sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Lições de Harmonia (Uroki Garmonii)

"Lições de Harmonia" (2013) dirigido pelo cazaque Emir Baigazin é uma pancada, é um filme que se utiliza da violência, o título é uma ironia e uma crítica às instituições de ensino e todos os segmentos rígidos que ao invés de educar promovem revolta.
Aslan (Timur Aidarbekov) tem 13 anos, é criado por sua avó e faz as vezes de pastor, a cena inicial já choca, certo dia durante um exame médico na escola é humilhado por seus colegas, isso gera um transtorno no garoto que atormentado pela dúvida, se esforça para ficar limpo, além de sua obsessão pela perfeição, ele controla tudo ao seu redor. Essa compulsão lhe trará situações cada vez mais difíceis. É um longa primoroso, a sua fotografia é austera, e o desenrolar dessa história desencadeará na destruição do ser humano. A marginalização e a violência é muito bem delineada.
Aslan vive num povoado em algum lugar do Cazaquistão, um ambiente inóspito que provoca ainda mais a sensação de solidão, excluído do convívio dos outros alunos depois do episódio do bullying, Aslan passa seus dias a torturar baratas em sua casa, a estripar ovelhas e manter um ritual de limpeza. Na escola, o domínio de uma gangue liderado por Bolat (Aslan Anarbayev), que por sua vez, segue ordens de um pessoal mais velho para arrancar dinheiro dos meninos, faz da rotina um martírio. A crueldade é a lição e Aslan aos poucos começa a entrar em harmonia com ela.
É uma obra interessante, repleta de metáforas, mas por vários momentos o diretor parece esconder informações importantes do espectador, mas mesmo assim não deixa de ter sua força e proporcionar o desconforto em relação a violência institucionalizada, o que acaba moldando a personalidade do jovem e o transformando por completo.
Com a chegada de Mirsain (Mukhtar Andassov), vindo da cidade, após o divórcio dos pais, percebemos as destoantes culturas num mesmo país, um retrato social curioso, mas pouco explorado, infelizmente. O fato é que com esse novo colega, a situação se agrava, ele ao contrário dos outros encara Bolat, o que acarreta muitas complicações. A violência segue, tanto Aslan como seu amigo são torturados pelos policiais, enquanto sem nenhum esforço eles deduzem qual é a verdade. Um descaso total e de uma brutalidade física e psicológica sem limites. 

O filme tem uma estética incrível, o interessante posicionamento das câmeras e a fotografia se sobressaem. O desenrolar vai demonstrando o como o ser humano se transforma, Aslan é introspectivo, e talvez por este motivo os garotos cometeram tal barbaridade. Ele impressiona por sua frieza, suas atitudes se tornam cruéis também e acaba entrando em sintonia com o todo. 
Timur Aidarbekov como Aslan está maravilhoso, seu semblante, seu silêncio, sua personalidade e sua evolução. É assustador ver tanta violência, mesmo que às vezes ela seja implícita.

Aslan para sobreviver em meio à opressão precisa se defender, e nisso a violência que existe em si dá as caras, o mal que há no seu ser se apresenta. E é sobre isso que o filme disserta, a perversidade que há em cada um de nós, a maldade inerente. São diversas formas de violência e muitas aceitáveis de acordo com a sociedade.
O desfecho carrega um tom surreal e até poético. A crueza do longa é impactante e refletimos a cada cena. "Lições de Harmonia" é uma obra esteticamente impecável e com uma narrativa perturbadora. 

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