sábado, 31 de agosto de 2019
Parasite
"Parasite" (2019) dirigido pelo excelente Bong Joon-ho (Okja - 2017) é uma obra-prima de suspense, drama familiar, humor negro e que provoca pela sua crítica sobre a diferença entre as classes sociais, uma história instigante, inesquecível e repleta de reviravoltas surpreendentes.
Toda a família de Ki-taek (Song Kang-ho) está desempregada, vivendo num porão sujo e apertado. Uma obra do acaso faz com que o filho adolescente (Choi Woo Shik) comece a dar aulas de inglês à garota de uma família rica. Fascinados com a vida luxuosa destas pessoas, pai, mãe, filho e filha bolam um plano para se infiltrarem também na família burguesa, um a um. No entanto, os segredos e mentiras necessários à ascensão social custarão caro a todos.
Acompanhamos a família e suas artimanhas para sobreviverem, apertados num porão de um dos bairros mais pobres de Seul se viram com pequenos golpes, mas a oportunidade surge quando o filho adolescente Kim Ki-woo aceita dar aulas de inglês no lugar do amigo para uma garota rica, Da-hye (Jung Ji-so), filha de um presunçoso casal, o pai, Mr. Park (Sun-kyun Lee), magnata que dita as regras da casa e que não perde a oportunidade de sempre se colocar acima dos outros, a esposa Yeon-kyo Park (Jo Yeo Jung) mima os filhos e faz questão de esbanjar, a mansão moderna na parte rica de Seul atiça o jovem Kim Ki-woo que ao passar no teste da madame já começa a pensar em algo para sua irmã quando percebe que o filho mais novo precisa de alguém que o coloque na linha, ele inventa sobre uma conhecida com diversas especialidades e não demora para que ela aceite conhecê-la, o esquema dá certo e Kim Ki-jung (Park So Dam) impressiona ao disciplinar rapidamente o garotinho, conforme se acomodam percebem que ali há oportunidades também para o pai como motorista e a mãe como cozinheira, então começam a tramar situações para que os empregados sejam demitidos e os seus pais admitidos, o plano vai seguindo de acordo e ficamos atentos e torcendo para que dê certo, afinal o modo como é retratado o lado burguês é nojento e a família de Kim-taek é esperta e merece um lugar ao sol, o humor é extremamente bem trabalhado nesse momento e a cada membro inserido na mansão é maravilhosamente articulado, é cômico na medida certa e prepara o terreno para o que está por vir. O que se sucede é um emaranhado de acontecimentos inesperados e que muda todo o plano da família, a confusão e os conflitos vão ganhando tons tensos e aflitivos, surgem novas camadas na história, perspectivas sérias que refletem o sistema econômico que privilegia somente uma parte, a desigualdade social é pulsante e há cenas que ficam cravadas na memória.
O roteiro primoroso provoca o espectador, a sátira é potente e em nenhum momento o suspense sai de cena, o desenrolar surpreende e observamos a mudança que acontece em cada personagem, principalmente no semblante de Kim-taek toda vez que o patrão diz sobre um tal cheiro, sentimos empatia por ele e sua família, pois na condição deles não há como culpá-los, estão sobrevivendo. Todos cometem atos moralmente questionáveis, mas é inevitável não sentir nojo da hipocrisia burguesa.
"Parasite" é uma obra elaborada com maestria e que junta espetacularmente o thriller com a comicidade e uma pungente crítica social com fortes e certeiras metáforas, as diversas reviravoltas marcam a história e tanto entretém como traz uma necessária reflexão. Filmaço!
sexta-feira, 30 de agosto de 2019
Labirinto Verde (Zone Blanche)
"Labirinto Verde" é uma série francesa de suspense e investigação policial disponível no catálogo da Netflix desde junho de 2019, dirigida por Julien Despaux e Thierry Poiraud conta com 8 episódios recheados de mistério envolvendo mitos celtas e assassinatos. Ótima produção, seu diferencial está no clima, lenta e melancólica prima por explorar a natureza e seus segredos. A história se passa em uma cidadezinha belga, Villefranche, um local isolado em meio a uma labiríntica floresta bucólica, mas algo incomum está acontecendo, pois apesar de aparentar ser pacata a cidade está tomada por assassinatos e desparecimentos, a major Laurène (Suliane Brahim) e o recém-chegado promotor Franck Siriani (Laurent Capelluto) precisam desvendar um novo crime: uma mulher apareceu pendurada em uma árvore na floresta.
Com o desenrolar entendemos que essa cidade está sob o poderio da família do pai do prefeito Bertrand (Samuel Jouy), que possui um negócio local e que está sendo investigado pelo promotor, Bertrand tem um passado com a Major e sua filha também está desaparecida, a ligação que a maioria dos habitantes possuem com a floresta vai sendo revelada aos poucos, incluindo um grupo rebelde denominados Filhos de Arduina, a filha de Laurène explora esse plot e vemos o desenrolar disso muito mais na segunda temporada, os personagens não cativam, mas isso não é problema e certamente a grande protagonista é a floresta e seus mistérios, aliás a ambientação é seu maior ponto, enche os olhos com tanta beleza, o lugar é maravilhoso e o clima frio e escuro só realça a sensação de que ali realmente existe algo sinistro. Aos poucos somos inseridos na história de Laurène e entendemos sua obsessão com a floresta, seu passado é bizarro e todos os crimes parecem ter relação com algo que vive entre as árvores. São muitas cenas em que ela adentra o labirinto verde e tenta buscar pistas. A cada episódio novos crimes são cometidos, mas não se estendem e logo são concluídos, tudo com o intuito de alimentar o mistério maior. É bastante enigmática e calma mesmo com toda a criminalidade que a envolve.
Um thriller sombrio que te suga para uma imensidão verde e que explora a mitologia celta, a apreciação das imagens garantem a tensão, o que predomina é o clima escuro e melancólico e todos os personagens possuem dramas separados, alguns mais desenvolvidos, outros nem tanto, mas surpreende pelas camadas e as dúvidas que geram, a primeira temporada é ótima, desenreda e fecha perfeitamente para a segunda temporada que surge desvendando mais mistérios e nos envolvendo em outros mais elaborados e interessantes. Outros personagens aparecem e outros são mais explorados.
