das circunstâncias ora aparece um, ora o outro, em cena não há somente o maligno.

"Borgman" é um conto perturbador, intrigante e permeado por uma atmosfera sombria capaz de produzir reflexões diversas e garantir uma experiência memorável, é daqueles que é necessário revisões, pois certamente a cada assistida agregará mais e mais, a leitura que eu tive o outro pode não ter tido e quanto mais se pensa mais interpretações surgem. Filmaço indigesto que propõe mostrar o mal sem estereótipos e de maneira nada convencional.

domingo, 21 de julho de 2019

20 Séries Desconhecidas e Escondidas na Netflix

Segue um apanhado de séries na Netflix pouco conhecidas e comentadas, são pérolas escondidas que merecem atenção, produções excelentes que acabam ficando no limbo e justamente pela baixa audiência terminam sendo canceladas. Dentre tantas destaco vinte opções para sair da bolha das séries vangloriadas. Confira:

20- "A Bizarra Confeitaria de Christine McConnell" (The Curious Creations of Christine McConnell  - 2018) EUA
A diva gótica Christine McConnell convida a audiência a entrar em sua mansão assombrada e faz os visitantes confessarem de tudo com a ajuda de fantoches aterrorizantes. 
Temporadas: 1 (Cancelada)

19- "Marcella" (2016) UK
Situada em Londres, a história acompanha os trabalhos de uma detetive investigando assassinatos em série. Há doze anos, Marcella Summers largou a carreira para se casar com Jason e iniciar uma família. Agora, com o fim de seu casamento e afastada dos filhos, ela retorna ao trabalho no departamento de polícia. Quando um novo assassinato ocorre em sua área, a polícia percebe que ele pode ter alguma conexão com um caso não resolvido há quase uma década, o qual foi investigado por Marcella, na época grávida de seu segundo filho. Teria o mesmo criminoso voltado a atacar ou alguém estaria copiando seu estilo?
Temporadas: 3

18- "Glow" (2017) EUA

Ruth Wilder (Alison Brie) é uma atriz desempregada na Los Angeles de 1985. Como última tentativa de tornar-se uma estrela, ela arrisca participar de um programa de wrestling profissional, juntamente com outras doze mulheres, sob o comando do diretor de filmes "B" Sam Sylvia (Marc Maron). Quando sua ex-melhor amiga Debbie Eagan (Betty Gilpin) chega ao ringue, o confronto entre as duas pode trazer fama à produção ou destruí-la de uma vez.
Temporadas: 2 (Renovada)

17- "Desventuras em Série" (Lemony Snicket's A Series of Unfortunate Events - 2017) EUA
Baseada na coleção campeã de vendas do escritor Lemony Snicket (também conhecido como Daniel Handler), "Desventuras em Série" conta a trágica história dos irmãos Baudelaire – Violet, Klaus e Sunny – órfãos sob a guarda do terrível Conde Olaf, que fará de tudo para colocar as mãos na herança das crianças. Os irmãos precisam constantemente despistar Olaf, frustrar seus planos malignos e investigar a misteriosa morte de seus pais.
Temporadas: 3 (Finalizada)

16- "As Telefonistas" (Las Chicas del Cable - 2017) Espanha
Em 1929, quatro mulheres vêm de diferentes partes da Espanha para trabalhar como "garotas do cabo" (operadoras de telefonia) em uma empresa em Madri que vai revolucionar o mundo das telecomunicações. No único lugar que representa progresso e modernidade para as mulheres da época, elas aprendem a lidar com inveja e traição, enquanto embarcam em uma jornada em busca do sucesso.
Temporadas: 5 (Renovada)

15- "Boneca Russa" (Russian Doll - 2019) EUA
Em seu aniversário de 36 anos, Nadia (Natasha Lyonne) morre. Mas retorna para morrer de novo. E de novo. Presa nesse ciclo surreal, só lhe resta encarar a própria mortalidade.
Temporadas: 1 (Renovada)

14- "É o Bruno!" (It's Bruno! - 2019) EUA
Ambientado no Brooklyn, Malcom dedica seu tempo para cuidar de seu cão e garantir que ele seja tratado com respeito pelos seus vizinhos, todos os dias passeia com Bruno, aliás ele nunca sai sem ele e fica indignado com os lugares que não o deixam entrar, sua comida é peito de peru e quando sobra algum dinheiro compra ração premium, diariamente arranja briga com a vizinhança ao mostrar que Bruno é sim inteligente, vai de lá para cá cheio de pose e quem se coloca em seu caminho logo trata de ensinar uma lição. Saiba+
Temporadas: 1 (Renovada)

