quinta-feira, 27 de junho de 2019

Arábia

"Arábia" (2017) dirigido por Affonso Uchoa e João Dumans (A Vizinhança do Tigre - 2014) é um filme nacional impressionante e impactante por abordar com realidade e imenso naturalismo a vida difícil de um homem à margem da sociedade que se desloca pelo interior de Minas Gerais em busca de empregos, todos eles sempre braçais e extremamente pesados e nocivos à saúde, o protagonista narra sua história e com bastante atenção acompanhamos sua trajetória simples e melancólica, preso a uma bolha social não há nenhum indício de que sua vida irá de alguma maneira mudar, não existe sequer um fio de esperança, é um retrato contundente de um operário engolido pelo sistema de trabalho opressivo cuja falta de humanização é destruidora.
Em Ouro Preto, Minas Gerais, um jovem (Murilo Caliari) encontra por acaso o diário de um operário metalúrgico que sofreu um acidente e por suas memórias embarca numa jornada pelas condições de vida de trabalhadores marginalizados. Há um prólogo que nos faz conhecer o local, a vila operária de uma fábrica siderúrgica, lá encontramos um adolescente e seu irmão mais novo, sozinhos sobrevivem em meio a fumaça, a solidão, ao alheamento e a ausência de um adulto incomoda, não se sabe onde está a mãe desses meninos, apenas a tia os visita. Depois que Cristiano se "acidenta" na fábrica esse jovem a pedido da tia vai na casa dele e lá encontra um diário, aí então embarcamos numa jornada penosa e claustrofóbica.
A trama nos conduz em uma espécie de road movie ao longo de dez anos da vida de Cristiano, que segue sua vida buscando empregos após sair da prisão, primeiro embarca para o interior a fim de trabalhar colhendo mexericas, o que acaba não rendendo absolutamente nada, praticamente é uma troca por um alojamento medíocre em que dorme no chão, a demanda pela fruta está baixa e o patrão diz que não tem dinheiro para pagá-lo e o manda embora. Depois pega a estrada e começa a trabalhar na duplicação da BR-381, lá faz alguns amigos e contemplamos momentos simplórios, mas muito significantes na maneira em que Cristiano os narra, ele diz sobre suas andanças, suas diversas cansativas funções, lugares onde dormiu, as pessoas que conheceu e também a sua sensação de perda de tempo quando não está trabalhando e, por fim, a solidão, sua fiel companheira, os laços que forma nesses trabalhos logo são perdidos e o que resta são apenas memórias. Aristides de Souza brilha em cena e se revela um grande talento, ele possui semelhanças com seu personagem, já que passou por alguns empregos parecidos e também é ex-presidiário.

O filme retrata com potência as consequências de se viver em função do trabalho, a dura realidade que mecaniza seres humanos e que diminui a expectativa de vida, por falta de opções e presos a uma condição social miserável aceitam por não conseguirem enxergar além, Cristiano aos poucos encontra a lucidez e entende o que esse tipo de trabalho ocasiona, é destruidor seus pensamentos ao fim do filme. 
"A nossa vida é um engano, a gente sempre vai ser isso e tudo o que a gente tem é esse braço forte e a nossa vontade de acordar cedo".
A fotografia é um ponto de destaque, assim como a trilha sonora com canções como "Raízes", de Renato Teixeira, "Três Apitos", de Maria Bethânia, a linda "Blues Run the Game", de Jackson C. Frank, além de quando Cristiano canta "Homem na Estrada", de Mano Brown, são músicas que representam perfeitamente a aura da história.

"Arábia" possui um ponto de vista que mescla crueza e sutileza para retratar o cenário de um trabalhador que nunca descansa, que sempre está em movimento, que pauta sua vida em razão do trabalho, que pensa somente em sua sobrevivência e que vive de incertezas alheio a outras esferas da vida. O semblante e a fraqueza de Cristiano ao final juntamente com seu momento de lucidez, como ele próprio descreve: "foi como acordar de um pesadelo", fica cravado na nossa mente e traz um sentimento de tristeza e desesperança. Uma obra-prima nacional que tem um grande valor político-social.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

