terça-feira, 2 de outubro de 2012

Caramelo (Sukkar Banat)

"Caramelo" é um filme delicioso de se assistir, assim como o título já denuncia. Caramelo vem da mistura de açúcar, limão e água, velha receita oriental usada para depilação. O foco narrativo gira em torno de um grupo de cinco amigas que trabalham em um salão de beleza, onde cada uma vive dilemas em suas vidas. Nenhuma se abre muito umas com as outras, mas isso não é necessário já que uma boa amiga sempre sabe o que a outra está sentindo e pensando apenas pelo olhar. O apoio que umas dão as outras nasce daí, da sensibilidade que cada uma tem para perceber o que a outra está sentindo.
Beirute é o cenário dessa história, a bela Layale (Nadine Labaki) tem sua vida travada por um romance proibido com um homem casado. Repleta de inseguranças e medos, sempre na espera pela buzina de seu amado, uma espera ilusória, achando que um dia ele se separe da mulher. Nisrine (Yasmine Elmasri) tem receio de contar as amigas de que não é mais virgem, e ainda mais ao seu futuro marido; Rima (Joanna Moukarzel) vive situações difíceis com sua sexualidade, é claramente lésbica. Jamale (Gisèle Aouad) que finge ainda menstruar para parecer jovem aos olhos de suas amigas. E a costureira Rose (Sihame Haddad), que tem medo de viver, e ao encontrar um homem que se interessa por ela, falta-lhe coragem para vivenciar esse amor, o peso se dá porque Rose cuida da irmã Lili (Aziza Semaan), que tem problemas e necessita de seus cuidados. Lili passa seus dias catando papéis pelas ruas julgando serem cartas de um namorado que há muito desapareceu.
O doce do caramelo na verdade mascara a dor, já que ele é usado para fazer depilação nas mulheres. Portanto, a todo momento o filme trata essa dualidade de uma forma muito sensível e com cenas inesquecíveis. Nadine Labaki, protagonista e também diretora nos mostra um trabalho simples e emocionante, cheio de sutilezas e marcado por uma sensualidade latente. Interessante observar o modo como a diretora trata o encontro de Rima com uma cliente, no qual a lavagem dos cabelos mostra intimidade e envolvimento afetivo. O corte de cabelo ao final, mostra a liberdade da mulher, cuja vida é tão restritiva em uma sociedade tradicional. Beirute é um lugar em que a diversidade religiosa predomina, apesar de seus vizinhos serem claramente muçulmanos, lá eles vivem harmoniosamente com o cristianismo, até tem uma cena em que mostra uma procissão. No salão de beleza essas mulheres se sentem livres. O filme tem um charme muito especial, a fotografia sempre revela a cor do caramelo, nos dando água na boca, as mulheres são de uma beleza única, principalmente Layale com seus olhos bastante expressivos, tudo contribui para que o longa se torne sensual sem ser claramente explícito, os assuntos abordados são tratados de maneira sutil, pois são demasiadamente sensíveis, ainda mais para uma cultura opressiva.

A produção é franco/libanesa por causa do conservadorismo no Oriente Médio para questões mais delicadas, como a homossexualidade feminina. São usados muitos simbolismos, o que torna a obra elegante e sutil. O filme tem uma textura agradável como o título adocicado já revela. Traz com leveza temas complexos que o universo feminino enfrenta seja em qualquer lugar do mundo.
Retratado com pitadas de humor, o enredo nos envolve naturalmente. Beirute é uma cidade de contrastes, onde as protagonistas se vestem de forma bem femininas dentro do salão, mas é possível notar as mulheres que se cobrem, e ainda cultuam o tal respeito ao corpo, em que qualquer exposição é designada como pecado.

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