13- "After Life" (2019) UK
Tony (Ricky Gervais) tinha uma vida perfeita até à morte da sua mulher, Lisa. Depois de ponderar sobre o que havia de fazer com a sua vida a partir daquele momento, tendo até pensamentos suicidas, Tony decide que irá viver o suficiente para punir o mundo dizendo e fazendo o que bem entende dali para a frente. Saiba+
Temporadas: 1 (Renovada)

12- "The Get Down" (2016) EUA
Drama musical criado por Baz Luhrmann. A história é situada na década de 1970, em Nova Iorque, e acompanha a vida de um grupo de adolescentes do Bronx que respiram a música hip hop. Sem ter ninguém com quem contar, a não ser eles mesmos, os garotos se aventuram pela cidade com latas de spray e passos improvisados de dança. A série tem como objetivo mostrar como a cidade, à beira de uma crise econômica, viu surgir a música hip hop. A história será narrada do ponto de vista dos garotos.
Temporadas: 1 (Cancelada)

11- "O Ministério do Tempo" (El Ministerio del Tiempo - 2015) Espanha
O Ministério do Tempo é uma instituição governamental autônoma e secreta, relacionando-se diretamente à presidência da Espanha, que detém (junto à um pequeno grupo de pessoas) o segredo sobre a existência do ministério. As viagens temporais são realizadas através de portas vigiadas pela patrulha do ministério. O objetivo das patrulhas: detectar e impedir qualquer intruso temporal que pretende se utilizar da história ao seu benefício.
Temporadas: 3

10- "Labirinto Verde" (Zone Blanche - 2017) Bélgica/França
Villefranche, cidadezinha belga, fica perdida em um verdadeiro labirinto verde de árvores. Apesar do clima aparentemente bucólico, ela esconde diversos segredos. Uma procuradora da cidade e um novato na polícia local precisam desvendar um novo mistério: uma mulher apareceu pendurada em uma árvore da floresta. A história é envolta por mistérios sobrenaturais envolvendo elementos da mitologia celta e suas divindades.
Temporadas: 2 (Renovada)

09- "Os Caminhos do Senhor" (Herrens Veje - 2017) Dinamarca
Uma família tradicional no sistema religioso dinamarquês entra em colapso sob a liderança tirânica de seu patriarca atual, que almeja se tornar o bispo de Copenhague. Disserta sobre fé e sobre grandes questões da vida tratando o conceito de fé em sentido lato.
Temporadas: 2

08- "Necrópolis" (2019) Brasil
Quando ingressou na faculdade de medicina, tudo o que Richard (Rafael Pimenta) queria era cuidar de pessoas vivas. Mas alguns obstáculos pelo caminho, como a falta de opções de emprego, fizeram com que ele seguisse a carreira de legista no IML. O único problema é que o jovem médico morre de medo de cadáveres.
Temporadas: 1

07- "O Jornal" (Novine - 2016) Croácia
Ambientada em Rijeka, Croácia, um empreiteiro com ambições políticas compra o principal diário da cidade, expondo os jornalistas a dilemas éticos.
Temporadas: 2 (Renovada)

06- "O Levante da Páscoa" (Rebellion - 2016) Irlanda
A história é situada em 1916, quando um grupo com cerca de mil homens, liderados por James Connolly e Patrick Pearse, iniciou uma rebelião em Dublin, Irlanda do Norte, a qual ficou conhecida como a Revolta da Páscoa. Enfrentando as forças armadas, eles resistiram por quase uma semana. Neste meio tempo, Eamon DeValera, e outros líderes do movimento nacionalista, proclamou a independência da Grã-Bretanha. 
Temporadas: 2

05- "Dirk Gently's Holistic Detective Agency" (2016) EUA
Baseada em "Dirk Gently's Holistic Detective Agency", série de romances do falecido autor Douglas Adams, a trama descrita como uma "comédia absurda", mostrará Elijah Wood como Todd, assistente do excêntrico detetive do título. Juntos tentarão resolver um misterioso caso.
Temporadas: 2 (Cancelada)

