quarta-feira, 23 de abril de 2025
Meu Bolo Favorito (Keyke Mahboobe Man)
"Meu Bolo Favorito" (2024) dirigido por Maryam Moqadam e Behtash Sanaeeha (O Perdão - 2020) é um filme iraniano que aborda o romance na velhice de uma forma leve e sensível apesar do contexto repressor e violento do país. É daquelas histórias que nos arranca vários sorrisos sinceros tamanha delicadeza dos personagens. Acompanhamos a rotina tediosa de Mahin (Lili Farhadpour), uma senhora de 70 anos que adora cozinhar, cuidar de suas plantas e costuma desviar de suas vizinhas fofoqueiras, além de ter o hábito de passar noites em claro assistindo TV. De tempos em tempos organiza reuniões com amigas em que tomam chá e conversam sobre os mais variados assuntos, quase sempre de doenças ou elas influenciando-a fazer coisas novas, desde que seu marido morreu e sua filha se mudou para outro país sua vida tem sido sempre a mesma, completamente sozinha. Depois desse dia Mahin decide que precisa arranjar uma companhia. Ela se arruma, pega um táxi e sai para a cidade caminhar na praça na esperança de encontrar alguém, não demora muito e observa um senhor almoçando sozinho no restaurante dos aposentados, decidida vai atrás dele e pede exatamente o táxi em que Faramarz (Esmaeel Mehrabi) trabalha. Durante a corrida Mahin joga charme e é correspondida, ao final o convida para entrar em sua casa, claro que com muita descrição, o decorrer desse encontro se dá com muito vinho, comida, música e ótimas conversas. Mergulhamos nas angústias e lembranças de ambos que vivenciaram cenários diferentes e duas realidades no país, viram a revolução acontecer tornando-o numa teocracia, autoritarismo extremo em que qualquer deslize gera prisão, a polícia da moralidade vigia cada passo e para Mahin que se apresenta uma senhora comportada percebe-se que há uma mulher livre com muita sede de viver, a solidão tanto de um como de outro machuca, mas a alegria deles contemplando o jardim comendo e bebendo vinho (feito em casa, pois também é proibido), é uma das cenas mais lindas do filme entre tantas outras. Há um quê de ingenuidade na forma que se relacionam, não sabem muito bem o que fazer além de trocar conversas, à medida que o vinho faz efeito intimidades são reveladas com imensa sensibilidade, melancolia e esperança.
As atuações são belíssimas, o olhar e o corpo falam o tempo todo, a troca de roupas de Mahin, seu esmero em cozinhar e servir Faramarz, cujas feições tristes dão lugar a sorrisos duradouros.
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