terça-feira, 28 de agosto de 2018

A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata (The Guernsey Literary and Potato Peel Pie Society)

"A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata" (2018) dirigido por Mike Newell (O Amor nos Tempos do Cólera - 2007), baseado na obra homônima de Annie Barrows e Mary Ann Shaffer, retrata o poder dos livros em unir as pessoas e o como as histórias conseguem abraçá-las em suas solidões, a afinidade criada a partir da literatura enquanto o caos reinava é o mote principal e em seguida conhecemos uma outra parte, que também sofreu perdas por conta da guerra e que através do destino se uniu a essa família.
Juliet Ashton (Lily James) é uma escritora na Londres de 1946 que decide visitar Guernsey, uma das Ilhas do Canal invadidas pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, depois que ela recebe uma carta de um fazendeiro contando sobre como um clube do livro local foi fundado durante a guerra. Lá ela constrói profundos relacionamentos com os moradores da ilha e decide escrever um livro sobre as experiências deles na guerra. O clube, criado antes de existir de fato, foi formado de improviso, como um álibi para proteger seus membros dos alemães. O que nenhum dos integrantes da Sociedade imaginava era que os encontros pudessem trazer consolo e esperança e, principalmente, auxiliar a manter a mente sadia. As reflexões e as discussões a respeito das obras os livraram dos pensamentos sobre as dificuldades que enfrentavam.
Juliet é uma escritora em ascensão, apesar de estar sendo reconhecida pelo seu segundo livro, seu maior orgulho é o primeiro livro, uma biografia crítica de Anne Brontë, a guerra também levou parte de si, ela perdeu os pais, mas segue firme e busca inspiração para seu novo livro, e é através de algumas cartas trocadas com um desconhecido que a encontra, Dawsey Adams (Michiel Huisman) pede auxílio sobre um exemplar de contos infantis de Shakespeare de Charles e Mary Lamb, Juliet entusiasmada com a história da Sociedade descrita por Dawsey lhe dá o livro de presente e logo se convida para conhecê-los, Juliet arruma as malas e no dia de sua partida seu noivo Mark (Glen Powell), a pede em casamento e coloca um anel em seu dedo, ela aceita e vai em busca do que seria seu próximo livro, porém não é bem isso que acontece, ao chegar lá todos a recebem bem, mas existem coisas das quais só pertencem a eles, segredos e tristezas que só essa família formada a partir da dificuldade e do amor aos livros entendem.
O que se sucede é que Juliet se torna uma curiosa compulsiva e acaba até irritando com tantas perguntas, faltou um pouco de sensibilidade e delicadeza, talvez pela preocupação da personagem em escrever seu próximo livro a fez se comportar assim. Com o passar do tempo o convívio e a experiência do lugar a fez se sentir como se fosse parte deles, mas esse sentimento dela não é tão natural, pelo menos não transpassa desse modo ao espectador. A motivação e o elo que ela forma com todos ali não causa empatia, o que salta aos olhos são outros personagens, que infelizmente não são tão bem explorados, como a maravilhosa Isola (Katherine Parkinson), que confecciona seu próprio gim e se torna uma companheira para Juliet, ela é dona de cenas inspiradas, alegres, mas que contém grande melancolia, o gentil Eben Ramsey (Tom Courtenay) e outro que pouco aparece e que gera interesse é o editor de Juliet, interpretado pelo ótimo Matthew Goode. 

Os traumas da guerra, o amor à literatura, o reconhecer-se no outro, são temas que são abordados com carinho e uma pitada de bom humor, somos introduzidos ao horror que eles vivenciaram, escolhas que tomaram, como o caso de Elizabeth (Jessica Brown Findlay) tida como uma filha para Amelia (Penelope Wilton), que é atormentada pelas perdas, Juliet vai a fundo e de pouco a pouco descobre o que aconteceu com Elizabeth e decide que o que escreverá sobre eles não será publicado.
O filme é um pouco longo e perde o ritmo em algumas partes, mas possui cenas dotadas de sensibilidade, conversas afetuosas e tomadas espetaculares da natureza do local, a fotografia é linda e exuberante, um verdadeiro deslumbre. 

"Nosso clube do livro nas sextas à noite se tornou nosso refúgio. É uma liberdade particular perceber que o mundo se torna cada vez mais escuro à sua volta, mas que só é necessária uma vela para enxergarmos novos mundos se revelando. Foi isso que encontramos na nossa sociedade."

"A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata" tem seus enfeites, mas no todo é um filme delicado que tem no vínculo da amizade e na admiração pelos demais seu maior triunfo, o romance fica em segundo plano e se concentra lá pelo final, mas não anula o que importa, a inspiração da figura feminina, Elizabeth e sua determinação, suas escolhas em tempos tão terríveis, a exaltação à literatura e o poder dos livros em unir as pessoas, no aconchego das histórias, nos aprendizados e na riqueza que elas proporcionam.
Destaque para os personagens do clube da casca de batata, principalmente, Eben, o criador da torta, Isola e suas especiarias para fazer seu gim e os debates acalorados sobre os livros, e o bônus dos créditos finais em que recitam trechos de algumas obras, como "Ao Farol", de Virgínia Woolf, "A Ilha do Tesouro", de Robert Louis Stevenson, "A Tempestade", de Shakespeare, "Jane Eyre", de Charlotte Brontë e "A importância de ser Fiel", de Oscar Wilde. 
Disponível no catálogo da Netflix!

Um comentário:

  1. A premissa é bastante interessante para os fãs de literatura clássica.

    Abraço

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