quinta-feira, 19 de julho de 2012

Habemus Papam

Ao fim do pontificado de um antigo Papa, um novo precisa ser escolhido. É nesse momento que o conclave se reunirá numa sala onde ficará trancado, até que a decisão seja tomada. O Papa em questão é interpretado pelo magnífico ator francês Michel Piccolli. Um homem que, eleito Papa, entra em crise e não toma coragem de assumir o cargo. O Papa sofre de uma crise existencial, e em contraponto temos a instituição católica pragmática com um grande problema nas mãos. A situação é inusitada e todos sabem que há um Papa eleito, mas não sabem seu nome, pois na hora que ele deveria saudar o povo na sacada do Vaticano, entra em pânico e recua. Como ele já aceitou o cargo, o pesado protocolo da Igreja Católica cai num impasse.
A imprensa de todo o mundo pressiona para saber o nome do eleito. O porta-voz chama um médico, depois, o psicanalista (interpretado pelo próprio diretor Nanni Moretti). A entrada deste estranho no ninho do Vaticano é o principal deflagrador de situações cômicas, já que o terapeuta é declaradamente ateu no meio de um imenso grupo de cardeais de vários países. Como ninguém conhece o Papa eleito, este decide fugir e refrescar a mente, nesta fuga o Papa frequenta lugares normalmente inacessíveis ao Sumo Pontífice, uma lanchonete simples, uma loja de departamentos, um hotel modesto, um teatro em que uma trupe interpreta "A Gaivota", de Anton Tchecov. O Papa demonstra interesse por ser ator e sabe falar as frases de cor.
No Vaticano, encena-se a vida que não existe, com outro homem no lugar do Papa, pago apenas para balançar cortinas. Os cardeais e demais religiosos sentem-se felizes, reguardados, enquanto têm naquela mera encenação barata uma certeza: o Papa está bem.
Tudo termina quando o Papa é encontrado no teatro. E ao fim, o inesperado, definitivamente o cargo era demais para aquele homem, não que sua fé não fosse suficiente, mas era pesado demais, em seu discurso na janela do Vaticano, para uma infinidade de pessoas, ele recusa e sinceramente nega o papado.
O longa é uma sátira em cima do catolicismo e seu grande ritual: a eleição de um Papa. Neste filme, nenhum dos personagens desejam o papado, eles sussurram o tempo todo: "Por favor Deus, eu não". Não deixa de ser interessante, mostrando um homem visto quase como divino, apenas como um alguém com suas crises e medos.

Sempre enxerguei os cardeais lá no Vaticano como uma máfia, em suas coisas escusas e mergulhados em seus segredos, sempre achei a igreja católica hipócrita e nos olhos dessas pessoas uma falsa bondade. Tudo encenação. Não é à toa que o Papa fujão queria ser ator, a sua grande frustração da juventude. 
A figura do psicanalista dá um tom leve e irônico ao filme, mas em nenhum momento ele desrespeita a igreja. A história sobre o Papa que nega seu posto é hilária. Moretti é um gênio, seu humor é inteligente e os atores estão maravilhosos. Uma obra super interessante que retrata um pouco deste ritual que mexe com a instituição católica e ainda mostra o medo de um ser humano ao enfrentar uma missão que ele acredita não ser para si.

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