sexta-feira, 24 de maio de 2019

The Great Buddha+

"The Great Buddha+" (2017) dirigido por Hsin-yao Huang é um filme taiwanês simples que retrata o cotidiano de dois homens pobres que passam o tempo conversando e olhando as filmagens da câmera do carro do chefe, além de colocar a cultura desse pequeno país asiático em questão e explorá-la de maneira irônica. A fotografia em preto e branco garante seu tom poético e ressalta a crueza dessa realidade tão desvalida. 
Pepino (Cres Chuang) é vigia noturno numa fábrica de estátuas de bronze. Seu colega, Umbigo (Bamboo Chu-Sheng Chen), coleta material reciclável durante o dia. O maior prazer na vida de Pepino é folhear durante as madrugadas as revistas pornô coletadas por Umbigo. Lanches tarde da noite e assistir televisão são parte integral de suas vidas monótonas. A história envolve deuses, desejo sexual de homens de meia-idade e conversa entre fantasmas e humanos. Talvez a audiência a ache ridícula, mas a própria vida não é uma farsa?
Acompanhamos a vida tediosa e miserável de Pepino, um vigia noturno de uma fábrica de estátuas de bronze, há uma enorme expectativa no local de dia pela construção de um buda gigante, mas a noite o vazio toma conta e a única distração desse pobre homem é seu amigo Umbigo que anda pelas ruas recolhendo material reciclável, todas as noites ele vai visitá-lo e leva algumas revistas pornográficas e trocam ideias aleatórias. Umbigo entediado decide olhar as filmagens da câmera do carro do patrão de Pepino, uma medida de segurança que virou moda segundo eles, a maioria são imagens enfadonhas, porém existem várias que demonstram o quão mulherengo o patrão é, inclusive arranjando atritos entre as amantes, eles os escutam transando no carro, as discussões e até que desse passatempo sai algo pesado e do qual eles nunca esperariam ver, total comprometedor e que mexe com a moral de Umbigo.
O filme possui sacadas inteligentes e a maioria das imagens surgem como símbolos, discute a cultura religiosa e a hipocrisia das pessoas, a cena em que pedem a opinião sobre a estátua para os devotos é uma boa demonstração, repleta de acidez mas tudo com muita sutileza e destreza. Também coloca em evidência a grande discrepância social numa série de situações engraçadas, além dos ótimos diálogos que surgem de conversas que parecem não ter sentido, mas que acabam surtindo um efeito impactante.

Enquanto assistem as filmagens os dois confabulam e dizem frases com alto poder de reflexão de uma maneira simples, e analisando percebemos que toda a vida é uma farsa, principalmente a dos mais abastados que fingem a maioria das coisas, e constatamos mais uma vez que a corda sempre vai arrebentar do lado mais fraco. Um aspecto interessante da obra é a metalinguagem, como a intromissão do diretor narrando e explicando algumas partes e também colocando cor somente quando comentam o quanto a vida dos ricos é colorida, ou mencionando que ninguém verá a cor de tal coisa e, portanto, citá-la não faz sentido.

"The Great Buddha+" é um filme crítico e irônico e um belíssimo exemplar de cinema orgânico, não se prende a gêneros e flui de maneira particular, uma experiência fascinante, reflexiva e divertida a seu modo.

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