quarta-feira, 13 de junho de 2018

Closeness (Tesnota)

"Closeness" (2017) dirigido pelo estreante Kantemir Balagov é um filme russo que explora a tensa relação entre uma família que faz de tudo para ter o filho raptado de volta. Solidão, desafeto, machismo e religião são retratados de forma seca e direta e outras questões da cultura também são mostradas, como o preconceito entre etnias, no caso cabardinos e judeus.
1998, Nalchik, cidade no sul da Rússia. Uma família está prestes a experimentar os momentos de maior tensão em toda a sua vida: um dos filhos, o mais novo, não voltou para casa junto com a noiva e não deixou nenhuma explicação. No dia seguinte, o recebimento de uma carta pedindo um alto resgate confirma o sequestro, e fará com que a família desista de todos os bens materiais para tê-los de volta.
Ila (Darya Zhovnar) trabalha com o pai (Artem Cipin) como mecânica, é impetuosa e vai contra as normas da casa, a mãe (Olga Dragunova) não se conforma que ela não seja feminina e suje as mãos de graxa, ao contrário do pai que sempre está disposto a conversar e sorrindo para ela, o machismo é forte na mãe de Ila que a força vestir um vestido e mais tarde se casar com um membro rico da comunidade pra salvar o filho mais novo, essa mulher em nenhum momento demonstra afeto verdadeiro, não há qualquer elo e isso faz Ila se revoltar ainda mais ao perceber depois do sequestro do irmão que suas intenções são sempre estranhas. Eles vivem numa comunidade judaica em Nalchik, o que significa que decisões são tomadas em conjunto e que a vida de todos são pensadas em torno da religião, mas apesar de tudo isso Ila é rebelde e não dá a mínima, quebra as regras ao se relacionar com um cabardino e se portar de maneira não convencional. O rapto de seu irmão mais novo junto de sua noiva por russos causa comoção, desesperados tentam juntar dinheiro com a ajuda de alguns da comunidade, mas apenas o resgate da noiva de David é conseguido, a maioria se nega a ajudá-los e, por fim, vendem a oficina, o que é insuficiente para o resgate, daí é que a ilusão de que Ila vive como quer é quebrada, pois é prometida em casamento a um jovem de família abastada em troca de dinheiro, como um bem e sem poder de manifestação a garota se sente desalentada e desorientada.  

Darya Zhovnar é potente em cena, sua expressões nos conduzem a seus sentimentos que ora fervem, ora mortificam-se em torno desse ambiente opressor, a cada novo acontecimento ela vai se deparando com mais e mais dificuldades de se mexer, as interações são impossíveis, suas vontades nulas e todo o preconceito ao redor corrói, ela busca aconchego no namorado, mas acaba se drogando e se deparando com os amigos antissemitas dele, a guerra entre etnias é um outro ponto que o filme toca, mas não se aprofunda, na verdade, várias questões vão sendo salientadas conforme o desenrolar, as feridas passadas de disputas e guerras, o machismo entranhado, a conduta opressiva da religião e as relações familiares duras e deprimentes.

"Closeness" demonstra o como é complicado viver como se quer em lugares mais tradicionais, a independência de Ila é jogada de lado quando o problema surge, muitos acontecimentos são desencadeados e ela vai tentando se desvencilhar, ela começa a ver como tudo realmente funciona e que até seu pai não pode se abster dos fatos, mas tudo contribuiu de alguma maneira para o amadurecimento dos personagens, no final claramente a mãe de Ila sentiu algo diferente, talvez o desabrochamento do amor pela filha, um certo olhar de admiração, ou simplesmente por não saber mais quem amar. A dor da proximidade é retratada com crueza e melancolia.

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