segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O Clube (El Club)

"O Clube" (2015) dirigido pelo chileno Pablo Larraín (No - 2012) é um filme sério que coloca em evidência a hipocrisia da igreja católica.
Um grupo de sacerdotes vive em uma casa na costa chilena, onde ficam sob cuidados de uma freira. Mas o que será que os levou até ali, praticamente no meio do nada, onde o vento sopra forte frequentemente? Quando um novo sacerdote muda-se para lá, um homem começa a lhe fazer fortes acusações. O filme adentra impiedosamente no passado sombrio desses servos de Deus e revela contradições da Igreja Católica.
A história de forma introspectiva nos mostra que a igreja é um meio fechado com suas próprias regras e que pela imagem é capaz de qualquer coisa. A sensação que o filme provoca é de um nó na garganta, um desconforto enorme.
O clube do título se refere a uma casa à beira-mar que abriga sacerdotes que estão banidos de suas funções por conta de crimes cometidos, por exemplo, a pedofilia. Com a chegada de um novo padre descobrimos isso, mas este nem se acomoda e já se desespera ao se deparar com uma situação constrangedora, afinal mexe com a sua moral. Um jovem começa a gritar detalhadamente no portão da casa que foi molestado por ele, o desfecho disso desencadeia numa investigação partindo de um outro padre que aparece na história. Padre García (Marcelo Alonso) é jovem e está decidido a fechar a casa, pois os padres ali mais parecem estar em um spa do que pagando seus pecados. Ele entrevista um por um e é aí que conhecemos os crimes cometidos. O roteiro vai jogando verdades assombrosas e revelando a complexidade humana. 
A freira Mônica (Antonia Zegers) que cuida da casa é mais uma figura de ambiguidades, ela vai da resignação à crueldade. Outra atuação de peso é de Alfredo Castro como padre Vidal, um misto de sentimentos surgem e ao final nem sabemos o que pensar, a briga com os seus próprios desejos e a obscuridade em torno disso. O filme se desenrola numa atmosfera nublada, não há luz, apenas a penumbra, o que reflete o estado de cada um deles.
Impressionante e repulsivo ver que esses padres não se arrependem de nada, ao contrário, por muitas vezes eles colocam de forma até bela o ato sexual com uma criança, é nojento em algumas partes o como conseguem justificar seus podres atos. O personagem que aparece no início do filme acusando o padre recém-chegado narra minuciosamente o como foi abusado, e o mais pertinente é que ele diz que foi pelo tal padre que conheceu o amor, que se sentia mais perto de Deus.

"O Clube" é um filme pesado e claustrofóbico, porém necessário, já que coloca diante do espectador verdades sobre essa instituição religiosa, toda a sujeira e o como certos padres agem em nome de sua suposta fé para dar vazão ao seu lado mais sombrio e perverso. 
É um trabalho primoroso de direção, a fotografia é de tirar o fôlego e compartilha a todo momento com o contexto da história, além de atuações fortes e tensas. O assunto não é novidade, mas é importante que cada vez mais se coloque em evidência tais barbaridades e se quebre a "política do silêncio" que envolve a igreja católica.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O Presente (The Gift)

"Eu acredito que as coisas ruins na vida, elas podem ser um presente."

"O Presente" (2015) dirigido pelo ator Joel Edgerton (A Estranha Vida de Timothy Green - 2012) é um filme estimulante, muito bem construído e com ótimas pitadas de sarcasmo. Ele trata de bullying, ganância, arrogância, mentiras e vingança. O suspense se mantém durante todo o filme e surpreende em seu final. Simon (Jason Bateman) e Robyn (Rebecca Hall) casaram há pouco tempo e estão muito felizes até o dia em que ele reencontra Gordo (Joel Edgerton), um colega de escola. Um segredo do passado dos dois vem à tona e Robyn se sente cada vez mais insegura perto do companheiro.
Joel Edgerton fez um excelente trabalho, ele roteirizou, dirigiu e protagonizou, realmente merece elogios, compôs um personagem interessante que passa para o espectador diversos sentimentos, Gordon Mosley, ou apenas Gordo, é um sujeito que aparece do nada na vida de Simon e Robyn, o casal se mudou a pouco tempo para a cidade onde Simon cresceu, ele recebeu uma ótima proposta de emprego, então decidiram recomeçar as suas vidas e formar uma família. Gordo aborda Simon, que insiste em não saber quem ele é, mas após alguns minutos se recorda. Daí em diante Gordo passa a presentear o casal, aparece na casa em momentos em que Simon não está, e aos poucos isso se torna incômodo. Robyn é sempre solícita, mas Simon desdenha de Gordo. 
O filme proporciona a dúvida sobre esses personagens, a princípio Simon parece ser o cara que venceu na vida por seu esforço, e Gordo um invejoso que não tem muito para se vangloriar. Mas isso muda no desenrolar, a reviravolta acontece quando Robyn passa a ver Simon com outros olhos ao descobrir um passado obscuro. 
Jason Bateman sai de sua zona de conforto, os filmes de comédia, e interpreta um sujeito indiferente, não é uma atuação louvável, mas cai perfeitamente para o que a história pede. Rebecca Hall como Robyn exibe várias nuances, a confusão que a toma é interessante. Joel Edgerton é a estrela e é incrível a sua sutil manipulação em torno dos dois, ele é um sujeito com papos estranhos e que deixa presentinhos na porta da casa, se sente por baixo e se infiltra na vida do casal como se fossem íntimos. 

