quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O Passado (Le Passé)

O iraniano Asghar Farhadi (Procurando Elly - 2009) é um diretor que sabe explorar como ninguém dramas familiares. Em "Le Passé" traz um enredo repleto de segredos e surpresas. Esse é seu primeiro filme filmado fora de seu país, Farhadi não está afim de mostrar as belezas que contornam a cidade luz, o foco está na aparente banalidade da vida, circunstâncias que aparecem uma hora ou outra, como o passado não resolvido que volta trazendo grandes dilemas. É intenso e tudo muito envolvente, o ritmo do filme não cai jamais, é de uma condução magnífica. Asghar Farhadi é um exímio diretor.
A história começa quando Marie (Bérénice Bejo) vai buscar seu ex-marido Ahmad (Ali Mosaffa) no aeroporto de Paris. Aos poucos descobrimos a relação que há entre os dois: separados há 4 anos, Ahmad está vindo de Teerã para assinar o divórcio definitivo do casal. Sendo hospedado na casa da ex-mulher, ele acaba sendo inserido em todos os conflitos familiares existentes. Marie vive junto de suas duas filhas advindas de outro casamento e o novo namorado Samir (Tahar Rahim), que trouxe seu filho pequeno Fouad. Lucie, a filha adolescente, não aceita o novo namorado, e o clima dentro da casa parece ficar pior a cada dia que passa, sobretudo quando a relação do casal parece ficar mais séria com o surgimento de uma gravidez. Além disso há a esposa de Samir que está em coma por tentar o suicídio. Marie foi deixada por Ahmad uns quatro anos atrás, aos poucos vamos descobrindo o que o levou a isso, mas o fato dele voltar para assinar o divórcio cada um entende à sua maneira. A intensidade dos fatos vão aumentando à medida que revelações são feitas, Lucie carrega nas costas uma culpa gigantesca que envolve questões morais.
"Le Passé" é um filme completo, principalmente por seu enredo primoroso e as atuações maravilhosas, tanto de Bérénice Bejo, uma mulher comum que sofreu decepções amorosas e ainda nutre essas feridas, como de Ali Mosaffa, o ex-marido que é um homem compassivo e sempre aberto para tentar ajudar e amenizar a situação da família, e Tahar Rahim, o namorado de Marie, que nos surpreende e muito, seus sentimentos vão se acentuando conforme o desenrolar, ele é dono da cena final, da qual nos emociona e causa uma tensão muito forte. A imprevisibilidade é a grande sacada deste filme.

A culpa é um sentimento muito explorado e nos mostra o quanto uma pessoa fica impossibilitada de prosseguir com ela martelando em sua mente. Muitos mal-entendidos acontecem por falta de diálogo e compreensão, se as pessoas fossem honestas com suas decisões sem precisar mascará-las, muitas coisas poderiam ser evitadas.
Toda escolha vem carregada de consequências, por isso deve ser colocado de forma explícita sem encobrir sentimentos ou fatos, de repente uma situação desencadeia outra, verdades surgem e acaba deixando relações futuras prejudicadas. Às vezes escondemos pequenos segredos achando que nada irá acontecer, mas o incrível é que nada se esconde por muito tempo. O caso da empregada de Samir exemplifica esse pensamento. Ela escondeu algo e isso teve um peso enorme. "Le Passé" é um filme maravilhoso, um drama universal que retrata bem as imperfeições das relações humanas.

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