segunda-feira, 4 de julho de 2016
Fique Comigo (Asphalte)
"Asphalte" (2015) dirigido por Samuel Benchetrit (Eu Sempre Quis Ser um Gângster - 2008) é um filme gracioso que coloca em questão a solidão e a necessidade de afeto, cada um de nós tem a sua própria solidão e um modo particular de lidar com ela, mas a verdade é que em determinados momentos ansiamos por contato, uma maneira de preencher nossas angústias do cotidiano.
Em um prédio da periferia de Paris vive pessoas comuns com suas duras rotinas e vidas tediosas, no início acompanhamos uma reunião em que os moradores decidem ajudar para o conserto do elevador, mas Sterkowitz (Gustave de Kervern) se nega a pagar já que mora no primeiro andar e não utiliza o serviço, ele é o único a não se solidarizar, os outros aceitam que ele não pague, contanto que não utilize o elevador em hipótese nenhuma. Mas a vida prega peças, ao invés de ajudar no conserto do elevador, Sterkowitz acaba comprando uma bicicleta ergométrica, uma parecida que viu no apartamento em que foi na reunião, e por excesso de exercícios termina numa cadeira de rodas, sozinho e impotente arquiteta meios de conseguir usar o elevador, sai apenas de madrugada para comprar salgadinhos na máquina do hospital perto do prédio, único local aberto que contém algum tipo de alimento. Lá, ele conhece uma enfermeira que acredita nas mentiras dele, por exemplo, ser fotógrafo da "International Geographic", seria engraçado se não fosse trágico. No começo dá raiva desse ser humano tão mesquinho, mas no desenrolar sentimos empatia.
Acompanhamos várias vidas, em nenhum momento elas se cruzam, o que dá a impressão de estarmos assistindo curtas diferentes, mas com a mesma proposta: a solidão. A sensação de estar só em meio a tantas pessoas, a necessidade de fazer parte, e alguns sentimentos que estão se extinguindo, como a solidariedade e a generosidade. Apesar de estarmos conectados, o convívio parece cada vez mais distante. O drama vivido pelos moradores do prédio surgem com pitadas leves de humor, tudo soa melancolicamente interessante, nos espelhamos em muitas situações, sentimos uma centelha queimar em nosso interior ao visualizar ações de amor, como o caso da personagem de Madame Hamida (Tassadit Mandi), que ao receber o astronauta americano perdido, vivido por Michael Pitt, o trata de forma amável e maternal. "Não entendo uma palavra do que ele fala, mas tem uns olhos tão gentis". Sem entenderem uma palavra do que o outro fala surge a capacidade de compreenderem-se somente com o olhar. Uma situação surreal, mas que se transforma na mais humana das histórias.
Ainda vemos o drama da atriz decadente Jeanne Meyer (Isabelle Huppert), que se apega a um adolescente, Charly (Jules Benchetrit), completamente solitário e desapegado que não titubeia ao falar verdades para ela, demonstra um contraste de gerações, ele acaba ensinando Jeanne a redescobrir-se como atriz.
O longa é um retrato tocante da frieza das relações e ao mesmo tempo da importância em se ter alguém com quem compartilhar a vida. É simples, mas consegue passar tanto sentimento, uma sensibilidade ao mostrar o como as pessoas lidam com suas solidões.
"Asphalte" é minimalista e nos força a enxergar as pessoas. No dia a dia esbarramos, convivemos, mas tudo de maneira superficial, nada é de verdade e duradouro, o afastamento é devido a frieza, o medo, o egoísmo, o preconceito, a arrogância, a falta de generosidade, etc. No final das contas estamos sozinhos e essa solidão é uma sensação de abandono, uma angústia desesperada que deixa um gosto amargo.
O filme retrata pessoas totalmente diferentes entre si que se relacionam e que se encontram em suas solidões. É melancólico, mas a sensibilidade exibida ilumina e aquece.
O filme retrata pessoas totalmente diferentes entre si que se relacionam e que se encontram em suas solidões. É melancólico, mas a sensibilidade exibida ilumina e aquece.
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Legal, mas um boa dica.
ResponderExcluirVai para minha lista.
Abraço