After Life

"After Life" (2019) é uma série escrita, produzida, dirigida e protagonizada por um dos comediantes britânicos mais aclamados, Ricky Gervais (Derek - 2013), original da Netflix conta com seis episódios de aproximadamente 30 minutos e com simplicidade une temas densos, como o luto, o sofrimento e o mau humor com a comédia.
Tony (Ricky Gervais) tinha uma vida perfeita até à morte da sua mulher, Lisa. Depois de ponderar sobre o que havia de fazer com a sua vida a partir daquele momento, tendo até pensamentos suicidas, Tony decide que irá viver o suficiente para punir o mundo dizendo e fazendo o que bem entende dali para a frente.
A vida de Tony está completamente cinza e ele não consegue seguir em frente, desacreditado constantemente pensa em suicidar-se e dia após dia assiste os vídeos deixados pela sua esposa, uma espécie de manual para que ele continue vivendo bem, mas o que acontece é o contrário e Toni maltrata todos ao redor, não mais pensa para falar as coisas e tudo é tedioso e insuportável. Ele trabalha num pequeno jornal local junto de seu cunhado e mais três pessoas, todos à sua maneira solitários e preocupados com Tony. A decisão dele continuar vivo é por conta de sua cadela, presente que deu à Lisa no início da relação, conforme o desenrolar acompanhamos suas memórias e a depressão que o assola, para ele é difícil encarar as pessoas e não tem paciência para os conselhos ou tentativas para que se anime. Ele se isola e xinga tudo e todos, seu mau humor é terrível e sentir empatia por esse homem até demora, são os reflexos de sua verdadeira personalidade que por vezes aparece que faz com que nos afeiçoemos a ele.
A sua progressão é lenta e sutil, a trama é conduzida com delicadeza e cuidado, por mais que o humor negro permeie as ações o resultado emociona bastante, as lágrimas são inevitáveis a cada episódio. A série aborda temas difíceis com um ar leve e demonstra que não é de uma hora para outra que o sofrimento desaparece, o caminho é longo e aparenta não oferecer nada, mas é preciso muita paciência e os personagens a volta de Tony são excelentes nisso, como o cunhado que não desiste e a todo momento se dedica para que não faça nada por impulso, mas Tony não enxerga isso de início, e o pessoal do jornal também termina sendo seus aliados nessa jornada, Tony vai percebendo que sair ofendendo a torto e a direito não é a solução, assim como ele todos possuem suas dores.

Tony chega ao fundo do poço e ele acredita que não tem mais a nada a perder e por não ter coragem para se matar decide que agirá sem se importar, ele comete coisas absurdas, humilha e briga, piadas de mal gosto não faltam, ele ainda frequenta um psicólogo que não esconde também os seus problemas e visita seu pai no asilo durante algum tempinho, lá não titubeia em falar bobagens e perder a paciência, seja com o pai senil ou com a enfermeira. E mais complicado vai ficando, Tony decide consumir drogas junto do entregador de jornais, um adicto que sofre muito também pela perda da companheira.  

"After Life" possui momentos bem tristes e que geram reflexões potentes de nossa própria vida, sobre o como a enxergamos e o como lidamos com a dor que nos aflige, a capacidade de ver o quanto temos de bom é pequena, pois a tendência é sempre pender para o lado negativo e aí desprezamos qualquer oportunidade de alegria e mudança. Dissertar sobre essas questões pode parecer clichê, então é preciso assisti-la para compreender toda a mescla interessante de sentimentos, pois a sua abordagem eleva a importância e o significado dessas reflexões e a experiência termina sendo encantadora e emocionante.

terça-feira, 25 de junho de 2019

Quem Cantará as Suas Canções? (Quién te Cantará)

"Quem Cantará as Suas Canções?" (2018), terceiro longa dirigido por Carlos Vermut (A Garota de Fogo - 2014) é um filme estiloso, intenso, carregado de mistério e complexidades, a sua estética apurada e sua narrativa elaborada detém a atenção, além de ser coroado por interpretações poderosas. Há algo de Almodóvar em seu jeito, tanto na abordagem e personagens, como no estilo e suas cores, o cineasta Carlos Vermut possui uma assinatura bastante fascinante que garante ótimos estudos de personagens.
Lila (Najwa Nimri), uma cantora famosa aposentada precisa retomar a carreira por questões financeiras. Um pouco antes do grande retorno aos palcos, ela sofre um grave acidente e acorda com amnésia. Para controlar a situação, surge Violeta (Eva Llorach), uma imitadora anônima, que recebe a função de garantir o regresso triunfal da ex-diva.
Acompanhamos Lila, uma cantora que está há dez anos sem conceber nada, ao se ver obrigada a retornar tenta o suicídio e termina com amnésia, ela não consegue de forma alguma voltar ao estrelato e tão pouco se reconectar consigo mesma, em paralelo vemos Violeta, fã incondicional de Lila, mãe solteira lida com os rompantes violentos da filha adolescente e para sustentá-la trabalha em um bar karaokê, onde no fim da noite interpreta as canções de seu ídolo, já Blanca (Carmen Elias), empresária de Lila está preocupada com o futuro da carreira muito mais por ambição do que qualquer outra coisa. Lila carrega uma feição estática, parece vazia, numa noite vendo alguns clipes seus se depara com o cover de Violeta, se impressiona pela semelhança e Blanca tem a ideia de procurá-la e oferecer a oportunidade de Violeta ensinar Lila a ser ela novamente, claro que antes de ser contratada é testada para saber se poderá ter confiança. Violeta tem a chance de estar lado a lado com a mulher que idolatra, àquela que dá propósito à sua vida, enquanto essa relação intrigante se estabelece conhecemos mais um pouco de Violeta, sua submissão em relação a filha Marta (Natalia de Molina) e sua apatia diante o restante, sua única alegria é o momento em que encarna Lila no palco do karaokê. De repente, possui a missão de ensinar Lila a ser ela novamente, mas as coisas não funcionam exatamente como combinado e o que nasce a partir desse envolvimento é uma simultaneidade perturbadora e complexa.
A história é envolta por um elegante mistério e seus desdobramentos hipnotizam, as duas mulheres em cena possuem uma força magnética incrível e somos enredados pela atmosfera enigmática, outro ponto a se destacar são as cenas musicais, a maioria interpretadas realmente por Najwa Nimri, que também é cantora e compositora, as canções "Como um Animal" e "Procuro Olvidarte", são melodias excessivamente emocionais e compõem o todo com uma beleza melodramática singular.

