quarta-feira, 27 de março de 2019

Lords of Chaos

"Este filme é baseado em verdades, mentiras, e no que realmente aconteceu."

"Lords of Chaos" (2018) dirigido por Jonas Åkerlund (Polar - 2019) é um filme baseado no livro "Lords of Chaos: The Bloody Rise of the Satanic Underground" e inspirado numa história real em torno do surgimento do cenário black metal norueguês, Euronymous motivado pela banda Venom acaba criando sua própria banda com um som único e morbidamente fascinante, entre um curto período segue-se diversos conflitos e a obscuridade vai tomando conta da vida real, como a queima de igrejas e assassinatos, como descrito em seu início há verdades, mentiras e fatos que realmente ocorreram, mas que não se prendem à seriedade, pois é um filme de ficção e não um documentário, e propõe apenas um recorte da história e um olhar de desconstrução em torno dessas figuras e os demonstra como simplesmente adolescentes problemáticos e maldosos dominados pelo tédio e com uma criatividade pulsante e extrema, o sarcasmo é muito bem-vindo, assim como a caracterização dos principais personagens e a questão de ser poser ou true ganha tons de deboche. Jonas Åkerlund, conhecido pela direção de clipes musicais tem propriedade para falar do assunto, viveu na época, inclusive sendo um dos bateristas da banda Bathory. Então para os fãs mais ardorosos acalmem esses nervos e curtam o filme e agradeçam que alguém teve a ousadia de colocar um pouco da história desse gênero tão infame e tão arrebatador em um filme de ficção, aliás deixo como dica o islandês "Metalhead" (2014). Para quem quiser conhecer mais a fundo e ir de encontro com a ascensão da cultura do gênero na Noruega com toda a violência, profanação e a mística do mal existem documentários, tal como, "True Norwegian Black Metal" (2007), "Once Upon a Time in Norway - The History of Mayhem" (2007), "Black Metal Satanica" (2008) e "Until the Light Takes Us" (2008).
Noruega, anos 90. Euronymous (Rory Culkin), um adolescente precoce, pretende espalhar o mal, caos e black metal de verdade com sua banda, Mayhem. Quando ele convida Varg (Emory Cohen), um misterioso solitário, a participar de seu "Círculo Negro", uma rivalidade se dá início, levando a inesperadas consequências.
Acompanhamos o jovem Euronymous com todos os seus ideais em torno da sonoridade agressiva, procurando um novo vocalista para sua banda Mayhem, surge "Dead", Per Yngve Ohlin (Jack Kilmer) vindo da Suécia, depressivo mutilava-se nos shows e apreciava a atmosfera da morte, enterrava suas roupas e depois as usava e inalava o cheiro putrefato de corvos mortos, também foi quem difundiu a utilização do corpse paint, inspiração vinda da banda brasileira "Sarcófago". Sua morte precoce cometida através de um suicídio brutal, pulsos cortados e um tiro de espingarda na cabeça resultou na capa do álbum "Dawn of the Black Hearts", de 1995, Euronymous ao encontrá-lo correu para comprar uma câmera e alterou um pouco a cena a fim de a tornar mais chocante, além de ter criado lendas, como ter comido uma parte de seu cérebro e conceber colares a partir de seu crânio, o que fazia parte de um marketing e acabava gerando curiosidade não só entre os adoradores. Vale ressaltar que Jack Kilmer como Dead está incrível e particularmente encarei como a melhor caracterização, absorveu com excelência a atmosfera e sua performance é brilhante.

Euronymous abre uma loja de discos e também gravadora e é líder de um grupo chamado "Inner Circle", onde somente os verdadeiros apreciadores do som poderiam entrar, além de ter toda uma aura de maldade, acaba que toda essa contestação contra o cristianismo, ideias de propagar o mal ganha formas reais quando um jovem tímido se aproxima de Euronymous e lhe apresenta sua banda, o Burzum, um som caótico, agressivo e hipnotizante concebido por apenas uma pessoa, o extremista e talentoso Varg Virkenes, esse jovem decide colocar em prática seus ideais e começa a queimar igrejas se sobressaindo no círculo e deflagrando uma onda satanista, surge aí conflitos de poder entre os jovens e atitudes cada vez mais violentas para se afirmarem no grupo, ou somente por pura maldade, como o caso de Faust (Valter Skarsgård), ao assassinar brutalmente um gay dando 37 facadas para sentir como era. Euronymous é retratado como um adolescente que dissipava ideias e usava essas polêmicas como marketing, Varg, um imbecil, inclusive rendeu altas críticas pelo próprio, reclamando da interpretação "daquele ator gordo judeu", então o filme promove não a humanização destas figuras, mas uma demonstração de adolescentes que tinham absolutamente tudo, mas mergulhados no tédio e prontos para confrontar e conceber algo novo. Por conta dessas atrocidades e polêmicas e a grande expressividade do gênero a Noruega acabou ganhando o título do berço do black metal.

O filme tem uma ótima ambientação e faz recriações excelentes, como das fotografias, as cenas violentas e o gore são muito bem feitas, os esfaqueamentos são perturbadores e toda a atmosfera pesada se faz presente apesar do tom de sarcasmo que permeia a obra, a trilha sonora além das músicas do estilo ousou na criatividade colocando algo oposto, como Dead Can Dance e Sigur Rós.
"Lords of Chaos" cumpre com a proposta de apresentar uma parte do cenário do black metal norueguês e mostrar os acontecimentos sórdidos que se mesclaram ao gênero, mas tudo sob um viés descompromissado; as polêmicas, a associação ao satanismo, a valorização da cultura escandinava e a quebra do mito ao retratar adolescentes idiotas em estado de ebulição que queriam fazer a diferença de qualquer jeito num ambiente frio, cinza e sem maiores problemas. Os truezão podem contestar a vontade, mas o filme é eficiente e empolga!

Na foto: O Mayhem original e abaixo o Mayhem do filme

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