terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Tempos de Lobo (Le Temps du Loup)

Antes de expor minhas observações acerca do filme "Tempos de Lobo" (2003), é preciso dissertar um pouco sobre um dos meus diretores preferidos. Michael Haneke tem um estilo incrivelmente seco, ele aborda os temas de seus filmes de maneira cru, expondo o ser humano até os últimos limites sem máscaras cotidianas e sociais. A violência está sempre presente em suas obras, sempre tem algo para impressionar e mexer conosco, dar aquela virada no estômago para que saíamos da nossa zona de conforto. Não há meios termos em seu jeito de filmar, são cortes secos, silêncios que perturbam, diálogos ferozes, é o horror, mas não daqueles que conhecemos pelos filmes de terror, o horror está nas situações e nas imagens que nos provocam. Seus filmes são cruéis e duros de encarar porque são realistas, mas são indiscutivelmente necessários.
"Tempos de Lobo" começa com uma família indo para sua casa de campo, chegando lá encontram uma outra família, cujo homem aponta uma espingarda para eles, é rápido, cruel e sem rodeios, ele mata o chefe da família e a mulher com os dois filhos são obrigados a fugirem dali sem nada, apenas com uma bicicleta. Ana, a filha adolescente e o filho de 12 anos procuram ajuda com os vizinhos, mas eles não podem confiar em mais ninguém: toda a sociedade, de uma hora para outra, perdeu os valores da civilização, viraram nômades e podem atacá-los a qualquer momento. Sem comida e nem água, no meio da noite, mãe e filhos tentam encontrar abrigo e acabam por se deparar com um rapaz que sobrevive de restos de cadáveres. Continuando a jornada tétrica, eles seguem por uma linha de trem e chegam a uma estação onde um grupo espera por um hipotético trem. Mesmo com a dignidade perdida, algumas pessoas têm sensibilidade para a poesia e o amor.

Apesar do filme não explicar a situação, vemos que a sociedade está um caos, as regras básicas de boa vizinhança já não existem mais, Ana perambula com os filhos em busca de ajuda, mas não há mais espaço para isso, o que reina é o bem-estar próprio, a lei da sobrevivência. No desenrolar encontram um garoto completamente solitário que os leva para uma estação de trem, onde há outras pessoas que nutrem a esperança que o trem irá passar por ali. A agonia predomina, a catástrofe silenciosa é desesperadora. O ser humano está acostumado com tudo na mão, dá valor excessivo a coisas insignificantes, extrapola e prejudica sem ao menos se perguntar se isso acarretará um desastre. O caos pode estar até acontecendo já, na encolha, com poderosos governando, o consumismo, a violência de todos os dias, as ofensas, a inveja, a ganância, entre tantas outras coisas.

O filme de Haneke expõe o ser humano no seu estado mais primitivo, o livra da máscara da convencionalidade e o coloca na necessidade, implorando por água, trocando coisas aparentemente valiosas como um relógio, por comida. "Tempos de Lobo" pode parecer tedioso e lento à primeira vista, é compreensível, pois não são todos que estão dispostos a ver a verdade do ser humano demonstrada no filme de Haneke. Somos lobos prontos para dar o bote e prontos para abater a própria espécie se for preciso. Não ficamos indiferentes com a situação exposta, muitos filmes exploram o caos da humanidade, mas "Tempos de Lobo" é realista em demonstrar a crueza humana, ele nos faz a seguinte pergunta: qual seria nossa reação diante a desordem do mundo? E será que você ou seu vizinho seria capaz de oferecer ajuda? Quando estivermos na lei da sobrevivência, no natural, o instinto predominará e então o homem é o lobo do próprio homem.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Os Famosos e os Duendes da Morte

"Os Famosos e os Duendes da Morte" é um filme nacional de 2009, infelizmente não passeou pelo circuito comercial, apenas pelos festivais sendo bem elogiado, inclusive ganhou o prêmio máximo do festival do Rio de Janeiro na época. Baseado na obra homônima de Ismael Caneppele, que também assina o roteiro e interpreta o homem misterioso do filme, e dirigido por Esmir Filho, diretor de curtas, como o hit "Tapa na Pantera". O longa é no mínimo peculiar, por assim dizer.
A trama é ambientada numa pequena cidade do Rio Grande do Sul colonizada por alemães, lá vive um adolescente solitário, melancólico e fã de Bob Dylan, ele passa o tempo na Internet vendo os vídeos de uma garota misteriosa e um homem parecido com Dylan enquanto a vida ao seu redor vai passando. Seu maior sonho é assistir um show de Dylan. As coisas passam a fazer sentido quando descobre que as pessoas nos vídeos na verdade não estão tão distantes assim da cidade de onde vive. Nessa cidade existe uma ponte que assombra as pessoas da região, ela é um obstáculo corriqueiro na vida dos moradores. O garoto sem nome usa o apelido de Mr. Tambourine Man, mesmo nome da música de Dylan.
Retratar o universo adolescente, captar a essência dessa fase é muito difícil, muitos filmes tentam, mas de forma superficial, neste ao contrário podemos sentir todo o drama de autoconhecimento, do estar em um lugar que não lhe pertence, um estrangeiro em sua própria terra. É possível adentrar nos sonhos e pesadelos deste garoto, seu silêncio, seus olhares, seu vazio interior, tudo é exposto a nós. Ele tenta lidar com a morte do pai, o relacionamento oscilante com a mãe e as poucas amizades, a internet é a única presença em sua vida, dado momento ele escreve em seu blog: "Estar presente não é físico". Essa frase exemplifica bem o universo daquele garoto. O lugar em que vive é designado por ele mesmo como "um bando de colonos", e esse lugar vai ficando pequeno diante o seu desenvolvimento, então ele se encolhe, se torna um alguém solitário e alheio as festividades da cidade. O filme não tem o intuito de explicar, tudo é muito subjetivo. A figura misteriosa que se assemelha ao Dylan retorna à cidade depois de um acontecimento trágico, e isso traz ao garoto novas descobertas.

A fotografia é de encher os olhos e a trilha sonora composta por Nelo Johann é espetacular, deveras um filme nacional bem diferente e ousado. Os personagens são densos, especialmente o protagonista, que tem uma tendência suicida, porém o entendimento é difícil, a mim pareceu que Jingle-Jangle, a garota da internet, era irmã de seu único amigo, e que o homem misterioso pulou com ela da ponte, mas sobreviveu, e então depois de um tempo regressou a cidade trazendo lembranças das quais Mr. Tambourine Man pegou para si. Há momentos em que o filme se torna uma viagem, pois não dá pra saber se o que vemos é real, virtual, imaginação ou lembranças.

