segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Dúvida (Doubt)

Um filme excepcional sustentado por um elenco magnânimo, um roteiro inteligente e que nos conduz a uma dúvida constante.
Na década de 1960, a mudança de ares nas sociedades norte-americanas e mundial já davam sinais de crescimento. Os ventos da modernidade se tornavam cada vez mais poderosos, incomodando o conservadorismo da irmã Aloysius (Meryl Streep), numa das metáforas mais belas do filme. Nesse contexto, uma escola religiosa é palco do enfrentamento entre o progressista padre Flynn (Philip Seymour Hoffman) e da conservadora irmã diretora da escola, que suspeita que o sacerdote mantenha relações impróprias com o primeiro estudante negro do instituto, Donald Miller (Joseph Foster). No meio do turbilhão de acontecimentos, está a jovem e inocente irmã James (Amy Adams) que, sem perceber, alimenta as suspeitas de sua superiora. 
É um filme intenso e o clima criado é sempre de imensa dúvida. Ele é construído de forma para gerar suspeitas, o sim e o não é mostrado desde o início até o fim. O padre Flynn é um ser humano antes de mais nada, tem sentimentos e um passado velado, sua maneira de tratar as crianças, principalmente Donald é de pura sensibilidade, faz com que ele se sinta mais confortável, já que ser negro em meio a tantos preconceitos da época era muito difícil, mas essa era apenas uma de suas dificuldades, ao desenrolar descobrimos as suas verdadeiras angústias, o menino é gay, e seu pai o maltrata, e ele encontra no padre um apoio. O garoto em certo momento diz que tem vontade de assumir a batina,quando mais velho. Seria uma maneira de se inserir na sociedade por causa de não conseguir lidar com seus sentimentos, e por não ter alguém que o entendesse?
A irmã interpretada pela maravilhosa Meryl Streep, que por sinal é uma chata e provavelmente infeliz, questiona o padre de forma grosseira e o perturba o tempo todo. Ela faz de tudo, fica obcecada por querer encontrar provas de que ele estaria se aproveitando do menino. Mas é claro que nada é esclarecido, ela inventa, mente e consegue tirar o padre Flynn do colégio, porém a sua consciência a atormenta, ela não encontrou a verdade, apenas dúvidas. Será que padre Flynn é uma pessoa cheia de compaixão e inocente das acusações, ou estaria ele no sacerdócio se fazendo de acolhedor para seduzir crianças? Esta dúvida permanecerá na cabeça da irmã.

O filme aborda o período em que o movimento negro ganhava força, por volta de 1968, com Martin Luther King se tornando ícone. É o início de uma certa modernidade que a irmã Aloysius repreende drasticamente, ela é pragmática e inflexível.
O interessante é o que filme é feito de altos e baixos, ele segue um ritmo próprio, de suspense, mistério, em que os diálogos é que nos fazem ter percepções diferenciadas. No final é mostrada a complexidade da personagem de Meryl Streep, é retratado o orgulho, as incertezas, e seu rosto sempre duro se desmancha em lágrimas de desespero por algo que nunca saberá. A jovem irmã James carrega uma dúvida mais velada, seu rosto exprime apenas ingenuidade.
"Dúvida" tem um roteiro primoroso e inteligente em todo o seu desenvolvimento, além de atuações impecáveis. A complexidade de sentimentos em que dúvidas e certezas se misturam nos causa momentos de grande tensão.


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