Lila é lacônica e Violeta é apática, o encontro revela similaridades e conforme se desenvolve se misturam e renascem, não há sequer um momento desperdiçado, como os diálogos que fazem Lila relembrar de seus gostos e de seus movimentos no palco que agora considera exagerados. Violeta se mostra tão mais talentosa que Lila e passo a passo descobrimos mais sobre o passado dessa diva, e segredos vêm à tona refletindo obscuridades sobre sua personalidade.

"Quem Cantará as Suas Canções" é um filme primoroso que desnovela-se com elegância, não há pressa e sentimentos ambíguos permeiam as cenas, acontece um jogo excepcional entre essas duas mulheres e surpreende até o momento final. Carlos Vermut se configura entre os cineastas espanhóis mais originais atualmente. 

terça-feira, 18 de junho de 2019

Temporada

"Temporada" (2018) escrito e dirigido por André Novais Oliveira (Ela Volta na Quinta - 2016) é um filme que traz com naturalidade e realismo a vida comum e difícil do trabalhador brasileiro, com simplicidade, afeto e um humor honesto acompanhamos a vida de pessoas que por mais problemas que tenham seguem em frente lutando e se apoiando, a história mostra várias camadas de sentimentos, desde a solidão e as incertezas cotidianas ao companheirismo e descobertas emocionais, tudo é importante, todos os detalhes, diálogos fazem merecer nossa atenção, e que lindo é ver o Brasil raiz ser representado no cinema. 
Juliana está se mudando de Itaúna, no interior do estado, para a periferia de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, para trabalhar no combate a endemias na região. Em seu novo trabalho, ela conhece pessoas e vive situações pouco usuais que começam a mudar sua vida. Ao mesmo tempo, ela enfrenta as dificuldades no relacionamento com seu marido, que também está prestes a se mudar para a cidade grande.
Acompanhamos a rotina de Juliana, recém chegada em Contagem para trabalhar no combate a endemias, aos poucos vai se instalando e conhecendo o pessoal do trabalho, ela espera o marido que pode chegar a qualquer momento e com isso seus dias se passam entre a solidão e o desabrochar de sua independência e liberdade. Juliana é reservada e conforme cria vínculos se torna uma boa ouvinte, seus colegas contam sobre suas vidas, mas ela pouco diz sobre si, entre as caminhadas pelos bairros para conscientizar sobre os perigos da dengue conversas e emoções fluem, um companheirismo entre essas pessoas se forma e os momentos são naturais e espontâneos, representa o povo brasileiro com beleza, a vibração quando enfim o salário cai na conta, a cervejinha a tarde para espairecer, as risadas e as preocupações com o futuro; um retrato humano e delicado.

As situações se desenrolam de forma fluída, a rotina de Juliana em nenhum momento causa tédio, ao contrário, as relações que se formam e o jeito que as coisas vão se moldando dão a ela oportunidades de mudança. Quando ela vê que de fato conseguiu independência mesmo com um salário baixo e tendo que se virar como pode, a consciência de uma liberdade se desenha no horizonte e ela começa a fazer escolhas e olhar para tudo com positividade, não mais se entristece em relação ao marido e sua solidão é suprida quando se deixa experimentar e se valorizar, também é de enorme valor os laços que se formam no trabalho, a atenção que depositam um no outro e o apoio.
Capta a beleza do real, da periferia, da simplicidade, dos funcionários mal pagos que se desdobram para sobreviver e que encaram o serviço como uma passagem porque não dá para sonhar com migalhas, só que para a maioria a temporada se estende e não há muito o que fazer, os problemas se acumulam e a solidão termina por rodeá-los, porém há esperança e sempre uma história para contar com sorrisos ao final.

"Temporada" é uma bela obra nacional que traz uma perspectiva orgânica e íntima com todo o espaço explorado, a maioria do elenco é de não atores e assim como o próprio diretor vários já haviam tido a experiência como agente de endemias, um olhar puro e sem estereótipos. Grace Passô encanta, seja nos seus diálogos ou em seus silêncios, seus olhares indicando preocupação ou dor, e a sua importante e discreta transformação. 

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Filmes de Zumbi (Zombie Movies)

Segue um apanhado de filmes que abordam de formas variadas a temática zumbi, são filmes mais recentes e que se destacam pela originalidade do universo criado em seus mais diversos gêneros. 

"Tumba Aberta" (Open Grave - 2013) EUA
John (Sharlto Copley) acorda em um vala, cercado por cadáveres, no meio da natureza. Ele não tem a menor ideia de como foi parar naquele local. John é acolhido por um grupo de estranhos, mas fica em dúvida: Quem matou todas aquelas pessoas? Seria ele mesmo um dos assassinos?

