segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
Os Famosos e os Duendes da Morte
"Os Famosos e os Duendes da Morte" é um filme nacional de 2009, infelizmente não passeou pelo circuito comercial, apenas pelos festivais sendo bem elogiado, inclusive ganhou o prêmio máximo do festival do Rio de Janeiro na época. Baseado na obra homônima de Ismael Caneppele, que também assina o roteiro e interpreta o homem misterioso do filme, e dirigido por Esmir Filho, diretor de curtas, como o hit "Tapa na Pantera". O longa é no mínimo peculiar, por assim dizer.
A trama é ambientada numa pequena cidade do Rio Grande do Sul colonizada por alemães, lá vive um adolescente solitário, melancólico e fã de Bob Dylan, ele passa o tempo na Internet vendo os vídeos de uma garota misteriosa e um homem parecido com Dylan enquanto a vida ao seu redor vai passando. Seu maior sonho é assistir um show de Dylan. As coisas passam a fazer sentido quando descobre que as pessoas nos vídeos na verdade não estão tão distantes assim da cidade de onde vive. Nessa cidade existe uma ponte que assombra as pessoas da região, ela é um obstáculo corriqueiro na vida dos moradores. O garoto sem nome usa o apelido de Mr. Tambourine Man, mesmo nome da música de Dylan.
Retratar o universo adolescente, captar a essência dessa fase é muito difícil, muitos filmes tentam, mas de forma superficial, neste ao contrário podemos sentir todo o drama de autoconhecimento, do estar em um lugar que não lhe pertence, um estrangeiro em sua própria terra. É possível adentrar nos sonhos e pesadelos deste garoto, seu silêncio, seus olhares, seu vazio interior, tudo é exposto a nós. Ele tenta lidar com a morte do pai, o relacionamento oscilante com a mãe e as poucas amizades, a internet é a única presença em sua vida, dado momento ele escreve em seu blog: "Estar presente não é físico". Essa frase exemplifica bem o universo daquele garoto. O lugar em que vive é designado por ele mesmo como "um bando de colonos", e esse lugar vai ficando pequeno diante o seu desenvolvimento, então ele se encolhe, se torna um alguém solitário e alheio as festividades da cidade. O filme não tem o intuito de explicar, tudo é muito subjetivo. A figura misteriosa que se assemelha ao Dylan retorna à cidade depois de um acontecimento trágico, e isso traz ao garoto novas descobertas.
A fotografia é de encher os olhos e a trilha sonora composta por Nelo Johann é espetacular, deveras um filme nacional bem diferente e ousado. Os personagens são densos, especialmente o protagonista, que tem uma tendência suicida, porém o entendimento é difícil, a mim pareceu que Jingle-Jangle, a garota da internet, era irmã de seu único amigo, e que o homem misterioso pulou com ela da ponte, mas sobreviveu, e então depois de um tempo regressou a cidade trazendo lembranças das quais Mr. Tambourine Man pegou para si. Há momentos em que o filme se torna uma viagem, pois não dá pra saber se o que vemos é real, virtual, imaginação ou lembranças.
Gostei da naturalidade dos personagens, o sotaque e o aspecto regionalista, não é um filme fácil de digerir, como disse é repleto de subjetividades, mas interessantíssimo em todo seu contexto. Aborda o tema inadaptação na adolescência de uma forma completamente diferente da que estamos acostumados a ver no cinema brasileiro.
Encontrar filmes como "Os Famosos e os Duendes da Morte" é um enorme respiro para quem gosta de cinema nacional.
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