sexta-feira, 15 de março de 2013

A Viagem (Cloud Atlas)

"A Viagem" (2012) tem dividido opiniões, o que para alguns é algo fantástico, genial e que aborda diversos temas, para outros é um filme pretensioso, confuso e recheado de filosofia barata.
Baseado no livro homônimo de David Mitchell, o longa pode ser considerado a adaptação mais confusa e complexa já feita, mas a verdade seja dita, houve muita coragem e ousadia ao transpassá-lo para a telona. A história segue uma linha espiritual, onde nos diz que tudo está conectado, há muitas teorias abordadas, como a do Caos, Nova Era, Karma e Reencarnação.
Dirigido pelos irmãos Wachowski (Matrix) com parceria de Tom Tykwer (O Perfume) compõe uma rede de histórias que são assimiladas aos poucos e que de fato dão sentido ao final de tudo. Não é um filme imediato, ele demora a chegar até nós, mas nos prende, pois não se pode negar a interessante conexão entre os personagens. Mexe com nosso intelecto, nos questiona sobre crenças, outras vidas, existência de um Deus, e por isso é controverso.
O filme conta seis histórias em diferentes épocas. Em 1849, Adam Ewing é um advogado enviado pela família para negociar a compra de novos escravos. Ao retornar para casa, ele salva um escravo e é envenenado pelo próprio médico. Em 1930 acompanhamos a história sobre um amor homossexual proibido, o jovem e talentoso compositor Robert Frobisher ajuda o também compositor, e já idoso Vyvyan Ars a compôr uma obra-prima musical. Em 1970, a jornalista Luisa Rey conhece Rufus Sixmith, quando o elevador que ambos estão quebra. Tempos depois, ele a procura para revelar que estão encobrindo uma série de falhas no projeto de construção de um reator nuclear. Os dias atuais relata de forma engraçada a tentativa de fuga de um editor de livros que foi colocado em uma casa de repouso. Em 2144, chegamos a cidade de Nova Seul, em uma ficção científica que conta a história de uma empregada de uma cadeia de restaurantes que acaba se tornando a líder de uma revolução. E por fim, em um futuro pós-apocalíptico, a Nova Seul foi tragada pelas águas há 100 anos. Zachry, líder de uma tribo venera Sonmi como se fosse uma deusa. Sua vida muda quando Meronym, que integra um grupo evoluído chamado Prescients, lhe pede para viver com sua tribo.
Tom Hanks, Halle Berry, Jim Broadbent, Hugo Weaving, Jim Sturgess, Doona Bae, Ben Whishaw, Keith David, James Darcy, Xun Zhou, David Gyasi, Susan Sarandon, Hugh Grant, entre outros fazem vários personagens ao longo do filme, alguns ficam irreconhecíveis com a maquiagem, vemos ocidentais se tornando orientais, negros em brancos, o que indica que podemos voltar em qualquer lugar e de qualquer jeito.

Uma das metáforas mais interessantes do filme é a do restaurante, onde há os clones que lá trabalham, tudo em prol da ganância, o mundo capitalista impera, os fortes exploram os mais fracos, retrata uma espécie de sociedade em camadas, uma sociedade de palavras fáceis que mobilizam massas, a exploração do indivíduo, o futuro da humanidade, e então no que acreditar afinal? O filme permite uma viagem num sentido mais espiritual da palavra e aborda temas como o amor homossexual, lealdade, amizade, o ato de criar (música), ganância, etc. É uma enxurrada de definições e interpretações, é amplo como a nossa vida.
"A Viagem" é uma experiência que cabe a cada um decidir se vale a pena ou não, é um filme esquecível, tem seus méritos, mas não chega a ser profundo para o que propõe. A mim o simples sempre leva mais à reflexão do que artimanhas de efeitos visuais e histórias que pareçam complexas. Mesmo que a trama se complete, é um pouco maçante a quem o assiste, e essa impaciência acaba gerando o oposto da reflexão.
É interessante como algumas histórias não pareçam ter relações, ou não são tão óbvias, mas que de algum modo mais pra frente se encaixam. Devo admitir que para quem reclama que o cinema anda sempre igual, aqui há uma opção diferente, um filme ambicioso e que faz o que muitos não tem coragem de fazer, cutucar o espectador, invadir seu íntimo e mexer com conceitos predefinidos.

Não é um filme difícil, verdade que o início causa confusão, mas é porque as histórias estão sendo apresentadas, depois de 30 minutos as coisas engrenam. Mesmo que o filme não seja grandioso, há pontos positivos. Cinema é realizar o impossível e "A Viagem" é um livro considerado inadaptável, tamanha sua complexidade.
As pessoas tem um senso crítico negativo que se sobressai, vejo adjetivos como pretensioso, presunçoso, intelectualoide, pseudo-cult, na verdade essas pessoas que dizem isso não sabem apreciar um filme, se focam ao detonar ao invés de tentar entender.
Outras vidas, passado, presente e futuro, tudo está conectado. A verdade é que somos sozinhos neste mundo, viemos e voltamos sós, mas em vida convivemos com pessoas das quais gostamos por algum motivo e outras que não há explicações, simplesmente amamos. Ta aí mais uma coisa que o filme aborda, o amor eterno.

Sempre tive o pensamento de que não podemos jamais desfazer, humilhar, desprezar alguém, pois algum dia talvez precisaremos desta pessoa. A vida é um ciclo, um dia ela vai voltar para onde tudo começou. O que nasce, morre, tudo volta ao seu ponto de origem.
Interpretações a parte, vale a pena conferir o tão discutido "A Viagem", filosofia de boteco ou não, rende muitas conversas sobre.

"Nossas vidas e escolhas, cada encontro, sugere uma nova direção possível."

"Do útero ao túmulo, estamos ligados uns aos outros. Passado e presente. E para cada crime e cada bondade, renasce nosso futuro."

"Medo, fé, amor. Fenômenos que determinam nossas vidas. Essas forças começam bem antes de nascermos, e continuam após nossa partida."

"Ser, é ser percebido. E assim conhecer a si mesmo só é possível através dos olhos do outro. A natureza de nossas vidas imortais, está nas consequências de nossas palavras e ações, que vão, e estão se esforçando a todo instante."

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