"Escondidos" (Hidden - 2015) EUA
Trezentos e um dias após a explosão que mudou o mundo, Ray e sua família sobrevivem em um abrigo e esperam que, eventualmente, tudo volte ao normal. Mas algo desconhecido e perigoso se aproxima e a melhor opção é permanecerem escondidos.

"Fido - O Mascote" (Fido - 2006) Canadá
Há muitos anos a Terra passou por uma nuvem de poeira espacial, o que fez com que os mortos retornassem com uma insaciável fome por carne humana. A situação é alarmante em todo o planeta, até ser inventada pela ZomCon uma coleira que faz com que os zumbis se tornem dóceis. Graças a esta invenção os zumbis puderam ser jardineiros, leiteiros e até mesmo animais de estimação. A ZomCon quer que todos acreditem que os zumbis estão sob controle, mas Timmy Robinson (K'Sun Ray) não acredita nisto. Desconfiado e isolado, Timmy fica tanto tempo em seu quarto que até seus pais se esquecem dele. Quando sua mãe (Carrie-Anne Moss) compra um zumbi para ajudá-la em casa ele logo passa a vê-lo com desconfiança. Mas, após o zumbi salvá-lo dos garotos que sempre o perseguiam, nasce uma amizade entre eles e Timmy passa a chamá-lo de Fido (Billy Connolly).

"Melanie - A Última Esperança" (The Girl with All the Gifts - 2016) EUA/UK


Em um futuro distópico, algumas crianças são mantidas como reféns por um cientista em busca da cura para uma doença que infestou todo o planeta. Melanie (Sennia Nanua), uma garotinha com dons muito especiais, chama a atenção de Helen Justineau (Gemma Arterton) e da Dr. Caroline Caldwell (Glenn Close), que decidem embarcar em uma jornada com a menina.

"Vida Após Beth" (Life After Beth - 2014) EUA
Zach (Dane DeHaan) está devastado com a morte repentina de sua namorada, Beth (Aubrey Plaza). Quando ela volta à vida por um milagre, Zach tenta aproveitar ao máximo a sua companhia, fazendo coisas que ele se arrependeu de não ter feito enquanto ela estava viva. Entretanto, a nova Beth não é exatamente a mesma pessoa com quem Zach se relacionava e isso fará a vida do rapaz dar uma reviravolta - para pior.

"Maggie - A Transformação" (Maggie - 2015) EUA
Uma adolescente (Abigail Breslin) é contaminada por um zumbi, mas sua transformação demora seis meses para se completar. Mesmo assim, seu pai (Arnold Schwarzenegger) decide continuar ao seu lado enquanto ela deve se acostumar à sua nova personalidade monstruosa.

"Juan dos Mortos" (Juan de los Muertos  - 2011) Cuba/Espanha
Uma horda de zumbis famintos por carne humana que assola as ruas de Havana. Estende-se o rumor de que os responsáveis pela situação são os grupos dissidentes que servem os Estados Unidos. Pânico se apoderou do povo, no meio da confusão um herói: Juan (Diaz de Villegas), que com o slogan "João dos mortos, matamos seus entes queridos", é oferecido às pessoas para eliminar, por um pequeno preço, os seus familiares infectados.

"Plano-Sequência dos Mortos/One Cut of the Dead" (Kamera o Tomeru na! - 2017) Japão
O filme inicia com um longo plano-sequência envolvendo um prédio abandonado, experimentos militares, mortos-vivos e muito sangue. O que aparentemente é uma obra clichê como tantas outras se tornará algo inusitadamente diferente.

"I Am a Hero" (Aiamuahiro - 2015) Japão
Hideo é um frustrado assistente de mangaká. Um dia, sua namorada o expulsa de casa, cansada de conviver com um derrotado. Mas isso seria apenas o começo de seus problemas, pois um vírus misterioso de repente se espalha por todo Japão causando pânico generalizado. As pessoas infectadas são chamadas ZQN e adquirem uma força sobre-humana. Agora, enquanto o mundo a sua volta desmorona, Hideo terá de sair da passividade e lutar por sua vida.

"Mon Mon Mon Monsters" (Bao gao Lao Shi! Guai Guai Guai Guai Wu! - 2017) Taiwan
Um aluno impopular é alvo constante de bullying na escola. Um dia ele entra em apuros e é designado para o serviço comunitário juntamente com três valentões na aula. No entanto, em uma de suas incursões eles encontram um ser que se alimenta de carne humana e impulsionados pela curiosidade, decidem capturá-lo para fazer pesquisas. Porém, isso se torna um ciclo interminável de torturas para os envolvidos.

"Os Famintos" (Les Affamés - 2017) Canadá
Numa pequena vila em Quebec, uma epidemia de origem desconhecida transformou a maior parte da população em mortos-vivos. Mas os infectados têm algumas particularidades. Não reagem todos da mesma forma ao vírus. Enquanto uns se comportam enfurecidamente, outros, talvez ainda agarrados à sua humanidade, constroem pilhas de cadeiras ou brinquedos.

