quinta-feira, 7 de março de 2019

Clímax

"Nascer é uma oportunidade única, viver é uma impossibilidade coletiva e morrer é uma experiência maravilhosa."

"Clímax" (2018) dirigido por Gaspar Noé (Love - 2015) é uma experiência bad trip. Um filme provocativo, perturbador, hipnótico e todo contornado por enérgicas coreografias de dança, sua crescente de sentimentos leva à selvageria e ao caos deixando o espectador completamente imerso e tonto devido o ritmo alucinante e o modo como a câmera capta esses momentos rodopiando e virando de cabeça para baixo, uma loucura que de início agrada, mas seu desenrolar transforma a vibe em tensão e paranoia em níveis surreais.
Nos anos 90, um grupo de dançarinos urbanos se reúnem em um isolado internato, localizado no coração de uma floresta, para um importante ensaio. Ao fazerem uma última festa de comemoração, eles notam a atmosfera mudando e percebem que foram drogados quando uma estranha loucura toma conta deles. Sem saberem o por que ou por quem, os jovens mergulham num turbilhão de paranoia e psicose. Enquanto para uns, parece o paraíso, para outros parece uma descida ao inferno.
Toda a composição do filme é de extrema destreza, a técnica de Gaspar Noé salta aos olhos, os movimentos de câmera, as cores vibrantes remetendo algo de "Suspiria", de Argento, é um turbilhão estimulante e que surpreende na abordagem e nos rumos da história. Quem pensa que "Clímax" tem cenas orgiásticas prazerosas se engana fortemente, apesar de mais ameno não deixa o niilismo de lado, a demonstração da vaidade e o quanto o ser humano está cada vez mais insensível e detestável é ampliada e o incômodo é inevitável, as situações que se mostram são cruéis, abomináveis, um surto coletivo odioso. A sequência inicial demonstra uma mulher ensanguentada caindo na neve e então a apresentação de vários bailarinos de diversas etnias em uma pequena televisão antiga rodeada por livros e filmes, inspirações do diretor, obviamente. O filme começa de fato quando todos se encontram em um casarão isolado para festejar depois do ensaio, há uma sequência de dança à la Pina Bausch sensacional, movimentos hipnotizantes e extasiantes, uma verdadeira obra de arte, logo depois eles começam a interagir e a beber ponche, a atmosfera vibrante e vintage preenche a tela e à medida que bebem se soltam mais e conversas aleatórias seguem, uns bebem mais, outros menos e sobram uns dois que não bebem, quando a trip bate de vez vemos um amontoado de coisas sem sentido, tem gente que dança sem parar, uns criam encrenca e revelam suas personalidades verdadeiras, desejos se afloram e não demora para começar um surto coletivo. 

A mulher que planejou a festa foi acusada de colocar a droga no ponche, porém ela também se encontra paranoica e a tensão aumenta mais porque seu filho pequeno está presente e, talvez, tenha tomado o ponche, provavelmente sim, em dado momento ela surta e o coloca numa situação perigosa, daí pra frente é só desgraça, há um movimento de psicose coletiva, quando um aponta que tal pessoa é a responsável pela droga na bebida fazem o inferno, o cara que não bebia foi expulso e colocado para fora num frio congelante e uma menina grávida agride a si própria instalando uma atmosfera de selvageria horripilante. São cenas ágeis e enervantes, causa mal-estar, poucas foram as pessoas que não compartilharam dessa experiência negativa.

"Clímax" é uma experiência louca e surpreendente, Gaspar Noé concebe mais uma obra imersiva, pulsante, brutal e incômoda, um pesadelo que demonstra jovens se transformando, ou melhor, se revelando, e sentimentos de ódio, instinto de sobrevivência, narcisismo, desejo sexual, vingança e poder se maximizando e ganhando força semeando o descontrole e a selvageria e revelando o quão frágil é a índole humana.

Um comentário:

  1. Eu gostei bastante dos polêmicos "Irreversível" e "Sozinho Contra Todos", mas este novo filme eu deixei passar.

    A sinopse e o trailer passaram a impressão de ser maluco demais pro meu gosto.

    Abraço

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