quarta-feira, 21 de março de 2012

O Enigma de Kaspar Hauser (Jeder Für Sich Und Gott Gegen Alle)

Dirigido por Werner Herzog, "O Enigma de Kaspar Hauser" (1974), cujo título original "Jeder Für Sich Und Gott Geggen Alle", que ao pé da letra significa: "Cada um por si e Deus contra todos", conta a história de um personagem deslocado, que enfrenta o mundo de uma maneira pura e ingênua e que vai contra todas as regras impostas, já que nunca teve contato com o mundo externo.
Kaspar Hauser talvez tenha sido um homem de linhagem, de sangue nobre, que permaneceu trancafiado em um calabouço sem ter contato com o mundo externo, recebendo comida a noite sem qualquer tipo de comunicação, até que um dia é retirado de seu cárcere e abandonado em uma praça com uma carta anônima na mão, um chapéu e um livro de orações. Encontrado por um morador de Nuremberg é levado à delegacia onde começará sua vida no mundo civilizado.
Hauser começa a aprender suas primeiras palavras dentro da prisão, onde é acomodado, sendo objeto de curiosidade da população. Como os gastos eram grandes com ele morando na delegacia, acabou virando atração de circo por um certo tempo, depois sob a proteção do Sr. Daumer, um homem rico da cidade, ele é apresentado às convenções sociais, religiosas, filosóficas e assim reagindo de maneira bem particular. Quando apresentam o conceito de Deus, ele responde de modo incisivo: "Antes devo aprender ler e escrever melhor para poder compreender Deus melhor."
Kaspar Hauser nos mostra que o modo como pensamos é imposto pela sociedade e pelas convenções. Na sua naturalidade, onde começa do zero, sem que influências externas interfiram, ele pensa por si e responde de forma muito inteligente, deixando as pessoas ao seu redor sem palavras.
Embora ele seja amado pelos mais próximos, quando começa a ser inserido à sociedade, começa sofrer atentados, talvez por medo de descobrirem a origem dele, e atrapalhando a linha de sucessão, mas isso sempre será um mistério.
Depois que Kaspar Hauser morre, fazem uma autópsia e creem terem descoberto a explicação, seu fígado era deformado, seu cerebelo superdesenvolvido, o lado esquerdo de seu cérebro era menor que o direito, e é assim que pensaram ter revelado o segredo daquela existência. O escrivão comemora o final de seu protocolo relatando a vida e morte de Kaspar, mas sabemos que aquilo tudo não passa de ilusão.

O filme é baseado em fatos reais, sobre um sujeito tratado como bicho até os 17 anos, numa pequena cidade chamada Nuremberg de 1928.
Kaspar ensina ao invés de ser ensinado, mostra que nem tudo é óbvio como dizem ser, quando contestado sobre os dogmas, ele é direto e mostra de maneira ingênua, porém inteligente o seu modo de enxergar as coisas. Às vezes nos perdemos no meio de tantos pensamentos impostos, que nem nos damos conta o que pensamos sobre aquilo realmente, apenas somos conduzidos, como uma ovelha indo para seu rebanho.
Werner Herzog utilizou um ator com problemas mentais para interpretar Kaspar Hauser (Bruno Schleinstein), o que deu bastante realismo nas cenas.

Um filme feito em 1974, ambientado no ano de 1928, uma obra-prima que nos convida a conhecer o mundo sob a ótica da pureza, onde os parâmetros da sociedade não fazem sentido algum. Quem os criou? Para quê servem? E que mesmo assim moldam a nossa existência. Kaspar nos dá aquela sensação de deslumbramento para certas coisas que nem damos atenção, pequenas, simples, mas inegavelmente belas, e que sim, fazem todo o sentido!

"Vocês não ouvem os assustadores gritos ao nosso redor que habitualmente chamamos de silêncio?"

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