04- "Damnation" (2017) EUA
A década de 1930 foi um período difícil no interior americano. Magnatas e religiosos charlatões disputavam o poder sobre a população oprimida e desprivilegiada. Nessa situação, Seth Davenport se inflama e decide derrubar o status quo através de uma revolta geral. Para tanto, ele se finge de pastor numa pequena cidade do estado de Iowa. Porém, Creelet está na sua cola. Ele é um fura-greve profissional contratado por um empresário inescrupuloso. Creeley e Seth, entretanto, vão descobrir que tem muito mais conflito em comum entre si do que pensam. Há situações sangrentas que os dois compartilham no passado, mas não sabem disso ainda.
Temporadas: 1 (Cancelada)

03- "Lilyhammer" (2012) EUA/Noruega
A história apresenta Steven Van Zandt (The Sopranos) interpretando um mafioso que, após testemunhar contra seu chefe em Nova Iorque, entra para o programa de proteção às testemunhas. A seu pedido, o governo arranja para ele uma propriedade na Noruega, onde Frank Tagliano, agora Giovanni Henriksen, pretende passar o resto de seus dias. O problema é que ele não muda seu comportamento ou suas intenções, criando um choque cultural.
Temporadas: 3 (Cancelada)

02- "Trapped" (Ófærð - 2015) Islândia
Um ferry boat com cerca de trezentos passageiros deixa a Dinamarca em direção a uma pequena cidade da Islândia. Ao chegar no local, uma nevasca impede que a embarcação retorne. Neste meio tempo, o corpo mutilado de um desconhecido é encontrado na água. O chefe de polícia da cidade, Andri Olafsson (Ólafur Darri Ólafsson), tenta manter a calma entre os moradores e passageiros enquanto inicia uma investigação, na qual todos são suspeitos. Além do crime, Andri também precisa lidar com seus problemas pessoais. Mesmo tendo sido abandonado pela esposa, ele ainda vive com os sogros enquanto cuida de suas duas filhas.
Temporadas: 2 (Renovada)

01- "Black Earth Rising" (2018) UK
Kate Ashby (Michaela Coel), sobrevivente do genocídio de Ruanda, foi resgatada ainda criança e adotada por Eve Ashby (Harriet Walter), uma promotora britânica famosa mundialmente. Agora, aos 20 e poucos anos, Kate trabalha para Michael Ennis (John Goodman) como investigadora jurídica no Reino Unido. Mas quando Eve enfrenta um líder da milícia africana no tribunal, as vidas de Kate e Michael mudam para sempre.
Temporadas: 1 

quinta-feira, 18 de julho de 2019

As Duas Irenes

"As Duas Irenes" (2017) escrito e dirigido por Fabio Meira é um filme nacional delicado e extremamente caprichado, um drama familiar curioso que se desnovela pouco a pouco e que nos ganha pela abordagem belamente simples.
Irene (Priscila Bittencourt) é a filha do meio de uma família tradicional do interior, que um dia descobre que o pai (Marco Ricca) tem uma filha fora do casamento, também chamada Irene (Isabela Torres) e da mesma idade que ela. Revoltada com a descoberta, Irene passa a se aproximar de sua meio-irmã e da mãe dela, sem revelar sua identidade. É o início de uma cumplicidade entre elas, que passa também pela descoberta da sexualidade.
Acompanhamos tudo pelo olhar de Irene, que está desabrochando e esperta percebe coisas que ninguém parece querer enxergar, sua mãe é rígida e não demonstra qualquer afeto por ela, já para a irmã mais velha vemos o contrário, sua relação com o pai é boa e da parte dele sentimos um carinho, só que Irene acabou de descobrir que ele tem outra família e uma filha também chamada Irene e de sua mesma idade. Suas atitudes se tornam rebeldes e começa a afrontar os pais, ela decide se aproximar da outra Irene sem revelar a verdade. A mãe da outra Irene é costureira e a trata com muita simpatia, nas idas para que lhe faça uma blusinha conhece a meia-irmã e aos poucos fazem amizade, ela diz que se chama Madalena e a partir dessa relação um novo mundo se abre, elas saem, conversam e não se desgrudam, criam uma proximidade que exala curiosidade por parte das duas, pois elas são diferentes entre si, a outra Irene é mais aberta e já fica com meninos e usa roupas provocantes, isso tudo vai afetando a personalidade da menina que vive com uma família conservadora. O fato é que Irene vai comparando a maneira díspar que seu pai conduz as famílias e volta e meia faz perguntas do tipo: "Pai, você gosta de morar com a gente?", e dentro dessa confusão seu comportamento vai se modificando.
Essa história de filhos fora do casamento e de possuir mais de uma família sem que nenhuma saiba da outra ou até mesmo com conhecimento é algo comum e existe aos montes, mas pouco se discute sobre isso e a maneira que o filme explora o tema é deveras interessante e curioso, a Irene que descobre e vai atrás para conhecer sua meia-irmã também chamada Irene sem revelar a verdade instiga o espectador, suas escolhas são bastante pertinentes, além de que no meio disso tudo ela desabrocha e se liberta. A decisão final é certeira, sagaz, e fecha com brilhantismo.