"Labirinto Verde" agrada a audiência que busca por séries de investigação mais calmas em que o ambiente faz parte do enredo, a floresta é a protagonista e a verdadeira resposta está contida nela, os personagens estão à disposição dela e, por isso, mesmo sendo chatos ou apáticos não faz diferença, somos absorvidos pela atmosfera e seus segredos obscuros. Por enquanto possui duas ótimas temporadas disponíveis na Netflix!
quinta-feira, 29 de agosto de 2019
Verão (Leto)
"Verão" (2018) dirigido por Kirill Serebrennikov (O Estudante - 2016) é um filme interessante e original sobre o cenário efervescente do Rock and Roll nos anos 80 em plena União Soviética, os artistas celebravam a cultura considerada inimiga e adaptavam canções clássicas para um formato aceito pela censura, assim acontecia também com as originais que precisavam passar por um crivo rígido, a juventude apesar de rebelde possuía cautela na hora de compor e com inteligência inseriam metáforas para dizer o que queriam, o tom se encaixava na comédia e dessa maneira se livravam da terrível censura que julgava tudo ofensivo ou até traição à pátria.
No verão de 1981, o rock underground chegava na Rússia Soviética, mais precisamente em Leningrado, onde hoje localiza-se a cidade de St. Petersburg. Sob a influência de artistas internacionais, como Led Zeppelin e David Bowie, o rock vibrava na cidade, marcando o nascimento de uma nova geração de artistas independentes. O jovem Viktor Tsoi (Teo Yoo) ganhou fama internacional e tornou-se o primeiro grande representante russo do gênero, foi o fundador e líder da banda Kino. Além da música, ele também ficou conhecido pelas polêmicas relacionadas a sua vida pessoal, como o triângulo amoroso que viveu junto com o seu mentor musical, Mike (Roman Bilyk), vocalista da banda Zoopark e a esposa dele, Natasha (Irina Starshenbaum).
Somos absorvidos por uma realidade contagiante e por vezes fantasiosa, a imersão nesse passado não muito distante é repleto de estilo e captura com excelência toda a aura opressiva e ao mesmo tempo borbulhante dessa época, certamente o que mais chama a atenção são as inserções musicais que possuem humor e excentricidade, nesses momentos surge uma espécie de narrador que com placas indica: "isto não aconteceu", são devaneios que contrastam com o quanto os artistas eram podados e que para criar era necessário moldar ou esconder muitas coisas, os ídolos do ocidente, David Bowie, Iggy Pop, Talking Heads, Lou Reed faziam a cabeça da juventude, mas as versões das músicas famosas e as composições não pareciam rock e a necessidade de mudar era cada vez mais intensa, porém a realidade não permitia e tudo o que tinham era a amizade e o mesmo sonho que os unia, assim foi com Viktor e Mike, personagens centrais da trama, e tantos outros que se destacaram na cena do rock soviético. Em meio a isso ainda acontece um triângulo amoroso vivido por Natasha, Mike e Viktor, uma intensa e complexa relação, eram unidos pela admiração e os desejos em comum.
É um filme cheio de ironias e provocações, um ótimo exemplar para conhecer artistas que driblaram o regime autoritário e conseguiram se inspirar em grandes músicos, como Lou Reed, e mesmo com tantas restrições compunham e se apresentavam, a busca pela liberdade nesse ambiente tão castrador só acontecia por conta da união deles e na maioria das cenas é destacado essa integração e o desejo de fazer acontecer, era a necessidade de dar voz mesmo que em formas adaptadas.
"Verão" é surpreendente, belo visualmente e imersivo em sua ambientação, traz com humor e acidez perspectivas interessantes da realidade musical na Rússia do período do regime comunista, por exemplo, ao retratar o como a plateia deveria se comportar durante um show ou as inúmeras restrições que os músicos deveriam seguir para subir ao palco, e certamente o ponto de mais destaque são as intervenções musicais que têm o propósito de quebrar a rigidez e lançar um pouco de cor à história.
quinta-feira, 22 de agosto de 2019
Skin
"Skin" (2018) roteirizado e dirigido por Guy Nattiv, também criador do curta de mesmo nome lançado no mesmo ano, Skin - 2018, cuja violência é a grande protagonista, traz neste a biografia de Bryon Widner, um neo-nazista que decide mudar de vida depois que experimenta o amor verdadeiro.
Bryon Widner (Jamie Bell) é um jovem homem que foi criado por skinheads notórios na comunidade de supremacia branca. Decidido em mudar sua vida, ele vira as costas para todo o ódio e a violência que foi ensinado, com a ajuda de um ativista de direitos negros.
Acompanhamos Bryon e sua violenta gangue que considera sua família, pois o líder o tirou da sarjeta e lhe deu casa e comida, há uma hierarquia rígida e todos obedecem Fred (Bill Camp) e todos têm a proteção e o amor distorcido da mãe, Shareen (Vera Farmiga). É angustiante assistir os diversos ataques brutais contra as mais diversas etnias, a violência escorre pelos poros do personagem e suas tatuagens faciais simbolizam o ódio e a cada novo ataque vai ganhando mais e mais desenhos, ele mesmo é um excelente tatuador, porém só exerce entre os seus, a montanha-russa de sentimentos destrutivos o atravessa dia após dia e desconta nas drogas, no sexo e através da violência, as cenas não poupam em retratar com crueza atos cruéis e exemplificam com intensidade a maneira de pensar e agir dessas pessoas que não suportam o diferente, as ideias distorcidas e a lavagem cerebral que os mais velhos fazem para agregar os mais novos, geralmente são adolescentes abandonados com famílias disfuncionais que passam fome e perambulam pelas ruas, eles oferecem casa, comida, proteção e os transformam em extremistas intolerantes capazes das mais diversas atrocidades.
