quarta-feira, 29 de maio de 2019

O Anjo (El Ángel)

"O Anjo" (2018) dirigido por Luis Ortega e produzido por Pedro Almodóvar é baseado na história real de Carlos Robledo Puch, que assassinou 11 pessoas e ficou conhecido como "o anjo da morte" na década de 70 - atualmente ele ainda está preso, sendo o encarcerado mais longo da Argentina. O filme retrata a adolescência do rebelde Carlitos que tem a mania de roubar objetos e levar para casa dando a desculpa de que são emprestados por amigos, os pais se fingem de bobos e assim levam a vida até que ele encontra Ramón e se apaixona tanto por ele quanto pela vida criminosa.
Desde a adolescência, Carlos (Lorenzo Ferro) tem o hábito de invadir casas alheias, pelo simples prazer que o ato lhe dá. Às vezes ele leva algo para casa mas jamais para ganhar dinheiro, apenas para curtir o momento. Ao conhecer Ramón (Chino Darín - filho de Ricardo Darín) em sua nova escola, ele logo é apresentado a um universo mais profissional de crimes, já que o pai de Ramón é veterano da área. Carlos logo se destaca pela ousadia nos crimes que comete, impulsionado pela atração que sente por Ramón. Com o tempo, a displicência com os demais faz com que cometa onze assassinatos e se torne um dos criminosos mais procurados da Argentina.
Cheio de cores e estilo a história fisga pelo charme envolvendo o personagem e sua personalidade fria que ao longo vai se tornando perturbadora, o pai de Ramón, ladrão profissional que já foi preso vê nesse garoto potencial e o aproveitam ao máximo, quando decidem roubar uma loja de armas surpreendem-se e aí inicia-se uma série de outros roubos em que Carlitos nunca satisfeito sempre pretende mais, quando experimenta atirar e matar sua frieza e audácia se eleva. Ele é um garoto bonito e que jamais seria visto como um bandido, portanto se beneficia dessa situação e comete as piores atrocidades. Em dado momento Carlitos e Ramón se autodenominam como "Eva e Perón" e o tempo todo existe uma enorme tensão sexual entre eles, Carlitos está se descobrindo sexualmente e a liberdade que existe na casa de Ramón o deixa confortável, Ramón claramente é próximo dele por ambição, mas há uma química perfeita entre eles, o modo que Carlitos busca sua liberdade é desumana e distorcida, quando ele diz sobre o porquê rouba e a maneira que lida com as mortes é dissimulada e debochada.
"Eu sou um ladrão de nascença. Eu não acredito em isso é seu, e isso é meu".

A reprodução da época é genuína, a fotografia é deslumbrante, sua trilha sonora é cheia de movimento, vide a cena de Carlitos dançando ao som de "El Extraño Del Pelo Largo", da La Joven Guardia, e a narrativa cativa e é bem fechada, além das incríveis atuações, o jovem Lorenzo Ferro faz sua estreia com espontaneidade e firmeza, a dupla que faz com Chino enriquece bastante a obra, existe uma gama de sentimentos entre eles, a paixão que pulsa, o encantamento com a liberdade de ser do outro, a ambição desenfreada e os desejos que se confrontam. Carlitos entra numa espiral de violência e ele ama essa sua loucura. Seus pais não sabem o que fazer, ele aparece quando quer e até o último momento fecham os olhos para a realidade, só no último instante é que encaram, pois a mídia sensacionalista entra em cena e a polícia está a sua procura, então a mãe resolve agir e denunciar o filho. A história não tem surpresas, até porque é baseada em fatos e o que puxa mesmo a atenção é sua beleza estética e charme nas tomadas e seus close-ups.

"O Anjo" traz um personagem cínico e com uma frieza que seduz e até cria-se uma empatia, o que incomoda, o filme segue pela direção do entretenimento e há muita jocosidade na maneira que os crimes são encenados, no final mesmo gostando do longa, pois é inegável suas qualidades, acaba promovendo uma culpa e surge a reflexão sobre a necessidade dessas cinebiografias que transformam assassinos em atração cinematográfica. É um ótimo filme, mas a romantização e a caricatura em torno é de se questionar.

Um comentário:

  1. Eu gosto do cinema argentina, mas o trailer deste filme me deixou com um pé atrás.

    Fique com a impressão de ser algo romantizado, assim como você citou no final do texto.

    Abraço

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