"O Presente" está longe de ser um filmaço, mas garante uma ótima reviravolta, boas interpretações, um clima magnético e uma trama detalhista que se desenvolve lentamente.  Por vezes nada acontece, mas não se engane a tensão está presente a todo instante, e estes momentos são imensamente importantes para o seu grande desfecho.
O tema é complexo e assustador, demonstra o quanto uma situação ruim pode transformar o ser humano, a violência psicológica é feroz.

Simon é o tipo de ser humano que facilmente encontramos por aí, ganancioso, inescrupuloso, mas que veste a sua máscara social e se mostra digno e perfeito. Gordo vem para desmascará-lo e fazê-lo sofrer as consequências de seus atos. Nada mais tenebroso do que conviver com a dúvida e Gordo dá a Simon o mesmo que recebeu.
Joel Edgerton em sua estreia como diretor já nos brinda com um Thriller psicológico interessante e inteligente. "O Presente" está disponível na Netflix.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A Salvação (The Salvation)

"A Salvação" (2014) do diretor dinamarquês Kristian Levring (Não Tenha Medo de Mim - 2008), cujo o roteiro é assinado por Anders Thomas Jensen (Brothers - 2004), tem como ator principal o sublime Mads Mikkelsen (A Caça - 2012). A trama é simples e não há rodeios, ela gira em torno da vingança que Jon (Mads Mikkelsen) deseja executar.
América de 1870, um pacífico colono americano mata o culpado por assassinar sua família, o que desperta a fúria do líder de uma famosa gangue local. Os covardes moradores da cidade traem sua confiança e delatam sua localização e plano para o bandido. Sozinho, ele é forçado a caçar a gangue com as próprias mãos.
Jon e seu irmão Peter (Mikael Persbrandt) já estão estabelecidos na América, então Jon vai receber sua mulher e filho depois de tantos anos separados, mas acontece que dois sujeitos os assassinam brutalmente, Jon, por sua vez, dá cabo dos bandidos, mas o que ele não contava é que um deles é o irmão de Delarue (Jeffrey Dean Morgan), um famoso malfeitor do local, isso trará consequências bem desagradáveis a Jon e a seu irmão. Eles são presos e a morte de Jon está certa, porém ele consegue fugir com ajuda, e então precisará se desdobrar para conseguir acabar com Delarue e seus comparsas.
O filme é um respiro para o gênero faroeste, assim como o recente "Slow West" (2015), é um drama que mistura alguns gêneros, como ação e romance, mas é fortemente fincado na vingança executada, desse modo não sobra espaço para floreios, é seco e direto.
Eva Green faz Madelaine, que é chamada de princesa, ela teve a língua arrancada, suas feições são duras e ela exprime toda a sua força a partir do momento que ela percebe que Jon pode terminar com o temível Delarue, irmão de seu finado marido. Ela é de grande valia para a trama, apesar de não ser uma personagem recorrente. O bang-bang é outro ponto positivo, são cenas bem executadas e nos prende a atenção. A trilha sonora e a fotografia são belíssimas e complementam a aura austera do filme.

O início já demonstra o quão cru a história é, a violência não é poupada e a sede de vingança vai aumentando de acordo com as situações. O vilão realmente é odiável e torcemos para que Jon o mate da forma mais cruel. 
A ambientação e o figurino estão ótimos e também vale enaltecer a fidelidade ao contexto histórico. A trama foi bem construída e não enrola, e a atuação seca de Mads Mikkelsen coroa esse western dinamarquês.

"A Salvação" tem todos os requisitos que um filme de faroeste necessita, e ainda se destaca pelo primor de sua estética e pelo roteiro simples, que não deixa de ser perspicaz. 

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Os Lobos Maus (Big Bad Wolves)

