sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Eutanásia (Armomurhaaja)

"Eutanásia" (2017) dirigido por Teemu Nikki (Lovemilla - 2015) é um filme finlandês não só perturbador pelo que aborda, a eutanásia em animais, mas também pelas ações dos seus personagens e, principalmente, pelo seu tom com um humor obscuro e incômodo. Aos mais sensíveis, assim como eu em relação ao assunto gera desconforto, mas não deixa de ser interessante e seu andamento vai modificando a maneira com que enxergamos o protagonista, reflexões acerca de justiça, carma, violência, solidão e a relação de humanos e animais surgem em doses bem amargas.
O ganha-pão de Veijo (Matti Onnismaa) é um bocado peculiar: em uma região pobre e insalubre, seu trabalho é executar animais de rua indesejáveis ou bichos de estimação cujos donos não conseguem custear mais os devidos cuidados. Contudo, o sigilo de sua rotina e de seus quase religiosos rituais de eutanásia são ameaçados quando ele conhece uma jovem enfermeira e um mecânico com inclinações neonazistas. Petri Kettu tem um problema com seu cachorro e tenta matá-lo, porém, não consegue e contrata Veijo para fazer o serviço. O único problema é que Veijo não mata cães saudáveis.
Antes de Veijo aceitar o trabalho precisa ter a certeza que o animal está sofrendo de alguma doença, ele faz tipo um raio-x no dono e o interpreta no mesmo momento em que entra em sua oficina, ele possui uma conexão intrigante com os animais e consegue entender como foi a estadia até ali com o seu dono, Veijo julga e então parte para a ação, claro que é triste ver essa situação, porém os humanos são egoístas e o filme faz questão de exemplificar de um jeito cru e simples. A história tem um peso, um drama duro e o tom um tanto singular de humor faz com que isso se amplifique e um certo negativismo impere diante do ser humano. 
Veijo é atormentado por seu passado e prefere agir conforme as suas próprias regras dentro de uma sociedade corrupta e desumana, é difícil ficar do seu lado, mas conforme o desenrolar percebemos que ele é o único que realmente pensa. Outro personagem que se sobressai nessa trama é Petri - interpretação potente de Jari Virman - ele é desprezível, insano, covarde e ignorante, está para ser aceito em um grupo neonazista e para isso precisa provar que possui realmente ódio dentro de si e cometer atos violentos, cansado de sua cadela por ela ser vira-lata decide por um fim nela, mas não consegue e a leva para Veijo, que identifica que está saudável, mas ainda sim fica com ela porque Petri certamente não é o dono ideal para uma cadela tão amável e companheira. 

Veijo sente aversão às pessoas e acredita no carma e que o sofrimento precisa ser bem administrado, quando alguém aparece para sacrificar seu animal ele fala exatamente o que a pessoa não quer ouvir nesse momento, traça o perfil e o como foi a vida daquele animal. Ele também se desentende com a veterinária que só está afim de dinheiro e nada faz para os que precisam. Muitas pessoas adotam e compram animais imaginando que eles os divertirão quando quiserem, que ficarão quietinhos quando quiserem, que preencherão algum tipo de deficiência emocional, esquecem-se de respeitar as necessidades da espécie e, principalmente, de não ignorá-los quando precisarem, é triste essa relação de tê-los como brinquedos e preenchedores de vazio. Veijo entende isso e não suporta o ser humano, toda vez que alguém vai apelar para ele de algum modo incute o sofrimento para que compreendam que para toda ação existem consequências. 

Outra personagem que ganha forma é a enfermeira Lotta (Hannamaija Nikander), que cuida do pai de Veijo, que para ele está cumprindo seu carma por algo ruim que fez no passado e então prefere vê-lo na cama do hospital num sofrimento agudo, Lotta se interessa por Veijo, sua forma de encarar as coisas e por estar ligado à morte a deixa confortável para que um fetiche seu venha à tona. A construção desse relacionamento é estranho, ela é mais uma pessoa solitária e perturbada que busca nesse fetiche uma maneira de se sentir viva. 
"Eutanásia" é brutal, mas também tem seu lado cômico, retrata atitudes repugnantes e relações doentias, o senso de moral do protagonista é questionável e a sensação que fica é de dor e desesperança. Particularmente o filme me atingiu, suas qualidades são inegáveis, mas foi certamente uma experiência conturbada.

Um comentário:

  1. Tema polêmico e aparentemente um filme bem estranho e pesado.

    Sobre a eutanásia, eu vi e postei no blog há pouco tempo o controverso "Você Não Conhece o Jack " com Al Pacino. Filme sobre a vida do Dr. Kevorkian.

    Abraço

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