quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Morto Não Fala

"Morto Não Fala" (2018) escrito e dirigido por Dennison Ramalho é um ótimo filme que vem nessa maravilhosa onda de produções brasileiras de horror sem pender para a comédia trash ou suas vertentes, exibido em diversos festivais mundo afora o longa é mais uma amostra do nosso criativo e potente cinema de gênero, a história conversa com variadas facetas do terror clássico e os une com um drama familiar desesperador e crescente, Daniel de Oliveira está impecável e, sem dúvidas, um dos atores mais versáteis do nosso cinema, ele imprime em seu semblante muitas dúvidas e angústias e pelos seus poros exala ansiedade e confusão.
Stênio (Daniel de Oliveira) é plantonista de um necrotério de uma grande e violenta cidade e possui um dom paranormal de se comunicar com os mortos. Trabalhando a noite, ele já está acostumado a ouvir relatos do além. Porém, quando essas conversas revelam segredos sobre sua própria vida, o homem ativa uma maldição perigosa para si e todos a sua volta.
Stênio mora com sua esposa Odete (Fabíula Nascimento) e seus dois filhos, ela odeia o cheiro que Stênio emana após chegar do trabalho e quanto mais longe dele melhor, ela mantém um caso com Jaime (Marco Ricca), dono de uma padaria e pai de Lara (Bianca Comparato). Stênio possui um dom, todas as madrugadas enquanto faz seu trabalho escuta os mortos e seus segredos, numa dessas enquanto prepara o corpo de um conhecido de sua região acaba sabendo da traição da sua esposa e então decide colocar em prática um violento plano envolvendo a gangue de traficantes, ele culpa Jaime pela morte do homem dedurado e a gangue executa Jaime e por consequência Odete. A partir daí a vida de Stênio é só ladeira abaixo, sua confusão mental é extrema e a cada madrugada em seu trabalho experimenta conversas tenebrosas já que ele usou uma informação vinda do outro lado para usar em benefício próprio e de maneira inescrupulosa, e claro, Stênio se arrepende e esse sentimento o atormentará por todo o desenrolar, e até seus filhos pagarão por isso. Ele tem a ajuda de Lara para cuidar deles, o que causa ainda mais a ira da fantasma de sua esposa que não permite a presença dela em sua casa e deseja que Stênio de um fim nela para que possa se sentir em paz e desaparecer de vez. 
A brutalidade permeia a história e não poupa em imagens sangrentas, o formato inicial agrada bastante, apesar de que a computação gráfica no rosto dos mortos seria completamente dispensável, mas não é nada que estrague a experiência, ele se faz interessante e envolve o sobrenatural e seus clichês de forma instigante, porém em determinada parte acaba descambando para alguns exageros típicos dessas produções e também vão contra a proposta pesada e melancólica inicial, a manifestação e a perseguição da fantasma realmente não é o melhor momento da história, o que salva nesta parte é a interpretação certeira de Daniel de Oliveira. São inúmeros os pontos positivos e ele se sai muito melhor que diversos filmes hollywoodianos que estão pipocando por aí, o dom de escutar os mortos e a teia de vingança que Stênio se enrosca juntamente com a maldição se amarram em um ótimo drama familiar e thriller psicológico com boas doses de brutalidade.

É um filme caprichado tanto na fotografia que não deixa o filme totalmente no escuro mesmo possuindo um tom fúnebre, como em seus efeitos especiais que são capazes de dar enjoos aos menos acostumados a ver sangue e vísceras, a ambientação na morgue ajuda a construir esse clima putrefato e somos absorvidos pela história que causa curiosidade, mas o que começa como um cinema diferente e que prima por elementos bem brasileiros, como o cenário violento da cidade grande termina por se render as convencionalidades do horror dos filmes americanos, porém não é demérito e é deveras animador ver o gênero avançar no Brasil, aos trancos e barrancos o horror está deixando de ser nicho e abrangendo um público cada vez maior que está deixando o preconceito de lado e abraçando o cinema nacional.

"Morto Não Fala" tem seus altos e baixos, mas é indiscutivelmente um ótimo filme, consegue instigar e gerar sensações diversas ao espectador, traz um visual perturbador e assombroso, uma beleza sem igual em cada quadro, seja nos momentos bizarros e nojentos ou nos que trazem uma certa sensibilidade, além da excelente interpretação de Daniel de Oliveira que sempre consegue inovar e trazer facetas diferentes aos seus personagens, vide seu trabalho anterior "Aos Teus Olhos" - 2018. 

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