segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Bol

"Bol" (2011) é um filme produzido pela indústria cinematográfica do Paquistão, Lollywood, situada em Lahore. Dirigido por Shoaib Mansoor, a trama conta a história de uma família que enfrenta problemas financeiros por causa do desejo do patriarca de ter um filho homem, a fim de que este mais tarde tome a dianteira e assuma as responsabilidades que todo homem muçulmano recebe. Hakim não entende o porquê sua mulher só gera meninas, teimoso ele continua tentando e com isso a família só aumenta, quando Suraiya dá à luz ao seu oitavo filho, eis que nasce um hermafrodita, entre discussões decidem ficar com a criança, mas com a condição de que nunca saia de casa para nada. Saifullah cresce sem o carinho do pai, assim como todas as suas irmãs, ele as trata muito mal, não as deixam estudar e só fazem o trabalho de casa, não têm contato com nada e ninguém, além disso Suraiya, sua mulher sofre agressões morais e físicas. Zainub é quem conta esta história, no início a vemos indo para a forca, pois foi considerada criminosa pela justiça do Paquistão, seu último desejo é contar para a mídia o que lhe aconteceu, e principalmente deixar-lhes uma pergunta. Após a aprovação do presidente ela começa a narrar.
Zainub é uma mulher pensante, não é submissa e sempre contesta os pensamentos arcaicos de seu pai, vinda de um casamento arranjado que não deu certo é ainda mais rejeitada. A renda da família tem diminuído a cada ano que passa, Hakim é dono de uma espécie de farmácia da qual receita alguns medicamentos manipulados, uma profissão antiga que está sumindo. Com isso Saiffulah é compelido a procurar emprego, como é muito bom em desenhar arranja um lugar para trabalhar, mas lá há pessoas de mau caráter que acabam o estuprando, e em razão disso Hakim toma uma decisão horrorosa, acreditando estar fazendo a vontade de Deus. Em detrimento desta absurda atitude sua situação financeira se agrava mais ainda. Nesta parte a vida de Hakim muda radicalmente, não tendo mais como obter dinheiro para pagar as dívidas que fez, aceita a proposta de um cafetão para ensinar o alcorão a seus filhos, mas com o passar do tempo aceita uma outra proposta, um tanto quanto bizarra, engravidar Meena, a mulher do cafetão, pois Hakim é especialista em prover meninas.

O tempo todo o filme passeia entre tradição e modernidade, conceitos e preceitos que já não podem mais sobreviver, mesmo numa sociedade tão repressiva como a do Paquistão. O machismo e o poder que o homem acha que tem sobre a mulher ainda persiste, mas aos poucos mulheres com pensamentos mais libertários seguem suas vidas, trabalhando e escolhendo com quem casar, é preciso uma boa dose de coragem, como Zainub fez. A questão mor que o filme levanta é a de colocar filhos no mundo sem pensar que estes podem sofrer. Em seu desabafo Zainub diz que deveria ser crime dar à luz a uma criança que será mantida sob regime rígido, sem o mínimo de educação, alimentação e onde não há dignidade. Se não tem como cuidar, amar, alimentar, dar educação a um filho não o tenha, pois será mais um "mendigo". Ter filho não é brincadeira, é uma responsabilidade séria e que exige mudança interna e externa. A pergunta que ela deixa a mídia é: Por que somente matar é pecado? Dar à luz também deveria ser!
"Bol" levanta diversos temas sociais que são urgentes, e mesmo que esta história se passe em um lugar completamente distante e diferente do nosso, o assunto cabe perfeitamente a qualquer outro.
Expondo principalmente a hipocrisia da religião e o egoísmo do homem a narrativa é envolvente e densa, mesmo sendo longo não cansa, prende-nos do começo ao fim. As atuações são impressionantes e apesar das firulas na parte musical, é um filme que tem um propósito e coloca o dedo na ferida sem receio algum. É um retrato muito atual e importante.

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