Gostei da naturalidade dos personagens, o sotaque e o aspecto regionalista, não é um filme fácil de digerir, como disse é repleto de subjetividades, mas interessantíssimo em todo seu contexto. Aborda o tema inadaptação na adolescência de uma forma completamente diferente da que estamos acostumados a ver no cinema brasileiro. 
Encontrar filmes como "Os Famosos e os Duendes da Morte" é um enorme respiro para quem gosta de cinema nacional. 

domingo, 29 de dezembro de 2013

As Palavras (The Words)

 "As Palavras" é um filme sensível que aborda o quanto as escolhas feitas podem tanto nos destruir como beneficiar. "Todos nós fazemos escolhas, difícil é conviver com elas", é exatamente nesse ponto que o longa toca.
Rory Jansen (Bradley Cooper - "O Lado bom da Vida") é casado com Dora (Zoe Saldana - ”Avatar”) e trabalha em uma editora de livros. Ele sonha em publicar seu próprio livro, mas a cada nova tentativa se convence mais de que não é capaz de escrever algo realmente bom. Um dia, em uma pequena loja de antiguidades, ele encontra uma pasta com várias folhas amareladas. Rory começa a ler e não consegue tirar a história da cabeça. Logo, ele resolve transcrevê-la para o computador, palavra por palavra, e a apresenta como se fosse seu livro. O texto é publicado e se torna um sucesso de vendas. Entretanto, tudo muda quando ele conhece um senhor (Jeremy Irons) que lhe conta a verdade por trás da história encontrada.
Bradley Cooper é um ator que passeia muito bem entre a comédia e o drama, muitos o conhecem pelo engraçado "Se beber não case", mas neste ele enfrenta a dificuldade de elaborar uma história que seja vendável, que a massa absorva e compre, sua escrita é o contrário disto tudo, é interna, melancólica, mas tudo muda quando descobre uns papéis amarelados numa maleta antiga, dada de presente pela sua adorável mulher na lua-de-mel, ele a lê e é como se a história fizesse parte dele de tão honesta e verdadeira, em um impulso desesperado, transcreve para o computador palavra por palavra, sem pôr nem tirar, não muda absolutamente nada. Publicado, o sucesso é imediato, só que ele não contava com o inesperado: o destino. Um senhor com uma tristeza profunda nos olhos segue-o pelo parque e começa a conversar sobre as regalias de um escritor famoso, até que diz ter uma ótima história para contar, e a partir daí surge cenas regadas a paixão, tristeza e a obsessão pela escrita. Esse velho senhor tinha amor pelas palavras, e aqueles papéis dos quais Rory encontrou, o salvaram um dia e também o destruíram em outro. O escritor fica atormentado, sente-se mal pelo ocorrido, mas o homem não quer conversa, o que está feito não pode ser mudado, então é preciso conviver com a escolha que fez. Quando jovem o velho escreveu todas as suas amarguras, tristezas e paixões; Rory diante a história completamente forte e verdadeira, justamente porque foi sentida por quem a escreveu, a endeusa, mas ao mesmo tempo sente por não ter a mesma aptidão.

A teoria de que sofrer é preciso para escrever, emprega-se muito bem ao personagem do velho senhor que nos encanta ao contar a história da qual Rory plagiou. Interessante observar que Rory é uma pessoa honesta, ao transcrever a história ele foi ingênuo, tomado pelo furor de ter algo bom publicado, ele acreditou que aquelas palavras fossem dele realmente.
O dilema não está entre o dono destas palavras e o plagiador, mas sim dentro de Rory, ele se sente extremamente mal por ter feito isso ao conhecer o velho. Rory pergunta o porque que ele o procurou se não desejava fazer nada em relação ao ocorrido, a resposta foi simples, para que Rory conhecesse a origem daquelas palavras. Em outro momento ele confessa a sua mulher e pergunta a ela se realmente acreditava que aquela história poderia ter saído de sua mente, pois ali estavam imprimidos sentimentos vividos, dos quais ele jamais chegou perto. A dor foi exatamente essa, não o plágio em si, mas o fardo, a tristeza, o amor que aquelas palavras continham. Mas sabe-se que depois de ter tomado uma decisão não há o que fazer, portanto é necessário conviver com ela.
A história é narrada de maneira inteligente e com muita sensibilidade, para os amantes da literatura é um prato cheio, principalmente quando o velho narra a história e traduz em sentimentos aquelas palavras.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Elena

O diretor russo Andrei Zvyagintsev nos conta a história de Elena e Vladimir, um casal que se conheceu tardiamente na vida, mas que mesmo assim sustenta um relacionamento sólido. Vladimir é um homem rico que trabalhou para ser quem é, já Elena é uma mulher modesta e dócil. Sergey, filho de Elena, está desempregado, incapaz de sustentar sua família vive pedindo dinheiro para sua mãe. Do outro lado, a filha de Vladimir é uma jovem despreocupada e tem uma relação ausente com seu pai. Certo dia Vladimir sofre um ataque cardíaco, é internado e aí percebe que tem pouco tempo de vida. Em um breve encontro com sua filha decide deixar tudo o que tem para ela, sendo sua única e legitima herdeira. Vladimir tinha se recusado a ajudar a família de sua esposa, julgando-os folgados, e com a decisão do testamento as esperanças de Elena acabaram de vez, mas aí ela elabora um plano para poder dar um rumo diferente à sua família. Antes uma dona de casa terna e submissa, agora age de forma ardilosa para dar uma oportunidade de melhorar a vida de seus familiares.
Elena é um drama contemporâneo, vemos constantemente histórias de pessoas que se dão bem em cima dos bens alheios, inicialmente ela não aparentava ser uma pessoa de caráter duvidoso, apenas ajudava sua família, da qual em nenhum momento sentimos pena, mas sim repulsa, são seres estagnados, esperando que algo caia do céu, o pai da família sempre sentado abrindo e fechando a geladeira, com o tédio estampado em seu rosto. Uma família que não para de crescer, o que faz pensar que eles sabem apenas procriar e entulhar o mundo de pessoas que não querem se esforçar, que não se dedicam, assim restando apenas a marginalidade, pois não há educação devida, criação, amor, valores, etc.
São muitas as questões que vem à tona, será que o fim justifica os meios? Será que Sergey, filho de Elena mereceu o que ela fez por ele? Ou o pensamento de Vladimir em não ajudar a família de Elena era o mais correto? A minha opinião é que Vladimir poderia dar algum tipo de assistência a família dela, mas não da forma como estava sendo, vivendo às custas do dinheiro do qual ele conseguiu trabalhando a vida toda. Há um quê de comunismo/capitalismo, já que se trata de um filme russo, mas independente disso, é uma história que acontece em qualquer lugar do mundo. O final deixa explicito de que caminhamos para o abismo, onde a índole do ser humano é cada vez mais duvidosa e sinuosa, onde se alastram pessoas que querem se dar bem sem se mexer do lugar, apenas possuindo o que é do outro.