"Ben & Mickey Contra os Mortos" (The Battery - 2012) EUA
O filme se passa em um cenário devastado pelos zumbis, onde Ben (Jeremy Gardner) e Mickey (Adam Cronheim) andam sem rumo, procurando suprimentos em casas abandonadas, e passam o tempo treinando lançamentos de beisebol, escutando músicas e fumando. Mickey busca outras pessoas, um lugar para ficar e sobreviver, enquanto Ben, prefere ficar por conta própria, e sempre em movimento, já que tem certeza que, nesta situação, ficar estagnado e assinar sua sentença de morte.

"Deadgirl" (2008) EUA
"Deadgirl" narra a história de dois amigos, estudantes, Ricky e JT, que decidem entrar no porão de um hospital abandonado. Lá eles encontram uma mulher nua, deitada com correntes, amarrada a uma maca e coberta de plástico. Eles acham que ela está morta, porém as coisas nem sempre são o que parecem.

"The End?" (In un Giorno la Fine - 2017) Itália
Claudio Verona é um jovem e cínico homem de negócios que acaba preso em um elevador antes de um encontro com um cliente. Esse contratempo logo se tornará um pesadelo, quando um vírus mortal começa a transformar pessoas em violentos zumbis. Ele tem que sair desse recinto claustrofóbico, mas aparentemente, o elevador é o lugar mais seguro da cidade.

"A Noite Devorou o Mundo" (La Nuit a Dévoré le Monde - 2018) França
Quando acorda pela manhã, neste apartamento onde ainda ontem acontecia uma grande festa, Sam precisa aceitar os fatos: ele está sozinho e mortos-vivos invadiram as ruas de Paris. Aterrorizado, ele precisa se proteger e se organizar para continuar vivo. Mas Sam é realmente o único sobrevivente? Um filme que aborda o apocalipse zumbi de forma realista e intimista, o medo do desconhecido, a solidão, a paranoia, tudo muito bem detalhado para que o espectador sinta todas as emoções vividas pelo protagonista. Saiba+

"The Dark" (2018) Áustria
Mina (Nadia Alexander) seria uma adolescente como qualquer outra se não tivesse sido amaldiçoada e transformada em uma vampira morta-viva. Ela é obrigada a assombrar a casa onde cresceu: ninguém entra ou sai vivo de lá. Mas a chegada de Alex (Toby Nichols), um menino cego da mesma idade de Mina, pode fazê-la reviver sentimentos adormecidos, como empatia e amor. Um filme austríaco de horror que cria uma atmosfera sombria repleta de mistérios em tom de fantasia, uma bela e intrigante história em que a monstruosidade pode ser interpretada tanto literalmente como metaforicamente. Saiba+

"Zoo" (2018) Dinamarca
Escrito e dirigido por Antonio Tublen, o filme estrelado por Zoë Tapper, Ed Speleers, Antonia Campbell-Hughes, Jan Bijvoet e Lukas Loughran segue um casal que está tentando reparar o seu casamento durante um apocalipse zumbi.

"Os Mortos Não Morrem" (The Dead Don't Die - 2019) EUA


Em uma cidadezinha pacata, uma série de crimes começam a chamar a atenção dos policiais Cliff (Bill Murray) e Ronald (Adam Driver). Depois de investigarem, descobrem que os seus piores medos se tornaram reais: o local está sendo tomado por zumbis, que voltaram para executar as atividades que faziam diariamente quando vivos. 

Bônus: Curta - "Cargo" (2013) Austrália
Em 7 minutos nos é mostrado o amor incondicional de um pai preso no meio de um apocalipse zumbi, esse homem põe em andamento um improvável plano para proteger a preciosa carga que ele carrega: sua pequena filha. E o pior de tudo é que a maior ameaça é ele mesmo. Saiba+

Série - "In the Flesh" (2013 - 2014) UK
Situada no futuro próximo, a história acompanha a vida de sobreviventes que enfrentaram o holocausto zumbi. Estes foram eliminados ou capturados pela Human Volunteer Force e agora recebem tratamento médico para que possam ser reintegrados à sociedade, utilizando medicamentos, lentes de contato, implantes e maquiagem corretiva. Assim, eles passam a ser chamados de vítimas do PDS (Partially Deceased Syndrome - Síndrome de Falecimento Parcial). Kieren cometeu suicídio há quatro anos, mas desde então, milhares de zumbis foram reanimados, através de reabilitação e medicação, graças a um plano governamental de inclusão dos afetados. No entanto, as comunidades que foram abandonadas na época da epidemia e que tiveram que entrar na sangrenta batalha contra os zumbis não estão exatamente receptivas a esse novo programa de reintegração. 1ª Temporada e 2ª Temporada.

