domingo, 29 de dezembro de 2013
As Palavras (The Words)
"As Palavras" é um filme sensível que aborda o quanto as escolhas feitas podem tanto nos destruir como beneficiar. "Todos nós fazemos escolhas, difícil é conviver com elas", é exatamente nesse ponto que o longa toca.
Rory Jansen (Bradley Cooper - "O Lado bom da Vida") é casado com Dora (Zoe Saldana - ”Avatar”) e trabalha em uma editora de livros. Ele sonha em publicar seu próprio livro, mas a cada nova tentativa se convence mais de que não é capaz de escrever algo realmente bom. Um dia, em uma pequena loja de antiguidades, ele encontra uma pasta com várias folhas amareladas. Rory começa a ler e não consegue tirar a história da cabeça. Logo, ele resolve transcrevê-la para o computador, palavra por palavra, e a apresenta como se fosse seu livro. O texto é publicado e se torna um sucesso de vendas. Entretanto, tudo muda quando ele conhece um senhor (Jeremy Irons) que lhe conta a verdade por trás da história encontrada.
Bradley Cooper é um ator que passeia muito bem entre a comédia e o drama, muitos o conhecem pelo engraçado "Se beber não case", mas neste ele enfrenta a dificuldade de elaborar uma história que seja vendável, que a massa absorva e compre, sua escrita é o contrário disto tudo, é interna, melancólica, mas tudo muda quando descobre uns papéis amarelados numa maleta antiga, dada de presente pela sua adorável mulher na lua-de-mel, ele a lê e é como se a história fizesse parte dele de tão honesta e verdadeira, em um impulso desesperado, transcreve para o computador palavra por palavra, sem pôr nem tirar, não muda absolutamente nada. Publicado, o sucesso é imediato, só que ele não contava com o inesperado: o destino. Um senhor com uma tristeza profunda nos olhos segue-o pelo parque e começa a conversar sobre as regalias de um escritor famoso, até que diz ter uma ótima história para contar, e a partir daí surge cenas regadas a paixão, tristeza e a obsessão pela escrita. Esse velho senhor tinha amor pelas palavras, e aqueles papéis dos quais Rory encontrou, o salvaram um dia e também o destruíram em outro. O escritor fica atormentado, sente-se mal pelo ocorrido, mas o homem não quer conversa, o que está feito não pode ser mudado, então é preciso conviver com a escolha que fez. Quando jovem o velho escreveu todas as suas amarguras, tristezas e paixões; Rory diante a história completamente forte e verdadeira, justamente porque foi sentida por quem a escreveu, a endeusa, mas ao mesmo tempo sente por não ter a mesma aptidão.
A teoria de que sofrer é preciso para escrever, emprega-se muito bem ao personagem do velho senhor que nos encanta ao contar a história da qual Rory plagiou. Interessante observar que Rory é uma pessoa honesta, ao transcrever a história ele foi ingênuo, tomado pelo furor de ter algo bom publicado, ele acreditou que aquelas palavras fossem dele realmente.
O dilema não está entre o dono destas palavras e o plagiador, mas sim dentro de Rory, ele se sente extremamente mal por ter feito isso ao conhecer o velho. Rory pergunta o porque que ele o procurou se não desejava fazer nada em relação ao ocorrido, a resposta foi simples, para que Rory conhecesse a origem daquelas palavras. Em outro momento ele confessa a sua mulher e pergunta a ela se realmente acreditava que aquela história poderia ter saído de sua mente, pois ali estavam imprimidos sentimentos vividos, dos quais ele jamais chegou perto. A dor foi exatamente essa, não o plágio em si, mas o fardo, a tristeza, o amor que aquelas palavras continham. Mas sabe-se que depois de ter tomado uma decisão não há o que fazer, portanto é necessário conviver com ela.
A história é narrada de maneira inteligente e com muita sensibilidade, para os amantes da literatura é um prato cheio, principalmente quando o velho narra a história e traduz em sentimentos aquelas palavras.
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