O filme expressa o vazio, o modo como a câmera focaliza os ambientes nos gera certas impressões, como a cena do bebê no final do filme, que mostra que ele irá pelo mesmo caminho que os outros, é um tipo de desesperança em relação ao futuro da humanidade. E quando vemos a família de Elena na casa de Vladimir é impossível não se sentir desconfortável e até sentir vergonha daquelas pessoas. Elena acha que fez o bem, mas na verdade estava disseminando um mal. São valores jogados diretamente na nossa cara, até onde as pessoas vão para conseguir algo que julgam como certo?
"Elena" é o retrato de uma sociedade acomodada e frágil diante as circunstâncias da vida.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Um Gato em Paris (Une Vie de Chat)

"Um Gato em Paris" é uma charmosa animação 2D que possui uma linguagem visual muito interessante, e que vai contra toda essa onda 3D.
Dino é um gato que divide sua vida entre o dia com Zoé, filha de Jeanne, e a noite com Nico. Jeanne é uma delegada que está investigando uma série de roubos misteriosos, e ainda terá que proteger um monumento de arte africano que está para chegar na cidade. Nico é um ladrão que passeia a noite pelos telhados de Paris na companhia de Dino, mas o maior perigo está em Victor Costa, um temível bandido e sua gangue que certamente tentará roubar o monumento. Zoé é uma criança traumatizada pela morte de seu pai e vive mais tempo com a babá que com a mãe que nunca está em casa. Dino será testemunha de tudo e será a peça chave entre todos os personagens e suas aventuras. A trama do filme é bem simples, porém repleta de nuances, pode ser apontada como uma espécie de realismo fantástico, mas a história aborda temáticas bem reais.
O longa ainda se difere de outros filmes do gênero por não humanizar a personalidade do gato. Dino apesar de demonstrar uma inteligência atípica, não fala e não anda sobre duas patas. De fato o tema de "Um Gato em Paris" é simples, mas é preciso atenção para se compreender todos os significados, como no caráter dos ladrões. Nico rouba jóias se aventurando nos telhados, mas é uma boa pessoa e não teria coragem de cometer um ato de crueldade contra alguém, mas Victor é um homem sem escrúpulos que é capaz de tudo. Além da abordagem da perda de um ente querido, uma mãe que trabalha e cuida da filha sozinha, há também questões como trauma e vingança, tudo contado de uma maneira muito especial.

O traço é expressivo e se vê nas características das personagens, (lembrando as pinturas de Pablo Picasso), através de sutilezas em suas expressões corporais, como o jeito de andar de Nico representando o andar do gato, ou faciais, como os olhos semi-cerrados da pequena Zoé, representando toda a carência e a tristeza sentida. E nem Paris escapa desse expressionismo.
Uma trama policial que envolve principalmente os adultos, mas que inevitavelmente cai na infantilidade várias vezes, porém é uma surpresa agradável para quem gosta de animação com estilo, e claro, gatos!

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O Quadro (Le Tableau)

Um castelo, jardins floridos, uma floresta ameaçadora, esse é o quadro de um pintor que por um motivo misterioso deixa inacabado. Nesse quadro vivem três tipos de personagens: os "Toupin" que são totalmente pintados, os "Pafinis" que faltam algumas cores, e os "Reuf" que são apenas esboços. Os "Toupin" consideram-se superiores e por isso tomam o poder e escravizam os "Pafinis" e os "Reuf". Convencidos de que só o pintor pode restaurar a harmonia ao terminar o quadro, Ramo, Lola e Plume decidem procurá-lo. Ao longo da aventura algumas questões surgem: O que aconteceu com o pintor? Por que ele deixou o quadro inacabado? Por que tem começado a destruir algumas de suas pinturas? Qual será o segredo que o pintor esconde?
"Le Tableau" é um filme belíssimo ao explorar as vertentes da pintura, vemos ao longo da obra vários estilos como o de Picasso, Matisse, Modigliani, Gauguin, entre outros, somos conduzidos por uma narrativa inteligente, mas não complexa, essa animação sossegadamente pode e deve ser vista por crianças. A maneira que aborda as diferenças entre classes, o poder de ser quem somos e construir a si próprios é de uma leveza e encantamento sem tamanho. 
Na trama, Ramo, um "todopintado", fica indignado ao ver sua amada Claire, uma "inacabada" ser rejeitada pelos demais, então juntamente com Lola, uma jovem intrépida, e Plume, um "esboço" mau-humorado, mas dotado de uma generosidade como poucos possuem, seguem em busca das tão queridas respostas. Nesta empreitada eles passam pela floresta negra, considerada perigosa, e avante encontram a saída do quadro. Quando saem, Lola invade um outro quadro, o cenário é a guerra e um doce menino decide acompanhá-la, pois acredita que ali não é o seu lugar.

A partir daí se deparam com vários outros quadros que ganham vida e contam às suas histórias, entre eles uma mulher desnuda e o auto-retrato do pintor que tem papel fundamental na história, onde os ensina que não precisam do pintor para se completarem. Essa descoberta os levam a autossuficiência, a presença do pintor já não importa mais, então pegam todas as bisnagas de tinta e levam para o interior do quadro. Agora todos têm o poder de ser coloridos à sua maneira. As diferenças já não importam mais. Só que para Lola existem muitas perguntas não respondidas, ela quer ir além e encontrar o pintor, apenas vê-lo e saber da sua existência. Enquanto todos alegres comemoram suas novas roupagens, Lola persegue suas dúvidas e termina encontrando o seu criador. Essa cena é dotada de poesia, onde a arte fala por si só.
Jean-François Laguionie nos presenteia com um filme sobre arte e poesia de maneira fabulesca, uma animação como poucas. Original, divertida e filosófica. 

A desigualdade entre classes sociais é uma questão que o filme aborda muito sutilmente, os supremos são os "todospintados" simbolizando os ricos e superiores, que com voz ativa conseguem manter os "inacabados" e os "esboços" como escravos os fazendo crer que a submissão é necessária nesta sociedade. Enquanto os completos ficam no castelo os outros ficam à parte, nos cantos, mas eles tomam consciência e se perguntam o que houve com o pintor, pois não é justo dar mais a uns do que outros, o conceito de criador é quebrado quando se julgam fazedores da sua própria história e se completam por si mesmos.
Em certos momentos até pode parecer uma animação somente de aventura, ou com tons infantis, mas ele carrega simbolismos e mensagens maravilhosas a todos. É imperdível!

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A Solidão dos Números Primos (La Solitudine dei Numeri Primi)

"A Solidão dos Números Primos" (2010) é uma adaptação do livro homônimo de Paolo Giordano, que conta sobre traumas que acontecem na vida de duas crianças, e que os acompanham pro resto da vida, os fazendo sofrer e se martirizar. Ao se conhecerem e trocarem olhares percebem a solidão de cada um, suas diferenças são evidentes e a partir desse momento não mais se desgrudam, fazem um do outro uma espécie de muleta, mas jamais se relacionam de forma amorosa. Alice e Mattia são como números primos: divisíveis apenas por um e por eles mesmos. Desde crianças, lidam com traumas que os tornam indivíduos singulares, isolados da sociedade. Alice quase perdeu a perna em um acidente de esqui, e Mattia negligenciou a irmã gêmea deficiente, recebendo em seguida a notícia de seu desaparecimento. Ao se encontrarem na adolescência, se reconhecem na dor um do outro e desenvolvem um forte laço. Eles crescem e, apesar de levarem vidas paralelas, seus destinos sempre se cruzam
Eles não são adolescentes comuns, e isso não passa despercebido pelos demais, por conta de suas diferenças tanto Alice e Mattia são ridicularizados por seus colegas, Alice em dado momento faz amizade com uma menina popular do colégio, ela lhe ensina como se vestir e chegar nos garotos, por algo inexplicável, ela se interessa justamente por Mattia e o convida para uma festa, só que Mattia não está interessado em criar laços, ele a olha de uma maneira e a trata de outra, mas é nesse ponto que suas vidas se unem, a garota popular apenas queria zombar de Alice e esta consequentemente se sente frustrada, e daí por diante Mattia fica sendo seu porto seguro.