Série - "Kingdom" (2019) Coreia do Sul
O príncipe herdeiro da dinastia Joeon assume a missão de investigar uma misteriosa epidemia que assolou a população local. Lá, o jovem não demora a perceber que a situação é ainda pior do que ele imaginara. Agora, ele precisa travar a batalha mais violenta de sua vida a fim de proteger seu reino.

terça-feira, 11 de junho de 2019

Vox Lux - O Preço da Fama (Vox Lux)

"Vox Lux" (2018) dirigido por Brady Corbet (A Infância de um Líder - 2016) é um filme interessante e narra de forma inconvencional o rumo ao estrelato de uma cantora pop, vemos desde o nascimento vindo de um evento trágico à sua ascensão e fama e seu declínio justamente por toda a glória envolvida em torno de si. A trama cutuca fundo e retrata o quão descarado e perturbador pode ser esse cenário, a indústria da música que cria e constrói artistas presos a um universo paralelo à base de mentiras e obscuridades. Isso por si só eleva a qualidade do longa e vem para bater de frente com filmes que romantizam e fazem endeusar ainda mais essas pessoas. 
Celeste (Natalie Portman) é uma estrela pop que vem para o sucesso como resultado de circunstâncias anormais. O filme é ambientado entre 1999 e os dias atuais, e segue a ascensão de Celeste das cinzas de uma grande tragédia nacional para o estrelato pop. Esta odisseia de 15 anos acompanha a evolução cultural importante do século XXI através de seu olhar.
Somos introduzidos à história secamente e incomoda o rumo que toma, Celeste sobrevive a um tiroteio em sua escola de música e é exposta pela mídia e todos se compadecem, ela e a irmã apresentam uma canção própria, uma forma de homenagem e logo ela é inserida no mercado fonográfico já que possui talento e carisma, as músicas ganham roupagens pop, mas o fato é que as letras não são escritas por ela, mas pela irmã, que no decorrer termina sendo sua sombra e esquecendo de viver sua própria vida. Celeste possui bastante vontade e interesse de crescer e se tornar uma estrela e tudo contribui para que isso se concretize, a tragédia foi primordial para que ganhasse a fama e o desenrolar demonstra situações estranhas e desagradáveis dos bastidores .
O filme é dividido em capítulos, mas a verdade é que possui duas partes e, infelizmente, não há uma continuidade instigante e fluída, a quebra corta a sensação da então chocante primeira parte, somos empurrados sem dó e encontramos Natalie Portman performando, cheia de caras e bocas e extremamente perturbada, ela está retornando aos palcos depois de muitos contratempos e observamos sua instabilidade com a realidade. Apesar de todo o esforço impecável de Natalie Portman quem se sobressai é a jovem Raffey Cassidy, seu olhar passa todo o entusiamo pela carreira e assume uma personalidade forte mesmo aparentando inocência, é claro que as responsabilidades a fizeram se encontrar mais cedo com o mundo adulto e as consequências disso vemos na segunda parte.

É um filme musical, mas é diferente na forma, as canções tem em sua essência a característica repetitiva e mecânica, a trilha sonora foi composta por quem entende do assunto, a cantora Sia. Celeste em dado momento cita que suas músicas são criadas para as pessoas não pensarem enquanto escutam, o tom que o filme adota em não evidenciar o talento e expor a falta de emoção é para demonstrar o quão automatizado é por trás da vida de uma estrela pop. 
Celeste é perturbada, não tem uma relação afetuosa com a filha, que foi criada pela irmã, vivida por Stacy Martin, há uma confusão na segunda parte, já que usaram Raffey Cassidy para interpretar a filha melancólica de Celeste. Impressiona em muitas cenas pela visceralidade de seus rompantes, como na cena em que Celeste se desmonta no banheiro enquanto a irmã tenta acalmá-la. Instantaneamente vêm à mente nomes de inúmeras artistas pop que explodem, depois se destroem e mais tarde tentam um recomeço.

"Vox Lux" é um filme pretensioso e isso não significa que seja ruim, ao contrário, ele propõe uma visão diferente sobre a indústria musical e as celebridades criadas, além de pincelar variados assuntos que a permeiam e suas consequências, há um vazio imenso nisso tudo e por isso pode aparentar que o filme também seja. O diretor Brady Corbet tem um estilo bastante interessante e mesmo com o descompasso e um certo excesso a obra gera boas e importantes reflexões.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Kyrsyä - Tuftland