As coisas começam a mudar quando Bryon conhece Julie (Danielle Macdonald), uma mãe solteira que também já fez parte desse mundo violento, mas por conta de suas três filhas mudou, sua maneira espontânea e corajosa desperta em Bryon algo inédito, principalmente também após ele pensar no último ato cometido contra um adolescente negro, com o passar dos dias ele se corrói e entra numa crise de consciência, a convivência com as crianças de Julie o desperta para o amor e sua postura naturalmente vai mudando, só que a sua "família" não permite que saia de casa e a cada novo ataque Bryon começa a ficar de lado e não promove mais a violência, o que o caracteriza em um traidor. Ele é ameaçado e tanto Julie como suas filhas sofrem as consequências. Nessa parte a aflição aumenta graças a intensa performance de Jamie Bell que incorpora com potência o personagem e nos fornece uma história de redenção consistente e envolvente.
As coisas começam a mudar quando Bryon conhece Julie (Danielle Macdonald), uma mãe solteira que também já fez parte desse mundo violento, mas por conta de suas três filhas mudou, sua maneira espontânea e corajosa desperta em Bryon algo inédito, principalmente também após ele pensar no último ato cometido contra um adolescente negro, com o passar dos dias ele se corrói e entra numa crise de consciência, a convivência com as crianças de Julie o desperta para o amor e sua postura naturalmente vai mudando, só que a sua "família" não permite que saia de casa e a cada novo ataque Bryon começa a ficar de lado e não promove mais a violência, o que o caracteriza em um traidor. Ele é ameaçado e tanto Julie como suas filhas sofrem as consequências. Nessa parte a aflição aumenta graças a intensa performance de Jamie Bell que incorpora com potência o personagem e nos fornece uma história de redenção consistente e envolvente.
Bryon conta com a ajuda de um ativista negro (Mike Colter), ele acredita na mudança dessas pessoas e se dedica de coração nessa missão já que ele próprio fez parte de uma gangue e teve a oportunidade de mudar. Decidido a realmente largar tudo Bryon auxilia a polícia a encontrar os membros e pelo ato de bondade de uma anônima começa a remoção de suas tatuagens, um dolorido processo, mas que simboliza que é possível mudar e se livrar de pensamentos e sentimentos que destroem.
"Skin" é um filme intenso tanto na exposição da violência como na sensibilidade que floresce, impacta e gera esperanças na mudança, é tanto ódio e intolerância sendo semeados que realmente cega quem sempre viveu dentro desse sistema, quando Bryon enxerga além de seu meio e percebe que aquilo não era família sente necessidade de mudar e essa transformação acontece de forma lenta com um penoso processo de autoconhecimento.
quinta-feira, 15 de agosto de 2019
20 Filmes Sobre Fanatismo Religioso (20 Religious Fanaticism Movies)
Segue um apanhado de filmes que retratam o fanatismo religioso e o seu alto poder de destruição.
"Os Filhos do Padre" (Svećenikova Djeca - 2013) Croácia
Em uma pitoresca vila na Dalmácia, há mais funerais do que nascimentos. Fabian (Kresimir Mikic) é um jovem padre indicado para ser o novo pároco desse lugar. Ao ouvir a confissão de um dos fiéis, ele descobre que a baixa natalidade é culpa da alta venda de preservativos. Horrorizado e querendo modificar essa situação, ele tem uma brilhante e drástica ideia: perfurar todas as camisinhas antes que elas sejam vendidas. Para isso, se junta ao jornaleiro Petar (Niksa Butijer) e ao farmacêutico Marin (Marija Skaricic). Só que o "milagroso" "boom" de bebês causa consequências inesperadas.
"Takva: O Temor de um Homem de Deus" (Takva - 2006) Turquia/Alemanha
Muharrem é um homem humilde e introvertido que vive de uma forma limitada e solitária. Adere de forma rígida à doutrina islâmica, inclusive a abstinência sexual. Sua extraordinária devoção atrai a atenção do líder de um rico e poderoso grupo islâmico de Istambul e lhe oferece um cargo de coletor de renda das suas inúmeras propriedades. Emprego novo, Muharrem, lança-se ao mundo moderno, o mesmo que ele evitara com sucesso durante toda sua vida. Logo começam a surgir os conflitos pessoais. Ele se torna orgulhoso, dominador e desonesto. Para piorar a situação, sua paz interior está abalada pela imagem de uma mulher sedutora que o atormenta nos seus sonhos. Agora sua devoção está virada, o medo de Deus começa a dominar seus sentidos. Saiba+
"Em Nome de Deus" (The Magdalene Sisters - 2002) Irlanda/UK
Irlanda, década de 60. Margaret (Anne-Marie Duff) foi estuprada num casamento por seu primo. Bernardette (Nora-Jane Noone) é muito bonita e por isso representa um perigo para os homens da vizinhança. Rose (Dorothy Duffy) e Crispina (Eileen Walsh) são mães solteiras. Por causa disso essas quatro mulheres são mandadas para um convento por seus familiares, com o intento de "pagar por seus pecados". Essa punição é por tempo indeterminado, o que significa uma vida de trabalhos forçados na lavanderia do asilo católico. As internas são conhecidas como "as irmãs Magdalena". Elas são humilhadas regularmente pelas madres, que não toleram desobediência, muitas vezes usando até mesmo castigos físicos. Saiba+
"O Mestre" (The Master - 2012) EUA
Ao término da Segunda Guerra Mundial, o marinheiro Freddie Quell (Joaquin Phoenix) tenta reconstruir sua vida. Traumatizado pelas experiências em combate, ele sofre com ataques de ansiedade e violência, e não consegue controlar seus impulsos sexuais. Um dia, ao acaso, ele conhece Lancaster Dodd (Phillip Seymour Hoffman), uma figura carismática e líder de uma organização religiosa conhecida como A Causa. Reticente no início, ele se envolve cada vez mais com este homem e com suas ideias, centradas na ideia de vidas passadas, cura espiritual e controle de si mesmo. Freddie torna-se cada vez mais dependente deste estilo de vida e das ideias de seu Mestre, a ponto de não conseguir mais se dissociar do grupo. Saiba+
"Setembro Negro" (September Dawn - 2007) Canadá/EUA
Em Utah, no século 19, ocorre um massacre estabelecido por um grupo de mórmons renegados contra um trem de colonizadores. Porém, o comandante dos agressores conhece uma das passageiras do trem, apaixona-se e em seguida começa um romance com ela.