"Os Lobos Maus" (2013) dirigido por Aharon Keshales e Navot Papushado (Kalevet - 2010)  é um filme de suspense israelense caprichado que satisfaz o espectador. O filme acerta principalmente pelo seu excelente humor negro.
Uma série de assassinatos brutais coloca as vidas de três homens em rota de colisão: O pai da vítima mais recente agora em busca de vingança, um detetive da polícia que trabalha fora dos limites da lei, e o principal suspeito dos assassinatos - um professor de estudos religiosos preso e liberado devido a um erro técnico da polícia.
O início se dá com um crime, onde uma criança de dez anos é sequestrada e aparece violentada e decapitada no meio da floresta, o suspeito é Dror (Rotem Keinan), um pacato professor, que lida com crianças todos os dias, mas devido a falta de provas ele não vai preso. Gidi (Tzahi Grad), o pai inconformado decide fazer justiça com as próprias mãos, a mesma ideia teve Micki (Lior Ashkenazi), o policial, eles acabam por se colidir, e então os três vão parar em um porão de uma casa bem afastada, rodeada por uma aldeia árabe, uma sacada fenomenal do diretor.
O filme tem um humor negro latente e por vezes parece satirizar o tão famoso gênero thriller, os personagens são caricatos, mas isso não prejudica, tudo se encaixa na atmosfera criada, e as características violentas de cada um deles só vão aumentando. Ninguém ali é bonzinho, o filme não confirma se o assassino é o professor, eis a dúvida, tanto que o policial em dado momento até pensa em ajudá-lo. Dror e Micki estão sob o domínio do pai da menina, que tortura o suposto assassino da mesma maneira que ele fazia com as meninas. O filme não poupa dor e sangue.
A dúvida corrói Micki, mas Gidi não titubeia em nenhum momento, é tanta dor provocada que desencadeia uma onda frenética em que o assiste, o absurdo vai crescendo e Dror não confessa, persiste dizendo que é inocente. Nos perguntamos o filme todo como é que chegaram a conclusão de que é o professor o assassino e se não estão torturando a pessoa errada, é isso que o filme quer, e desse modo talvez o fim tenha desapontado um pouco, mas também nada que retire a criatividade da obra. 
"Os Lobos Maus" ficou conhecido após o diretor Quentin Tarantino elegê-lo o melhor filme de 2013, e não é à toa, assim como nos seus próprios filmes, a violência está presente. É interessante observar até que ponto chega o ser humano para conseguir o que quer, e dessa maneira ver a sua maldade se revelando.

"Os Lobos Maus" cumpre o papel de ser um thriller e alivia dando o tom de humor negro, a vingança vai desde a marteladas nos dedos, unhas dos pés arrancadas e queimaduras de maçarico. Vai-se intercalando cenas desconfortáveis com doses engraçadas e absurdas, e outro ponto a se destacar é a trilha sonora composta por Frank Ilfman que pontua fortemente a narrativa, além de uma cena hilária ao som de "Everyday", de Buddy Holly. É uma produção curiosa e vale muito a pena conhecer!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer (Me and Earl and the Dying Girl)

"Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer" (2015) dirigido por Alfonso Gomez-Rejon (Red Band Society - 2014) é baseado no livro homônimo de Jesse Andrews, que também assina o roteiro. A história gira em torno de Greg (Thomas Mann), que está levando o último ano do ensino médio o mais anonimamente possível, evitando interações sociais, enquanto, em segredo, está fazendo animados filmes bizarros com Earl (RJ Cyler), seu único amigo. Mas tanto o anonimato quanto a amizade dos dois é abalada quando a mãe de Greg o força a fazer amizade com uma colega de classe que tem leucemia.
O filme não é um romance e nem lamenta a doença da garota, ele foge dos clichês e surpreende com um drama sutil com ótimas pitadas de humor. O protagonista não tem qualquer carisma, anti-social e autodepreciativo, ele caminha pelos corredores da escola sem aparecer de fato, não se encaixa em nenhuma tribo, mas mantém uma formalidade com todos sem jamais se aproximar. Greg e Earl são amigos desde a infância e adoram filmes de arte, em razão disso têm como hobby produzir pequenos filmes baseados em clássicas cenas do cinema, mas mantêm isso em segredo devido a qualidade dos vídeos. Os dois são tão isolados que preferem se esconder no intervalo na sala do professor Mr. McCarthy (Jon Bernthal), que também não fica atrás em esquisitices. 
A vida de Greg muda quando sua mãe o faz se aproximar de sua colega Rachel (Olivia Cooke), que está com câncer, inicialmente isso o incomoda, a aproximação é algo novo para ele, mas conforme o desenrolar nasce uma linda amizade que fará com que ele se desafie e saia de seu casulo. Rachel não permite que tenha pena dela e só o deixa a ir visitá-la quando percebe que está indo por livre e espontânea vontade, o seu senso de humor nada a ver também a conquista e, principalmente depois de saber sobre os seus filmes. Earl entra nesta história e acrescenta muito na relação. A construção da amizade deles é diferente e por isso cativa, tem charme, tem leveza e bom humor. A narração de Greg é outro ponto bem interessante, e o mais legal desse filme é que ele não vem com mensagens óbvias, as reflexões são profundas e fica difícil segurar as lágrimas, as cenas finais são de uma delicadeza arrebatadora. Essa é a prova de que tendo criatividade os temas envolvendo o universo adolescente, doença e amizade, podem se tornar uma grande história.

Quando a doença de Rachel começa a avançar Greg precisa lidar com o inevitável fim, o professor Mr. McCarthy, que sempre está disposto a conversar com Greg, começa a refletir sobre a morte do pai, e que mesmo depois descobriu particularidades dele que o deixou feliz, e é assim ao final, a convivência com Rachel o fez amar suas peculiaridades, suas coisinhas, como as almofadas, o papel de parede, as tesouras, etc. Ele foi descobrindo a Rachel mesmo depois dela ter partido e isso gera uma sensação de conforto muito grande. A pessoa vai embora, mas deixa uma infinidade de coisas para serem descobertas. E o mais especial é ela ter feito Greg acreditar nele mesmo e ter sonhos para o futuro.

