quinta-feira, 18 de julho de 2019

As Duas Irenes

"As Duas Irenes" (2017) escrito e dirigido por Fabio Meira é um filme nacional delicado e extremamente caprichado, um drama familiar curioso que se desnovela pouco a pouco e que nos ganha pela abordagem belamente simples.
Irene (Priscila Bittencourt) é a filha do meio de uma família tradicional do interior, que um dia descobre que o pai (Marco Ricca) tem uma filha fora do casamento, também chamada Irene (Isabela Torres) e da mesma idade que ela. Revoltada com a descoberta, Irene passa a se aproximar de sua meio-irmã e da mãe dela, sem revelar sua identidade. É o início de uma cumplicidade entre elas, que passa também pela descoberta da sexualidade.
Acompanhamos tudo pelo olhar de Irene, que está desabrochando e esperta percebe coisas que ninguém parece querer enxergar, sua mãe é rígida e não demonstra qualquer afeto por ela, já para a irmã mais velha vemos o contrário, sua relação com o pai é boa e da parte dele sentimos um carinho, só que Irene acabou de descobrir que ele tem outra família e uma filha também chamada Irene e de sua mesma idade. Suas atitudes se tornam rebeldes e começa a afrontar os pais, ela decide se aproximar da outra Irene sem revelar a verdade. A mãe da outra Irene é costureira e a trata com muita simpatia, nas idas para que lhe faça uma blusinha conhece a meia-irmã e aos poucos fazem amizade, ela diz que se chama Madalena e a partir dessa relação um novo mundo se abre, elas saem, conversam e não se desgrudam, criam uma proximidade que exala curiosidade por parte das duas, pois elas são diferentes entre si, a outra Irene é mais aberta e já fica com meninos e usa roupas provocantes, isso tudo vai afetando a personalidade da menina que vive com uma família conservadora. O fato é que Irene vai comparando a maneira díspar que seu pai conduz as famílias e volta e meia faz perguntas do tipo: "Pai, você gosta de morar com a gente?", e dentro dessa confusão seu comportamento vai se modificando.
Essa história de filhos fora do casamento e de possuir mais de uma família sem que nenhuma saiba da outra ou até mesmo com conhecimento é algo comum e existe aos montes, mas pouco se discute sobre isso e a maneira que o filme explora o tema é deveras interessante e curioso, a Irene que descobre e vai atrás para conhecer sua meia-irmã também chamada Irene sem revelar a verdade instiga o espectador, suas escolhas são bastante pertinentes, além de que no meio disso tudo ela desabrocha e se liberta. A decisão final é certeira, sagaz, e fecha com brilhantismo.

As atrizes Priscila Bittencourt e Isabela Torres preenchem as cenas, são perfis diferentes, mas que se complementam, sempre com olhares curiosos uma para com a outra, acontece um bonito jogo de espelhos, a fotografia é também uma aliada com sua iluminação natural e a paisagem da cidadezinha interiorana de Goiás esbanja simplicidade e beleza. Tudo tem muito significado e importância, além de que o filme se faz atemporal.

"As Duas Irenes" encanta e gera reflexões acerca de questões familiares, como segredos e traições, mas sem nunca revelar demais, aborda em meio a isso o amadurecimento, as descobertas que a puberdade traz e a construção da personalidade. Um belo filme nacional que com uma abordagem minimalista e singela ganha nossa atenção e arrebata pelo seu visual primoroso.

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