"Nada de Mal Pode Acontecer" (Tore Tanzt - 2013) Alemanha
O jovem Tore busca em Hamburgo uma nova vida entre um grupo religioso chamado The Jesus Freaks. Quando ele encontra por acaso uma família e é ajudado por ela a reparar seu carro, acredita que tudo aconteceu por um milagre celestial. Ele começa uma amizade com o pai da família, Benno. Logo, decide morar com eles, sem saber que a crueldade virá de lá. Fiel à sua crença religiosa, Tore permanece na casa, embora seja frequentemente atacado por Benno, numa violência crescente. Tore precisa lutar contra o tormento com as suas próprias armas. Assim, uma luta perigosa entre as ações libidinosas e o altruísmo começa.
"A Maçã" (Sib - 1998) França/Irã
Narra a história verídica de duas irmãs gêmeas, Massoumeh e Zahra, trancafiadas em casa pelos pais - uma senhora cega e um senhor desempregado - durante 11 anos, o que as levou a um processo de atraso em seus desenvolvimentos. A prisão domiciliar era justificada por uma passagem de um texto religioso do Alcorão, segundo o qual as jovens são como pétalas, que fenecem ao contato do sol e não podem ser tocadas por homens. No filme, acompanhamos o drama dos pais (do pai, principalmente) para não ver as filhas ficarem sob a tutela do Estado. Ele tentará ensinar as meninas a desenvolver habilidades essenciais, como varrer o terreiro e fazer comida, para provar a uma assistente social que elas devem ficar com a família. O instigante é que não só a história das irmãs é verídica como os envolvidos no drama representam a si mesmos no filme. O pai, por exemplo, aceitou representar a si mesmo por acreditar que, assim, poderia defender seu nome, que fora, em sua opinião, caluniado.
"As Bruxas de Salém" (The Crucible - 1996) EUA
Em Salem, Massachusetts, 1692, algumas jovens fazem "feitiços". Uma delas, Abigail Williams (Winona Ryder), tinha se envolvido com John Proctor (Daniel Day-Lewis), um fazendeiro casado, quando trabalhou para ele, mas após o fim do caso foi despedida. Assim, desejava a morte de Elizabeth Proctor (Joan Allen), a esposa deste. Elas são descobertas no seu "ritual" e, acusadas de bruxaria, provocam uma histeria coletiva que atinge várias pessoas, sendo que Abby, a jovem desprezada por John, faz várias acusações até ver Elizabeth ser atingida.
"Um Caminho de Luz" (Camino - 2008) Espanha
Baseado na vida de Alexia González-Barros, conta sobre uma aventura emocional em torno de uma linda menina de onze anos, muito religiosa, que enfrenta ao mesmo tempo dois acontecimentos que são completamente novos para ela: apaixonar-se e morrer. "Camino" é acima de tudo uma luz brilhante capaz de atravessar todas e cada uma das tenebrosas portas que se vão fechando ante ela, e que pretendem em vão sumir na escuridão seu desejo de viver, amar e sentir-se definitivamente feliz. Baseada na história de uma filha de uma família pertencente ao Opus Dei, que faleceu em 1985 aos 14 anos de idade, e que atualmente está em processo de canonização.
"Meteora" (2012) Grécia
Nas planícies aquecidas da Grécia central, monastérios ortodoxos elevam-se acima de pilares de arenito, suspensos entre o céu e a terra. O jovem monge Theodoros e a freira Urania dedicaram suas vidas aos estritos rituais e costumes de sua comunidade. Um afeto que cresce entre eles coloca suas vidas monásticas em risco. Divididos entre a devoção espiritual e o desejo humano, eles devem decidir que caminho devem seguir. Saiba+
"Os Cavalos de Deus" (Les Chevaux de Dieu - 2012) França/Bélgica/Tunísia/Marrocos
Yachine, 10 anos, vive com a família no bairro da lata de Sidi Moumen em Casablanca. A mãe, Yemma, comanda a família como pode. Há um pai depressivo, um irmão no exército, um outro quase autista e um terceiro, Hamid, 13 anos, pequeno malfeitor do bairro e protetor de Yachine. Quando Hamid é preso, Yachine faz então pequenos trabalhos para sair deste marasmo onde reinam a violência, a miséria e as drogas. Após sair da prisão, Hamid sofre uma grande mudança, tornando-se um islamita radical durante o seu encarceramento, e persuade Yachine e os amigos a juntarem-se aos seus "irmãos". O Imame Abou Zoubeir, chefe espiritual, começa então com eles uma longa preparação física e mental. Um dia, anuncia-lhes que foram escolhidos para serem mártires. Este filme é livremente inspirado nos atentados terroristas de 16 de Maio de 2003 em Casablanca.
A adolescente Raquel vive em uma comunidade mórmon conservadora, no estado de Utah. Aos 15 anos de idade, ela descobre uma fita cassete e ouve pela primeira vez o rock and roll. Esta experiência incrível transforma sua vida: 3 meses mais tarde, ela aparece grávida, e insiste que a música foi responsável por sua gestação. Quando seus pais tentam casá-la contra sua vontade, ela foge em busca da voz misteriosa da fita cassete. Saiba+
"Luz Silenciosa" (Stellet Licht - 2007) México/Alemanha/França/Holanda
Johan (Cornelio Wall) é um menonita casado que vive ao norte do México. Os menonitas defendem o pacifismo radical e rejeitam o progresso, mas a comunidade de Johan é mais moderada. Eles usam carros e os benefícios da medicina moderna, mas ainda se recusam a utilizar comunicações com o exterior, como telefone ou internet. Neste ambiente Johan se apaixona por outra mulher, contrariando as leis de sua religião.