O título é curioso, mas o longa nos explica o sentido dele, matematicamente o número primo é divisível por um e apenas por ele mesmo, o filme nos mostra isso com essas duas pessoas repletas de traumas, que não se encaixam na sociedade, não há afinidades com qualquer outro ser humano, são apenas os dois, por si mesmos.
Sua narrativa não é linear, ela vai e volta no tempo, nos dando pequenos pedaços da vida dos personagens. O passado nos mostra Mattia com sua irmã gêmea que sofre de deficiência mental, da qual ele tem a responsabilidade de cuidar em todos os lugares que vão, e é no aniversário de seu colega de escola que resolve deixá-la sentada em um banco de praça para poder ir só, uma pequena ingenuidade de sua parte, que causou um grande trauma em sua vida, já Alice praticamente é obrigada a esquiar, seu pai a quer como campeã e por isso não há nenhum descanso, e certo dia ela despenca do alto da montanha onde está esquiando, acidente do qual a deixa manca. Indo para a juventude vemos uma Alice magra, mas com brilho no olhar, Mattia continua misterioso e sofre sozinho, até que Alice descobre o acontecido em sua infância, nessa parte vemos dois jovens excêntricos, unidos, mas mesmo assim cada um por si próprio.

Mattia se muda para Alemanha por causa dos estudos, com o tempo Alice se casa, mas a separação não tarda a chegar, interessante notar nessa parte o quanto os dois separados se autoflagelam, ele engorda, ela emagrece extremamente, ele se corta para poder ter alívio e ela se destrói dia após dia. É intenso, é uma dor que vem da alma, cuja solução não existe, é uma solidão compartilhada, portanto, chega um ponto, mais ou menos dez anos depois que ele foi morar fora, que Alice pede para Mattia voltar, e o reencontro é de uma grandeza incalculável, não há palavras que definam ou que expliquem, somente as trocas de olhares têm importância nesse momento, é o minuto que um entende que o outro ainda é o que sempre foi.
Os atores são magníficos, em todas as fases, não há nenhuma quebra de ritmo por conta das mudanças, são todos excelentes. 

É uma história diferente, onde não há final, pois dá a sensação de continuidade, por isso o sentimento de dor é tão elevado, o coração aperta, dá um nó na garganta e quando termina o silêncio predomina, restando somente reflexão de como o amor tem diversos caminhos.
É uma bela adaptação, sem ser pretensiosa e por mais que seja triste não pende para o melodrama barato, a história é completamente natural. No mais, o filme evidencia o vazio que cada um carrega, e que para suportá-lo geralmente nos apoiamos em alguém parecido conosco. 

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Cargo

"Cargo" é um curta-metragem australiano dirigido por Ben Howling e Yolanda Ramke. Em 7 minutos nos é mostrado o amor incondicional de um pai preso no meio de um apocalipse zumbi, esse homem põe em andamento um improvável plano para proteger a preciosa carga que ele carrega: sua pequena filha. E o pior de tudo é que a maior ameaça é ele mesmo.
Em meio a tantas histórias sobre apocalipse zumbi, esse curta surge como um respiro, pois ela é tão humana, tão real, que é difícil não ficar pensando na capacidade e na grandeza de um ser humano, principalmente em casos de desespero. Zumbi é um tema que se tornou pop e o assunto ficou saturado por conta de outras coisas menos interessantes que aparecem. Mas, esta é uma simples ideia, um olhar mais diferenciado no tema, realmente conseguiram surpreender, o curta aborda o lado mais dramático, sem colocar os zumbis em foco, mas apenas como uma história de fundo.

Vale a pena assisti-lo, tenso e emocionante, é uma bela amostra de que com pouco se faz muito. 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Memórias de Minhas Putas Tristes (Memoria de Mis Putas Tristes)

Baseado no livro homônimo de Gabriel García Márquez, o filme conseguiu captar a essência de sua escrita tão genial. O que é uma grande responsabilidade, pois falar de tal assunto sem ser polêmico é algo que está apenas nas mãos desse escritor que foge de qualquer padrão criado. El Sábio é um senhor prestes a completar noventa anos. De presente, a única coisa que ele deseja é uma mulher virgem. Depois de passar a vida inteira praticamente em bordéis, só indo para cama com mulheres que pagou, El Sábio resolveu tentar algo novo. O que era para ser apenas um presente e a primeira vez dela, se transforma na primeira vez dele: a primeira vez com o amor. Ouvimos muito dizer que para o amor não existe idade, e como disse El Sabio, deveríamos contar nossa idade pelos anos que ainda gostaríamos de viver. A mentalidade da pessoa conta muito para que isso aconteça.
El Sabio desde pequeno frequentou o mesmo bordel, perdeu muito cedo a sua inocência e desde então só se relacionou com as mulheres pagando, nunca casou, nunca conheceu o amor e nunca tinha se despertado e pensado se realmente queria que isso acontecesse. Vemos um senhor muito inteligente, galante e egoísta, pois até de sua "empregada" usou e abusou, esta que revelou ser apaixonada por ele. Quando pede a menina virgem para a velha dona do bordel, apenas deseja ter seu presente, mas simbolicamente este pedido faz muito sentido a ele, porque a pureza já era algo esquecido e praticamente nunca a conheceu, a menina era a personificação daquela ingenuidade, da qual as mulheres do prostíbulo não podiam dar. A garota aceitou se entregar ao homem, pois ganhava muito pouco numa fábrica pregando botões. El Sabio jornalista a quase um século, de repente começa a publicar em sua coluna cartas de amor, dirigidas a garota que carinhosamente chamava de "Delgadina". Entre encontros mal sucedidos, eis que ela acaba por se apaixonar pelo homem de 90 anos, e ele por sua vez, via na inocência dela sua descoberta para o amor.

O personagem El Sabio foi construído de forma muito bem feita pelo ator Emilio Echevarría, porque do contrário poderia simplesmente passar uma imagem de um velho safado atrás de uma menina que nem desabrochou ainda. Muito nostálgico, somos levados a diversos flashbacks dos quais mostram as suas idas ao bordel, e o como as mulheres gostavam dele, algumas nem queria que pagasse, mas ele nunca permitia isso. Vemos também um pouco da sua infância e a relação com sua mãe, e o como seus olhinhos exprimiam muito amor, sua mãe desejava que ele se casasse, mas isso não aconteceu, até teve uma tentativa, que quase resultou na sua morte. Assim se deu a sua vida inteira, até que Delgadina mudou algo dentro dele. Pela primeira vez El Sabio faria sexo com amor, ele não poderia morrer sem o fazê-lo.
O filme é recheado de citações maravilhosas, como: "O sexo é o consolo para aquele que ainda não conheceu o amor", a pura verdade, já que quando nos envolvemos com alguém, um simples olhar, um toque, nos preenche. Quando estamos solitários e sem amar, o sexo é um meio de preenchimento, mas sempre acaba faltando alguma coisa, e o velho Sabio percebeu isso e nos mostra que nunca é tarde para amar e que idade não é empecilho. O amor é muito mais, ele abrange algo que está fora do nosso alcance.

