quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Sámi Blood (Sameblod)

"Sámi Blood" (2016) dirigido pela estreante Amanda Kernell tem uma história forte que retrata o preconceito dos suecos em relação ao povo nômade da Lapônia, os Sámi. Considerados inferiores na escala da evolução, as crianças dessa etnia iam para uma escola específica, onde era proibido falar a língua nativa e qualquer coisa era motivo para humilhação e punição física, segundo os estudiosos da época, 1930, período que os conceitos da Eugenia ganhavam adeptos pelo mundo todo, povos considerados diferentes eram analisados, media-se o tamanho do crânio e a conclusão era sempre de que eram incapazes de pensar por si próprios. 
Elle Marja (Lene Cecilia Sparrok), de 14 anos, é uma menina indígena do povo Sámi que está sofrendo com o enorme preconceito de sua década, a de 1930. Ela acaba de ser removida à força de sua família e amigos e enviada para um internato do estado, tudo para que passasse de uma integração forçada em um sistema educacional que lhes ensina que seus costumes e estilos de vida indígena eram inferiores aos dos "homens brancos". Exposta ao racismo e a exames biológicos, ela passa a sonhar com outra vida. Para alcançá-la, a jovem tem que se tornar outra pessoa e cortar todos os laços com sua família e sua cultura.
O início nos mostra Elle Marja voltando para a sua terra natal para o velório de sua irmã, seu semblante austero indica que ela não se considera como parte daquilo e faz questão de não participar das festividades, como a marcação das renas, ela deseja ir embora o mais rápido possível, o passado é doloroso, a questão de pertencimento pesa em seus ombros. Ao regressar para seu hotel ela começa a refletir e assim nos envolver em sua vida nos fazendo compreender o porquê de tanta mágoa. Voltamos no tempo junto dela e primeiro adentramos à sua comunidade que vive em cabanas e pastoreia renas, depois que seu pai morre ela e sua irmã são mandadas para um internato a fim de que tenha o básico como estudo e, principalmente, aprender a língua sueca e saber que seus costumes e tudo o que envolve o povo Sámi é inferior. Muito inteligente e decidida, Elle Marja quer ser professora, se empenha para isso mesmo que as humilhações a acompanhe, a relação dela com a irmã é doce e vemos muitos momentos lindos nesse início, como quando fazem joik, um canto tradicional.

O estopim para que Elle Marja queira mudar de identidade é quando estudiosos vão à escola e sem dizer uma palavra começam a medi-la por inteira, ela não suporta a ideia de que sua vida se baseie em cuidar de renas e de que o preconceito limite sua vida, Elle Marja almeja fugir para Uppsala, na Suécia, para estudar e se tornar professora. Quando parte recorre a Niklas, um jovem que conheceu em uma festa, mas os pais dele a expulsam no dia seguinte declarando todo o preconceito, então acaba indo parar num colégio e se abriga por alguns dias, só que para ela continuar ali precisa de uma boa quantia de dinheiro, e vendo que é isso que quer precisa voltar para sua comunidade, pedir a quantia para sua mãe que Elle Marja tem como parte da herança que seu pai deixou. A partir desse momento a garota rompe com todas as suas origens, para sobreviver e ter o que deseja elimina qualquer resquício de sua identidade Sámi.

"Sámi Blood" é um drama belíssimo e intenso que retrata a discriminação em relação aos lapões, a nossa protagonista sofre e sente que para seguir adiante precisa se livrar de sua cultura, o que mais tarde lhe gera as dúvidas sobre pertencimento, horrível ter que perder sua identidade, odiar suas raízes por puro e descabido preconceito dos que pensam ser superiores.
Para se enquadrar na sociedade dominante muitos povos perdem os laços de sua rica cultura e, que infelizmente, cada vez mais vão se extinguindo por conta de não haver respeito étnico. É um importante retrato para que, talvez, haja um resgate desta e de tantas outras culturas espalhadas pelo mundo.

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