sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Elena

O diretor russo Andrei Zvyagintsev nos conta a história de Elena e Vladimir, um casal que se conheceu tardiamente na vida, mas que mesmo assim sustenta um relacionamento sólido. Vladimir é um homem rico que trabalhou para ser quem é, já Elena é uma mulher modesta e dócil. Sergey, filho de Elena, está desempregado, incapaz de sustentar sua família vive pedindo dinheiro para sua mãe. Do outro lado, a filha de Vladimir é uma jovem despreocupada e tem uma relação ausente com seu pai. Certo dia Vladimir sofre um ataque cardíaco, é internado e aí percebe que tem pouco tempo de vida. Em um breve encontro com sua filha decide deixar tudo o que tem para ela, sendo sua única e legitima herdeira. Vladimir tinha se recusado a ajudar a família de sua esposa, julgando-os folgados, e com a decisão do testamento as esperanças de Elena acabaram de vez, mas aí ela elabora um plano para poder dar um rumo diferente à sua família. Antes uma dona de casa terna e submissa, agora age de forma ardilosa para dar uma oportunidade de melhorar a vida de seus familiares.
Elena é um drama contemporâneo, vemos constantemente histórias de pessoas que se dão bem em cima dos bens alheios, inicialmente ela não aparentava ser uma pessoa de caráter duvidoso, apenas ajudava sua família, da qual em nenhum momento sentimos pena, mas sim repulsa, são seres estagnados, esperando que algo caia do céu, o pai da família sempre sentado abrindo e fechando a geladeira, com o tédio estampado em seu rosto. Uma família que não para de crescer, o que faz pensar que eles sabem apenas procriar e entulhar o mundo de pessoas que não querem se esforçar, que não se dedicam, assim restando apenas a marginalidade, pois não há educação devida, criação, amor, valores, etc.
São muitas as questões que vem à tona, será que o fim justifica os meios? Será que Sergey, filho de Elena mereceu o que ela fez por ele? Ou o pensamento de Vladimir em não ajudar a família de Elena era o mais correto? A minha opinião é que Vladimir poderia dar algum tipo de assistência a família dela, mas não da forma como estava sendo, vivendo às custas do dinheiro do qual ele conseguiu trabalhando a vida toda. Há um quê de comunismo/capitalismo, já que se trata de um filme russo, mas independente disso, é uma história que acontece em qualquer lugar do mundo. O final deixa explicito de que caminhamos para o abismo, onde a índole do ser humano é cada vez mais duvidosa e sinuosa, onde se alastram pessoas que querem se dar bem sem se mexer do lugar, apenas possuindo o que é do outro.

O filme expressa o vazio, o modo como a câmera focaliza os ambientes nos gera certas impressões, como a cena do bebê no final do filme, que mostra que ele irá pelo mesmo caminho que os outros, é um tipo de desesperança em relação ao futuro da humanidade. E quando vemos a família de Elena na casa de Vladimir é impossível não se sentir desconfortável e até sentir vergonha daquelas pessoas. Elena acha que fez o bem, mas na verdade estava disseminando um mal. São valores jogados diretamente na nossa cara, até onde as pessoas vão para conseguir algo que julgam como certo?
"Elena" é o retrato de uma sociedade acomodada e frágil diante as circunstâncias da vida.

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