terça-feira, 3 de março de 2015

Força Maior - Force Majeure - Turist

"Força Maior" (2014) do diretor Ruben Östlund retrata as consequências de uma atitude desesperada, o medo e o constrangimento fazem parte de uma história tensa e irônica. 
Uma família sueca passa as férias de Inverno nos Alpes. O sol brilha e as pistas são magníficas, mas durante um almoço num restaurante da montanha, uma avalanche vai perturbar tudo. Os clientes do restaurante entram em pânico, Ebba, a mãe, chama pelo marido Tomas tentando proteger os filhos, mas Tomas fugiu, pensando apenas em salvar a própria vida. A avalanche para antes de atingir o restaurante, sem causar danos, mas o universo da família já foi abalado. O fato faz Tomas entrar em crise, tentando desesperadamente reocupar o lugar de patriarca da família.
Interessante a premissa de "Força Maior", pois a figura masculina de marido e pai é geralmente vista como a de um herói e protetor, mas não é bem assim, afinal como qualquer outro ser humano também é regado a medos e instintos de sobrevivência. Ninguém sabe qual a atitude que irá tomar em situações de risco, e é esse o debate que o filme traz em meio a muitas cenas constrangedoras e irônicas. O cenário é os Alpes franceses, a família está de férias se divertindo esquiando, a realidade muda quando num almoço em um restaurante ao ar livre uma avalanche se aproxima deixando todos em estado de pânico, a mãe pega seus dois filhos que chama pelo pai, mas este já tinha fugido levando consigo seu celular. Quando as coisas se acalmam as pessoas voltam para suas mesas, a neblina vai dando lugar à claridade e aí o pai volta e se senta como se nada tivesse acontecido. Os filhos e a mulher ficam em silêncio e depois disso o relacionamento entre eles vai se complicando, pois Tomas nega que fugiu, dá uma versão mentirosa e acredita nela para não se sentir menor, enquanto a mulher destruída por dentro por muitas vezes joga tudo para fora em frente a outras pessoas. 
Ebba expõe sua dor de ter sido abandonada junto aos filhos e Tomas insiste na sua versão ao invés de admitir que se deixou levar pelo medo.
É um desconforto muito grande acompanhá-los, com o passar dos dias o tédio vai tomando conta e tanto Ebba como Tomas desejam ficar sós. Vale ressaltar a trilha sonora com trechos de "As Quatro Estações" de Vivaldi que pontua sempre quando algo de ruim acontecerá.

A intensidade vai ficando maior quando em um jantar com um casal de amigos Ebba novamente começa a falar sobre o acontecido, ela diz o como se sentiu e o marido vai se encolhendo, o amigo até tenta entender o motivo, fala de instinto e medo. Algo dentro de Tomas o faz perceber e de repente se sente um covarde, daí em diante entra numa crise muito complicada, impossível não se impressionar com a cena em que ele chora muito alto desesperadamente na porta do apartamento e em seguida é acolhido pelos filhos.
A tensão do filme é bem marcada, o ambiente também gera desconforto, é de uma brancura absurda, o barulho dos bondinhos e as pistas de esqui que parecem não terminar contribui para o clima de catástrofe, aliás, a cena final do ônibus revela bastante o quão traumatizados estão. 

Vários momentos você não sabe se ri ou se chora, como quando o casal de amigos sai do quarto de Ebba e entram em conflito entre eles, se sentem inseguros e não demora para que soltem o que acham, a garota diz que o namorado a deixaria também em uma situação igual a de Tomas, e parece que a partir daí começam a se tornar distantes. Em um relacionamento o medo de não conhecer o outro é gigante, se a pessoa age de forma avessa do que pensamos desmorona-se o que se construiu até então.
O filme abre um leque de questões sobre o instinto de sobrevivência, o papel do homem na sociedade, o medo de transparecer medo e o que você faria numa situação dessas. "Força Maior" consegue de fato nos deixar constrangidos junto com os personagens, e rever muitos conceitos sobre as convenções sociais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

SE FOR COMENTAR, LEIA ANTES!

NÃO ACEITO APENAS DIVULGAÇÃO.