quarta-feira, 6 de março de 2019

O Príncipe Feliz (The Happy Prince)

"O Príncipe Feliz" (2018) do ator e estreante na direção Rupert Everett é um filme magnânimo que exalta e homenageia uma das figuras mais emblemáticas da literatura inglesa do século XIX, Oscar Wilde, um dos nomes mais importantes da literatura. Apesar dos grandes feitos na carreira, esse influente escritor, poeta e dramaturgo, teve uma vida curta. Condenado a dois anos de prisão, Oscar Wilde contemplou sua liberdade por apenas três anos antes de vir a falecer. Agora, as lembranças e pensamentos dele formarão um retrato dos últimos dias do escritor.
É um filme feito com muita paixão, Rupert Everett cria com propriedade o excêntrico escritor, ele já o havia interpretado no teatro em 2012 e sua dedicação para esta produção levou anos e anos, sua capacidade em dar vida a Wilde é encantadora e apesar de alguma monotonia e passagens confusas envolvendo flashbacks é uma primorosa e exuberante obra que certamente agradará aos apreciadores de Oscar Wilde. Poético, a narrativa se entrelaça com o conto "O Príncipe Feliz", uma das fábulas escritas para seus filhos, a história diz sobre uma estátua e uma andorinha e possui uma bela moral de amizade, solidariedade e desprendimento. O filme foca nos anos após sua prisão, que aconteceu por perder um processo de difamação contra o Marquês de Queensberry, Wilde mantinha um caso com o filho dele e indignado o acusou de sodomia e comportamento indecente, o escritor o processou por difamação, mas acabou perdendo e considerado culpado foi sentenciado, o início de sua decadência começa aí, após sair da prisão obteve bloqueio para a escrita e a miséria o acompanhou, perdeu prestígio e também a saúde, a angústia tirou o lugar da excentricidade e observamos um ser humano perdido, mas que mesmo assim possuía grandes amigos dos quais o incentivava e o ajudava.
"Por detrás do sofrimento, há sempre sofrimento. Ao contrário do prazer, a dor não usa máscara."
A história não usa de didatismo, portanto é necessário conhecer pelo menos um pouco da vida do escritor, principalmente esses anos conturbados em que se iniciou sua derrocada, vemos um homem grandioso se apequenar e sofrer por amor, observamos suas tentativas de obter prazer com jovens rapazes e demonstrar a elegância que lhe restava. São passagens interessantes e tristes, ele anda por becos e tabernas enquanto amigos tentam resgatá-lo e fazê-lo retornar à escrita. Também há sua mulher Constance (Emily Watson) que acaba cortando a renda que restava a Oscar depois de perceber que ele não mudaria, infelizmente a relação com os filhos se quebra, não há mais vínculos e só vemos algo pelos trechos do passado quando lia para eles, Oscar volta a se encontrar com o jovem amante Alfred (Colin Morgan), que fica por um curto período até que seus pais cortam sua renda, mas por outro lado haviam leais amigos que sempre estavam à disposição, como Robert Ross (Edwin Thomas), seu executor literário e Reggie Turner (Colin Firth), que o acompanhou até seus minutos finais.

Nesta parte de sua vida só havia lugar para o sofrimento e a atmosfera faz jus sendo lúgubre, mas ainda restava uma grande parcela de paixão, sua necessidade em amar e ser amado por Alfred, sua fuga junto dele o levou por alguns dias a se sentir vivo, mas depois novamente seguiriam os joguetes para cima dele e dessa forma novamente lembrá-lo de que sua personalidade também o enojava, então volta para a realidade melancólica e o vemos pelas ruas trôpego e mais adiante com saúde frágil completamente destruído.

"Sofrer é um momento muito prolongado. Não podemos dividi-lo por estações. […] Para nós o tempo não progride. Ele gira. Parece circular em torno de um centro de dor."

"O Príncipe Feliz" é o recorte do período de declínio do escritor que era conhecido por suas excentricidades, uma figura exuberante que causou grande polêmica, na época homossexualidade era considerado crime e acabou sendo preso por dois anos, na prisão produziu entre outros escritos "De Profundis", uma compilação de cartas destinadas ao seu amante, a causa de sua desgraça. Nesta, que se tornou uma obra-prima inusitada, percebe-se outras camadas de Wilde, tão diferentes de seus outros trabalhos, são textos recheados de sentimentos conflituosos sobre a sua paixão cega e autodestrutiva.
É notável o empenho de Rupert Everett, sua composição e dedicação é inquestionável e mesmo que soe vaidoso o filme merece reconhecimento.

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