terça-feira, 10 de maio de 2016

A Lição (Urok)

"A Lição" (2014) dirigido pela dupla Kristina Grozeva e Petar Valchanov é um filme para se pensar sobre questões morais e éticas em situações-limite, é quando o certo se torna o errado e o errado se torna o certo.
Nade (Margita Gosheva) é professora de inglês, é muito correta e rígida em sala de aula, quando um aluno rouba dinheiro de uma colega, ela tenta de todas as maneiras descobrir quem fez isso para lhe ensinar o que é o certo e o errado, na sua vida pessoal sofre com problemas financeiros e o desespero só aumenta com o passar dos dias. Seu marido não lhe ajuda em nada, é um alcoólatra que gastou o dinheiro que pagaria a dívida com o banco para arrumar um velho trailer que passa as noites dormindo. Nade tem o prazo de três dias para quitar, ou sua casa irá ser leiloada. Sem muitas alternativas, ela resolve arranjar o dinheiro com um agiota, o que desencadeia uma série de situações preocupantes.
Nade briga com o tempo e passa a maior parte dele correndo literalmente para ajeitar as coisas, ela não recebe seu salário, pois o empregador da empresa de tradução sumiu, os oficiais de justiça a pressionam e são pouco transparentes com o que ela precisa fazer de fato para não perder a casa, ainda lida com um marido imprestável, uma filha com saúde frágil e um pai negligente, que não perde a oportunidade de humilhá-la. Em dado momento, Nade o procura para pedir ajuda, ele é rico e poderia consertar as coisas, mas para ela é difícil, pois quando sua mãe morreu pouco se importou se recusando até de colocar uma lápide no túmulo, e logo foi morar com uma mulher mais nova de caráter duvidoso, ela se prontifica a ser mais cordial com a namorada dele, porém a humilhação vem em triplo. Nade mantém sua postura, não exatamente de orgulho, mas de manter a sua dignidade, por exemplo, quando o agiota lhe propõe a prostituição, ela prefere um outro caminho, analisa as suas opções, seus valores e se decide. Esta escolha bate de frente com o que vem acontecendo na sala de aula, e então seu julgamento é completamente transformado em compaixão.
O drama vivenciado por cada pessoa tem um contexto muito amplo e julgar se baseando apenas em suas próprias crenças moralistas é ignorância, não se sabe do dia de amanhã e do que precisaremos fazer para conseguir sobreviver, o certo e errado depende muito da realidade que se vive. Ao final, a lição é aprendida pela própria professora que no início julgou a atitude do aluno do qual queria expor para todos e dizer: isso é errado! A compaixão pelo próximo, essa é a grande e difícil lição. 

Em um sistema tão duro, burocrático e corrupto será possível viver sem quebrar o que temos de bom dentro de nós? Os conceitos que temos sobre nós mesmos e dos outros vão mudando a partir do momento em que não há saídas, Nade tenta, e tenta muito conseguir dinheiro de um modo que não a prejudique internamente, mas não dá. É esdrúxulo o que o banco faz, as taxas não especificadas e ela tendo até que contar moedas que pega em uma fonte, pois na tentativa de descobrir o aluno roubando se distraiu e foi roubada mesmo, ficando sem nem uma mísera moeda. 
O filme prima pela tensão, a personagem e seu dilema vai criando um desconforto enorme, principalmente pelo cansaço psicológico e também físico, aliás grande atuação de Margita Gosheva. O desespero em seus olhos, a vontade de sair da situação em que está, impossível não se conectar com o seu drama.

"A Lição" é um excelente filme que mostra a rotina estressante e as manobras financeiras cotidianas, a história é envolta por uma crítica social e coloca em evidência a natureza humana em situações desesperadoras, onde todas as convicções sobre certo e errado se desfazem, e tudo o que se julgou um dia cai sobre si mesmo.

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