segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Oh Lucy!

"Oh Lucy!" (2017) dirigido pela estreante em longas-metragens Atsuko Hirayanagi é uma adaptação do seu curta-metragem homônimo, o filme possui momentos que oscilam entre angustias e expectativas, solidão e descobertas, a protagonista cansada da rotina se permite a embarcar no desconhecido e dar um sentido para sua vida.
Uma mulher solitária de Tóquio (Shinobu Terajima) se apaixona por seu professor (Josh Hartnett) quando decide fazer aulas de inglês. Quando seu professor desaparece, ela parte em uma viagem para encontrá-lo que a leva para o sul da Califórnia.
O filme se inicia retratando uma Tóquio cinzenta com pessoas com máscaras cirúrgicas se amontoando no metrô, atrás de Setsuko um homem cantarola e logo se joga nos trilhos, a tristeza e o suicídio paira no ar por todo o filme, reflexo de uma sociedade individualista, acelerada e carente de elos, depois de presenciar esse episódio acompanhamos a entediante vida de Setsuko, no trabalho a relação com os demais é fria, principalmente pela hipocrisia que reina, seu único elo é a sobrinha que vive brigada com a mãe e que sempre recorre a ela para livrá-la de alguma situação, tudo começa de fato quando ela vai fazer aulas de inglês no lugar da sobrinha, ao chegar se depara com um professor americano que a faz colocar uma bolinha na boca para aprender a falar sem sotaque, que lhe dá um nome americano, Lucy, uma peruca e distribui abraços, ela acha estranho de início, mas esse inesperado contato a despertou para algo, ela se apaixona e começa a se olhar, se arrumar e enfim viver. Nessa aula ela ainda conhece outro aluno, Komori/Tom (Kōji Yakusho) que mais ao longo descobrimos um pouco de sua triste vida, ele acaba sendo de imensa importância para Setsuko. Quando ela aparece para a próxima aula não encontra o professor, ela fica sabendo de sua demissão e que em breve uma outra professora virá, na saída ela o vê pegando um táxi juntamente com sua sobrinha, isso a faz desmoronar e cair novamente na sua tediosa vida.
Setsuko é uma personagem com uma profundidade enorme, seu apartamento reflete a sua personalidade, todo abarrotado de coisas, embalagens de comida, todo bagunçado e ao mesmo tempo vazio, a sua saga por John começa quando recebe um postal da sobrinha de um hotel da Califórnia, ela não pensa duas vezes e pede férias em seu emprego, avisa a irmã e esta vai junto, é uma série de momentos que captam a diferença entre os costumes do ocidente e oriente, todos pontuados com muita sensibilidade e inteligência, garantindo à história diversas camadas.

De um lado vemos gestos, como um abraço ser algo praticamente técnico, não possuir nenhum tipo de sentimento contido nele, já do outro essa demonstração possibilita uma mudança. Lucy está cansada do trabalho burocrático que faz, das pessoas que ali circulam, bajuladoras e hipócritas, a sua irmã sempre a diminuindo e depois a sobrinha tirando o sarro dela, a viagem parece ser uma ideia um tanto doida, mas por trás de uma mulher arisca existe um desejo de viver imenso, que ao longo dos anos foi abafado, tanto pela relação com a irmã, trabalho e tantas outras, sua curiosidade e autoconfiança vão surgindo, ela enfrenta a irmã, chega em John e por mais que se decepcione ao final, pelo menos ela tentou, se arriscou.

"Oh Lucy" é um filme agridoce que retrata uma personagem fechada que ao ter uma oportunidade de se reinventar e se abrir vai em frente, reflete a solidão e a carência que o ritmo de vida em sociedade gera, as relações vazias e técnicas, o caos interno. As camadas de sentimentos que a história vai desnovelando atinge o espectador em cheio e ao final não tem como não refletir no quão sozinhos estamos e o quanto cada vez mais um abraço pode nos salvar.

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