As atrizes Priscila Bittencourt e Isabela Torres preenchem as cenas, são perfis diferentes, mas que se complementam, sempre com olhares curiosos uma para com a outra, acontece um bonito jogo de espelhos, a fotografia é também uma aliada com sua iluminação natural e a paisagem da cidadezinha interiorana de Goiás esbanja simplicidade e beleza. Tudo tem muito significado e importância, além de que o filme se faz atemporal.

"As Duas Irenes" encanta e gera reflexões acerca de questões familiares, como segredos e traições, mas sem nunca revelar demais, aborda em meio a isso o amadurecimento, as descobertas que a puberdade traz e a construção da personalidade. Um belo filme nacional que com uma abordagem minimalista e singela ganha nossa atenção e arrebata pelo seu visual primoroso.

terça-feira, 16 de julho de 2019

Plano-Sequência dos Mortos (Kamera o Tomeru Na!)

"Plano-Sequência dos Mortos" (2017) dirigido por Shin'ichirô Ueda é um filme de terror zumbi japonês original e criativo que quebra barreiras narrativas e surpreende por sua metalinguagem, é o tipo de filme que vale a pena ver sem saber absolutamente nada, pois a experiência pode ser prejudicada por qualquer informação, então se ainda não assistiu é melhor voltar para ler depois. 
Um grupo de cineastas amadores decide usar um prédio abandonado para filmar um grande plano-sequência envolvendo mortos-vivos e experimentos científicos para que possam usar em um filme de terror com baixo orçamento. A gravação se complica quando eles são atacados por zumbis de verdade, mas a equipe decide aproveitar o momento para deixar tudo registrado. O que aparentemente é uma obra clichê como tantas outras se tornará algo inusitadamente diferente. Aviso: Haverá Spoiler.
O filme é completamente independente e toda a filmagem ocorreu em apenas oito dias, incluindo o plano-sequência de 37 minutos no início em que mostra uma equipe rodando um filme de zumbi numa locação abandonada e de repente são realmente atacados, é um tanto inusitado a reação que causa, mas certamente a mais genial dentre tantas obras do tema lançadas. Acompanhamos essa equipe tentando gravar, o diretor enlouquecido querendo uma atuação de verdade da garota sendo atacada e quando acontece a invasão zumbi os dois atores e a maquiadora tentam sobreviver. Clichê como a maioria dos filmes de mortos-vivos, mas as surpresas em torno são espetaculares, basicamente a trama é dividida em dois arcos narrativos, a primeira sendo a gravação de um filme de baixíssimo orçamento e a segunda mostrando o diretor sendo contratado para fazer um episódio de um programa na TV com o tema zumbi, só que tudo ao vivo, vamos juntos do diretor em sua empreitada dificílima em criar, produzir, reunir elenco, planejar e ensaiar para que tudo ocorra perfeitamente já que não irá ter cortes. Nessa confusão criativa acontecem inúmeros imprevistos e daí somos brindados com cenas contendo todas as manobras e improvisos para sair alguma coisa enquanto o diretor está sendo pressionado pela emissora. A metalinguagem é excepcionalmente bem trabalhada, são diversas camadas narrativas que exalam amor ao cinema e garante além de um entretenimento uma aula esclarecedora dos perrengues e artimanhas nos sets de filmagem, é hilário, irônico e inteligente. 

Os atores são muito engraçados, especialmente o diretor vivido por Takayuki Hamatsu, que impressiona por sua habilidade na hora das cenas ao fazer o diretor descontrolado, e sua mulher (Harumi Shuhama) que também acaba sendo colocada de última hora para fazer a maquiadora, ela tem um problema que a fez no passado ficar longe das câmeras, que é entrar no personagem e levá-lo a sério demais, o que carreta em alguns problemas no filme, mas nele pronto não nos damos conta, só quando visualizamos os bastidores e o que foi feito para que tudo desse certo ao final. O filme brinca com o gênero e homenageia o cinema e ainda nos presenteia com as curiosidades por trás das câmeras. 

