sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O Crítico (El Crítico)

"O Crítico" (2013) dirigido pelo estreante Hernán Guerschuny é um filme inteligente que brinca com a figura do crítico e com os clichês das comédias românticas.
Víctor Tellez (Rafael Spregelburd - O Homem ao Lado, 2009) é um prestigiado crítico de cinema que odeia comédias românticas hollywoodianas e cinema moderno. Ele vê o mundo como um longo filme que não consegue deixar de criticar. Um dia, do nada, ele conhece Sofia (Dolores Fonzi), uma jovem e atraente mulher com quem não tem quase nada em comum, especialmente quando o assunto é cinema. Como o destino insiste em aproximar os dois, Tellez suspeita que o gênero que ele mais odeia está em busca de vingança.
O longa ironiza o esteriótipo do crítico de cinema, Tellez é mal-humorado, seco, vangloria certos diretores e despreza gêneros de entretenimento, ele leva pra vida real a sua mania de avaliação e sua arrogância chega a tanto que prefere pensar em francês, o que denota a sua paixão pelo movimento da Nouvelle Vague. Mas, por mais que o personagem soe chato acaba por nos cativar, aliás uma elogiável interpretação de Rafael Spregelburd. Todos os clichês possíveis estão em "O Crítico", aqueles que permeiam as comédias românticas e que tanto Tellez odeia. Para ele esse gênero é sempre igual, com as mesmas sacadas, e só de ver o poster consegue fazer uma crítica. De repente, Sofia aparece em sua vida e ao se encantar por sua espontaneidade começa a vivenciar esses clichês tão detestáveis. Em dado momento ele se pergunta o porquê de estar vendo as coisas em câmera lenta, inclusive os momentos em que ele compartilha seus pensamentos são os melhores.
Tellez é um homem refinado e cultua o cinema antigo, para ele o bom cinema morreu e a vida nada mais é que uma versão piorada dos filmes ruins. Ao tentar encontrar um apartamento mais espaçoso depara-se com Sofia, a típica mocinha estabanada que vê tudo colorido, seu completo oposto. A ironia e o cinismo dá ao filme uma característica única, por vezes até acreditamos que ele irá virar um imenso clichezão, mas o roteiro não perde a linha e não deixa nenhuma ponta solta, é redondinho e finaliza com surpresas. Inteligentemente o diretor conseguiu usar todos os elementos que se destacam nas comédias românticas e na figura de um crítico e criar um filme divertido e elegante.

"O Crítico" se destaca pela direção de Hernán Guerschuny, que se inspirou em si mesmo, ele é crítico de cinema, então conhece muito bem todos os esteriótipos criados em cima da profissão, além de colocar críticos no elenco, os amigos de Tellez. Sem dúvidas, a atuação de Rafael Spregelburd fez toda a diferença, ele encarnou o personagem e deu credibilidade, ele é extremamente chato, mas um chato agradável. Seus devaneios sobre como a "maladie du cinéma" o fez enxergar os defeitos da vida é outro ponto forte, sem contar as várias referências que o filme proporciona.
As cenas em que ele conversa com sua sobrinha Agatha (Telma Crisanti) também são ótimas, ela trabalha numa locadora de vídeos e adora as comédias mais melosas que existem. E ainda Tellez é perseguido por Arce (Ignacio Rogers), um diretor iniciante que ficou obcecado pelo crítico depois deste ter falado mal de seu filme. Interessante é o como Hernán Guerschuny conseguiu colocar todos esses clichês mesclado a um fino humor e não pender tanto pelo lado da caricatura, quanto da pretensão de criticar. É leve, delicioso e original.

Um comentário:

  1. É um filme que está na minha lista para conferir.

    Aparentemente é mais um bom filme argentino.

    Até mais

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