É um longa que nos ganha pela simplicidade, fluidez e as ótimas atuações, além da excelente trilha sonora e a bela mensagem de amor a nós mesmos.
"Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer" tem diálogos brilhantes, um andamento agradável, e merece ser visto porque retrata de maneira sutil temas densos, e ainda homenageia diversos clássicos do cinema. Uma boa pedida do cinema indie!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Top 20 - A Literatura nos Filmes

Segue uma lista em que o cinema se entrelaça à literatura, não é sobre adaptações, ou necessariamente filmes sobre escritores, os longas listados enaltecem a literatura em sua narrativa e exemplificam o poder que ela exerce aos apaixonados por essa maravilhosa arte. Literatura e cinema fazem uma dupla perfeita. Confira a lista:

20- O Último Portal (The Ninth Gate - 1999) de Roman Polanski
Dean Corso (Johnny Depp), um especialista em livros raros, é contratado por Boris Balkan (Frank Langella), um milionário de Nova York que tem uma imensa coleção sobre ocultismo e um especial interesse em "Os Nove Portais Para o Reino das Sombras", livro este que, reza a lenda, foi co-escrito pelo próprio Satanás e Aristide Torchia, um autor veneziano, e publicado em 1666. O livro é ilustrado com nove gravuras que, quando corretamente interpretadas e combinadas com o texto original, teriam o poder de invocar o Diabo e abrir as portas para o mundo das sombras. Torchia pagou caro por sua transgressão, pois a Santa Inquisição o queimou em uma estaca. Existem apenas três cópias e Andrew Telfer vendeu a sua para Balkan dias antes de se suicidar. Porém, Balkan não tem certeza que a sua seja autêntica, assim Corso seria regiamente pago para ir até a Portugal e França, onde estão as outras duas cópias e determinar qual é a verdadeira. Corso, que não acredita no diabo e sim em dinheiro, aceita o trabalho. Inicialmente Corso visita Liana Telfer (Lena Olin), a viúva de Andrew, que demonstra um desejo quase ensandecido de ter o livro de volta (ela não sabia da venda). Logo Bernie (James Russo), um amigo de Corso, aparece morto e seu corpo estava como uma das gravuras do livro. Mas esta seria apenas a primeira de algumas mortes misteriosas, que Corso presenciaria. Tendo em seu poder o livro, para poder comparar com as outras cópias, Corso descobre que está no meio de uma estranha trama na qual há uma loira misteriosa que sempre surgirá no seu caminho para protegê-lo.

19- As Confissões de Henry Fool (Henry Fool - 1997) de Hal Hartley
Simon Grim (James Urbaniak) é um lixeiro que tem fama de ser retardado mental. Ele vive com sua mãe Mary (Maria Porter) e a irmã Fay (Parker Posey), uma ninfomaníaca. Um dia surge em sua vida Henry Fool (Thomas Jay Ryan), que o incentiva a escrever suas ideias. Fool não tem emprego e está escrevendo suas confissões, as quais diz que irão revolucionar o planeta. Simon escreve polêmicos poemas, que são aclamados por alguns e considerados pornográficos por outros. Já instalado na casa dos Grim, Henry serve de mentor para Simon, ajudando-o também a divulgar o trabalho do pupilo.

18- Eclipse de uma Paixão (Total Eclipse - 1995) de Agnieszka Holland
Arthur Rimbaud (Leonardo DiCaprio), "o poeta dos sentidos", como ficou conhecido, revolucionou a poesia do final do século XIX e continua influenciando escritores e surpreendendo leitores até hoje. O filme foca o turbulento período de produção literária de Rimbaud, que coincide com o tempo em que viveu apadrinhado por outro grande poeta, Paul Verlaine (David Thewlis). Mas a admiração de um escritor pelo outro vai além, faz com que ambos de apaixonem, para desespero da mulher de Verlaine (Romaine Bohringer). Esse triângulo amoroso explosivo e provocante proporciona a DiCaprio e Thewlis, duas atuações corajosas e vibrantes.

17- Nunca Te Vi, Sempre Te Amei (84 Charing Cross Road - 1987) de David Hugh Jones
Durante vinte anos Helene Hanff (Anne Bancroft), uma escritora americana, se corresponde com Frank Doel (Anthony Hopkins), o gerente de uma livraria especializada em edições raras e esgotadas. Tudo começou pelo fato de Helene adorar livros raros, que não se encontram em Nova York. Só que ela não poderia imaginar que uma carta para uma pequena livraria em Londres, que negocia livros de segunda mão, a levaria a iniciar uma correspondência afetuosa com Frank. Neste período uma amizade muito especial surge entre os dois.

16- Following - 1998, de Christopher Nolan


Um jovem escritor, mentalmente instável, vaga pelas ruas seguindo pessoas pouco convencionais em busca de material bruto para sua escrita. Em uma destas perseguições depara-se com um ladrão e golpista de segundo escalão que o convence a participar de seus assaltos. O escritor, fascinado com o universo apresentado, tomando-o por mais real que qualquer um de seus contos ou que a própria realidade, entrega-se a este mundo.

15- Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society - 1990) de Peter Weir


Em 1959, John Keating (Robin Williams) volta ao tradicionalíssimo internato Welton Academy, onde foi um aluno brilhante, para ser o novo professor de Inglês. No ambiente soturno da respeitada escola, Keating torna-se uma figura polêmica e mal vista, pois acende nos alunos a paixão pela poesia e pela arte e a rebeldia contra as convenções sociais. Os estudantes, empolgados, ressuscitam a Sociedade dos Poetas Mortos, fundada por Keating em seu tempo de colegial e dedicada ao culto da poesia, do mistério e da amizade. A tensão entre disciplina e liberdade vai aumentando, os pais dos alunos são contra os novos ideais que seus filhos descobriram, e o conflito leva à tragédia.

14- Anônimo (Anonymous - 2012) de Roland Emmerich


A possível história do homem apontado como verdadeiro autor das peças de Shakespeare, Edward De Vere (Rhys Ifans), durante o conturbado período de sucessão da Rainha Elizabeth I e das rebeliões inglesas. Palavras têm o poder de mudanças, quando utilizadas de maneira correta, acabam influenciando gerações.

13- O Clube de Leitura de Jane Austen (The Jane Austen Book Club - 2007) de Robin Swicord
Sacramento. Bernadette (Kathy Baker) foi casada 6 vezes e hoje vive sozinha. Jocelyn (Maria Bello) jamais se casou e está em depressão devido à morte de Pridey, seu cachorro. Sylvia (Amy Brenneman) é casada com Daniel (Jimmy Smits) e tem 3 filhos, mas sua vida está abalada pelo fato de que o marido está apaixonado por outra mulher. Allegra (Maggie Grace), filha de Sylvia e Daniel, é uma jovem gay que decide voltar para casa para servir de suporte à mãe, devido aos problemas em seu casamento. Prudie (Emily Blunt) é uma jovem professora de francês de colegial, que casou-se recentemente com Dean (Marc Blucas) e teve que cancelar uma aguardada viagem para Paris devido a um problema nos negócios. Grigg (Hugh Dancy) é um técnico nerd, que gosta de participar de convenções de ficção científica. Um dia Bernadette sugere a criação do clube do livro "Sempre Austen o Tempo Todo", dedicado aos livros da escritora Jane Austen, alegando que ela é perfeita para curar os males do mundo. Jocelyn, Allegra, Prudie, Sylvia e Grigg aceitam fazer parte dele, o que faz com que todo mês o grupo se reúna para discutir um dos livros da escritora. Com o tempo eles se abrem sobre suas vidas, percebendo as mudanças neles ocorridas.

12- O Carteiro e o Poeta (Il Postino - 1994) de Michael Radford
Filme poético sobre a extremidade da poesia. Mario (Massimo Troisi) é um carteiro que, ao fazer amizade com o grande poeta Pablo Neruda (então exilado político), vira seu carteiro particular e acredita que ele pode se tornar seu cúmplice para conquistar o coração de uma donzela. Descobre, assim, a poesia que sempre existiu em si, assemelhando-se às descobertas de verdade pelos meios dialéticos de Sócrates-Platão. O filme se passa em uma ilha na costa italiana.

11- Uivo (Howl - 2010) de Jeffrey Friedman e Rob Epstein
"Howl" é uma das obras que definiram a geração beat, ao lado do romance "On the Road", de Jack Kerouac. Escrito em 1955, contém referências a práticas sexuais que motivaram, dois anos depois, um processo por obscenidade contra Lawrence Ferlinghetti, dono da City Lights Bookstore, editora que publicava nos EUA a coletânea que continha o poema.

10- Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris - 2011) de Woody Allen
Gil (Owen Wilson) sempre idolatrou os grandes escritores americanos e quis ser como eles. A vida lhe levou a trabalhar como roteirista em Hollywood, o que por um lado fez com que fosse muito bem remunerado, por outro lhe rendeu uma boa dose de frustração. Agora ele está prestes a ir para Paris ao lado de sua noiva, Inez (Rachel McAdams), e dos pais dela, John (Kurt Fuller) e Helen (Mimi Kennedy). John irá à cidade para fechar um grande negócio e não se preocupa nem um pouco em esconder sua desaprovação pelo futuro genro. Estar em Paris faz com que Gil volte a se questionar sobre os rumos de sua vida, desencadeando o velho sonho de se tornar um escritor reconhecido.

09- Insubordinados - 2014, de Edu Feslistoque
Ao longo da narrativa o espectador acompanha a vida de Janete (Silvia Lourenço), uma escritora amadora. Ela decide escrever como uma maneira de passar o tempo, já que seus dias são monótonos enquanto acompanha o pai que está internado. Janete cria a delegada Diana, que se envolve em encrencas e aventuras junto de seus companheiros, inspirada em sua vida real com grandes toques de ficção. E como toda história chega ao fim, a história que Janete escreve também tem um término! Quem sabe o fim de Diana, o alter ego de Janete, não signifique uma nova possibilidade de começo para Janete?

