sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Desobediência (Disobedience)

"Desobediência" (2017) dirigido por Sebastián Lelio (Gloria - 2013, Uma Mulher Fantástica - 2017), baseado no livro homônimo de Naomi Alderman, aborda a homossexualidade versus o conservadorismo religioso com muita sensibilidade, qualidade maravilhosa desse diretor, suas histórias têm delicadeza e força, jamais estereotipa, há naturalidade no desenvolvimento e suas personagens preenchem a tela, neste Rachel Weisz e Rachel McAdams se entregam inteiramente e presenteia o espectador com atuações belíssimas e intensas.
Ronit (Rachel Weisz) precisa voltar para sua cidade natal após a morte de seu pai distante - um rabino. Mas ela causa um rebuliço no pacato local ao recordar uma paixão proibida por Esti (Rachel McAdams), sua melhor amiga de infância, que atualmente é casada com seu primo Dovid (Alessandro Nivola)
Ronit foi expulsa da comunidade judaica ortodoxa em que vivia em Londres, estabeleceu sua vida como fotógrafa em Nova Iorque e segue sozinha sem nenhuma amarra social, depois de receber um telefonema sobre a morte do pai, o respeitado rabino do local, volta e se depara novamente com o passado e as fortes tradições das quais todos conservam, ela observa de longe, respeita e continua sendo ela mesma, dando suas opiniões e se apresentando como uma pessoa liberal, sua chegada causa desconforto, pois não era de fato esperada, há muito tempo que ela não dava notícias e como tudo é mostrado o rabino não a considerava mais como filha. Sua surpresa acontece mesmo quando percebe que Dovid está casado com Esti, que aos poucos vai ser confrontada com seus próprios desejos, a presença de Ronit na casa a desperta para algo pendente em sua juventude, os sentimentos reprimidos e toda a pressão da qual vive fica insustentável e aí a questão sobre a liberdade de escolha vem à tona.
O filme retrata o como o conservadorismo religioso atravanca, a comunidade sempre está de olho na vida dos outros, julgando os atos, Ronit foi execrada pelo fato de não querer seguir os moldes, casamento, filhos e todo o manual que isso engloba, além do protocolo da religião, na juventude Esti, Dovid e ela eram inseparáveis e as duas eram apaixonadas, quando Ronit foi embora Esti vê na união com Dovid uma alternativa de fuga para esquecer sua vida pessoal e se submeter aos propósitos estabelecidos por Deus. Dovid não teve muito poder de escolha, seu tio lhe deu tudo que foi negado a Ronit e foi escolhido para sucedê-lo na sinagoga, o casamento foi ideia do rabino para que Esti tivesse a possibilidade de ser "curada", Dovid a partir da chegada de Ronit também começa a repensar, o ambiente fechado castra a liberdade de escolha, e veja só, o rabino no início estava falando justamente sobre isso antes de morrer, sobre o livre-arbítrio, Dovid no final também fecha com esse pensamento e o mais valioso é que coloca em prática. 

O passado de Ronit é colocado de forma sutil, compreendemos as razões pelas quais ela deixou a comunidade e o corte da relação com o pai, ao voltar ela se sente deslocada e angustiada, não há vínculos a não ser o primo, que também sofre à sua maneira, a pressão da sucessão, a continuidade da família com filhos, e depois que as fofocas envolvendo Esti e Ronit surgem, acaba também ressoando em sua respeitabilidade como homem colocando em risco seu título como rabino, Esti e Ronit revivem a paixão com intensidade e desespero, elas se complementam, mas não é apenas um reencontro repleto de desejo e uma desobediência às regras, é um encontro consigo próprias para refletirem nas suas decisões sem o peso das amarras sociais e do julgamento da religião. É exercer a liberdade de escolha mesmo que isso não signifique uma grande reviravolta.

"E não há nada tão gentil ou verdadeiro quanto o verdadeiro sentimento de estar livre. Livre para escolher."

"Desobediência" tem sutileza, é cadenciado e não utiliza artifícios fáceis, é espontâneo e também não estereotipa seus personagens ou religião, ele os retrata com cuidado e precisão. Em uma comunidade conservadora repleta de prescrições exercer sua liberdade é um ato de desobediência, na ótima cena em que Dovid está para ser nomeado rabino, angustiado deixa o discurso pronto de lado e num rompante começa a falar sobre o sentimento de se sentir livre e poder escolher, ali perante todos ele se liberta e concede a liberdade a Esti, um aliviante momento e um novo começo se abre tanto para ele, como para Ronit e Esti. 

Um comentário:

  1. O filme de Desobedience me surpreendeu. Eu achei um filme muito bom! Especialmente eu adorei o trabalho de Rachel McAdams neste filme. É de admirar o profissionalismo da atriz, trabalha muito para se entregar em cada atuação o melhor, sempre supera seus papeis anteriores. Sempre demonstrou por que é considerada uma grande atriz. Devo dizer que este é um dos trabalhos dela que eu mais gosto além de A Noite do Jogo. É um dos melhores filmes de ação, tem uma boa história, atuações maravilhosas e um bom roteiro. Já estou esperando o seu próximo projeto, seguro será um sucesso.

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