"Kyrsyä - Tuftland" (2017) dirigido por Roope Olenius é um filme de terror finlandês que trabalha o mistério e o bizarro de forma primorosa, sua atmosfera estranha e enigmática segue por todo o desenrolar e não tem como reclamar de clichês, visto que a cada instante há novas camadas sinistras e desdobramentos perturbadores. 
Irina (Veera W. Vilo), uma estudante teimosa tenta superar seus problemas aceitando um emprego de verão em um estranho e isolado vilarejo chamado Kyrsyä. Acompanhamos a angústia de Irina em sua rotina, na faculdade está sempre insatisfeita e seu único desejo é sair de sua cidade para esquecer os problemas, ela tenta se inscrever em trabalhos de verão, mas nada dá certo, até que inesperadamente recebe uma carta indicando um trabalho numa distante aldeia, Kyrsyä, na área têxtil de uma fábrica, que é o que Irina está estudando. Sem pensar muito o como a carta foi parar lá decide embarcar, em paralelo vemos um esquisito a seguir ela, morador da aldeia e que enviou a tal carta, Perti (Miikka J. Anttila), em determinado ponto ele a acompanha até o local inóspito rodeado somente pela natureza, chegando ela se depara com pessoas muito simples e que dão valor a outras coisas, o mundo moderno não os interessa e fazem tudo manualmente auxiliados pela natureza, o respeito e a devoção é aos poucos delineada e Irina se encanta de início, aproveita seus dias olhando ao redor e passeando pelas trilhas na floresta, mas sem nunca deixar também de se sentir deslocada e impressionada com as ações dessa "família". A forma simples e naturalista acaba tornando-se numa espécie de adoração à natureza e os laços que os unem se revelam abomináveis. Irina começa a questionar sobre a produção que nunca começa e sobre outras coisas, especula com Maaria (Saara Elina), a mais jovem dessa aldeia, ela possui características peculiares e insanas. Então começam a produzir manualmente pompons, o que deixa Irina muito brava e daí decide ir embora, mas os habitantes a seguram e a querem lá para sempre, inclusive arranjando-lhe um marido, a ideia de procriação é o que domina e ainda há um humano selvagem que fica preso o tempo todo pela sua alta libido, a surrealidade também dás as caras com o aparecimento de uma menina fantasma, e o enigma paira no ar, qual a utilidade da confecção de pompons?
Inicialmente Irina abraça a vida simples e rústica e releva os comentários severos, como os da avó, mas com o passar do tempo o ar sinistro toma conta, eles agem de forma estranha, os homens caçando entoando vocalizações, as mulheres e seus afazeres domésticos, os urros que ouve, sinais da natureza, Perti e suas visões, e então um possível culto. É bastante particular a narrativa e em nenhum momento podemos imaginar seu desfecho.

Vale ressaltar a maravilhosa atmosfera criada principalmente nas locações naturais, os caminhos da floresta, as pistas espalhadas pelo solo, os ruídos. O mistério envolvendo a coexistência dessas pessoas e a natureza intriga bastante, e outro ponto que ajuda criar tensão é sua trilha sonora que gera a sensação de uma fábula sombria, além também de seu humor nada convencional e bizarro.

"Kyrsyä - Tuftland" levá-nos para um lugar rústico e assombroso, onde o que predomina são pensamentos e atitudes ultrapassadas e que unem à selvageria de um culto pela vida simples sem a intromissão do mundo industrializado e moderno. Um conto de terror escandinavo interessante e que surpreende pela beleza e, principalmente, pela excentricidade. 

quarta-feira, 5 de junho de 2019

É o Bruno! (It's Bruno!)

"É o Bruno!" (2019) é uma série americana de comédia nonsense da Netflix concebida inteiramente pelo talentoso Solvan Naim, ou "Slick Naim", que além de tudo ainda é rapper, são oito episódios de aproximadamente 15 min recheados de ironias e absurdos envolvendo Malcom e seu filho, Bruno, um cãozinho muito fofo e motivo de sua existência. Texto inteligente, rápido e super atual, mesmo com todos os absurdos é possível em vários momentos se identificar com Malcom, já que cada vez mais os animais são considerados parte da família, ou mesmo a única parte dela, como no caso dele.
Ambientado no Brooklyn, Malcom dedica seu tempo para cuidar de seu cão e garantir que ele seja tratado com respeito pelos seus vizinhos, todos os dias passeia com Bruno, aliás ele nunca sai sem ele e fica indignado com os lugares que não o deixam entrar, sua comida é peito de peru e quando sobra algum dinheiro compra ração premium, diariamente arranja briga com a vizinhança ao mostrar que Bruno é sim inteligente, vai de lá para cá cheio de pose e quem se coloca em seu caminho logo trata de ensinar uma lição, como o cara que não recolhe o coco de seu próprio cachorro. Não sabemos muito sobre Malcom a não ser que apenas possui Bruno em sua vida, que também é uma incógnita do como conseguiu ele, inclusive isso deve ser explorado numa possível próxima temporada.
A série é viciante e seu humor por vezes tosco acaba agradando quem tem uma relação mais próxima com seu animal de estimação, as situações ridículas ironizam essa dependência e é praticamente impossível não assisti-la de uma tacada só. Outros personagens aparecem aleatoriamente e mesmo parecendo que nada faz sentido a história trata de conectar tudo em seu desfecho, destaque para a golpista Lulu (Shakira Barrera) que se relaciona com solteirões como Malcom para roubar os cachorrinhos, assim como Barry (Anthony L. Fernandez), que distrai os passantes com seu filho Billy Bailando (Eddie J. Hernandez), dançando salsa para sequestrar os cachorros. Há ainda os donos do Pet Shop, o dono do mercado, a caixa da mercearia, um vizinho que sempre está sentado nas escadas chamando Bruno por outro nome, e o mais engraçado de todos, Harvey (Rob Morgan), que cria uma competição bizarra entre Bruno e sua cadelinha Angie.

