quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Depois do Casamento (Efter Brylluppet)

"Depois do Casamento" (2006) é dirigido e roteirizado por Susanne Bier, que ficou conhecida pelo filme "Brodre" (2004), do qual ganhou um remake americano chamado "Entre Irmãos" (2009), e também pelo "Hævnen" (2010) que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2011. Seus filmes são dramas densos cheios de conflitos pessoais, mas de maneira alguma cai num melodrama sensacionalista.
A trama deste nos conta a história de Jacob Petersen (Mads Mikkelsen), que luta para manter em funcionamento um orfanato localizado numa das regiões mais pobres da Índia. A instituição corre o risco de fechar, até que Jacob é chamado de volta à Dinamarca para falar com Jorgen (Rolf Lassgard), um rico empresário, que deseja fazer uma doação para o local. É difícil para Jacob voltar e deixar suas crianças, principalmente Pramod, que cria desde bebê, mas não pode perder a oportunidade de conseguir melhorar a situação do lugar. Esse aspecto sócio-político com que o filme começa nos fisga de cara, mas a história nos surpreende ao colocar o foco em outro ponto que se desenvolve a partir disso.
A maior sacada é que com toda essa apresentação de personagens nós automaticamente os estereotipamos e os julgamos. Por exemplo: Jacob é uma pessoa bondosa com ideais que ajuda os mais pobres, e Jorgen, o empresário bilionário, um ser egoísta e ambicioso. Fazemos isso com todos os outros personagens, pois as diferenças são drásticas, enquanto na Índia a pobreza é latente, o visual é colorido e bagunçado, na Dinamarca o universo de riqueza predomina e o ambiente é clean. Tudo isso é de propósito, mais tarde nos damos conta do quanto somos condicionados a julgar sem conhecer. Não considero spoiler contar o que vem a seguir porque acontece super rápido, Jacob é convidado por Jorgen a ir ao casamento de sua filha, ele pressionado pela situação de conseguir o dinheiro para o orfanato decide ir, já que o empresário resolverá os trâmites só depois do casamento. Jorgen tem uma família perfeita, é um pai devotado, marido carinhoso e um empresário que sempre esboça atitude. No casamento percebemos que Jacob conhece a mulher de Jorgen, os olhares entre eles revelam isso, aliás os olhares são evidenciados o tempo todo. Uma revelação acontece, a noiva agradece a família e principalmente ao pai que mesmo não sendo legítimo a criou maravilhosamente. A tensão toma conta e Jacob não demora para entender que ela é sua filha.
Aos poucos vamos conhecendo mais profundamente os personagens, e o que pensamos ser não é, as aparências enganam e muito. Há cenas exacerbadamente emocionais, os personagens são mostrados em closes extremos, olhares tristes, desesperados e ansiosos.

É um filme honesto em que mostra que errar faz parte da vida, seja por imaturidade ou escolhas próprias que acabam atingindo alguém próximo, mas estes erros podem ser corrigidos e redimidos se houver uma oportunidade.
Dentre todas as cenas destaco a de Jorgen lá pelo final do filme, é dilacerante. Mads Mikkelsen é perfeito atuando (como sempre), mas quem rouba a cena é Rolf Lassgard, acredito que pela situação e o posicionamento dele em relação a tudo.
É um filme que vai crescendo, os personagens vão se descaracterizando e inevitavelmente as emoções vêm à tona. É mais um belo exemplar de como Susanne Bier sabe construir dramas com conflitos intensos sem parecer uma novela melodramática.

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