quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

As Aventuras de Pi (Life of Pi)

"As Aventuras de Pi" (2012) é um filme que enche os olhos pelo visual magnífico, mas também nos emociona pela história, que passa uma mensagem lindíssima. Sendo assim se faz um filme completo. E com o diretor Ang Lee não poderia ser diferente, e ainda bem que assim foi, já que vários diretores estiveram envolvidos e não deu muito certo, entre eles: M. Night Shyamalan, Alfonso Cuarón, Jean Pierre Jeunet, mas só mesmo Ang Lee para fazer de "As Aventuras de Pi" uma fábula filosófica. Baseado no livro de Yann Martel, publicado em 2001. Livro que gerou uma polêmica envolvendo o escritor brasileiro Moacyr Scliar (1937-2011), Yann foi acusado de plágio por ter roubado as ideias do livro "Max e o Jaguar" de Scliar. Isso aconteceu depois que o livro venceu em 2002 o Booker Prize, o prêmio mais importante da língua inglesa. Em entrevista Yann Martel declarou ter se inspirado na ideia do livro de Scliar, porém só o leu depois da repercussão e disse que havia similaridades na premissa, mas o restante era diferente. Moacyr Scliar então disse não haver plágio e assim ficou. Ideias são ideias, o desenvolvimento delas é que fazem a diferença. E na telona, o garoto Pi nos inebria com poesia em forma de imagens, não há dúvidas de que seja um dos melhores filmes do ano.
Pi é um garoto indiano que vive com sua família em um zoológico. Como os negócios não vão bem, seu pai resolve embarcar com a família e seus animais para iniciar vida nova no Canadá. Para isso terão que enfrentar uma viagem de navio que não acaba nada bem. Único sobrevivente do desastre, Pi terá que dividir o espaço no bote com uma hiena, uma zebra ferida, um orangotango e um tigre de bengala chamado Richard Parker. As escolhas que terá que fazer e as atitudes que terá que tomar para sobreviver podem transformar Pi e tudo em que ele acredita.
O jovem Suraj Sharma surpreende na atuação, em sua aventura de superação e solidão tem no tigre Richard Parker seu incentivo à sobrevivência. O filme é uma experiência espiritual tanto para o garoto, quanto para nós. A questão das religiões é exposta e nos faz refletir em que acreditamos realmente. A imensidão do mar representa o quão infinito são as perguntas das quais sempre nos acerca. Deus. Natureza. Sobrevivência. instinto. Para os olhares mais atentos as simbologias aparecem e o filme se torna profundo e muito reflexivo. As cenas em que o céu se funde com o mar são espetaculares, o grau de realismo do tigre beira a perfeição. E é nele que está contido as maiores mensagens do longa. Pi acredita que pode se relacionar de igual para igual com ele, mas quando pequeno seu pai o ensinou que isso não existia. O que ele via nos olhos do tigre era apenas o reflexo de seus olhos. Não havia amor de animal selvagem para um humano. E quando se viu no barco com o tigre, percebeu o que o domina é apenas o instinto, mas em sua condição ele também se torna de algum modo animal. A sede, a fome, a solidão. Tudo isso o torna forte ao invés de deixá-lo fraco, ele tenta dominar Richard Parker, mas o máximo que irá conseguir fazer é delimitar espaço.

Pi sempre teve desde pequeno uma ânsia de conhecer Deus em toda sua magnitude e entender todos os porquês de nossa existência, e é por isso que se enveredou por três religiões. Essa fé aparece na forma invisível como algo que pode-se sentir, o acreditar numa força maior é o que faz Pi continuar lutando, e Richard Parker é a sua única companhia, desistir do tigre é o mesmo que desistir de si mesmo, pois a solidão é o pior que pode acontecer. A cena do tigre quando chega à praia e encontra a floresta sem nem olhar para trás, e Pi se desfazendo em lágrimas é a das mais emocionantes. O final do longa fica em aberto para que possamos tomar nossas próprias conclusões, em questão do que acreditar. Ele conta duas histórias e cabe a cada um em qual acreditar, assim também é com Deus, cada um escolhe a sua forma de crer nele.
"Em algum lugar dois olhos estavam felizes por eu estar lá. Eu tinha certeza que Richard Parker olharia pra mim, que de alguma forma sinalizaria o fim do nosso relacionamento. Mas ele não o fez. Ele desapareceu para sempre da minha vida. Eu chorei como uma criança, não por estar aliviado por ter sobrevivido, embora estivesse. Eu chorei porque Richard Parker me deixou sem nenhuma cerimônia. Partiu meu coração. Todos estavam certos, Richard Parker nunca me viu como amigo. Depois de tudo que passamos juntos ele nem olhou pra trás, mas eu acredito que havia mais nos olhos dele do que apenas o meu reflexo me olhando de volta. Eu sei disso, eu senti, mesmo que não possa provar. "

Toda a história é narrada pelo Pi já adulto. E cabe a cada um interpretá-la. Há muitas maneiras de observar a vida e Pi nos ensina isso. E também há muitas maneiras de sobreviver e a imaginação é uma boa aliada nessas horas. O que pode ser desesperador agora ao fim se revela transformador.
"As Aventuras de Pi" é a perfeita junção das imagens com a emoção. Impossível ficar imune ao deslumbre visual e ao teor da história. São lágrimas e sorrisos que acompanham um bem-estar único. Isso é o que o cinema deve proporcionar, fazer com que o espectador se inebrie e viaje por mundos inimagináveis provocando sensações inesquecíveis.

"-A verdadeira história cabe você escolher em quê acreditar... 
-Em qual você acredita?"

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