quarta-feira, 13 de março de 2019

O Confeiteiro (The Cakemaker)

"O Confeiteiro" (2017) dirigido pelo estreante em longas-metragens israelense Ofir Raul Graizer é um filme delicado recheado de sutilezas emocionais, personagens que descobrem novas sensações e caminhos ao ter de lidar com a dor do luto e a solidão, além de nos presentear com belas imagens de doces e bolos, a paixão pela confeitaria transborda da tela e enche nossos olhos. 
Thomas (Tim Kalkhof) é um alemão dono de uma confeitaria que viaja para Jerusalém em busca da esposa e filho de Oren (Roy Miller), seu amante morto. Ao chegar lá ele começa a trabalhar para a viúva de seu amante, que não tem ideia de que eles compartilham uma tristeza sem nome sobre o mesmo homem.
Com belas cenas contemplamos o confeiteiro Thomas e sua habilidade na produção de maravilhosos bolos, sua aconchegante confeitaria atiça os paladares e fascina pela paixão que emprega em suas receitas, em um dia um executivo israelense que está prestando serviço numa empresa de Berlim se encanta por Thomas e logo os dois iniciam um romance, entre idas e vindas a relação secreta se molda e Thomas sempre pede para que Oren conte sobre sua família e o como foi a última vez que fez amor com a esposa, passam-se meses e novamente Oren retorna para Israel com a pretensão de voltar para Thomas rapidamente, mas acontece algo inesperado, Thomas não recebe mais notícias de Oren e depois de muito relutar em silencio decide ir procurá-lo na empresa, e então obtém a notícia de seu falecimento, silencioso ele sofre, em nenhum momento seus sentimentos são expostos, toda a sua dor e solidão desencadeia na decisão de ir até Israel e encontrar a família de Oren, a situação é estranha e delicada, mas aos poucos vamos entendendo sua personalidade e o afeto que nasce da relação entre Anat (Sarah Adler), esposa de Oren e o filho, é surpreendente e nos coloca para refletir na abrangência de sentimentos, da complexidade de sensações quando se está vivendo o luto e o como o amor pode vir sob diversas maneiras.
Thomas é contido, organizado e prestativo, Anat deixa ele tomando conta do seu singelo estabelecimento, um café kosher, e enquanto planeja a festa de aniversário do filho ele decide fazer uma surpresa e prepara cookies, porém há bastante restrições por ele ser alemão e não poder tocar no forno, há uma série de regras que se quebradas o café pode fechar, mas aos poucos suas receitas vão ganhando vida e fascinando Anat e até o irmão de Oren, que segundo a tradição acaba tomando conta da família do falecido, termina aceitando sob algumas condições e de acordo com as regras ele prepara suas delícias para vender no café e de pronta faz sucesso, Anat começa a se alegrar com a esperança que surge, a relação entre eles se estreita e novos tons surgem surpreendendo e confundindo ainda mais os sentimentos de Thomas, a descoberta de novas possibilidades afetivas juntamente com o aconchego que recebeu ao estar tão próximo das coisas e pessoas de seu amado.

Anat se apaixona pelo amante do marido, sentimentos dúbios e dilemas morais ditam as cenas, Thomas parece não querer mais ir embora, aquele mundo tão diferente do seu o acalenta diante da dor que o corrói tão silenciosamente, Anat também sofre, mas Thomas lhe deu esperança, uma inesperada relação se forma e ao mesmo tempo coincidências vêm à tona, Anat ao olhar a caixa com os pertences do marido se depara com inúmeras notas de uma confeitaria em Berlim, ela sabia que o marido tinha outra pessoa, mas jamais imaginaria que poderia ser Thomas, entre conversas ela acaba revelando algo que o dilacera, só que ele se segura e chora por dentro. A solidão e a dor do luto é enorme, sua decisão de ir para a terra do amado e encontrar a família inicialmente causa estranheza e o desenrolar causa agonia, mas a delicadeza e o inesperado transforma em compreensão.

"O Confeiteiro" é um filme bonito e corajoso ao demonstrar que o amor não possui barreiras, etiquetas e rótulos, acontece sem que possamos ter controle e de forma inesperada. A experiência do luto, do desespero silencioso da solidão desencadeou no personagem uma busca, tudo isso ricamente explorado em diversas camadas emocionais. É um filme de observação, há olhares que revelam, como o da mãe de Oren em diversas cenas, e tão mais importante, o toque, as mãos aquecendo a massa, a paixão empregada por Thomas na confecção de seus bolos, são momentos de puro deleite. 

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