sexta-feira, 22 de julho de 2016
A Terra e a Sombra (La Tierra y la Sombra)
"A Terra e a Sombra" (2015) longa de estreia do diretor César Augusto Acevedo é sensível ao abordar um tema bastante pertinente, principalmente aos países subdesenvolvidos latino-americanos, o trabalho exploratório na zona rural.
A trama começa com o retorno de Alfonso (Haimer Leal) ao pequeno rancho da família, localizado perto de um imenso canavial onde trabalha sua ex-mulher (Hilda Ruiz) e sua nora (Marleyda Soto), e também seu filho Gerardo (Edison Raigosa), que agora sofre de uma grave doença no pulmão devido a exposição à queima da cana-de-açúcar, depois de 17 anos ausente, Alfonso volta para cuidar de seu filho e vê que nada ali é mais como era antes, a única coisa que continua intacta é a antiga casa. Ele é um estranho, aos poucos vai se entrosando com o neto, a nora e o filho. A sua ex-mulher sente raiva por ele ter ido embora, mas não deixou de o amar. A situação dessa família é crítica, Esperanza e Alicia trabalham pesado na colheita e o salário está atrasado, além de terem que lidar com o ar pesado que cobre constantemente o ambiente por conta da queima de cana-de-açúcar.
O filme é duro, dolorido, comovente, e especialmente crítico ao capitalismo desumano que se aproveita da pobreza e humildade das pessoas para explorá-las, não há respeito e não dão condições dignas e básicas, e a partir do momento que não servem e não produzem mais lucro os descartam. Os rostos sofridos, os silêncios, essa naturalidade que transborda faz do filme verdadeiro e íntimo.
A relação entre os personagens vai se estreitando novamente, os laços são renovados, o companheirismo e a preocupação toma conta de Alfonso, ele deseja que eles saiam de lá, porém Alicia tem amor por aquela terra, da mesma forma que negou sair a 17 anos atrás quando a casa começou a ser cercada pela monocultura da cana, condenando de certa forma o filho. Quando Alfonso chega fica com a missão de cuidar de Gerardo, que está debilitado e precisa ficar dentro do quarto com as janelas fechadas, as cenas em que ele varre o chão da frente da casa cheio de cinzas e limpa as folhas das plantas é de enorme sensibilidade. Quando ensina o neto o canto dos pássaros também, são cenas estonteantemente lindas e de grande carga emocional. Mas o que acontece a essa família, sobretudo às mulheres é de doer o peito, elas trabalham e ultrapassam os seus limites para tentar ganhar um pouco a mais, a exaustão física e psicológica é pesada e o filme tem o poder de nos fazer mergulhar na vida destas pessoas.
A fotografia é um fator primordial para esta imersão, o poder das imagens é gigante e o jogo de luz e sombra é perfeito para criar a atmosfera de sufocamento, tanto pela fumaça constante, quanto pelo desespero e sentimentos reprimidos.
É um filme contemplativo, o silêncio nos diz muito e é preciso sentir cada cena para que possa ser absorvido por completo. É uma sensação de desesperança ao ver os personagens sem um mínimo de dignidade, eles se perdem em meio a poeira. É uma produção impactante e retrata sutilmente essa questão sociopolítica vivida por parte da população colombiana, e que não se difere muito da nossa.
"A Terra e a Sombra" é uma história de sofrimento, de confronto com o passado, mas também com uma possível esperança de alçar novos voos, o neto de Alfonso dá esse vislumbre, já Alicia não consegue se desvincular de sua terra.
O elenco faz um trabalho lindo e autêntico, com exceção de Marleyda Soto, todos são estreantes, a imagem se sobrepõe e o ambiente é o principal personagem, a fotografia é um primor, sentimos fortemente o efeito e adentramos numa história simples, humilde e devastadora, impossível ficar imune a esta beleza do cinema latino. Imensa gratidão ao diretor por conceber uma obra tão singular e sensível.
"A Terra e a Sombra" é uma história de sofrimento, de confronto com o passado, mas também com uma possível esperança de alçar novos voos, o neto de Alfonso dá esse vislumbre, já Alicia não consegue se desvincular de sua terra.
O elenco faz um trabalho lindo e autêntico, com exceção de Marleyda Soto, todos são estreantes, a imagem se sobrepõe e o ambiente é o principal personagem, a fotografia é um primor, sentimos fortemente o efeito e adentramos numa história simples, humilde e devastadora, impossível ficar imune a esta beleza do cinema latino. Imensa gratidão ao diretor por conceber uma obra tão singular e sensível.
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Belo e triste! Simples e denso! Gravei este filme à mais de 2 anos atrás no Telecine Cult e só assisti agora (fevereiro/2020). A cena da capa do filme é uma das mais bonitas que eu já vi. Parabéns pela sua sensibilidade na crítica.
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