"Deserto Interior" (Desierto Adentro - 2008) México
Uma história cheia de metáforas e símbolos sobre a culpa, o fanatismo, a religião, a solidão e a loucura. Através de quadros pintados de forma rústica, Aureliano conta a história de sua família, predestinada a morrer por um pecado que seu pai cometeu. Com a guerra civil mexicana como pano de fundo, mostra toda a transformação de um homem cuja obsessão é obter o perdão de Deus, mesmo que para isso condene seus próprios filhos ao mais profundo confinamento. Saiba+
"O Pecado de Hadewijch" (Hadewijch - 2009) França
Céline (Julie Sokolowski), estudante de teologia, adota o nome de Hadewijch, místico do século XIII do Brabant, no norte da França. Chocada com a fé cega e estática da moça, a madre superiora (Brigitte Mayeux-Clerget) a envia para fora do convento, no intuito de que encontre sua vocação no mundo. Ela então volta a ser uma menina comum, filha de um ministro francês. Um dia conhece Yassine (Yassine Salime), africano do subúrbio, que a apresenta ao seu irmão Nassir (Karl Safaradis), muçulmano praticante e professor de religião. O amor de Céline por Deus, assim como sua raiva e seu desejo de entregar-se ao sacrifício, a lançam num caminho perigoso.
"O Estudante" ((M)uchenik - 2016) Rússia
Um adolescente descobre a sua vocação nas palavras da Bíblia e se transforma num católico muito dedicado, capaz de citar versículos de trás para frente. Ele começa a usar os ensinamentos cristãos para questionar as palavras de sua mãe, da escola onde estuda e principalmente de uma professora de biologia liberal.
"Além das Montanhas" (Dupa Dealuri - 2012) Romênia
Romênia. Alina (Cristina Flutur) e Voichita (Cosmina Stratan) são grandes amigas que vivem em um monastério isolado. Alina viveu por vários anos na Alemanha e deseja voltar ao país, Voichita está feliz no convento, onde acredita ter encontrado um lar e a fé. Sem entender a amiga, Alina passa a enfrentar constantemente um padre local. Ele, por sua vez, passa a acreditar que a jovem está possuída.
"Ida" (2013) Polônia
A jovem noviça Anna (Agata Trzebuchowska) está pronta para prestar seus votos e se tornar freira, só que antes disso, por insistência da Madre Superiora (Halina Skoczynska), vai visitar a única familiar restante: tia Wanda (Agata Kulesza), uma mulher cínica e mundana, defensora do Partido Comunista, que revela segredos sobre o seu passado. O nome real de Anna é Ida, e sua família era judia, capturada e morta pelos nazistas. Após essa revelação, as duas resolvem partir em uma jornada de autoconhecimento, para descobrir o real desfecho da história da família e onde cada uma delas pertence na sociedade. Saiba+
"14 Estações de Maria" (Kreuzweg - 2014) Alemanha
Maria (Lea Van Acken) se encontra dividida entre dois mundos. Na escola, a menina de 14 anos tem todos os interesses típicos de uma adolescente de sua idade, mas quando está em casa com a família, ela precisa seguir com rigidez os tradicionais ensinamentos católicos. Qualquer coisa que Maria faça ou pense deve ser examinado por Deus, o que a deixa com um medo constante de cometer algum pecado. Preocupada em agradar a todos, a menina logo se vê em meio ao fogo cruzado: como conciliar seus sentimentos pelo colega de classe com seus votos de pureza em nome de Deus? Saiba+
"Paraíso: Fé" (Paradies: Glaube - 2012) Áustria/Alemanha/França
Anna Maria é uma católica fervorosa e fanática que se flagela, caminha de joelhos pela casa, impreca os pecadores e chega ao ponto de se masturbar com o crucifixo. Anna Maria acha que a felicidade suprema tem de vir da fé. Radiologista durante o dia, no tempo que lhe sobra empenha-se na missão de evangelizar almas perdidas - um casal que vive em pecado, um alcoólatra e outros seres humanos sem rumo. Através da abnegação total dos prazeres carnais, da penitência diária, da tentativa de conversão dos "hereges", da limpeza obsessiva e de orações e cânticos, Anna tenta manter-se afastada do sexo e outros pecados. A sua fé é apenas posta à prova pelo marido que, apesar de impedido de andar, não desiste do seu ideal de amor, que inclui um casamento consumado. Mas Anna é implacável na sua decisão de direcionar a vida e o amor para Jesus. Um sentimento que parece infinito mas não é apenas etéreo. Saiba+
terça-feira, 13 de agosto de 2019
Minha Filha (Figlia Mia)
"Minha Filha" (2018) escrito e dirigido por Laura Bispuri (Virgem Juramentada - 2015) é um filme de mulheres fortes, aborda de maneira realista e cru uma situação complexa em que uma menina de 10 anos se vê dividida entre suas duas mães, a construção das personagens é seu maior triunfo e sua sensibilidade em torno do crescimento de cada uma é emocionante.
A guarda de uma menina está sob disputa de duas mães, a de criação Tina (Valeria Golino) e a biológica Angelica (Alba Rohrwacher) que almeja tê-la de volta. No centro do conflito, Vittoria (Sara Casu) se vê obrigada a lidar com questões existenciais muito acima do seu nível de maturidade, prestes a fazer uma escolha que a afetará a sua vida para sempre.
