quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Verão (Leto)

"Verão" (2018) dirigido por Kirill Serebrennikov (O Estudante - 2016) é um filme interessante e original sobre o cenário efervescente do Rock and Roll nos anos 80 em plena União Soviética, os artistas celebravam a cultura considerada inimiga e adaptavam canções clássicas para um formato aceito pela censura, assim acontecia também com as originais que precisavam passar por um crivo rígido, a juventude apesar de rebelde possuía cautela na hora de compor e com inteligência inseriam metáforas para dizer o que queriam, o tom se encaixava na comédia e dessa maneira se livravam da terrível censura que julgava tudo ofensivo ou até traição à pátria.
No verão de 1981, o rock underground chegava na Rússia Soviética, mais precisamente em Leningrado, onde hoje localiza-se a cidade de St. Petersburg. Sob a influência de artistas internacionais, como Led Zeppelin e David Bowie, o rock vibrava na cidade, marcando o nascimento de uma nova geração de artistas independentes. O jovem Viktor Tsoi (Teo Yoo) ganhou fama internacional e tornou-se o primeiro grande representante russo do gênero, foi o fundador e líder da banda Kino. Além da música, ele também ficou conhecido pelas polêmicas relacionadas a sua vida pessoal, como o triângulo amoroso que viveu junto com o seu mentor musical, Mike (Roman Bilyk), vocalista da banda Zoopark e a esposa dele, Natasha (Irina Starshenbaum).  
Somos absorvidos por uma realidade contagiante e por vezes fantasiosa, a imersão nesse passado não muito distante é repleto de estilo e captura com excelência toda a aura opressiva e ao mesmo tempo borbulhante dessa época, certamente o que mais chama a atenção são as inserções musicais que possuem humor e excentricidade, nesses momentos surge uma espécie de narrador que com placas indica: "isto não aconteceu", são devaneios que contrastam com o quanto os artistas eram podados e que para criar era necessário moldar ou esconder muitas coisas, os ídolos do ocidente, David Bowie, Iggy Pop, Talking Heads, Lou Reed faziam a cabeça da juventude, mas as versões das músicas famosas e as composições não pareciam rock e a necessidade de mudar era cada vez mais intensa, porém a realidade não permitia e tudo o que tinham era a amizade e o mesmo sonho que os unia, assim foi com Viktor e Mike, personagens centrais da trama, e tantos outros que  se destacaram na cena do rock soviético. Em meio a isso ainda acontece um triângulo amoroso vivido por Natasha, Mike e Viktor, uma intensa e complexa relação, eram unidos pela admiração e os desejos em comum.

É um filme cheio de ironias e provocações, um ótimo exemplar para conhecer artistas que driblaram o regime autoritário e conseguiram se inspirar em grandes músicos, como Lou Reed, e mesmo com tantas restrições compunham e se apresentavam, a busca pela liberdade nesse ambiente tão castrador só acontecia por conta da união deles e na maioria das cenas é destacado essa integração e o desejo de fazer acontecer, era a necessidade de dar voz mesmo que em formas adaptadas.

"Verão" é surpreendente, belo visualmente e imersivo em sua ambientação, traz com humor e acidez perspectivas interessantes da realidade musical na Rússia do período do regime comunista, por exemplo, ao retratar o como a plateia deveria se comportar durante um show ou as inúmeras restrições que os músicos deveriam seguir para subir ao palco, e certamente o ponto de mais destaque são as intervenções musicais que têm o propósito de quebrar a rigidez e lançar um pouco de cor à história. 

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