quinta-feira, 12 de julho de 2012

Leite (Süt)

Yusuf é filho único e vive com sua mãe, Zehra, em uma pequena cidade do interior da Turquia. Juntos os dois trabalham vendendo leite, única fonte de renda da família desde que o pai de Yusuf desapareceu. Zehra mantém um relacionamento discreto com o chefe da estação de trem local, enquanto Yusuf, recém-formado da escola, se divide entre o trabalho no negócio familiar e a paixão pela poesia, conseguindo publicar seus poemas em revistas de literatura obscuras. Entretanto, a venda de leite não parece suficiente para garantir o futuro da família.
O longa é feito de maneira lenta, o pensamento toma conta da tela, Yusuf tem o sonho de ser poeta, mas na realidade em que vive, isso parece estar cada vez mais longe, oprimido pelas circunstâncias, suas decisões acabam como a de todos, trabalhando pesado.
Uma crítica ao trabalho social, que ameaça os nossos sonhos, que causa uma crise de identidade, sem nos dar opção de escolha. Yusuf tem um grande apego a sua mãe, mas isso é mostrado apenas através de olhares, quando ela começa a se envolver com o chefe da estação de trem, ele se sente perdido, a imagem da mãe parece se desfazer, e várias cenas demonstram um desolamento do personagem. O leite é o símbolo de tudo isso. O meio de sustento da família, representando o bem, e o laço materno. A impressão para quem assistir o filme solto, sem acompanhar a trilogia, é de espera constante, uma lentidão sem fim, porém se for assistido em sequência, nos é mostrado um modo de vida simples, repleto de questionamentos, laços, pensamentos, sentimentos e contemplação.
A beleza paisagística é algo sublime, o céu, as árvores, os animais, a natureza acompanha de forma metafórica todos os sentimentos do nosso protagonista, dimensionar o quanto é poético e ao mesmo tempo simples é impossível. A inocência de Yusuf aos poucos vai embora, ele tem que tomar decisões, desenvolver-se interiormente. Seus olhar por vezes é vago, em outras é expressivo e aparenta dor e desespero. É preciso se agarrar aos detalhes e o que eles querem nos dizer, logo no início somos pegos de surpresa por uma cena totalmente simbólica, uma cobra é retirada do interior de uma mulher através do leite, ou seja, o bem retirando o mal. A cobra é inserida no contexto de um presságio ruim, por exemplo, quando Yusuf se depara com uma cobra em sua casa, e a partir daí as coisas começam a desandar, Yusuf é obrigado a tomar decisões importantes em relação a sua vida. E o final nos arrebata ao mostrar a decisão que fez. A câmera focaliza seus olhos resignados, porém assustados, como se estivesse consciente de que a vida não é feita de poesia e que a esperança já não existia mais para ele.

"Leite" é um filme realista e porque não dizer pessimista, o seu final nos mostra a desesperança estampada no rosto do personagem.
A idade do personagem Yusuf é a idade que para os turcos representa grande pressão. Além da crise de identidade, de não saber se pertencem ao oriente ou ao ocidente, eles são cobrados a tomar uma decisão e dar rumo a suas vidas. Nesse momento a mãe tem papel fundamental numa sociedade masculina como a turca, pois é um momento de rompimento duro para os jovens. O diretor Semih Kaplanoglu nasceu em 1963, na Turquia, e formou-se em cinema e televisão na Universidade de Dokuz Eylül em 1984. Este é o segundo filme de sua trilogia sobre Yusuf, sendo o primeiro "Yumurta" (Ovo) e o terceiro "Bal" (Mel). É uma trilogia sobre as transformações econômicas e sociais de regiões rurais da Turquia.

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