quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Rent-a-Cat (Rentaneko)

"Rent-a-Cat" (2012) dirigido por Naoko Ogigami (Entre-Laços - 2017) é um filme carinhoso e que aquece nosso coração, um mimo, especialmente, a quem adora gatos, simplesmente foi feito para esse público, mas com certeza aqueles que se aventurarem não sairão ilesos tamanho a sua ternura, a história aborda a solidão, onde todos estão preocupados apenas em trabalhar e ganhar dinheiro, no japão especificamente essa sensação de solidão é bastante aguda e como numa fábula a protagonista tem a linda missão de proporcionar aconchego e preencher os "buracos" dessas pessoas tristes e solitárias alugando seus gatos, herança de sua querida avó. Claro que os gatos aos poucos dominam a nossa atenção e fica até difícil acompanhar o andar da história que passeia entre a melancolia e um humor surreal. Com certeza mais um achado para integrar a lista "Gatos em Filmes".
Sayoko (Mikako Ichikawa) é diferente e sempre teve um estranho magnetismo com os gatos, que foi por causa de sua avó que a vida toda os teve por perto, após a morte da avó uma imensa solidão a invade, porém com a companhia dos gatinhos o buraco do seu coração foi sendo preenchido, assim ela decide ajudar outras pessoas a se sentirem menos sós alugando seus gatos, ela sai pra rua carregando os gatos numa espécie de carroça e com um megafone oferece o estranho serviço: "Rentaaaaaa neko, neko neko". Ela sempre visualiza os possíveis solitários e anuncia insistentemente até a pessoa se interessar, a primeira é uma senhora que se alegra ao visualizar uma gatinha também idosa que se assemelha com uma ruivinha que tinha, Sayoko vai até a casa inspecionar o ambiente e ter certeza que o gato será bem tratado, a senhora fala um pouco de sua vida e de sua solidão e com a companhia do gato tem a certeza de que sua partida será mais amena, consentido o aluguel Sayoko lhe dá um papel para informações do felino e até quando deseja ficar com ele, no caso da senhora, até a sua morte. Com tudo certo se despedem e Sayoko volta para casa feliz. O filme vai repetindo as mesmas coisas, Sayoko alugando os gatos, inspecionando, falando as mesmas frases, como quando diz o valor do aluguel e chocados com o preço ínfimo indagam se não vai fazer falta e ela pergunta se tem cara de quem passa fome, são situações bem engraçadas e que retratam simplicidade e compaixão, além das metáforas envolvendo os buracos, outro ponto é o ar de encantamento que permeia o longa, como os devaneios e os sonhos de Sayoko e até a presença de uma vizinha, um homem vestido de mulher que sempre vai a sua cerca e lhe diz o quanto é estranha e que dessa forma nunca arranjará um marido, o que é uma preocupação grande pra ela, mas o único esforço que faz é escrever em um papel esse desejo e pendurar na parede. O humor que a história tem é muito peculiar e é adorável o clima com sua musiquinha doce e melancólica, por mais que a narrativa seja solta não perde a intenção em colocar o como as pessoas estão cada vez mais sozinhas e sem expectativas de amor.

Os gatos estão por todas as partes, dormindo no sofá, em cestas, no tapete, brincando ao fundo, comendo seus petiscos, miando e ronronando por todos os cantos, inclusive no altar da avó de Sayoko, ela conversa com eles, conta suas memórias, seus desejos e com apenas a presença deles ali sua sensação de solidão se ameniza. O filme é claro que se o problema é solidão basta um gatinho para solucionar. 
A personalidade de Sayoko é cativante, seu espírito livre e sensível ao outro, toda vez que aluga um gato faz questão de conhecer a pessoa e lhe incentivar a receber o amor do gato, pois tem certeza que será suficiente para preencher os buracos do coração, ela escuta bastante e isso também acaba sendo de grande valor.

Os personagens que alugam os gatinhos são bem aleatórios e diferentes entre si, todos tem as suas solidões e buscam por carinho, mas certamente uma das que mais se sobressaem é a secretária de uma loja de aluguel de carros, cujo trabalho entendiante acabou transferindo o hábito de dividir tudo em classes, e daí surge algumas questões interessantes, como categorizar os gatos de raças como classe A e os vira-latas como classe C, sugerindo que eles não seriam tão especiais quanto, como todas as outras coisas na vida que também são divididas por classes, desde a roupa que usamos, o perfume, o carro, etc. É uma boa discussão e que faz esmorecer esse pensamento fechado e bobo, como Sayoko diz, é bom ter carros e gatos de marca, mas mesmo nas coisas mais caras dá pra perceber quando não amadas. 

"Rent-a-Cat" é desses filmes que nos coloca um sorriso no rosto e nos traz sentimentos bons, a solidão que a sociedade produz, as relações superficiais e técnicas do dia a dia acabam desmotivando e cada vez mais o desejo de ficar só aumenta, porém chega um momento que a necessidade de afeto vem à tona e o filme com delicadeza e bom humor coloca os gatos como um poderoso meio de aliviar a solidão e a tristeza. E quem tem gatos sabe que é a mais pura verdade! Um filme gentil, adorável e feito sob medida para os amantes de gatos.

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