08- As Horas (The Hours - 2002) de Stephen Daldry
Em três períodos diferentes vivem três mulheres ligadas ao livro “Mrs. Dalloway”. Em 1923 vive Virginia Woolf, autora do livro, que enfrenta uma crise de depressão e ideias de suicídio. Em 1949 vive Laura Brown, uma dona de casa grávida que mora em Los Angeles, planeja uma festa de aniversário para o marido e não consegue parar de ler o livro. Nos dias atuais vive Clarissa Vaughn, uma editora de livros que vive em Nova York e dá uma festa para Richard, escritor que fora seu amante no passado e hoje está com Aids e morrendo.

07- Violette - 2013, de Martin Provost
No início dos anos XX, a escritora Violette Leduc (Emmanuelle Devos) encontra a filósofa Simone de Beauvoir (Sandrine Kiberlain). Nasce entre as duas uma intensa amizade que dura toda a vida, ao mesmo tempo que Simone encoraja Violette a escrever mais, expondo as suas dúvidas e medos, abordando todos os detalhes da intimidade feminina.

06- O Porco Espinho (Le Hérisson - 2009) de Mona Achache
Paloma é uma menina séria e inteligente de 11 anos, decidida a se matar em seu décimo-segundo aniversário. Fascinada por arte e filosofia, a menina passa o dia filmando seu cotidiano, a fim de fazer um documentário. À medida que a data de seu aniversário se aproxima, ela conhece pessoas que a fazem questionar sua visão pessimista do mundo.

05- Pedalando com Molière (Alceste à Bicyclette - 2011) de Philippe le Guay
Cansado da carreira de ator, o respeitado Serge Tanneur (Fabrice Luchini) decide abandonar os palcos e se aposentar, vivendo isolado na pequena Ilha de Ré. Sua calma é interrompida pela chegada de Gauthier Valence (Lambert Wilson), ator de televisão popular, que o convida a interpretar o papel principal em uma adaptação de "O Misantropo", de Molière. Afinal, a nova condição de Serge combina muito bem com o personagem clássico... Após a recusa inicial, Serge propõe um desafio: ambos devem ensaiar a primeira cena da peça juntos, nos papéis de Philinte e Alceste, e depois de cinco dias treinando, ele dará a resposta sobre sua participação. Começam assim os jogos de poder e manipulação entre os dois homens.

04- Gemma Bovery - A Vida Imita a Arte (Gemma Bovery - 2014) de Anne Fontaine
Inspirado na graphic novel homônima de Posy Simmonds, retrata a vida de uma mulher condenada ao mesmo martírio de Emma Bovary. A inglesa Gemma Bovery (Gemma Arterton) se muda com o marido para uma pequena cidade francesa. A vida de casada a entedia. Martin Joubert (Fabrice Luchini) e sua esposa, uma mulher com uma vida muito sofrida, acabam de chegar na cidade. Eles procuram fugir do caos de Paris. Martin é padeiro, tem uma mulher depressiva e um filho que não se importa com a literatura, o que o deixa indignado. A sua pacata rotina é alterada quando conhece sua nova vizinha Gemma, um deslumbre visual e que segundo Martin carrega imensas semelhanças com sua heroína favorita, e conforme se dá os acontecimentos ele começa a intervir em sua vida com receio de que ela tenha o mesmo fim.

03- Minhas Tardes com Margueritte (La Tête en Friche - 2010) de Jean Becker
Germain Chazes (Gérard Depardieu) leva uma vida pacata que se movimenta pela horta, pelos pombos que procuram a praça e junto com os amigos do café. Germain mal sabe ler. Sua vida muda, quando conhece na praça onde vai todos os dias, uma velhinha fora do comum, chamada Margueritte (Gisèle Casadesus). Margueritte começa a ler para Germain e, dessa maneira, ela abre as portas da leitura que, até então, estavam fechadas para ele, nasce entre os dois, uma relação especial.

02- As Palavras (The Words - 2012) de Brian Klugman  Lee Sternthal
Casado com uma linda mulher, Rory Jasen (Bradley Cooper), trabalha em uma editora de livros, e alimenta o sonho de um dia ter o seu próprio livro publicado. Com o passar do tempo, o sonho vai dando lugar a frustração e Rory chega a conclusão de que nunca conseguirá escrever algo realmente bom. Mas eis que um dia, em uma pequena loja de antiguidades, ele encontra uma pasta com um maço de folhas amareladas, ao ler, Rory sente-se rapidamente ligado a história e não consegue tirar ela da cabeça. Tomado por um impulso, ele começa a transcrever todo o conteúdo para a tela do computador. Palavra, por palavra, aquela história começa a ganhar vida através de Rory. Resultado: seu primeiro livro é publicado. Prêmios e fama passam a ser rotina na vida do casal, até o dia em que um frágil senhor (Jeremy Irons) encontra Rory e conta para ele como as palavras de seu best-seller foram realmente escritas.