Solvan Naim como Malcom tem um carisma maravilhoso e mesmo quando ele exagera soa simpático, seus trejeitos e as situações em que se coloca são retratadas com humor simples, mas terminam expondo algumas coisas sérias, como a gentrificação e a diferença socieconômica. Os episódios evoluem deliciosamente e o ápice é quando Malcom se vê sozinho e termina jogado na rua sob o efeito de crack. Vale ressaltar que o cãozinho é bem pacato e não há nenhum rompante por parte dele, quem espera ver algo do tipo "Marley e Eu" esqueça, aqui o maluco é o dono. Outra coisa que cria empatia é o fato de Bruno ser realmente filho de Solvan, então a conexão entre eles é verdadeira e realmente afetuosa, podemos ver o amor nos olhinhos de Bruno.

"É o Bruno!" é para quem gosta de séries curtinhas e que possuem uma comicidade absurda e inteligente, um excepcional e criativo trabalho do multitalentoso Solvan Naim. É maravilhosa até no trailer, impossível assistir uma vez só. Confira.

terça-feira, 4 de junho de 2019

High Life

"High Life" (2018) dirigido por Claire Denis (Deixe a Luz do Sol Entrar - 2017) não é um filme de meio-termo, ou ele gera encantamento ou aborrecimento, a história explora o espaço de forma diferente da usual e capta toda a complexidade das relações humanas, é bastante imersivo e reflexivo, divaga sobre a solidão, o vazio e a decadência da existência humana.
Um grupo de criminosos aceita um acordo para trocar suas penas pela participação em uma missão espacial à procura de energias alternativas, mas a viagem toma rumos inesperados quando uma tempestade de raios cósmicos atinge a nave.
Acompanhamos Monte (Robert Pattinson), sozinho em uma nave espacial rodeado apenas por uma desolação assustadora e um silêncio profundo, ele cuida de sua bebê, Willow, enquanto mantém uma rotina para dominar o desespero, a narrativa inicial intriga com seus mistérios e aos poucos a história vai se descortinando, a linha do tempo se quebra a todo instante para que compreendamos os motivos de Monte estar solitário na nave. A tripulação desta nave, todos condenados à pena de morte, tiveram a escolha de poder participar de uma experiência espacial cuja missão era encontrar o buraco negro mais próximo da Terra, na esperança de obterem liberdade se deparam com um imenso vazio cruel e bizarro, entre eles está a líder, Dra. Dibs (Juliette Binoche), perversa ela utiliza todos como cobaias para suas experiências de inseminação artificial, Monte é o único que se priva e mantém uma disciplina para controlar seus desejos sexuais, o restante regularmente se satisfaz e tomam medicações, enquanto isso observamos as relações que se tornam cada vez mais tensas e insanas dentro da nave, o instinto de sobrevivência, a maneira de se encarar os desejos e a obsessão por reprodução de Dibs vão sugando a vida de cada um, o único elo ainda com a Terra é um jardim que é capaz de resgatar as emoções, mas aos poucos isso também vai sendo deixado de lado por quase todos. Impressiona a visceralidade poética das cenas, até mesmo nas mais esquisitas e violentas. Acaba que Monte sem querer se torna pai, a insana Dibs o entorpece e coleta o seu sêmen e o introduz em Boyse (Mia Goth), que repelia esses processos, a Dra. acreditava que eles dois tinham a melhor genética. Isso detona Boyse e logo após o nascimento entra numa espiral de desespero, ela não consegue lidar e só deseja sair disso tudo, seu desfecho é um dos mais perturbadores, a cena é realmente petrificante. A desesperança e a onda de violência toma conta de vez e os tripulantes não dão conta de suportar mais esse ambiente claustrofóbico, vemos os desfechos de cada um acontecendo e o único a manter-se é Monte, cuja responsabilidade com Willow cultiva um fino fio de esperança.

Claire Denis entrega um filme de ficção científica fora dos padrões, não há o tão característico sentimento de conquista por algo, mas sim a sensação de abandono e a reflexão das ações dos seres humanos, sejam elas medíocres ou afetuosas e, claro, também de nossa pequenez diante o universo. Hipnotiza pelo charme e gera angústia pelas atrocidades, além de promover dúvidas e colocar-nos a refletir na existência humana e todos os seus conflitos de emoções; as cenas do espaço e sua imensidão são bem bonitas, as estrelas, o escuro, e o buraco negro ao final impressionam. Robert Pattinson está maravilhoso como o calado e disciplinado Monte, ele mescla momentos de apatia e esperança, sua relação com Willow encanta, seu instinto paternal em meio à desolação, a rotina que o mantém vivo também é capaz de levá-lo à loucura, são nuances interessantes e que deixam muitas perguntas e abrem questionamentos diversos, não é à toa que quanto mais se pensa na história mais intrigante fica.

"High Life" proporciona momentos únicos e arrebatadores a cada espectador, e ao fim ficamos perdidos com uma mescla de agonia e suavidade, sem dúvidas, um filme provocante, denso e primoroso. Vale mencionar a bela e atmosférica trilha sonora e destaque para a canção "Willow", interpretada por Robert Pattinson.