Um ponto interessante em alguns momentos do filme é quando retrata a ideia de que o idoso não serve mais para nada, muito menos para a sociedade. Isso se dá quando ele ganha um gato já velho, e quando lhe dizem que por estar velho é melhor que sacrifiquem o animal, ele se dói, pois sua condição não é muito diferente. Então a solução de quando se está velho é simplesmente descartar, jogar fora, ou morrer de uma vez?
E é numa relação um tanto quanto pitoresca, que mostra que para começar, basta querer e estar vivo. O resto são apenas detalhes.
"Memórias de Minhas Putas Tristes" tem um clima saudosista, não chega emocionar, e é até de se estranhar, mas conforme desenrola entendemos aonde a história quer chegar. Para quem leu o livro é uma boa recomendação, o filme dá o tom exato, mas nem chega perto do sentimento que o livro causa. No mais é uma boa adaptação. 

Não há adjetivos que classifiquem Gabriel García Márquez, mas com certeza ele foi um dos últimos escritores a merecer a alcunha de "Grande". Deixo a dica (em homenagem) do filme que é uma bela adaptação e da qual consegue abranger um pouco do universo literário de "Gabo". "Memórias de Minhas Putas Tristes" foi seu último romance escrito.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Sebastian's Voodoo

O que mais encanta nos curtas é a capacidade que alguns realizadores possuem em dar características puramente humanas a seres inanimados. Quanto mais distante da realidade, quanto mais impossível, quanto mais diegético for o trabalho do filme, maior efeito terá sobre a mentalidade do espectador. Em algumas animações da Pixar, da Escola de Gobelins e do Estúdio Ghibli, encontramos personagens com essas qualidades, que além da dificuldade óbvia de ganhar vida na tela, alcançam um resultado além do simples entretenimento. Nesse macabro filme de Joaquin Baldwin, temos um bom exemplo dessas características humanas inseridas de modo emotivo a seres inanimados, e impossíveis: alguns bonecos de vodu. 
Poucos temas são envoltos por tanto mistério como o vodu, a curiosidade com seus materiais primitivos e seus simbolismos ocultos. O que torna tudo real e nos toca não é apenas a respiração ofegante dos bonecos esperando o seu fim trágico e doloroso. O drama do sacrifício humano, e o final extremamente sombrio acompanhado da atmosfera de todo o filme é algo para não se esquecer.

É uma pequena crônica sem muita reviravolta ou virtuosismo, mas o pouco que mostra é absolutamente genial. Uma pérola da animação. Sebastian's Voodoo é do diretor paraguaio Joaquin Baldwin, que faz uma analogia a vários ditados populares como, "Aqui se faz, Aqui se paga", entre tantos conhecidos nesse estilo. Essa animação garantiu ao diretor mais de 40 prêmios.

A força da mensagem passada nos deixa paralisados, com certeza um curta animado inesquecível!!

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Attenberg

"Attenberg" está longe de ser um filme comum, mas isso deve ser um aspecto do cinema grego. O modo como desenvolvem a história, o jeito de filmar com longos planos sem diálogos, e cenas desconexas são algumas das características.
O longa é sobre Marina, uma moça de 23 anos que mais parece uma criança, ela vive num mundo totalmente fechado, entre a melhor amiga Bella que é bem saidinha, e seu pai Spyros que está prestes a morrer por conta de um câncer. Sua vida se resume entre um emprego medíocre de motorista, cuidar de seu pai, trocar beijos com sua amiga, a única experiência que ela tem, já que repudia qualquer contato físico, e assistir os documentários sobre animais selvagens de Richard Attenborough, inclusive ela vive imitando esses animais junto com o pai e a amiga. Ela evita se tornar adulta, e não é para menos, a visão do futuro a assusta.
A história se desenvolve exatamente assim, vemos logo no início Bella ensinando Marina a beijar e comentando sobre, depois acompanhamos as idas ao hospital com seu pai e as exibições de passos de dança que Marina e Bella representam do nada. Nesse meio tempo, Marina conhece um engenheiro interpretado por Yorgos Lanthimos (diretor de Dente Canino) do qual ela se sente atraída e aos poucos desenvolve um romance nada comum, mas interessante, deixando que seu corpo sinta as experiências e assim descobrindo do que realmente gosta. Um fator curioso é o como a morte é exposta, friamente encarada por Marina, já que ela não vive a realidade. Seu pai ainda vivo e ela tendo que tomar decisões, como o caixão que vai comprar, o tipo de serviço funerário que vai preferir, isso tudo causa uma sensação incômoda. Com o desejo de ser cremado Spyros tem que ser transportado para Hamburgo, na Alemanha, já que esse serviço está fora dos padrões da sociedade grega. O fio de sentimento que Marina esbanja é quando vê o como se é tratado depois da morte, tudo muito burocrático e sem um pingo de respeito pelo próximo.

Nada é explícito, o mal-estar por tudo que está acontecendo se esconde nas entrelinhas da trama. O nome do filme vem da má pronunciação do nome Attenborough (o cara do programa de animais selvagens), um simbolismo em meio a tantos outros. Sem dúvida uma obra artística e experimental, cujos apreciadores de cinema arte adorarão. A diretora Athina Rachel Tsangari nos dá uma pequena amostra de como o ser humano se comporta feito animais, como em certos momentos que ativamos o nosso instinto e seguimos em frente, também relação ao sexo, a morte, a comida, enfim... O longa não nos puxa para dentro, não sentimos o que os personagens nos querem passar, até porque eles, principalmente Marina não sabe e não desenvolveu suas emoções ainda, temos apenas uma pequena chance de observá-los, mas como animais fechados em seus mundinhos e reagindo conforme as coisas acontecem. O clima é distante, mas não totalmente frio, às vezes a ternura aparece, mesmo que tímida.
Há críticas dizendo que é uma obra presunçosa, um filme feito para os próprios realizadores, mas há filmes que vêm exatamente para confundir e apenas sugerir formas, visões e não necessariamente expor uma obviedade. "Attenberg" mostra seres humanos que lidam com a dificuldade de enfrentar a morte, a descoberta sexual, e se infiltrar dentro de uma sociedade padrão, cujas responsabilidades só aumentam. É difícil percorrer o caminho que este longa oferece, talvez as cenas que julgamos desconexas são as que mais querem dizer algo. A dificuldade em decidir se gostou ou não surge porque tentamos entender todo o contexto que por vezes é bem abstrato, e isso nos dá um certo desconforto, assim gerando a estranheza.