01- Dentro da Casa (Dans la Maison - 2012) de François Ozon
Um rapaz de 16 anos consegue entrar na casa de um colega da sua aula de literatura e resolve escrever sobre o fato no seu trabalho de francês. Animado com o dom natural do aluno e o progresso do seu trabalho, o professor volta a apreciar a função de educador dos jovens. Entretanto, a invasão do aluno vai desencadear uma série de eventos incontroláveis. "Dentro da Casa" é um filme metalinguístico que demonstra o processo criativo da escrita. Ele se assemelha muito com a sensação de quando se lê um livro, nos instiga e seduz, além do mais é original, elegante e sinestésico. 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O Esgrimista (Miekkailija)

"O Esgrimista" dirigido por Klaus Härö (Cartas ao Padre Jacob - 2009) é um belo filme que reúne alguns elementos bem convencionais, mas que mesmo assim surpreende pela maneira que aborda a esperança em tempos tão difíceis.
Centrando-se no momento pós-segunda guerra, quando estonianos que lutaram pela Alemanha são perseguidos pelo Governo da União Soviética. Baseado em fatos reais, conta a história do esgrimista Endel Nelis, que nos anos 50 criou uma escola de esgrima para crianças na Estônia. Märt Avandi vive Endel, que fugindo da polícia secreta russa volta para a Estônia e vai parar na pequena cidade de Haapsalu. Lá consegue emprego como professor e tem que criar um clube de esportes. Esgrimista, resolve ensinar sua modalidade às crianças do local. A escola carece de materiais esportivos e as crianças não veem muitas perspectivas, a chegada de Endel ilumina o ambiente, a sua decisão em ensinar esgrima às crianças dá um novo ar, mas por outro lado enfurece o diretor, que vê o esporte como sendo de elite e não para crianças pobres. Então, começa a investigar a vida de Endel, enquanto este se desdobra para arrumar recursos e ensinar o esporte. Alguns se sobressaem e se interessam cada vez mais, porém Endel não leva muito jeito para ensinar, é bruto e se desestabiliza diante os erros, mas acaba cativando os alunos. Ele também se envolve com uma professora e inicia um romance que ajudará com que compreenda ainda mais as crianças.
O longa tem um roteiro delicado mostrando a difícil vida de Endel, a sua tensão em tentar se esconder e dar o melhor de si para a educação de seus alunos, ele se esquiva dos obstáculos da mesma maneira com que luta esgrima, que aliás garante ao filme um diferencial, pois não é um esporte popular, portanto, nossa curiosidade se aguça. Endel explica passo a passo do esporte, desde a posição correta, o manejo com o florete, o movimentar-se, e para quê serve a esgrima. É um verdadeiro balé, elegante e potente. Ainda diz sobre o equilíbrio, distância e reflexo. Sem dúvidas, um filme edificante e inspirador, desde a transformação das crianças ao aprender até a possibilidade de uma competição. Endel fica apreensivo em ir para Leningrado, que está tomada por soldados russos, mas vê o quão importante é para eles essa oportunidade.
"O Esgrimista" coloca cada momento de forma natural, a não ser pelo seu final, mas que mesmo assim não tira a beleza do filme, existem inúmeros filmes do tipo, porém nunca é demais vermos que de coisas ruins podem surgir as boas, e que existem pessoas incríveis capazes de fazer a diferença. Endel mesmo sendo um refugiado político se entrega a paixão de ensinar e recebe a recompensa ao final.

Klaus Härö compôs uma obra belíssima e conseguiu imprimir suas características, o elenco infantil é muito expressivo e o protagonista marcante e delicado. O filme passeia por alguns gêneros, entre eles o romance, que é bem sutil, e deu uma açucarada na trama. O final exibe cenas que emocionam pela coragem e perseverança. Realmente é lindo ver a transformação das crianças.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Lições de Harmonia (Uroki Garmonii)

"Lições de Harmonia" (2013) dirigido pelo cazaque Emir Baigazin é uma pancada, é um filme que se utiliza da violência, o título é uma ironia e uma crítica às instituições de ensino e todos os segmentos rígidos que ao invés de educar promovem revolta.
Aslan (Timur Aidarbekov) tem 13 anos, é criado por sua avó e faz as vezes de pastor, a cena inicial já choca, certo dia durante um exame médico na escola é humilhado por seus colegas, isso gera um transtorno no garoto que atormentado pela dúvida, se esforça para ficar limpo, além de sua obsessão pela perfeição, ele controla tudo ao seu redor. Essa compulsão lhe trará situações cada vez mais difíceis. É um longa primoroso, a sua fotografia é austera, e o desenrolar dessa história desencadeará na destruição do ser humano. A marginalização e a violência é muito bem delineada.
Aslan vive num povoado em algum lugar do Cazaquistão, um ambiente inóspito que provoca ainda mais a sensação de solidão, excluído do convívio dos outros alunos depois do episódio do bullying, Aslan passa seus dias a torturar baratas em sua casa, a estripar ovelhas e manter um ritual de limpeza. Na escola, o domínio de uma gangue liderado por Bolat (Aslan Anarbayev), que por sua vez, segue ordens de um pessoal mais velho para arrancar dinheiro dos meninos, faz da rotina um martírio. A crueldade é a lição e Aslan aos poucos começa a entrar em harmonia com ela.
É uma obra interessante, repleta de metáforas, mas por vários momentos o diretor parece esconder informações importantes do espectador, mas mesmo assim não deixa de ter sua força e proporcionar o desconforto em relação a violência institucionalizada, o que acaba moldando a personalidade do jovem e o transformando por completo.
Com a chegada de Mirsain (Mukhtar Andassov), vindo da cidade, após o divórcio dos pais, percebemos as destoantes culturas num mesmo país, um retrato social curioso, mas pouco explorado, infelizmente. O fato é que com esse novo colega, a situação se agrava, ele ao contrário dos outros encara Bolat, o que acarreta muitas complicações. A violência segue, tanto Aslan como seu amigo são torturados pelos policiais, enquanto sem nenhum esforço eles deduzem qual é a verdade. Um descaso total e de uma brutalidade física e psicológica sem limites. 