Acompanhamos Vittoria, uma garota retraída e excluída pelos colegas da escola, ela vive com Tina, sua mãe de criação e não lhe falta afeto e cuidados, Tina prometeu a Angelica que a ajudaria em qualquer situação, as duas são amigas de infância e vizinhas desde sempre, acontece que Angelica está sendo despejada e pretende ir embora, então Tina decide junto ao marido que Vittoria deveria vê-la, porém antes desse encontro a garota já tinha se deparado com essa mulher num rodeio em uma situação constrangedora, quando fica cara a cara com Angelica a menina percebe as semelhanças e a partir daí uma transformação se inicia. Vittoria todos os dias caminha até o sítio de Angelica e juntas conversam e passeiam pelos arredores, conhecemos um pouco mais dessa mulher tão perdida, alcoólatra vive no único bar do local se prostituindo e repleta de dívidas necessita vender seus animais e talvez ir para bem longe, só que as constantes visitas de Vittoria adia essa partida e algo nela também começa a mudar. A relação é descoberta por Tina que fica irritada e com medo de perder sua filha, a disputa é complexa, pois cada uma é de um jeito e Vittoria se sente mais solta com Angelica, se diverte e aprende coisas novas, Tina fica com os nervos à flor da pele, entra numa espiral de angústia e não sabe mais o que fazer para recuperar a atenção da menina.
O maior ponto do filme é retratar o triângulo sem apelar para melodramas, a construção das personagens e o modo fluído que se entrelaçam dão seriedade à história e comove, é forte na exaltação das mulheres, nas suas diferenças e que apesar delas ninguém precisa sair perdendo, o amor acolhe a todas. Gravado na ilha de Sardenha, a paisagem arenosa e desolada com suas ruínas em pedra e as diversas trilhas em meio as montanhas só intensifica os sentimentos evidenciados.
O maior ponto do filme é retratar o triângulo sem apelar para melodramas, a construção das personagens e o modo fluído que se entrelaçam dão seriedade à história e comove, é forte na exaltação das mulheres, nas suas diferenças e que apesar delas ninguém precisa sair perdendo, o amor acolhe a todas. Gravado na ilha de Sardenha, a paisagem arenosa e desolada com suas ruínas em pedra e as diversas trilhas em meio as montanhas só intensifica os sentimentos evidenciados.
É interessante observar o amadurecimento de Vittoria, sua jornada para o autoconhecimento e entender que tanto Tina como Angelica são importantes para si, Tina a protege e supre suas necessidades, já Angelica com seu jeito expansivo a motiva, essa combinação complementa uma à outra e mais adiante fortalecerá ainda mais a personalidade da menina, a cena final exemplifica que sem dúvidas Vittoria não é mais a mesma.
"Minha Filha" é um filme que quebra alguns pensamentos sobre o amor materno e mostra que padrões e fórmulas não existem, a visão de que não há necessidade de escolher entre uma ou outra é bela e sensível, a convivência entre elas mesmo sendo frágil e complexa certamente será um alicerce para Vittoria.
quinta-feira, 8 de agosto de 2019
Lámen Shop (Ramen Teh)
"Lámen Shop" (2018) dirigido por Eric Khoo (Be With Me -2005) é um filme delicioso e emocionante que retrata através de receitas culinárias laços e traumas familiares juntamente com suas tradições, é uma jornada gastronômica rica em sabores, sentimentos e aprendizados.
Masato (Takumi Saitoh) trabalha no restaurante da família, um dos estabelecimentos de lámen mais reputados em todo o Japão. Quando ele perde o pai, o jovem chef decide buscar as raízes culinárias e históricas do pai e da mãe, também falecida. Através de um diário e de cartas, Masato faz um caminho através de China, Japão e Singapura, confrontando-se com seus próprios traumas e os caminhos pelos quais seus pais passaram. Ele decide então acertar as contas com o passado.
Masato tem uma relação distante com o pai e seu único elo afetivo é o tio que também ajuda no restaurante de lámen, o motivo de seu pai estar afogado na bebida e ser tão fechado é por conta da morte de sua esposa e tantas coisas do passado, o filho não consegue compreender exatamente o comportamento do pai e somente quando este falece que Masato decide se enveredar pela história dos pais e a sua própria já que ele não se lembra de muita coisa, Masato então parte para Singapura, local onde tudo aconteceu. Somos contemplados por alguns flashes do passado em que seu pai vai para Singapura se especializar em culinária Kaiseki, tida como uma filosofia, apaixonado pelo tradicional prato Bak Kut Teh conhece num restaurante o amor da sua vida, mas esse relacionamento vai ser marcado por inúmeros contratempos e decisões importantes e derradeiras. Diante de todos os lugares por quais seus pais passaram Masato vai resgatando memórias e com a ajuda de uma amiga descobrindo através do diário de sua mãe pontos de vista diferentes sobre sua família, enquanto isso comidas tradicionais apetitosas fazem um elo sensível com valores familiares.
A relação com a comida é bela e encanta, desde a escolha dos ingredientes e o cuidado com o preparo até o momento de servir e comer, tudo é retratado com delicadeza para que nunca se rompa as camadas de afeto que unem esses pratos com a história de Masato e sua família, a união da cultura e o entrelaçamento das tradições culinárias, como o surgimento do lámen e sua difusão no Japão, o pai de Masato se dedicava de alma no preparo, uma forma de reavivar a memória da esposa, e quando ele morre Masato sente que necessita aprender o Bak Kut Teh para assim também reavivá-lo toda vez que preparar o prato. A receita, uma espécie de sopa de costela de porco era a especialidade do restaurante da mãe de Masato, e seu desejo na verdade é unir a tradicional sopa de lámen com o Bak Kut Teh, são diversas as tentativas, na sua caminhada encontra o tio que o ensina a se aprofundar na receita e a avó que o rejeita, ela nunca aceitou o casamento devido as mágoas antepassadas por conta da guerra, o maldito japonês, assim como dizia, fez a sua filha viver em profunda tristeza, principalmente quando teve que escolher ir para o Japão. Tempos depois ela adoeceu e faleceu transformando o pai de Masato em um alguém completamente diferente.