A imagem contemporânea da Grécia é mais ligada a crise econômica do que a cultura clássica, muitos críticos enxergaram na tortuosa narrativa nada mais do que uma metáfora da instabilidade do país. É uma solução possível, embora fácil demais. O roteiro não insiste nos fatores sociais, nem na política ou na economia, ele se fecha em sua protagonista de maneira intimista e individual. "Attenberg" tem uma estética inovadora, o universo colocado em pauta é pequeno, o que dificulta achar razões e respostas. 
É um filme inusitado e original, para quem gosta de se aventurar pelo cinema mundo afora é uma boa experimentação.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Treme

"Treme" é uma série da HBO criada por David Simon e Eric Overmyer, mesma dupla responsável pela série "The Wire". A trama chama a atenção por usar elementos como o drama e a alegria gerada pelo jazz e pelo blues na mesma medida. A história é sobre um grupo de moradores de New Orleans que vive no distrito chamado Treme. Eles lutam para reconstruir suas vidas e a cidade após ela ter sido destruída pelo furacão Katrina. Mesclando situações de melancolia, revolta e depressão a série deverá fazer um balanço das vidas destas pessoas em meio a questões sociais, políticas e culturais. A história da própria cidade deverá servir de metáfora para a situação econômica que o país, e o mundo, atravessam. O drama explora a reconstrução da cidade assim como os efeitos físicos e psicológicos da tragédia ocorrida em 2005. Berço do jazz norte-americano e do Mardi Gras, sua famosa festa de Carnaval, New Orleans é retratada com toda sua riqueza cultural em "Treme". Diversos músicos participam do elenco da série, interpretando a si mesmos - entre eles estão Lance Ellis, Mario Abney, Wanda Rouzan, John Boutté (responsável pelo tema de abertura da série), Thaddeus Richard, Tim Green, Kermit Ruffins, Glen David Andrews, Coco Robicheaux e Elvis Costello. Em meio ao drama dos personagens, se ouve muito jazz e blues, a série também mostra locais famosos da cidade com seus bares, casas noturnas e restaurantes. Sem dúvida é uma série para quem curte musica de qualidade, é um deleite para os nossos ouvidos e se pudesse defini-la somente com uma palavra seria: Contagiante. Pois é, mesmo mostrando as consequências de um desastre, a série prima em evidenciar a força de uma comunidade em reconstruir suas casas e suas vidas, e para isso utilizam o que eles têm de melhor, a música. As pessoas respiram jazz, é um ritmo que pulsa, que emociona e fazem as pessoas terem ânimo para continuar e ainda cultivar a esperança.

"Treme" mostra o quanto a união de uma comunidade pode fazer pelo lugar que você mora, com amor e respeito à sua cultura, é uma lição de como viver em sociedade e fazer dos demais seus amigos e aliados, a destruição se torna mais amena quando se tem com quem compartilhar e contar, saber que se pedir ajuda a seu vizinho, ele não negará. É cidadania pura! A mensagem mais especial que a série passa é que desistir é pior que morrer, e para aquele povo que carrega no sangue a força e o espírito alegre, se torna algo muito lindo de se ver. Mesmo envolto em escombros eles têm orgulho do lugar em que vivem, respeitam sua cultura e principalmente a enaltecem diante a este desastre. A grande personagem é a música, seja em qualquer situação ela está presente. Há aqueles que negam sua origem, que saíram para ganhar a vida, como o filho de um músico que jamais deixará suas tradições. Há muitos personagens interessantes, um deles é Creighton Bernette (John Goodman), um professor e escritor em crise, inconformado com a situação de abandono da cidade e com a preocupação hipócrita do resto do país. Apaixonado pela história e pela cultura local, Creighton descobre no YouTube uma boa ferramenta para divulgar suas ideologias e acaba se tornando o porta-voz de New Orleans na internet.

De ótima qualidade "Treme" nos presenteia com uma trilha sonora magistral. Excelente e mais uma vez digo, é super contagiante. Infelizmente "Treme" mesmo sendo uma série linda, foi ignorada pelo grande público, e sabe-se que séries com pouca audiência se sustentam com prêmios, coisa que não aconteceu. Ainda não há previsão sobre a quarta e última temporada, mas será bem reduzida devido ao baixo orçamento. O que me faz pensar que as pessoas não sabem o que é bom verdadeiramente.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A Estranha Vida de Timothy Green (The Odd Life of Timothy)

"A Estranha Vida de Timothy Green" é uma grata surpresa, jurava que iria ser mais um clichê fabulesco da Disney, mas é totalmente o contrário disso, ele é encantador na medida certa e vem com uma boa mensagem ao mundo dos adultos. Devo confessar que Jennifer Garner nunca foi uma atriz que eu gostasse, suas caras e bocas nos filmes de comédia romântica são bem conhecidas, mas nesse ela avançou no drama, e bem naquele momento em que a mulher sente a necessidade de ser mãe. E é aí que entra o problema. 
Cindy (Jennifer Garner) e Jim Green (Joel Edgerton), é um casal feliz, moradores de uma pequena cidade do interior, cuja principal fonte de trabalho da população é uma fábrica de lápis. Por muito tempo vieram tentando ter um filho, porém, sem sucesso. Após uma visita frustrada ao médico que cessou todas as esperanças de que um dia Cindy engravidasse, o casal resolve, depositar em uma caixinha todas as qualidades de que seu filho tivesse, e depois enterraram no quintal, logo o desejo se realiza e nasce Timothy Green. Timothy todo sujo de lama aparece e diz ser filho de Cindy e Jim, vendo que o garoto possuía folhas nas pernas os dois ficaram deslumbrados com o acontecido. Daí por diante ele é exposto aos familiares e amigos como fruto de uma adoção repentina, com medo dele se tornar uma criança esquisita por causa do seu diferencial: as folhas, decidem que ele use meias até os joelhos seja em qual for a situação.
Timothy foi moldado pelos desejos de seus pais, as folhinhas em seus tornozelos caracteriza cada um deles. Ele é honesto, tem habilidades com a pintura, senso de humor, é amável, só não é muito bom com o futebol, e isso o filme explora de forma graciosa. Aliás Cameron 'CJ' Adams que interpreta o garotinho, é de uma delicadeza apaixonante, ele ensina aos adultos sutilmente a cada cena e a cada folhinha que cai.
A magia do filme coube perfeitamente, sem mais nem menos, é no ponto exato para nos emocionarmos sem parecermos ridículos ou manipulados por um drama barato. A história é sincera apesar de mágica, pois é o retrato dos pais que depositam todos os seus sonhos nos filhos, os imaginam de uma forma e querem que sejam aquilo que pensaram. Aqueles pais que querem mostrar aos seus amigos e familiares todas as habilidades do filho, seja em qualquer aspecto, na escola, no esporte, na música, na faculdade, num emprego. Enfim, é normal os pais terem ilusões com os filhos, mas é bom lembrar que cada um tem a sua personalidade, pressão demais acaba frustando, e mais tarde essa criança tão pressionada e reprimida acaba se tornando um ser humano triste, vazio e com medo de ser quem ele é realmente. Timothy ensina que o amor é o que dá a grande impulsão para a vida.