"Plano-Sequência dos Mortos" é uma obra inusitada e surpreendente, sua metalinguagem é fascinante e trabalha com a comédia de forma inteligente, os clichês e as bobagens são colocadas de um jeito criativo e não tem como não se apaixonar pela concepção do todo, fazer cinema é um processo difícil, mas imensamente satisfatório e o público percebe quando a arte foi feita com paixão. Filmaço!

*Apesar de grande sucesso em festivais, o filme teve um lançamento limitado fora do Japão e, claro, os Estados Unidos já planeja um remake.

sexta-feira, 12 de julho de 2019

La Misma Sangre

"La Misma Sangre" (2019) dirigido por Miguel Cohan (Betibú - 2014) é um filme de suspense que retrata relações familiares tensas e frágeis junto a um mistério que se desenvolve de maneira intimista e repleta de nuances. O elenco está formidável e é através dos pequenos gestos e olhares que compreendemos as inquietações de cada um. 
No início acompanhamos o patriarca dessa família que liga para o filho Elias (Oscar Martínez) pensando ser seu outro filho para que o ajude em algo da fazenda, o homem está senil e não se lembra que o filho que mais gosta faleceu, Elias não suporta a fazenda e é um escroto, seu pai acaba se acidentando e não resistindo. Após isso, Elias se muda para o local com a família e inicia negócios que não vão muito bem, afogado em dívidas decide pedir ajuda a sua esposa Adriana (Paulina Garcia), que se enfurece mais ainda por saber que hipotecou a casa, ela não quer saber de emprestar dinheiro e o deixa furioso. Então um novo acidente marca essa família e Adriana morre, o ambiente se torna quase insustentável, já que o genro Sebastián (Diego Velázquez), começa a desconfiar de Elias e não disfarça sua ansiedade, ele começa a questionar o acidente e sua esposa, Carla (Dolores Fonzi), não consegue conciliar sua dor com toda a perturbação criada por ele. Vamos juntos desses três personagens que pouco a pouco e silenciosamente lidam com suas próprias dúvidas e problemas, Elias não se importa com a morte de Adriana, inclusive fica nervoso ao constatar que não tinha nenhum dinheiro em seu cofre, e até vai atrás do amante dela para descobrir alguma coisa, cada vez mais pressionado pelas dívidas ele se mostra uma pessoa inescrupulosa e fria. Sebastián segue procurando vestígios de que não foi exatamente um acidente e se mostra reticente na relação com o sogro, já Carla não quer acreditar nessa possibilidade e sofre pela perda da mãe, mas é nas atitudes mais ínfimas que percebemos que ela faz parte de um ciclo e cedo ou tarde se transformará também.
É uma obra que parece não acontecer muita coisa, mas se atente aos detalhes, aos pontos de vista diferentes, nas atitudes dos personagens e terá uma compilação de questões a refletir. Quanto mais se aprofunda na personalidade deles mais respostas teremos, é uma narrativa intrigante e que possui uma atmosfera opressiva e intensa.

O ponto a se destacar é sem dúvidas o elenco que insere tensão cada um a seu modo, é interessante acompanhar seus modos de perceberem e entenderem as situações, especialmente, Diego Velázquez, que traduz suas dúvidas e sua obsessão na maneira de andar e olhar, e Dolores Fonzi, que cresce copiosamente no desenrolar e brilha em cena. E, claro, o monstro Oscar Martínez com seu semblante impenetrável. 

"La Misma Sangre" é uma boa opção de thriller familiar, segue por uma linha silenciosa que prima mais por seu clima do que diálogos e ações, é vagaroso e não cai em melodramas novelescos. Disponível no catálogo da Netflix!

quinta-feira, 11 de julho de 2019

O Mistério de Henri Pick (Le Mystère Henri Pick)

