quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A Solidão dos Números Primos (La Solitudine dei Numeri Primi)

"A Solidão dos Números Primos" (2010) é uma adaptação do livro homônimo de Paolo Giordano, que conta sobre traumas que acontecem na vida de duas crianças, e que os acompanham pro resto da vida, os fazendo sofrer e se martirizar. Ao se conhecerem e trocarem olhares percebem a solidão de cada um, suas diferenças são evidentes e a partir desse momento não mais se desgrudam, fazem um do outro uma espécie de muleta, mas jamais se relacionam de forma amorosa. Alice e Mattia são como números primos: divisíveis apenas por um e por eles mesmos. Desde crianças, lidam com traumas que os tornam indivíduos singulares, isolados da sociedade. Alice quase perdeu a perna em um acidente de esqui, e Mattia negligenciou a irmã gêmea deficiente, recebendo em seguida a notícia de seu desaparecimento. Ao se encontrarem na adolescência, se reconhecem na dor um do outro e desenvolvem um forte laço. Eles crescem e, apesar de levarem vidas paralelas, seus destinos sempre se cruzam
Eles não são adolescentes comuns, e isso não passa despercebido pelos demais, por conta de suas diferenças tanto Alice e Mattia são ridicularizados por seus colegas, Alice em dado momento faz amizade com uma menina popular do colégio, ela lhe ensina como se vestir e chegar nos garotos, por algo inexplicável, ela se interessa justamente por Mattia e o convida para uma festa, só que Mattia não está interessado em criar laços, ele a olha de uma maneira e a trata de outra, mas é nesse ponto que suas vidas se unem, a garota popular apenas queria zombar de Alice e esta consequentemente se sente frustrada, e daí por diante Mattia fica sendo seu porto seguro.

O título é curioso, mas o longa nos explica o sentido dele, matematicamente o número primo é divisível por um e apenas por ele mesmo, o filme nos mostra isso com essas duas pessoas repletas de traumas, que não se encaixam na sociedade, não há afinidades com qualquer outro ser humano, são apenas os dois, por si mesmos.
Sua narrativa não é linear, ela vai e volta no tempo, nos dando pequenos pedaços da vida dos personagens. O passado nos mostra Mattia com sua irmã gêmea que sofre de deficiência mental, da qual ele tem a responsabilidade de cuidar em todos os lugares que vão, e é no aniversário de seu colega de escola que resolve deixá-la sentada em um banco de praça para poder ir só, uma pequena ingenuidade de sua parte, que causou um grande trauma em sua vida, já Alice praticamente é obrigada a esquiar, seu pai a quer como campeã e por isso não há nenhum descanso, e certo dia ela despenca do alto da montanha onde está esquiando, acidente do qual a deixa manca. Indo para a juventude vemos uma Alice magra, mas com brilho no olhar, Mattia continua misterioso e sofre sozinho, até que Alice descobre o acontecido em sua infância, nessa parte vemos dois jovens excêntricos, unidos, mas mesmo assim cada um por si próprio.

Mattia se muda para Alemanha por causa dos estudos, com o tempo Alice se casa, mas a separação não tarda a chegar, interessante notar nessa parte o quanto os dois separados se autoflagelam, ele engorda, ela emagrece extremamente, ele se corta para poder ter alívio e ela se destrói dia após dia. É intenso, é uma dor que vem da alma, cuja solução não existe, é uma solidão compartilhada, portanto, chega um ponto, mais ou menos dez anos depois que ele foi morar fora, que Alice pede para Mattia voltar, e o reencontro é de uma grandeza incalculável, não há palavras que definam ou que expliquem, somente as trocas de olhares têm importância nesse momento, é o minuto que um entende que o outro ainda é o que sempre foi.
Os atores são magníficos, em todas as fases, não há nenhuma quebra de ritmo por conta das mudanças, são todos excelentes. 

É uma história diferente, onde não há final, pois dá a sensação de continuidade, por isso o sentimento de dor é tão elevado, o coração aperta, dá um nó na garganta e quando termina o silêncio predomina, restando somente reflexão de como o amor tem diversos caminhos.
É uma bela adaptação, sem ser pretensiosa e por mais que seja triste não pende para o melodrama barato, a história é completamente natural. No mais, o filme evidencia o vazio que cada um carrega, e que para suportá-lo geralmente nos apoiamos em alguém parecido conosco. 

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