Os desejos vem de forma natural, as habilidades aparecem, e para isso é necessário que o próprio descubra e não os pais com suas obsessões. Outra questão abordada é a adoção, e o quanto esse ato é bonito, pois adotar é aceitar um ser humano novo que não tem características genéticas iguais das pessoas que o adotaram, porém nada como o amor e o tempo de convivência para tudo acontecer. Muitos casais optam pela adoção como última alternativa e mesmo assim sempre procuram por crianças com características parecidas com as deles.
Cometer erros faz parte de ser pai e mãe. A frase que permeia o filme: "Cometemos erros, tentando consertar erros. Não é isso que os pais fazem?". É bem isso, é normal criar expectativas e cobrar demais dos filhos, mas é importante dar liberdade de escolha, dar espaço para que eles consigam se definir, encontrar seu dom e a sua própria maneira de existir. 

O filme é recheado de cenas visualmente deslumbrantes, Timothy, o garoto planta, por ter essa ligação extrema com a natureza, diversas vezes abre os braços em direção à luz do sol para receber a energia, e esse é um dos motivos de o acharem estranho.
Timothy chega e muda a vida das pessoas, mesmo que por pouco tempo. É um filme divertido, delicado e que lembra aos adultos que não existe uma fórmula para criar um filho, ou uma para fabricá-los, aceitar faz parte da condição de ser pai e mãe, assim como também orientá-los é o caminho, mas as escolhas são os próprios que fazem. 
Vale a pena conferir "A Estranha Vida de Timothy Green" e dar mais leveza as opiniões já tão formadas sobre adoção, filhos superprotegidos, expectativas, personalidade, caminhos e a natureza de ser único.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Pieta

"Pieta" (2012) dirigido pelo mestre Kim Ki-Duk faz alusão à escultura mais conhecida de Michelangelo, onde Jesus morto está nos braços da Virgem Maria. O diretor, conhecido por seus filmes em que o silêncio é o grande protagonista, nos traz dessa vez uma história cruel, de vingança, em que o filho é o alvo principal.
Gang-Do é um jovem solitário e que vive uma rotina violenta, trabalha para agiotas, onde é designado a deixar as pessoas que emprestaram dinheiro e não pagaram aleijadas, é conhecido como "açougueiro". O resto de seu dia é marcado por sujeira, comida e masturbação. Até que do nada aparece uma mulher que diz ser sua mãe, essa senhora passa a segui-lo, apesar de ser agressivo no início, sua carência maternal acaba falando mais alto, aos poucos afeiçoa-se, e ela acaba fazendo parte de seu dia a dia. A vingança passa a atormentá-lo, pois agora tem com quem se preocupar, as atrocidades que comete com os outros passa a ser pensadas, e o receio de que se vinguem de sua mãe aparece. Só que na verdade, a vingança parte da mãe dele, em fazê-lo se apegar a ela, a se importar, para no fim fazê-lo sentir dor. É o processo de humanização do personagem. A mãe guarda um segredo e uma dor infindável, da qual só será sanada se concretizar sua vingança. Ela o faz sentir carinho, a protegê-la, para depois tirar da forma mais cruel e dessa maneira ele cai na real de seus atos e se torna "humano", seus sentimentos são resgatados, e a dor traz a sua redenção. Só que conviver com a dor talvez seja algo impossível para Gang-Do.
É um filme que induz a sentimentos fortes, o protagonista que no início esbanja frieza e distanciamento, acaba exibindo seu ponto fraco, pois sozinho não tinha aonde depositar seus desejos e sentimentos, quando a mulher que diz ser sua mãe aparece, conquista-o justamente neste ponto, que sempre foi um vazio em sua vida, e desta forma ela o preenche, e agora ele consegue sentir e expor amor. Ela faz com que ele cada vez mais sinta profundamente, pois a pancada final terá que ser certeira para que entre em si mesmo e perceba o mal que causou não só a ela, mas as pessoas das quais ele tirou as possibilidades de uma vida melhor.

Kim Ki-Duk sempre coloca em pauta a redenção, o ser humano reintegrando-se, buscando a si mesmo, em seus filmes anteriores o silêncio é o ponto forte e esbanjam poesia, diferente deste que não poupa violência física e psicológica. É cruel e dolorido.
Seus filmes merecem ser vistos, tira-se grandes mensagens e entendimentos, ele coloca à prova grandes questões que permeiam a nossa vida. "Pieta" não é agradável, mas a podridão humana existe e não pode ser escondida, a vingança é tratada da forma mais amarga possível.
A câmera foca na dor exprimida tanto na mãe como de Gang-Do, suas frustrações e carências são marcadas por expressões bem delineadas. O processo de vingança traz mudanças inacreditáveis nele, e a decisão tomada se faz crucial.

Há também a crítica ao capitalismo extremo, e que o dinheiro é o principal valor na vida de um ser humano, onde ele dita as regras sem se importar quais serão as consequências. E se impõe sobre valores e sentimentos.
"Pieta" tem recebido duras críticas, chamado de filme pretensioso, e que Kim Ki-Duk talvez tenha errado a mão. Não é o seu melhor filme, talvez eu ainda continue preferindo seus longas sensoriais em que o silêncio diz muito, mas "Pieta" não passa despercebido e tão pouco é ruim, é uma obra que merece respeito, mesmo não agradando a todos.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Vivendo / Living / Zhit

"Zhit" (2012) trata do assunto morte de uma forma fria para quem o assiste, mas mesmo assim é impossível não se colocar no lugar daquelas pessoas, diariamente somos bombardeados com notícias de mortes e perdas irreparáveis para as famílias. E então como lidar com a morte de uma pessoa querida, aquela que está dia após dia ao seu lado, sua companhia, sua alegria, seu porto seguro? A resposta não existe, é só o tempo que cicatriza, apesar de não apagar essa dor, é apenas vivendo, assim como o título sugerem, que as coisas se amenizam e recuperamos uma parte da força que foi-se junto com a pessoa amada.
O filme conta três histórias, todas elas marcadas por perdas. Na primeira, Galya é mãe de duas meninas gêmeas, que por se tornar alcoólatra depois da morte do marido, acabou perdendo a guarda das filhas. Com muita força de vontade ela tenta recuperar as meninas de volta provando que está apta para isso, porém a vida guarda surpresas das quais muitas vezes são inevitáveis, no caminho as duas garotas morrem em um acidente, a mãe por sua vez nega que elas morreram, e essa situação cada vez mais agravante só tende a piorar. É desolador. Na segunda história acompanhamos um menino que subitamente perde o pai do qual não via, sua mãe contou sobre a morte e depois disso começa a fantasiar uma história dentro de sua cabeça. E por fim, vemos um casal jovem, Grishka e Anton, que após se casarem e ao voltar para casa de trem, Anton é assaltado e espancado, a partir desse ocorrido, Grishka começa a se perguntar qual é a diferença em estar viva ou morta naquele momento, pois sem forças, ela parece estar morta também.
O longa russo é deveras muito melancólico e carregado, a atmosfera fria contribui demais para o sentimento de devastação interior. A trilha sonora bate incansavelmente, assim como a dor em cada um dos personagens que não cessa. Não há outra alternativa a não ser viver, não tem como mensurar a dor, explicá-la ou saná-la, só vivendo e esperar que o tempo ajude entender. O luto pode ser sentido de diversas maneiras, ele pode vir em forma de desespero, revolta, tristeza profunda ou negação.
De forma honesta Vasily Sigarev nos coloca de frente a uma situação da qual evitamos pensar, para quem já passou pela dor da perda irá se ver nos personagens. A aceitação é o último estágio do luto e para isso requer tempo.