"O Mistério de Henri Pick" (2019) dirigido por Rémi Bezançon (Nosso Futuro - 2015) é um filme de mistério permeado por uma aura de comédia inteligente que envolve a autoria de um best-seller na linda paisagem da Bretanha. Protagonizado pelo excelente Fabrice Luchini, que adora esse universo literário, vide "Dentro da Casa" (2012), "Pedalando com Molière" (2013), "Gemma Bovary" (2014), acompanhamos uma história deliciosa que se desenrola com elegância e bom humor na medida exata, não há nada tão grandioso, mas surpreende pela bela união de literatura e cinema. 
Daphné Despero (Alice Isaaz) é uma ambiciosa editora em busca de novos romances para publicar. Um dia, enquanto visita seu pai, ela conhece uma livraria de manuscritos rejeitados. Lá, ela se encanta com uma história nunca antes publicada, escrita por um pizzaiolo bretão chamado Henri Pick. Admirada com o talento encontrado, ela começa a pesquisar sobre o autor e acaba descobrindo que ele faleceu há dois anos. Com o apoio da família de Pick, o manuscrito é publicado e imediatamente vira uma febre em toda a França, entrando para a lista de mais vendidos e gerando fascínio sobre a história do autor. Como parte da turnê de divulgação do livro, Daphné e a família de Pick são convidadas para ir ao programa de Jean-Michel Rouche (Fabrice Luchini), um crítico literário pedante e desagradável, que não hesita em questionar todos os pontos da história de Henri Pick. Convencido de que se trata de uma farsa, Jean-Michel inicia uma trajetória em busca da verdade sobre o mais novo best-seller francês.
Somos envolvidos rapidamente pela história que possui um ótimo tom de comédia e o mistério sempre é alimentado, nossa imaginação trabalha bastante e formulamos as possíveis possibilidades durante todo o desenrolar, Jean-Michel é um crítico literário presunçoso, possui um programa na TV em que na maioria das vezes deixa seu convidado desconfortável, ele é um chato arrogante, mas a composição o deixa engraçado e Fabrice Luchini é especialista neste tipo. Daphné é uma jovem que deseja o sucesso de sua editora, porém nunca encontra o livro certo, sabe que para isso é necessário muito mais que a história dentro do livro, Fred (Bastien Bouillon), seu marido, é escritor e sofre por não ter nenhuma reputação e espera que Jean-Michel leia o seu livro e faça uma crítica em seu programa, o que não acontece, Daphné parece não dar importância apesar de incentivá-lo, e o mistério começa mesmo quando ela vai visitar seu pai e lá se interessa por uma biblioteca de livros não publicados e encontra e se apaixona por um manuscrito, sem perder tempo o faz virar um sucesso e sua carreira enfim decola. O autor da obra, Henri Pick, é um pizzaiolo e faleceu há dois anos, a família desacredita que um homem tão comum escreveria algo tão profundo e tão pouco Jean-Michel crê nessa história, no seu programa cria uma cena com a esposa de Henri Pick e promete que irá desvendar e revelar a verdadeira autoria.

Jean-Michel fica obcecado e inicia uma investigação intensa e parte para a cidadezinha onde encontra a pequena e agora famosa biblioteca, tenta contato com a esposa de Henri Pick, mas quem lhe auxilia nessa empreitada é Joséphine (Camille Cottin), filha do pizzaiolo escritor, os dois vão em busca de pistas e cada vez mais Jean-Michel tem certeza que tudo não passa de uma farsa de Daphné. É divertido acompanhar os rompantes antipáticos de Jean-Michel e seus passeios de bicicleta pelo pitoresco local, as referências literárias pipocam nos diálogos e satisfaz muito o espectador que também ama literatura. 

"O Mistério de Henri Pick" é um agradável filme de mistério literário, sua boa dose de humor ajuda a acompanhar as diversas reviravoltas mirabolantes e não tem como não se encantar com o visual charmoso dos vilarejos à beira-mar, além de criticar o mercado editorial que está cada vez mais ansioso em busca de novos sucessos e que para aguçar a vontade de compra da população é capaz de criar meios questionáveis. 

