terça-feira, 16 de julho de 2019

Plano-Sequência dos Mortos (Kamera o Tomeru Na!)

"Plano-Sequência dos Mortos" (2017) dirigido por Shin'ichirô Ueda é um filme de terror zumbi japonês original e criativo que quebra barreiras narrativas e surpreende por sua metalinguagem, é o tipo de filme que vale a pena ver sem saber absolutamente nada, pois a experiência pode ser prejudicada por qualquer informação, então se ainda não assistiu é melhor voltar para ler depois. 
Um grupo de cineastas amadores decide usar um prédio abandonado para filmar um grande plano-sequência envolvendo mortos-vivos e experimentos científicos para que possam usar em um filme de terror com baixo orçamento. A gravação se complica quando eles são atacados por zumbis de verdade, mas a equipe decide aproveitar o momento para deixar tudo registrado. O que aparentemente é uma obra clichê como tantas outras se tornará algo inusitadamente diferente. Aviso: Haverá Spoiler.
O filme é completamente independente e toda a filmagem ocorreu em apenas oito dias, incluindo o plano-sequência de 37 minutos no início em que mostra uma equipe rodando um filme de zumbi numa locação abandonada e de repente são realmente atacados, é um tanto inusitado a reação que causa, mas certamente a mais genial dentre tantas obras do tema lançadas. Acompanhamos essa equipe tentando gravar, o diretor enlouquecido querendo uma atuação de verdade da garota sendo atacada e quando acontece a invasão zumbi os dois atores e a maquiadora tentam sobreviver. Clichê como a maioria dos filmes de mortos-vivos, mas as surpresas em torno são espetaculares, basicamente a trama é dividida em dois arcos narrativos, a primeira sendo a gravação de um filme de baixíssimo orçamento e a segunda mostrando o diretor sendo contratado para fazer um episódio de um programa na TV com o tema zumbi, só que tudo ao vivo, vamos juntos do diretor em sua empreitada dificílima em criar, produzir, reunir elenco, planejar e ensaiar para que tudo ocorra perfeitamente já que não irá ter cortes. Nessa confusão criativa acontecem inúmeros imprevistos e daí somos brindados com cenas contendo todas as manobras e improvisos para sair alguma coisa enquanto o diretor está sendo pressionado pela emissora. A metalinguagem é excepcionalmente bem trabalhada, são diversas camadas narrativas que exalam amor ao cinema e garante além de um entretenimento uma aula esclarecedora dos perrengues e artimanhas nos sets de filmagem, é hilário, irônico e inteligente. 

Os atores são muito engraçados, especialmente o diretor vivido por Takayuki Hamatsu, que impressiona por sua habilidade na hora das cenas ao fazer o diretor descontrolado, e sua mulher (Harumi Shuhama) que também acaba sendo colocada de última hora para fazer a maquiadora, ela tem um problema que a fez no passado ficar longe das câmeras, que é entrar no personagem e levá-lo a sério demais, o que carreta em alguns problemas no filme, mas nele pronto não nos damos conta, só quando visualizamos os bastidores e o que foi feito para que tudo desse certo ao final. O filme brinca com o gênero e homenageia o cinema e ainda nos presenteia com as curiosidades por trás das câmeras. 

"Plano-Sequência dos Mortos" é uma obra inusitada e surpreendente, sua metalinguagem é fascinante e trabalha com a comédia de forma inteligente, os clichês e as bobagens são colocadas de um jeito criativo e não tem como não se apaixonar pela concepção do todo, fazer cinema é um processo difícil, mas imensamente satisfatório e o público percebe quando a arte foi feita com paixão. Filmaço!

*Apesar de grande sucesso em festivais, o filme teve um lançamento limitado fora do Japão e, claro, os Estados Unidos já planeja um remake.

Um comentário:

  1. Extremamente criativo, gostei bastante.

    É um filme para ser visto com a menor quantidade de informações possíveis.

    Abraço

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