terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

A Festa (The Party)

"A Festa" (2017) dirigido por Sally Potter (Ginger & Rosa - 2012) é uma comédia dramática com aspecto teatral que disserta sobre infidelidade, visões políticas, ambição, inveja e preconceitos. É um jogo gradativo de intrigas entre os personagens que gera desconforto, o que remete muito ao filme de Polanski, "Deus da Carnificina" - 2011. A comemoração acaba por ser um palco de revelações de profundos segredos e troca de farpas, sentimentos como ansiedade e confusão predominam e segue assim até seu derradeiro fim.
Janet (Kristin Scott Thomas), uma política de esquerda, convida os amigos do partido para comemorar a sua escolha para o cargo de ministra da saúde britânica, coroando um objetivo que ela perseguia há anos. Os amigos também têm suas revelações, como uma gravidez inesperada. Mas é a surpresa revelada pelo marido de Janet, o intelectual Bill (Timothy Spall), que vai transformar completamente o evento. A festa logo se transforma em pesadelo.
Filmado em preto e branco e de curta duração (71 min.), captura a atenção desde seu início com Janet apontando uma arma para nós espectadores, logo somos tragados para dentro de seu apartamento para vivenciar os acontecimentos, feliz com seu novo cargo de ministra da saúde, um objetivo que alcançou com muito esforço e diante do atual momento político se faz uma enorme vitória. A primeira a chegar é sua amiga April (Patricia Clarkson) e o marido Gottfried (Bruno Ganz), Bill (Timothy Spall), o marido, parece deslocado e de antemão pensamos ser pela posição que a esposa se encontra, depois chega o casal Jinny (Emily Mortimer) e Martha (Cherry Jones) que não titubeia em tirar o foco de Janet e contar sobre a gravidez de trigêmeos, April, a sensata e radical não deixa de expor que o foco ali é a comemoração do cargo que Janet ocupará, daí para frente só aumenta as tiradas sarcásticas que April protagoniza, a festa ainda conta com a presença do atormentado Tom (Cillian Murphy), marido de uma colega de trabalho de Janet, ele já chega agitado e coloca muitas dúvidas na nossa cabeça por portar uma arma, quando finalmente brindam, Bill decide revelar um segredo que, por sua vez, termina sendo o estopim para ácidas revelações.

Os assuntos abordados parecem clichês, mas são extremamente atuais e pulsantes, seja no âmbito político ou social, as visões de cada um e suas personalidades prendem a nossa atenção, Gottfried se caracteriza como um life coaching, sempre com palavras aparentemente sábias, mas que não passam de baboseiras de autoajuda, April, a melhor amiga de Janet, manipula e ironiza tudo e todos, soa radical em muitas partes e sensata em muitas outras, Tom, especulador de mercado e cheirador de cocaína está incomodado e confuso, há Martha, amiga de Bill, uma lésbica feminista da terceira idade que é casada com Jinny, que está grávida de trigêmeos, e que no decorrer sofre com inúmeras revelações também. Bill, o marido, impressionantemente passa sua perturbação pelo olhar e detona não uma bomba, mas várias. E, Janet, que estava radiante com seu novo e importante cargo mesmo diante do momento político tenso (pós-Brexit) e tendo seu partido falido acaba por amargar toda a sua ascensão com os segredos que vêm à tona na festa.

É um amontoado de discussões que se desenrolam, como política, preconceitos, infidelidade, amor, feminismo, dinheiro, vaidade, segredos; as relações vão se desconstruindo à medida que as máscaras vão caindo e, justamente por isso, os diálogos vão ganhando tons mais sarcásticos, são atuações primorosas e realmente se assemelha a um espetáculo de teatro, mas sem nunca deixar de ser cinema, a direção precisa com tomadas claustrofóbicas e sua fotografia magnética feita pelo russo Aleksei Rodionov (Vá e Veja - 1985) só enaltecem a experiência do filme.
"A Festa" é um filme recheado de diálogos perspicazes e mordazes, atuações de primeira linha, desenvolvimento crescente e com um final de tirar o fôlego.

Um comentário:

  1. Gostei dos diálogos e das situações. Filmes como este e o citado "Deus da Carnificina" são teatros filmados. Uma experiência de cinema diferente.

    O elenco é ótimo, principalmente Timothy Spall que está perfeito como o intelectual frustrado.

    Apenas Cillian Murphy me pareceu um personagem exagerado.

    Abraço

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