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Khadak

"Khadak" (2006) dirigido por Jessica Hope Woodworth e Peter Brosens (A Quinta Estação - 2012, O Rei dos Belgas - 2016) é um filme singular, um drama místico hipnotizante e que possui uma boa dose de crítica, esplêndido em suas imagens, magnânimo em sua estrutura, ambientado nas estepes da Mongólia a história gira em torno do conflito do mundo globalizado versus a cultura ancestral, a beleza de repente dá lugar a um cenário devastador e observamos a paisagem sendo agredida e os nômades sendo iludidos e engolidos pelo sistema. Em meio a isso ainda há espaço para tomadas de sonhos e delírios que se misturam a uma revolução juvenil.
Esta é a mística história de Bagi(Batzul Khayankhyarvaa), um jovem de 17 anos que cuida de um rebanho na Mongólia. Ele possui um dom, e seu destino é ser um sacerdote. Quando uma praga ataca sua região, todos os animais são mortos, e os nômades são obrigados a viver em pequenas escavações. Mas Bagi descobre que a praga é uma mentira para erradicar os nômades. Com a ajuda de Zotzaya (Tsetsegee Byamba), uma bonita ladra de carvão, ele provoca uma revolução. 
O filme é poético e detalhista em suas imagens, deslumbrante o cenário desértico e o mistério que carrega, acompanhamos Bagi, um jovem que possui seu destino traçado, um dia será um xamã, ele tem ataques que o deixam desacordado e por isso acreditam que tem um dom, num dia chegam dizendo que existe uma praga que está matando as ovelhas e por isso precisam deixar o local, os animais são confiscados e eles levados para uma vila operária, onde funciona uma terrível mina de carvão. Todos são usados como peões e quem se mete a roubar é castigado, entre visões que dão lucidez ao garoto ele conhece Zotzaya, uma ladra que sabe que a história da praga é mentira e que planejam exterminar os nômades, junto dela Bagi tenta alertar as pessoas, mas ninguém lhe dá ouvidos e é internado em um espaço para loucos, lá a médica diz que tem epilepsia.
Com uma aura enigmática e fascinante vemos tanto a beleza do vasto cenário das estepes com um ou outro objeto solto, como o lenço azul, e por outro lado a destruidora mina de carvão agredindo a paisagem e escravizando os nômades que acreditaram na história da praga e um possível apocalipse, há diálogos que refletem o passado e que premeditam um futuro, reflexões interessantes que acontecem em sonhos e que se misturam à realidade. 

"Houve uma época, quando o homem queria demais, o deserto se moveu e extinguiu a vida. O deserto sempre irá vencer."

A peculiaridade do longa é chamativa e em nenhum momento perde-se o interesse, o mistério envolto e sua narrativa instiga, nos leva para um universo diferente. Impressiona pela poesia das cenas e destaque também para a trilha sonora que denota a cultura, há uma lindíssima cena lá pelo final onde acontece um número musical, uma espécie de manifestação poderosa que antecede a revolução.

"Khadak" é um drama étnico, retrata os nômades da Mongólia e os conflitos entre mundo moderno e cultura ancestral, o despojamento de suas raízes e então o retorno ao espírito impetuoso, a conexão com a terra é realmente algo intenso. O filme abraça questões socioambientais importantes em uma trama carregada de espiritualidade.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Mal Nosso

"Mal Nosso" (2017) escrito, produzido e dirigido por Samuel Galli é um filme de terror brasileiro muito bem realizado, tem um roteiro instigante com reviravoltas inteligentes, referências deliciosas e uma trilha sonora impecável, com certeza uma baita opção para quem adora o gênero, não deixa nada a desejar a produções americanas, inclusive sendo melhor que algumas que passeiam pelos temas de exorcismo/sobrenatural. Também conta com a mágica mão de Rodrigo Aragão para todo o trabalho de maquiagem.
Arthur (Ademir Esteves) é um pai zeloso, preocupado com sua filha única (Luara Pepita), prestes a entrar na faculdade. Ele esconde um segredo desde sua juventude sobre algo que pode ser prejudicial ao futuro da jovem, e para isso contrata os serviços de um serial killer (Ricardo Casella) na deep web. Após fazer um acordo com o assassino, Arthur abre as portas para uma jornada mortal envolvendo psicopatas, maldições e demônios.
Somos absorvidos por uma atmosfera sinistra, a história é ambientada nas profundezas de São Paulo e acompanhamos Arthur, um homem preocupado com sua filha e que está atrás de um assassino em série na deep web, ele então contrata Charles e marcam um encontro. Esse início trabalha com elementos violentos e impactantes, todo o desenrolar caminha lentamente a fim de explorar alguns subgêneros e surpreende pela sua mescla interessante e inventiva. O gore se faz presente e as cenas de violência explícita acabam deixando o filme com um tom sério, a estética é outra aliada e preenche a atmosfera enigmática e cada vez mais perturbadora, o único porém são algumas atuações, mas não diminui a obra e termina não importando tanto. Por volta dos 40 minutos é que adentramos na história de fato e conhecemos os porquês de Arthur ter contratado Charles, depois do cumprimento do acordo Charles abre a terceira pasta que estava fechada no pen drive deixado por Arthur, lá ele encontra um vídeo em que Arthur conta uma história sobre ter relação com o mundo dos espíritos desde garoto e que de algum modo foi avisado que um demônio chegaria e que sua filha seria possuída. Passeamos pelo passado de Arthur e observamos todo o medo que sentia quando as aparições ocorriam, demorou a entender que ele podia ajudar as almas boas, as conversas que aconteciam em seus sonhos com um palhaço é o que o auxiliaram nessa jornada, e é incrível como tudo se conecta ao final de forma criativa.  