A relação com a comida é bela e encanta, desde a escolha dos ingredientes e o cuidado com o preparo até o momento de servir e comer, tudo é retratado com delicadeza para que nunca se rompa as camadas de afeto que unem esses pratos com a história de Masato e sua família, a união da cultura e o entrelaçamento das tradições culinárias, como o surgimento do lámen e sua difusão no Japão, o pai de Masato se dedicava de alma no preparo, uma forma de reavivar a memória da esposa, e quando ele morre Masato sente que necessita aprender o Bak Kut Teh para assim também reavivá-lo toda vez que preparar o prato. A receita, uma espécie de sopa de costela de porco era a especialidade do restaurante da mãe de Masato, e seu desejo na verdade é unir a tradicional sopa de lámen com o Bak Kut Teh, são diversas as tentativas, na sua caminhada encontra o tio que o ensina a se aprofundar na receita e a avó que o rejeita, ela nunca aceitou o casamento devido as mágoas antepassadas por conta da guerra, o maldito japonês, assim como dizia, fez a sua filha viver em profunda tristeza, principalmente quando teve que escolher ir para o Japão. Tempos depois ela adoeceu e faleceu transformando o pai de Masato em um alguém completamente diferente.
O filme é uma experiência fascinante, a culinária é a principal protagonista, a relação com os pratos apresentados são sempre relacionados com as emoções dos personagens, inevitável não dar água na boca e querer experimentá-los, também nos traz perspectivas sobre o amor, traumas e mágoas familiares, acompanhamos Masato em sua jornada e nos deslumbramos a cada nova descoberta, seja nas raízes de seu passado ou com os seus desejos de unir as culturas através da comida e dessa forma reavivar a memória dos pais.
"Lamen Shop" é leve, calmo e contemplativo, a comida é algo que dá o poder de aconchego passando até pelo processo de perdão, a cena final em que a avó sorri ao comer o que o neto preparou diz muito sobre essa reflexão, toda a gama de emoções que um prato pode evocar é simplesmente incrível, e a viagem proporcionada para conhecer o como as culturas se entrelaçam através desses pratos é outro ponto realmente bonito do longa, sem dúvidas, um filme para não se assistir de barriga vazia.
"Aprendi que quando a vida se torna difícil, a beleza da natureza é o melhor dos remédios. Ela nos alivia e nos protege da dura realidade, porque nada dura para sempre. A fragilidade da natureza demonstra que a vida é delicada. A vida é efêmera."
terça-feira, 6 de agosto de 2019
Dégradé
"Dégradé" (2015) escrito e dirigido pelos irmãos Arab Nasser e Tarzan Nasser é uma obra forte e eficaz em retratar a realidade de mulheres que vivem próximas a Faixa de Gaza, o ponto de vista feminino aumenta o terror de todas as consequências dos inúmeros conflitos e opressões diárias. É aflitivo, caótico e claustrofóbico.
Christine (Victoria Balitska), uma russa que vive em Gaza, gerencia um salão de beleza vizinho ao quartel-general de uma gangue. No pátio que separa os dois, Ahmed, um dos chefes locais, exibe com orgulho o leão que acaba de roubar do zoológico da cidade. Quando a polícia inicia uma operação para libertar o animal, o clima na região fica tenso, deixando Christine, sua filha, uma assistente e dez clientes sitiadas no salão. Em meio ao fogo cruzado, ela precisa preparar uma noiva e opinar sobre os problemas amorosos de suas clientes. Tudo isso enquanto o leão cochila logo ao lado.
Acompanhamos intimamente durante algumas horas várias mulheres em um salão de beleza localizado numa região perigosa e que é palco de muitos conflitos, enquanto esperam sua vez discutem, conversam e enfrentam os mais variados problemas, Christine se desdobra para atendê-las e tem a missão de preparar uma noiva que está sob os olhares atentos da sogra que dita o como deve ser o corte de seu cabelo, a opressão está por todas as partes, as conversas vão ganhando tons sombrios à medida que a confusão lá fora aumenta. São mulheres diferentes entre si, mas todas carregando pesos de suas histórias, Christine luta para manter seu salão, ela diz que ali é melhor que o lugar que veio, mesmo faltando energia dá um jeito e junto de sua assistente Wedad (Maisa Abd Elhadi), que sofre pelo romance com Ahmed e seus rompantes, lida com as clientes sem paciência, especialmente, Eftikhar (Hiam Abbass), seu comportamento antipático revela uma faceta de angústia por estar envelhecendo, a todo momento se olha no espelho e se compara com as mais novas. Dentre todas a que mais se sobressai é Safia (Manal Awad) e seus diálogos engraçados com a mais religiosa do grupo, ela toma um remédio à base de ópio e, claro, que essa sua forma de agir acaba revelando algo triste, entre essas mulheres há uma grávida que a qualquer momento pode dar à luz, só que não há como sair, estão confinadas nesse pequeno estabelecimento por conta do conflito que toma proporções caóticas onde grupos rivais se enfrentam, além da presença de um leão.
Acompanhamos intimamente durante algumas horas várias mulheres em um salão de beleza localizado numa região perigosa e que é palco de muitos conflitos, enquanto esperam sua vez discutem, conversam e enfrentam os mais variados problemas, Christine se desdobra para atendê-las e tem a missão de preparar uma noiva que está sob os olhares atentos da sogra que dita o como deve ser o corte de seu cabelo, a opressão está por todas as partes, as conversas vão ganhando tons sombrios à medida que a confusão lá fora aumenta. São mulheres diferentes entre si, mas todas carregando pesos de suas histórias, Christine luta para manter seu salão, ela diz que ali é melhor que o lugar que veio, mesmo faltando energia dá um jeito e junto de sua assistente Wedad (Maisa Abd Elhadi), que sofre pelo romance com Ahmed e seus rompantes, lida com as clientes sem paciência, especialmente, Eftikhar (Hiam Abbass), seu comportamento antipático revela uma faceta de angústia por estar envelhecendo, a todo momento se olha no espelho e se compara com as mais novas. Dentre todas a que mais se sobressai é Safia (Manal Awad) e seus diálogos engraçados com a mais religiosa do grupo, ela toma um remédio à base de ópio e, claro, que essa sua forma de agir acaba revelando algo triste, entre essas mulheres há uma grávida que a qualquer momento pode dar à luz, só que não há como sair, estão confinadas nesse pequeno estabelecimento por conta do conflito que toma proporções caóticas onde grupos rivais se enfrentam, além da presença de um leão.