É um filme imensamente bonito, os atores se entregaram de forma intensa a suas emoções retratando nada mais que a realidade.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Tudo Ficará Bem (Alting Bliver Godt Igen)

"Tudo Ficará Bem" ou "Tudo Vai Dar Certo" (2010) é um filme dinamarquês dirigido e roteirizado por Christoffer Boe. Não é fácil entendê-lo, já que há muitas quebras, as peças vão se encaixar apenas nos 10 min finais, mas para isso é preciso ficar atento a todos os detalhes até então. Não dá pra defini-lo num único gênero, mescla thriller, suspense e lá pelo final o drama. O roteiro é muito intricado, nos faz pensar e maquinar bastante sobre todas as hipóteses do que está acontecendo. Jacob Falk (Jens Albinus) sempre fica obcecado pelas suas histórias, ele está sendo pressionado pelo seu produtor a entregar um roteiro num prazo curto, além disso sua mulher, Helena (Marijana Jankovic), o encurrala para aprontar os documentos necessários para a adoção de um filho.
Estressado Jacob em uma noite acaba atropelando um homem, que vem a saber depois se chamar Ali (Igor Radosavljevic), este pede a Jacob que leve sua bolsa. No caminho ele liga para a polícia informando o acidente e para a ambulância. Quando abre a bolsa, Jacob descobre fotos de prisioneiros de guerra sendo torturados por soldados dinamarqueses. Ao tentar fazer algo com essas fotos, se vê envolto numa rede de paranoia e possíveis conspirações que podem se mostrar muito perigosas, tanto para ele quanto para sua esposa. Jacob mergulha numa trama internacional, ele tem nas mãos provas de crimes de guerra e então passa a querer reencontrar Ali; vai até a polícia, que lhe informa que a chamada foi feita, mas ao chegar ao local não havia corpo nenhum. Jacob começa a desconfiar de todos, mostra as fotos para a sua irmã que lhe indica um jornalista que o poderá ajudar, este o leva a um soldado que chegou recentemente da guerra, mas ele diz que não havia nenhum Ali lá. Depois disso Jacob acredita que todos estão sendo pagos para não dizer absolutamente nada, acaba se enfurecendo e se tornando histérico. A paranoia é tanta que chega um ponto em que não entendemos bulhufas do que está acontecendo, mérito do ator que exprime com precisão a sua obsessão e confusão, do ritmo que se torna eletrizante e do roteiro brilhante.

"Tudo Ficará Bem" é um filme que sabe criar a ilusão perfeitamente, nos envolve na trama, mergulhamos em cada cena a fim de descobrir, mas quando achamos que irá por um lado, aí o filme dá uma bela reviravolta com um flashback. As respostas não são dadas de bandeja, é necessário fazer conexões. Realidade e imaginação se fundem e chega um momento que não dá para definir, essa linha se perde, assim como a mente do protagonista. Fiquei vidrada na cena em que Jacob invade a casa de um "funcionário do governo" e o ameaça. Nesta parte as coisas começam a clarear. A cena acima, por exemplo, é a do tal funcionário torturando a namorada de Ali para que ela diga onde ele se encontra. Bem convincente!

O filme dinamarquês tem uma pegada americana, vide o poster que se assemelha muito ao "The American" - 2010, mas acaba tendo características bem próprias e até peculiares em seu desenrolar, além da abertura sensacional feita de maquetes. A narrativa não é linear, mas não cansa em momento algum, pois é como se sentíssemos necessidade de montar esse quebra-cabeça que mistura realidade e ilusão.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Depois do Casamento (Efter Brylluppet)

"Depois do Casamento" (2006) é dirigido e roteirizado por Susanne Bier, que ficou conhecida pelo filme "Brodre" (2004), do qual ganhou um remake americano chamado "Entre Irmãos" (2009), e também pelo "Hævnen" (2010) que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2011. Seus filmes são dramas densos cheios de conflitos pessoais, mas de maneira alguma cai num melodrama sensacionalista.
A trama deste nos conta a história de Jacob Petersen (Mads Mikkelsen), que luta para manter em funcionamento um orfanato localizado numa das regiões mais pobres da Índia. A instituição corre o risco de fechar, até que Jacob é chamado de volta à Dinamarca para falar com Jorgen (Rolf Lassgard), um rico empresário, que deseja fazer uma doação para o local. É difícil para Jacob voltar e deixar suas crianças, principalmente Pramod, que cria desde bebê, mas não pode perder a oportunidade de conseguir melhorar a situação do lugar. Esse aspecto sócio-político com que o filme começa nos fisga de cara, mas a história nos surpreende ao colocar o foco em outro ponto que se desenvolve a partir disso.
A maior sacada é que com toda essa apresentação de personagens nós automaticamente os estereotipamos e os julgamos. Por exemplo: Jacob é uma pessoa bondosa com ideais que ajuda os mais pobres, e Jorgen, o empresário bilionário, um ser egoísta e ambicioso. Fazemos isso com todos os outros personagens, pois as diferenças são drásticas, enquanto na Índia a pobreza é latente, o visual é colorido e bagunçado, na Dinamarca o universo de riqueza predomina e o ambiente é clean. Tudo isso é de propósito, mais tarde nos damos conta do quanto somos condicionados a julgar sem conhecer. Não considero spoiler contar o que vem a seguir porque acontece super rápido, Jacob é convidado por Jorgen a ir ao casamento de sua filha, ele pressionado pela situação de conseguir o dinheiro para o orfanato decide ir, já que o empresário resolverá os trâmites só depois do casamento. Jorgen tem uma família perfeita, é um pai devotado, marido carinhoso e um empresário que sempre esboça atitude. No casamento percebemos que Jacob conhece a mulher de Jorgen, os olhares entre eles revelam isso, aliás os olhares são evidenciados o tempo todo. Uma revelação acontece, a noiva agradece a família e principalmente ao pai que mesmo não sendo legítimo a criou maravilhosamente. A tensão toma conta e Jacob não demora para entender que ela é sua filha.
Aos poucos vamos conhecendo mais profundamente os personagens, e o que pensamos ser não é, as aparências enganam e muito. Há cenas exacerbadamente emocionais, os personagens são mostrados em closes extremos, olhares tristes, desesperados e ansiosos.

É um filme honesto em que mostra que errar faz parte da vida, seja por imaturidade ou escolhas próprias que acabam atingindo alguém próximo, mas estes erros podem ser corrigidos e redimidos se houver uma oportunidade.
Dentre todas as cenas destaco a de Jorgen lá pelo final do filme, é dilacerante. Mads Mikkelsen é perfeito atuando (como sempre), mas quem rouba a cena é Rolf Lassgard, acredito que pela situação e o posicionamento dele em relação a tudo.
É um filme que vai crescendo, os personagens vão se descaracterizando e inevitavelmente as emoções vêm à tona. É mais um belo exemplar de como Susanne Bier sabe construir dramas com conflitos intensos sem parecer uma novela melodramática.