O lado sobrenatural do filme é maravilhoso, mexe com nossa imaginação e surpreende pela estética e composição, são tomadas sinistras, destaque para a cena de Arthur jovem na banheira, as aparições do demônio, que confere um estilo mais à moda antiga e sem dúvidas um dos pontos a se elogiar e, claro, a do exorcismo que desencadeia uma sensação aflitiva. A trilha sonora composta por Guilherme Garbato e Gustavo Garbato é imersiva e coroa de forma esplêndida, e sem deixar de dizer que a mescla de drama, thriller psicológico, terror sobrenatural e o flerte com o slasher traz novos ares para o clássico terror, a história tem uma narrativa diferente e conquista por costurar a trama perfeitamente e entregar um ápice sensacional.

"Mal Nosso" é um filme completamente independente, feito com recursos próprios, gravado em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, o longa percorreu por mais de 30 festivais no exterior e conquistou a crítica, um feito e tanto para um filme de terror independente nacional, já no Brasil a coisa é mais devagar e a divulgação ficou por conta dos serviços de streaming, aliás, dia 08 de julho estará na Netflix. Valorize o cinema nacional e ainda mais o de gênero!

terça-feira, 2 de julho de 2019

Por Trás das Nuvens (Achter de Wolken)

"Por Trás das Nuvens" (2016) dirigido por Cecilia Verheyden é um filme apaixonante que retrata o amor na maturidade, as descobertas, as indecisões, os tabus e as delícias, o romance na velhice é um assunto pouco explorado no cinema e este ganha força pela abordagem aberta e sincera.
Emma (Chris Lomme), após a morte do marido, continua sua vida com a filha e a neta. Logo reencontra um amor antigo, o escritor Gerard (Jo De Meyere), de quem não tinha notícias há 50 anos e volta a se apaixonar. Ela tem que enfrentar a aceitação da filha e da neta, e até dela mesma, se deve ou não, amar novamente.
Acompanhamos Emma, uma senhora que acabara de perder o marido, ela tem a companhia da filha e da neta adolescente, já no velório se depara com um antigo conhecido, o escritor Gerard, passa-se os dias e recebe uma mensagem via Facebook, ele a quer ver, Emma fica um pouco ansiosa, mas termina aceitando. O reencontro não é fácil, eles não se veem há pelo menos 50 anos, porém a chama da paixão continua acesa e agora libertos podem usufruir desse desejo. Surge uma gama confusa de sentimentos em Emma, as incertezas por conta da idade e de se deixar levar pelo amor a essa altura da vida, o que para sua filha seria um absurdo por causa de ter sido recente a morte do pai e por não ver a mãe como uma mulher que tem desejos e que merece ser feliz, mas ela não tem moral para ditar qualquer regra, já que sua vida amorosa segue por um caminho triste e incerto, já a neta se assusta no início, porém segue sendo carinhosa ajudando e trocando ideias maravilhosas com Emma.
O filme toca em assuntos interessantes e aborda pontos de vista abertos, mostra os julgamentos, seja os próprios ou dos outros, ao longo viajamos pela história de Emma, o que Gerard significou e significa para ela, a amizade deles na juventude e sua escolha pelo casamento com outro na época. São camadas fluidas e sinceras de se acompanhar, toda a trajetória da aceitação de seu sentimento por Gerard e de encarar a filha e dizer que tem a chance de amar e ser amada.

Chris Lomme como Emma é esplêndida, tem uma presença fascinante e dá credibilidade, quando começa a se encontrar com Gerard, interpretado por Jo De Meyere, também ótimo em cena, garante sensibilidade e bom humor em suas descobertas como casal. É uma história simples, um romance repleto de problemas e incertezas, e assim o amor é em qualquer fase, o interessante é poder compreender que sempre há tempo para o desejo e não importa a idade, pode ser um pouco mais confuso e desconfortável, mas isso não quer dizer que seja tão diferente de quando se é jovem.

"Por Trás das Nuvens" é um ótimo romance para quem quer sair da zona de clichês e histórias juvenis, todo o processo que Emma passa para entender o que sente e resolver deixar-se levar é bonito e encorajador, além que o filme possui cenas que quebram tabus.