terça-feira, 14 de junho de 2016

Dois Amigos (Les Deux Amis)

"Dois Amigos" (2015) dirigido por Louis Garrel e roteirizado em parceria com Christophe Honoré, diretor que já trabalhou com Garrel em vários filmes, "Em Paris" (2006), "Canções de Amor" (2007), "A Bela Junie" (2008), etc. A estreia de Louis Garrel é tecnicamente impecável, as composições de cena, a fotografia ressaltando a introspecção e a complexidade dos personagens, a trilha sonora vibrante e interpretações naturais, porém faltou profundidade nos assuntos abordados.
Clement (Vincent Macaigne), é figurante em filmes, e está loucamente apaixonado por Mona (Golshifteh Farahani), uma recepcionista em uma loja de sanduíche na Estação do Norte. Mas Mona tem um segredo, e se torna evasiva. Quando Clement desesperado para conquistá-la, seu único e melhor amigo, Abel (Louis Garrel), vem para ajudar. Juntos, os dois amigos partem para conquistar Mona.
Abel, é o típico personagem de Garrel, blasé, egoísta, galã e encantador, Clement é frágil, romântico e impertinente, Mona é uma mulher misteriosa, não revela seu segredo, e por isso se torna instável. Clement é apaixonado por Mona, uma paixão que beira à obsessão, mas ela o tem apenas como amigo. Devido a confusão que toma Clement, Abel entra em cena para tentar entender o porquê do amigo estar tão atraído por Mona. Ao se conhecerem há uma faísca, conclusão: há dois homens apaixonados pela mesma mulher, que se interessa pelos dois, mas que não se envolve de fato. 
Louis Garrel é filho do grande cineasta Philippe Garrel, talento hereditário, inclusive já foi dirigido pelo pai, o mais recente, "O Ciúme" (2013). Já trabalhou com notáveis diretores, como Bertolucci em "Os Sonhadores" (2003), portanto, são grandes influências, mas o mais importante disso tudo é absorvê-las e colocar a sua própria personalidade e, sem dúvidas, a sua sensibilidade. "Dois Amigos" é um filme de roteiro simples com personagens complexos, ele preserva o mistério em torno deles, o que encanta mas também cansa, a narrativa fica girando em torno deles sem nada revelar. 
Os dois homens retratados exibem suas fraquezas, não têm vergonha de chorar ou de expôr seus sentimentos, se desconstrói a figura masculina e ainda delineia a amizade, os dois se apoiam, brigam, se abraçam, confidenciam, mas a partir do momento que Abel se relaciona com Mona, a culpa acaba destruindo a relação, ainda mais por Abel esconder isso de Clement. A trama é essencialmente sobre a amizade, só que Mona interpretada pela iraniana Golshifteh Farahani rouba a cena sempre, é charmosa e delicada ao atuar, mas também sensual, ela nunca perde a naturalidade. Há cenas lindíssimas, como a da dança num bar ao som de "Easy Easy" de King Krule.
Clement é irritante, porém em dado momento do longa surge uma ponta de tristeza por observar que ele, o apaixonado da história, acaba sobrando, a tensão sexual entre Abel e Mona é muito aparente, por mais bobo que seja, é impossível não perceber, e daí surge a manipulação sentimental, Abel culpado torna a situação ainda mais difícil. É a complexidade dos sentimentos.

"Dois Amigos" é um drama/romance com pitadas de um elegante humor francês, a história não tem um grande desenvolvimento e nem se aprofunda muito em seus personagens, mas retrata uma Paris diferente e nada glamourosa, porém linda do mesmo jeito, e do mesmo modo se dá com os personagens, reais e desajustados, mas ainda assim charmosos, cada um à sua maneira.

2 comentários:

  1. Cada vez que passo por aqui descubro um novo filme. Muito legal, por mais que eu procure novidades, sempre existem pérolas escondidas.

    Abraço

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  2. Excelente resenha. Para mim, o filme deixou a desejar. Você registrou muito bem: o personagem Abel é o espelho do ator Louis Garrel. Aquele prazer narcisista de quem se acha o top em beleza. Observo que o ator Vincent Macaigne está, via de regra, em interpretações de um homem ingênuo, inseguro. A fotografia e a atriz Golshifteh Farahani são o charme do filme.

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