O filme tem uma estética incrível, o interessante posicionamento das câmeras e a fotografia se sobressaem. O desenrolar vai demonstrando o como o ser humano se transforma, Aslan é introspectivo, e talvez por este motivo os garotos cometeram tal barbaridade. Ele impressiona por sua frieza, suas atitudes se tornam cruéis também e acaba entrando em sintonia com o todo. 
Timur Aidarbekov como Aslan está maravilhoso, seu semblante, seu silêncio, sua personalidade e sua evolução. É assustador ver tanta violência, mesmo que às vezes ela seja implícita.

Aslan para sobreviver em meio à opressão precisa se defender, e nisso a violência que existe em si dá as caras, o mal que há no seu ser se apresenta. E é sobre isso que o filme disserta, a perversidade que há em cada um de nós, a maldade inerente. São diversas formas de violência e muitas aceitáveis de acordo com a sociedade.
O desfecho carrega um tom surreal e até poético. A crueza do longa é impactante e refletimos a cada cena. "Lições de Harmonia" é uma obra esteticamente impecável e com uma narrativa perturbadora. 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Voltando Para Casa / Coming Home / Gui Lai

"Voltando Para Casa" (2014) dirigido pelo mestre Zhang Yimou (Uma Mulher, uma Arma e uma Loja de Macarrão - 2009, A Árvore do Amor - 2010) é uma linda e comovente história de amor que se passa na época da Revolução Cultural e os anos que se seguiram após seu término. Um drama intenso, sensível e poderoso.
Lu Yanshi (Chen Daoming) é um prisioneiro político durante a revolução cultural, mas consegue fugir e ir atrás de sua família para poder ir para bem longe, porém a sua filha Dandan (Zhang Huiwen) está do lado do partido, e por nunca ter conhecido o pai acaba destruindo o reencontro. A cena na estação de trem marcará para sempre a vida da esposa Feng Wanyu (Gong Li), que infelizmente, nunca mais será a mesma. Nos anos 70, no final da revolução, Lu Yanshi é liberto e enfim pode retornar à sua casa, só que se depara com uma situação difícil, Feng não se lembra dele, não consegue perceber que Lu é seu marido, ela sofre um tipo de amnésia causada por uma queda que sofreu devido ao terror que viveu anos atrás. Daí pra frente acompanhamos todo o carinho que Lu oferece a sua mulher, dia após dia tentando com que ela veja que não precisa mais esperar, mas Feng continua a ir na estação de trem esperando o regresso do marido. Dandan já não é mais bailarina e trabalha duro em uma fábrica, arrependida por tudo que fez irá ajudar seu pai a cuidar de sua mãe e fazê-la entender que ele voltou.
O filme apresenta de forma artística todo o contexto político da época - a revolução cultural, que perseguia intelectuais e impedia o ensino superior - a cena inicial em que um exército de garotas segura armas enquanto dançam demonstra a militância da juventude, um período horroroso que destruiu lares e perspectivas de futuro. Gong Li está sublime, merece ser enaltecida por esta atuação densa e impactante, impossível conter as lágrimas nas cenas em que ela está junto de seu marido e o trata como desconhecido, as idas na estação de trem à espera dele é dilacerante. Lu Yanshi de todas as formas tenta, arquiteta planos para que ela recobre a memória, mas é tudo em vão. Há momentos em que ela tem flashes daquele passado miserável e o vê como inimigo, mas há momentos ternos entre os dois, principalmente quando ele lê as cartas que escrevia a ela na época, surge aí uma cumplicidade que alivia a dor.

É um melodrama, mas tudo está nas proporções certas, seja nos detalhes, olhares, gestos e silêncios, é uma obra intimista, sofisticada e delicada, uma história emocionante e certamente memorável.
A sensibilidade vai se tornando cada vez maior conforme o final se aproxima, e é tão lindo ver a dedicação de Yanshi a sua amada. É de uma tristeza sem fim, mas bonito e puramente humano.