sexta-feira, 1 de abril de 2016

Vampire

"Vampire" (2011) dirigido por Shunji Iwai (April Story - 1998, Hana e Alice - 2004) é um drama poético que retrata nada mais que a solidão. Não espere terror ou coisas sobrenaturais, o filme é delicado e sensível ao mostrar um lado macabro e bizarro do ser humano, e a sua inaptidão para a vida.
Um professor, com sede de sangue, busca mulheres com tendências suicidas na internet para serem suas vítimas. No entanto, ele sempre se enternece por elas antes de matá-las.
Primeiro longa no idioma inglês do japonês Shunji Iwai, que mantém a sua essência simples, porém obscura, esqueça todo o fascínio que envolve a figura de um vampiro, todo o mistério e elegância, o personagem de "Vampire" é apenas um ser humano, aliás demasiadamente humano, pois ele sente no âmago as dores de sua existência. Simon vivido por Kevin Zegers é um homem solitário, vive com sua mãe que sofre de Alzheimer, e inclusive ele cria uma maneira de mantê-la no quarto com uma engenhoca bem interessante feita de balões, ele é professor de biologia de uma escola secundária e tem o hábito de ajudar jovens suicidas a se matarem em troca do sangue delas. Ele procura por belas garotas na internet que não queiram mais viver e ele ardilosamente propõe que elas deem o seu sangue. A primeira cena já mostra ele coletando o sangue de uma suicida, ela diz a Simon que não deseja sentir dor antes de morrer e então aceita o seu método de coleta. Ele bebe o sangue com dificuldade e minutos depois o vomita. 
O filme tem cenas que provocam estranheza, mas ao mesmo tempo nunca perde sua delicadeza, todos os personagens são frágeis, alheios a vida e complexos. "Vampire" claramente demonstra o quão difícil são as relações humanas. Também há momentos tensos, a câmera não titubeia em mostrar perfurações feitas por agulhas e o sangue se esvaindo do corpo. 
O protagonista vai em busca de mais vítimas, todas suicidas em potencial que rondam lugares propícios, como pontes, e aquelas que externam isso através da internet em sites e grupos, Simon as fisga, marca um encontro dizendo que também se suicidará e as manipulam para que aceitem o seu processo de retirada de sangue, ele jamais machuca a vítima, não provoca dor e sente afeição por cada uma. Ele bebe o fluído vital pensando assim ter encontrado o sentido de sua vida.

Simon é ambíguo, ele é um assassino em série, mas demonstra repúdio a um grupo de "vampiros" que atacam as jovens de maneira violenta, as sufocando e estuprando e mordendo-as no pescoço com dentes falsos de metal, sente carinho por Ladybird, uma de suas possíveis vítimas, que escapa de um suicídio coletivo, do qual ele também estava. Quando ele vai a casa dela para a coleta se humaniza de tal modo que desiste do ato. Os dois se envolvem momentaneamente, e por fim vai embora. O terror da situação se transforma numa bela poesia. O desespero está presente em toda a narrativa, porém de maneira contida. 
"Vampire" é angustiante, dolorido e cria uma sensação estranha no espectador, o tema pesado é convertido em beleza e encantamento, impossível não se compadecer por Simon.

Kevin Zegers está perfeito, seu semblante, seu modo de se portar, todos os diálogos de seu personagem são interessantes e mostram o seu espírito perturbado. Ao longo observamos as suas nuances, destaque para a cena em que uma de suas alunas parece querer cometer o suicídio e ele a aconselha, depois ela confessa ter sido brincadeira para chamar a sua atenção, mas ao final ele termina doando seu sangue a ela. Confuso, irônico, é uma situação que acaba o atormentando muito, uma outra personagem importante e que ele pouco se importa é a irmã de um policial que vive em sua casa, o desprezo dele acaba provocando a sua derrocada.
"Vampire" tem uma estética apurada e etérea, a trilha sonora quase inteiramente no piano destaca a sensibilidade, e a narrativa passeia entre o terno e excêntrico sem dificuldades. É uma produção que merece atenção!

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