A história dá preferência aos diálogos e o ponto de vista que cada uma tem do entorno faz o espectador se aproximar da realidade da região de uma maneira única e verdadeira, as relações com os maridos, a beleza, a família, religião e política e seus diversos grupos armados nos dá uma abrangência para compreender a dificuldade de se viver nesse local opressivo. A tensão permeia todo o desenrolar, sempre se espera pelo pior e os nervos ficam à flor da pele, os cabelos que nunca são concluídos, as mulheres que impacientemente aguardam sua vez, a energia que cessa e os tiros e explosões lá fora, um verdadeiro inferno.
"Dégradé" é uma obra afitiva e que retrata com potência a tamanha instabilidade de se viver na Faixa de Gaza, os conflitos entre os grupos radicais e seus ataques levando qualquer um que esteja por perto, não vemos absolutamente nada do que acontece lá fora, sentimos o desespero junto dessas mulheres que confinadas tentam se controlar e continuar o processo de se arrumarem, algo tão corriqueiro em qualquer parte do mundo, mas que nesse local se transforma numa tour de force, deveras uma pequena e sincera amostra do quão opressiva é a vida da mulher palestina, seja diante dos grandes e inúmeros conflitos, nas relações amorosas e até mesmo nas pequenas atividades diárias.
quinta-feira, 1 de agosto de 2019
Morto Não Fala
"Morto Não Fala" (2018) escrito e dirigido por Dennison Ramalho é um ótimo filme que vem nessa maravilhosa onda de produções brasileiras de horror sem pender para a comédia trash ou suas vertentes, exibido em diversos festivais mundo afora o longa é mais uma amostra do nosso criativo e potente cinema de gênero, a história conversa com variadas facetas do terror clássico e os une com um drama familiar desesperador e crescente, Daniel de Oliveira está impecável e, sem dúvidas, um dos atores mais versáteis do nosso cinema, ele imprime em seu semblante muitas dúvidas e angústias e pelos seus poros exala ansiedade e confusão.
Stênio (Daniel de Oliveira) é plantonista de um necrotério de uma grande e violenta cidade e possui um dom paranormal de se comunicar com os mortos. Trabalhando a noite, ele já está acostumado a ouvir relatos do além. Porém, quando essas conversas revelam segredos sobre sua própria vida, o homem ativa uma maldição perigosa para si e todos a sua volta.
Stênio mora com sua esposa Odete (Fabíula Nascimento) e seus dois filhos, ela odeia o cheiro que Stênio emana após chegar do trabalho e quanto mais longe dele melhor, ela mantém um caso com Jaime (Marco Ricca), dono de uma padaria e pai de Lara (Bianca Comparato). Stênio possui um dom, todas as madrugadas enquanto faz seu trabalho escuta os mortos e seus segredos, numa dessas enquanto prepara o corpo de um conhecido de sua região acaba sabendo da traição da sua esposa e então decide colocar em prática um violento plano envolvendo a gangue de traficantes, ele culpa Jaime pela morte do homem dedurado e a gangue executa Jaime e por consequência Odete. A partir daí a vida de Stênio é só ladeira abaixo, sua confusão mental é extrema e a cada madrugada em seu trabalho experimenta conversas tenebrosas já que ele usou uma informação vinda do outro lado para usar em benefício próprio e de maneira inescrupulosa, e claro, Stênio se arrepende e esse sentimento o atormentará por todo o desenrolar, e até seus filhos pagarão por isso. Ele tem a ajuda de Lara para cuidar deles, o que causa ainda mais a ira da fantasma de sua esposa que não permite a presença dela em sua casa e deseja que Stênio de um fim nela para que possa se sentir em paz e desaparecer de vez.
A brutalidade permeia a história e não poupa em imagens sangrentas, o formato inicial agrada bastante, apesar de que a computação gráfica no rosto dos mortos seria completamente dispensável, mas não é nada que estrague a experiência, ele se faz interessante e envolve o sobrenatural e seus clichês de forma instigante, porém em determinada parte acaba descambando para alguns exageros típicos dessas produções e também vão contra a proposta pesada e melancólica inicial, a manifestação e a perseguição da fantasma realmente não é o melhor momento da história, o que salva nesta parte é a interpretação certeira de Daniel de Oliveira. São inúmeros os pontos positivos e ele se sai muito melhor que diversos filmes hollywoodianos que estão pipocando por aí, o dom de escutar os mortos e a teia de vingança que Stênio se enrosca juntamente com a maldição se amarram em um ótimo drama familiar e thriller psicológico com boas doses de brutalidade.
É um filme caprichado tanto na fotografia que não deixa o filme totalmente no escuro mesmo possuindo um tom fúnebre, como em seus efeitos especiais que são capazes de dar enjoos aos menos acostumados a ver sangue e vísceras, a ambientação na morgue ajuda a construir esse clima putrefato e somos absorvidos pela história que causa curiosidade, mas o que começa como um cinema diferente e que prima por elementos bem brasileiros, como o cenário violento da cidade grande termina por se render as convencionalidades do horror dos filmes americanos, porém não é demérito e é deveras animador ver o gênero avançar no Brasil, aos trancos e barrancos o horror está deixando de ser nicho e abrangendo um público cada vez maior que está deixando o preconceito de lado e abraçando o cinema nacional.
"Morto Não Fala" tem seus altos e baixos, mas é indiscutivelmente um ótimo filme, consegue instigar e gerar sensações diversas ao espectador, traz um visual perturbador e assombroso, uma beleza sem igual em cada quadro, seja nos momentos bizarros e nojentos ou nos que trazem uma certa sensibilidade, além da excelente interpretação de Daniel de Oliveira que sempre consegue inovar e trazer facetas diferentes aos seus personagens, vide seu trabalho anterior "Aos Teus Olhos" - 2018.
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